Uma corrida para a história; um tricampeão para a história

RIO DE JANEIRO – Que corrida, senhoras e senhores!

O Grande Prêmio do Brasil de 2012, o quadragésimo disputado aqui valendo pontos na história da Fórmula 1 foi, na minha opinião, a melhor corrida da categoria máxima disputada em Interlagos. Não é exagero. Nos anos de 1991 e 1993 houve emoção, é verdade, com as duas vitórias de Ayrton Senna. O toró de 2003 foi épico. E o final de 2008 também. Mas o que se viu nesse domingo, 25 de novembro, superou tudo e ainda sobrou troco.

O chove-pára-não chove-não pára de chover fez a corrida virar do avesso. E aconteceu de tudo. Tudo mesmo. Vettel foi abalroado na primeira volta, caiu para último e jamais baixou os braços. Numa pista escorregadia feito sabão, o alemão foi o que eles chamam, na língua deles, um “regenmeister”.

Um mestre.

Pois sua recuperação foi, sim, de mestre. E olha que a Red Bull fez de tudo para que ele perdesse um título que ele foi lá buscar, na raça, no braço. Quando numa parada de box os austríacos mantiveram os pneus slicks e começava a chover, Vettel caiu de novo fora da zona de pontuação, tal como no início da corrida. Ele recuperou o que pôde, chegou em 6º e conquistou um merecido tricampeonato.

Aos 25 anos, Sebastian Vettel iguala monstros como Ayrton Senna, Jack Brabham, Jackie Stewart, Niki Lauda e Nelson Piquet em número de títulos. Torna-se o mais jovem de todos a alcançar este feito, superando Ayrton, o antigo recordista. E agora ele é o terceiro piloto a vencer três campeonatos em sequência. Só Juan Manuel Fangio, que de cinco títulos ganhou quatro seguidos (54/55/56/57) e Michael Schumacher, consecutivamente vitorioso por cinco anos, tinham essa honraria que o piloto da Red Bull acaba de alcançar.

E Vettel mostra que tem muita lenha para queimar. São apenas 101 GPs completados em sete temporadas. Ele tem 26 vitórias e 46 pódios. Já está sem dúvidas entre os grandes da Fórmula 1.

Como grande também é o espanhol Fernando Alonso, que apesar dos pesares, valorizou demais o título de Vettel. Com um carro tido como “ruim”, no começo do ano, fez coisas sobrenaturais, dignas do piloto excepcional que ele é. O representante da Ferrari fez o que deu em Interlagos. Ele não tinha como alcançar as McLaren e muito menos a inacreditável Force India de Nico Hülkenberg. A matemática até chegou a conspirar ao seu favor, mas não deu. Fica para 2013.

Numa corrida excepcional, épica, fantástica, chamaram muito a atenção outros pilotos. Jenson Button pela vitória, ao seu estilo, com finesse, categoria e competência; Lewis Hamilton, por liderar pela primeira vez o GP do Brasil em sua despedida da McLaren; esse impressionante Nico Hülkenberg, fruto da inesgotável fábrica de talentos do automobilismo que se tornou a Alemanha pós-Michael Schumacher (para mim, punido injustamente após o contato entre ele e Lewis Hamilton, porque ele errou sozinho e não de propósito); e Felipe Massa.

Sim, Felipe Massa. Como não? Ele fez uma grande corrida e com o 3º lugar, ajudando Alonso onde deu, emocionou-se porque termina o campeonato com um desempenho sem dúvida muito superior ao do início do ano. Ele mesmo admitou que levou “porrada de tudo quanto é lado” e que depois de agosto, ligou aquela setinha de seis letras com um hífen no meio, e veio pra cima. Acabou o campeonato em sétimo – pode não ser uma grande posição, longe do que o torcedor brasileiro gostaria que fosse, mas é um alento diante de uma primeira metade de campeonato horrorosa.

Massa está de parabéns. Termina o ano fortalecido e se a cabeça estiver no lugar, é alguém a ser levado a sério em 2013. Já Sérgio Perez, aquele que todo mundo queria no lugar do brasileiro, só fez besteira após ser contratado pela McLaren.

O GP do Brasil marcou também a honrosa despedida de Michael Schumacher das pistas. Na beira do caos, num início de corrida simplesmente melancólico, em último ou entre os últimos, poucos deram crédito ao piloto da Mercedes. Mas ele se recuperou com a pista escorregadia, andou muito bem e chegou em 7º lugar. Pelo menos encerrou sua carreira com alguma dignidade, ao contrário de muitos outros que deixaram a Fórmula 1 pela porta dos fundos. Os números fazem de Schumacher um dos maiores pilotos da história, em que pese o caráter duvidoso que maculou algumas de suas conquistas e em igual medida, suas derrotas.

Como cereja do bolo de um campeonato tão emocionante e bacana, a entrevista no pódio foi conduzida por ninguém menos que Nelson Piquet Souto Maior, tricampeão de Fórmula 1. Nelsão consolou Alonso. “Já perdi dois campeonatos na última corrida e sei muito bem o que é isso”, e fez um grande afago em Felipe Massa antes de perguntar ao brasileiro como será o ano de 2013.

Como será o ano de 2013? Eu não sei. Só sei que estou – já – com saudade da Fórmula 1. E aí, o que fazer diante da abstinência que começa a tomar conta de mim?

Ah… para encerrar: sr. prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Sabe quando você vai tirar a F-1 de Interlagos? NUNCA.

Interlagos é um templo. Tanto quanto Indianápolis, Suzuka, Spa-Francorchamps, Le Mans, Monza, Nürburgring, Silverstone e Monte-Carlo.

Ponto final.

Comentários

  • Sobre a corrida, sem palavras. Eu ainda estou elétrico por causa dela, qse 1 hora depois de terminar. Estou terrivelmente frustado por não ter assistido in loco, mais estou feliz: vi a história, vi a melhor corrida dos últimos 10 anos, com certeza.

    Sobre Interlagos, nosso templo sagrado, pelo menos “ao que parece”, nossos políticos sabem da importância deste tempo e não querem que a festa saia daqui. Sabemos que o autódromo deverá ter algumas mudanças, mais cremos e oramos para que seja só para melhor. E que venha 2013 com mais e mais emoções!!

  • Fazendo uns calculos rápidos, eis o ranking dos 7 primeiros depois das férias de agosto:

    Vettel – 159
    Alonso – 114
    Button – 112
    Massa – 97
    Raikkonen – 91
    Hamilton – 73
    Webber – 55

    Ou seja, nada a dever ao top5. Com certeza vai ser o piloto que mais vai crescer no ranking do F1Fanatic em relação ao meio do ano.

    PS: Outro bom momento de Piquet: A cutucada em Button pergutando como era se ver livre de Hamilton.

  • Grande Rodrigo. Bela análise do GP Brasil, bem melhor do que a do Reginaldo e Cia. Aliás, o Regi dificilmente toma uma posição. É um politicamente correto chato d+. Ainda bem que vc continua com o seu Blog!

  • Titulo merecido pro Vettel.Acho que a corrida do quase titulo do Massa foi mais emocionante, e talvez se equipare a de 92 , 93.A Ferrari mostrou a velha incompetencia quando a chuva apertou e Vettel entrou nos boxes.Ali se Alonso entra o destino do campeonato poderia ser outro , visto que Vettel tava sentindo muito a pressão.mas com 250 pessoas e potentes computadores nos boxes não conseguiram monitorar Alonso e Vettel pela pista preparados pra entrada do espanhol.Esse Domenicalle deve ter um padrinho muito forte lá dentro.O Hulkemberg escorregou e foi punido por um acidente, coisas absurdas como essas aconteceram o ano todo.O Vettel mais uma vez conduziu sem erros um carro , naquele momento do campeonato , superior aos outros , principalmente em confiabiliidade.Fez o que Button fez quando a Brawn era o melhor.Pena , pra Button que só foi aquele ano, senão poderia ter outros títulos como Vettel teve a sorte (e competencia) e não estaria tomando pau de Hamilton.Mais um título pro verdadeiro campeão;Newey.Massinha terminou o ano com boas corridas, aliás , algo coerente para um bom piloto, só isso.Final de carreira melancolica pro Schummy, temporada fechando com chaves de f#%$&¨¨ezes pra B Senna.O Hamilton poderia estar na disputa do campeonato se a Mclaren não o deixasse na mão em vitórias certas, mas, como diria o Hemingway, se minha tia tivesse bigodes seria meu tio.Emfim caminhamos pra um 2013 promissor se for divertido como esse ano, com Massinha na expectativa de renovação ou vaga em outra equipe de ponta se voltar a ser um piloto minimamente vencedor, o que sinceramente duvido enquanto estiver na Ferrari

  • Corridaça. Realmente não assisto uma corrida cheia de variáveis a muito tempo. Fiquei ligado até a bandeirada. Interlagos mostrou que é um templo e, lamento muito não ter mais Jacarepaguá que erá meu templo. Como dizem que um piloto é o seu ultimo resultado, Interlagos pelo resultado é o melhor do momento.
    Parabéns Vettel.

  • Uma das corridas mais emocionantes se não a melhor corrida de F1 que eu já vi na minha vida. Sensacional. Quem assistiu e vibra com automobilismo tinha horas que ficava perdido. A gente vai brincando de transmitir e fica ofegante. Nico Hulkenberg foi punido injustamente (e o piloto-comissário convidado era Tom Kristessen), Vettel deu uma sorte do tamanho do mundo depois que Bruno Senna fez mais uma de suas cagadas e olha que a Red Bull queria perder o título com uma parada a mais. Hamilton terminou o ano resumindo como foi seu ano: sempre com problemas. Button mostrou o porque que está na McLaren numa atuação incrível, Massa fez um corridão andou muito bem e pela primeira vez ele anda tão bem depois do acidente de 2009 e o Schumacher terminou de forma dramática a sua carreira. Deixei por último ele, que hoje bebeu uma vodka que estava estragada: Kimi Raikkonen KKKKKKKKKKKKKKK O que foi aquilo ? KKKKKKKKKKKKKKKKKKK

  • NOSSA!!! FORAM TANTAS EMOÇÕES!!! PERFEITO FINAL…ATÉ O TÉRMINO EM BANDEIRA AMARELA!!! E TB PERFEITO SUA ANÁLISE PARA ESSE ESPETÁCULO! FICA A FALTA QUE FAZ QD E A ULTIMA DO ANO…UMA PENA!!! PARABENS!

  • Belo post!

    A expressão de alívio ao final da corrida da dupla Christian Horner e Adrian Newey diz o que foi a prova… emocionante desde a panca do Senna sobrinho no Vettel… até o final! a prova foi tensa do início ao fim.

    abraços.

  • Parabéns a Red Bull e ao alemão, Sebastian Vettel. Ele não foi o melhor piloto o ano. Na minha opinião, Alonso, Raikkonen e Hamilton pilotaram mais. Mas F1 é esporte coletivo, e a Red Bull deu uma surra no projeto do carro em relação à Ferrari, e deu um banho no quesito estratégia e pit stops em relação à Mclaren durante todo o ano. Portanto, merecem o tricampeonato mundial de pilotos e de construtores que conquistaram. A Mclaren terminou vergonhosamente atrás da Ferrari no mundial de construtores, apesar de ter um carro bem mais rápido na maior parte do ano. Hamilton, mais uma vez, abandonou sem culpa nenhuma. Tá na hora de mudar de ares mesmo… o drive thorugh foi justo, na minha opinião. E o Hulkenberg gosta de Interlagos, por pouco não venceu. Vai ser um substituto, no mínimo, a altura do Sergio Perez. Já o Perez, esse dificilmente terá um ano de estreia brilhante na Mclaren, piloto muito irregular. Mas é isso aí, agora é esperar a próxima temporada.

  • Ótima corrida realmente!
    Tantos personagens e histórias para serem lembradas pela corrida.
    Vou citar algumas cenas marcantes quee u acho que ninguem comentou rsrs
    Hulkenberg assombrando lá na frente! (ok, essa comentaram..)
    Raikkonen e Schumacher lado a lado no S.
    Horner e Newey (eu acho) olhando para o céu tentando adivinhar o tempo.
    Reparam que uma Cartenham chegou em um honroso 11° lugar!!!

    PS.: Concordo que a F1 NUNCA deva sair de Interlagos. è um templo. Mas eu ia ficar tão feliz de ter um segundo GP no Brasil, aqui em Santa CAtarina :D

  • como sempre , preciso e perfeito, Mattar. a corrida foi fantástica, e o “umano” Kimi deixou sua marca. Será que vai usar GPS ( vire a direita a 200 metros, recalculando a rota, oba, vodka a esquerda a 50 metros, kkkk) ? Que venha 2.013 , sempre com você comentando, Rodrigo. E sobre Interlagos , é mais fácil mudar o Cristo Redentor e o Pão de açucar para SP ( como bondinho e tudo ) que Interlagos perder a corrida.

    • Concordo com você! Mas acho que o que mais interfere é o calendário! Esse ano que vem, por exemplo, a própria data das 24 heures está sendo jogada de lá pra cá, por causa da F1!

  • Bom dia galera. Rodrigo, o Nico hulkenberg, na ultrapassagem, deixa o carro escorregar e bate no hamilton, nao tem culpa? Ta de brincadeira.
    Abraço

      • Claro que não foi de propósito! O piloto, disputando a segunda colocação de um GP que é o final de um campeonato, vai bater de propósito? Acho muito teoria da conspiração! O que acho que aconteceu foi que ele escorregou mesmo! Pista molhada, fora do trilho, afã de ultrapassar o adversário e… escorregou!