Saudosas pequenas – ATS, parte III

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O holandês Jan Lammers começou o ano pela ATS em 1981

RIO DE JANEIRO – A temporada de 1981 não começou muito diferente das anteriores para a ATS – com a diferença que Günther Schmidt alinhou um carro – ainda do modelo D4 –  apenas nas três primeiras corridas do ano. Jan Lammers voltou ao time e conquistou na Argentina um 12º lugar, além de se acidentar em Long Beach e não se qualificar no GP do Brasil, em Jacarepaguá.

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Mamma Mia! Com o patrocínio do lendário grupo pop ABBA, Slim Borgudd conseguiu uma façanha na Fórmula 1

O holandês não ficaria sozinho por muito tempo. Em San Marino, a ATS estreou novo piloto e novo patrocínio. O sueco Slim Borgudd, que poucos do automobilismo conheciam, conseguiu largar em Imola e chegou em 13º lugar. O patrocínio do nórdico era um tanto quanto insólito: o grupo pop ABBA, do qual ele fazia parte como baterista das sessões de estúdio.

Em Zolder, o modelo HGS1, desenhado por Hervé Guilpin e Tim Wardrop, fez sua primeira aparição, mas não se qualificou. Lammers deixou a equipe após o GP de Mônaco e Borgudd ficou como o único piloto, sem conseguir um lugar no grid em nenhuma corrida até o GP da Inglaterra, em Silverstone.

Numa corrida repleta de quebras e abandonos, o sueco não fez feio: levou o carro até o fim e chegou em 6º, em sua segunda aparição na Fórmula 1. O resultado injetou confiança em Borgudd e na equipe e o HGS1 foi visto com alguma frequência no grid nas corridas finais do ano – exceção do GP de Las Vegas. O piloto ainda conseguiria a 10ª posição no GP da Holanda e a ATS fechou o Mundial de Construtores em 13º lugar, à frente da Fittipaldi, da Osella e da Toleman, que não pontuaram.

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Manfred Winkelhock estreou na Fórmula 1 pelo time alemão em 1982

Em 1982, a equipe apostou numa evolução do HGS1: o modelo D5, reprojetado por Hervé Guilpin e Tim Wardrop, seria guiado por uma dupla nova de pilotos: o alemão Manfred Winkelhock, cria da BMW na Fórmula 2 europeia e o abonado chileno Eliseo Salazar.

Até que o campeonato não começou mal para os dois: Salazar e Winkelhock chegaram em nono e décimo na África do Sul e o alemão foi 5º colocado logo em sua segunda corrida, no Brasil. O chileno conseguiu também uma quinta posição, no GP de San Marino boicotado pelas equipes do bloco da Associação dos Construtores (FOCA), em represália à desclassificação de Nelson Piquet e Keke Rosberg em Jacarepaguá. Winkelhock também terminou na zona de pontos em San Marino, mas acabou desclassificado porque seu carro estava abaixo do peso mínimo de 580 kg.

Daí para diante, os resultados rarearam. Winkelhock salvou um quinto posto no grid em Detroit e Salazar foi nono em Monza. O sul-americano seria protagonista de dois acontecimentos insólitos no restante das corridas. Em Mônaco, após se qualificar em último, por lá ficou até abandonar na 23ª volta por… acionar o extintor de incêndio por engano!

Como todo mundo sabe, a história do extintor não foi a única que Salazar aprontaria naquela temporada de 1982. Em Hockenheim, ele vinha em 13º lugar e estava prestes a levar uma volta de Nelson Piquet, que liderava com a Brabham BT50 de motor BMW turbo. Correndo “em casa”, Piquet queria dar uma satisfação para os alemães, que vinham enfrentando problemas de confiabilidade no propulsor. Até que…

Como curiosidade do vídeo narrado por Murray Walker com comentários de James Hunt, Salazar é chamado de… colombiano! A “briga de lango-lango” entre o brasileiro e o piloto da ATS entrou para a história e, revoltado com o que aconteceu, Piquet soltou o verbo para cima do chileno.

“Salazar não é piloto. É motorista!”, bradava, enfurecido.

Anos mais tarde, os dois apararam as arestas e hoje se tratam com grande cordialidade. Piquet contaria também a Salazar que o acidente, embora o tivesse deixado bem chateado na época, caiu como uma luva, porque depois os técnicos da BMW verificaram que o motor montado no carro do brasileiro não aguentaria mais o ritmo de corrida que o piloto da Brabham impunha naquele dia em Hockenheim.

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O chileno Eliseo Salazar entrou para o folclore da temporada: extintor de incêndio acionado por engano, briga de “lango-lango” com Nelson Piquet…

Salazar, entretanto, ficou com pecha de barbeiro e sua carreira na Fórmula 1 teria vida curta, mesmo com os patrocinadores que possuía. Winkelhock, apesar de ter tido um ano tão difícil quanto o do companheiro de equipe, seguiu com a ATS até o fim da equipe, que vocês verão na próxima postagem – sobre os anos de 1983 e 1984.

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