Discos eternos – The Beatles a.k.a White Album (1968)

Beatles'_White_Album.svgRIO DE JANEIRO – Após a revolução criativa de Sgt. Pepper’s…, que influenciou meio mundo – inclusive os tropicalistas aqui no Brasil, o disco posterior dos Beatles, Magical Mystery Tour, foi um fracasso. Não pela qualidade das canções, como “Penny Lane”, a excepcional “Strawberry Fields Forever”, “The Fool On The Hill”, “Hello Goodbye” e “All We Need Is Love”. Eles ainda sabiam fazer música como antes, mas o filme que foi lançado a reboque do disco acabou execrado pela crítica como sendo pretensioso, estranho e muito abaixo das produções anteriores que contaram com os Fab Four.

Some-se a isso o clima pesado que já vinha desde Rubber Soul, quando a unidade começou a ir pro espaço em razão de inúmeras discussões acerca de influências criativas, religiosidade, consumo de drogas e… Yoko Ono. A segunda mulher de John Lennon apareceu como uma emblemática personagem, tida por fãs mais extremados como a grande asa negra que levou a banda a se dissolver em 1970 – no que Paul McCartney, recentemente, concordou que ela não teve influência no fim do grupo.

Como ainda não chegamos lá, voltamos a 1968. Neste ano, para refazer-se do fracasso de Magical…, os quatro se embrenharam em Abbey Road e produziram o máximo possível de material para um novo disco ou até mesmo para dois, se quisessem. No entanto, a EMI lançou o trabalho em 22 de novembro daquele ano como um álbum duplo, inaugurando o selo Apple e com a capa totalmente branca. Era o White Album tão falado mundo afora.

Trata-se de um disco irregular, que abre com uma das últimas grandes parcerias Lennon-McCartney, “Back in the USSR”, embora no lado A do primeiro disco, John Lennon nos brindasse com a belíssima “Dear Prudence” (aliás, o baterista na sessão de gravação é Paul McCartney) e as divertidas “Glass Onion” – uma resposta aos fãs que procuravam mensagens subliminares nas canções do grupo – e “The Continuing Story Of Bungalow Bill”. Paul não ficou atrás: fez “Ob-La-Di, Ob-La-Da”, também em clima de historinha e com nada menos que 60 takes gravados, o que provocou a ira de John Lennon.

Porém, o ponto alto (de todo disco, eu diria) é sem dúvida “While My Guitar Gently Weeps”, uma grande canção de George Harrison, talvez a melhor dele nos Beatles até ali, com a preciosa participação (logicamente, não creditada), de Eric Clapton na guitarra-solo.

O lado B é quase de experimentalismos e músicas curtas, como as contrastantes “Why Don’t We Do It In The Road”, com vocal gritado (gravada apenas por Paul e Ringo) e “I Will”, bem suave, dedicada à Linda Eastman, que mais tarde se tornaria mulher de McCartney, as ótimas “I’m So Tired”, de Lennon (que fala sobre cansaço causado pela meditação transcendental, que eles vinham fazendo) e mais duas de Paul, “Blackbird” e “Rocky Racoon”. John Lennon fecha o primeiro disco homenageando a mãe na pungente balada “Julia”.

A pesadíssima “Birthday” abre o lado A do segundo disco, talvez o mais coeso de todo o trabalho. Tem “Sexy Sadie”, a ótima “Yer Blues” – que John cantaria sozinho no espetáculo Rock and Roll Circus dos Rolling Stones, no mesmo ano, a balada “Mother Nature’s Son” e a controvertida “Helter Skelter”, que teria servido de inspiração para Charles Manson matar a atriz Sharon Tate, esposa do cineasta Roman Polanski.

Daí pra diante, pouca coisa se salva. Talvez “Revolution #1”, numa versão menos acelerada que no imortal single gravado pelo grupo e as baladas “Cry Baby Cry” e “Honey Pie”. A faixa mais incompreensível, sem dúvida, é “Revolution #9”: oito minutos de colagens aleatórias que talvez nem agradem aos fãs mais extremados.

Apesar disto tudo, a popularidade dos Beatles era intacta, tanto que apenas na primeira semana, foram vendidas 2 milhões de cópias de White Album. Eu não tenho mais toca-discos, mas conservo o exemplar em vinil com carinho, uma vez que foi me presenteado por meu pai há 24 anos. E meu álbum duplo veio com as famosas fotos individuais dos quatro integrantes do grupo, que entraram para a posteridade.

Ficha técnica de The Beatles (a.k.a White Album)
Selo: Parlophone/Apple/EMI
Produzido por George Martin e Chris Thomas
Gravado nos estúdios Abbey Road e Trident entre 30 de maio e 14 de outubro de 1968
Tempo total: 93’43”

Músicas:

Disco 1

1. Back In The USSR (Lennon/McCartney)
2. Dear Prudence (Lennon)
3. Glass Onion (Lennon)
4. Ob-La-Di, Ob-La-Da (McCartney)
5. Wild Honey Pie (McCartney)
6. The Continuing Story Of Bungalow Bill (Lennon)
7. While My Guitar Gently Weeps (Harrison)
8. Happiness Is A Warm Gun (Lennon)
9. Martha My Dear (McCartney)
10. I’m So Tired (Lennon)
11. Blackbird (McCartney)
12. Piggies (Harrison)
13. Rocky Racoon (McCartney)
14. Don’t Pass Me By (Starkey)
15. Why Don’t We Do It In The Road (McCartney)
16. I Will (McCartney)
17. Julia (Lennon)

Disco 2

1. Birthday (Lennon/McCartney)
2. Yer Blues (Lennon)
3. Mother Nature’s Son (McCartney)
4. Everybody’s Got Something To Hide Except For Me And My Monkey (Lennon)
5. Sexy Sadie (Lennon)
6. Helter Skelter (Lennon/McCartney)
7. Long, Long, Long (Harrison)
8. Revolution #1 (Lennon/McCartney)
9. Honey Pie (McCartney)
10. Savoy Truffle (Harrison)
11. Cry Baby Cry (Lennon)
12. Revolution #9 (Lennon/Mccartney)
13. Good Night (McCartney)

Comentários

  • Pra mim será sempre um album curioso: é pontuado por musicas excepcionais, acompanhadas de faixas minimamente dispensaveis. Se tivesse sido feito um disco só, com as melhores, seria absurdamente fantastico !!! Mas, para o momento, foi uma dadiva “receber” deles o White Album”. E sim, While my Guitar Gently Weeps está entre as 10 melhores musicas dos Beatles em toda a carreira ! E o “Branco” tem outras musicas excelentes como Blackbird, Back in the USSR, I’m so tired, I will, Julia, Hapiness is a warm gun, Cry Baby Cry, etc…

    Antonio