Saudosas pequenas – Coloni, parte II

RIO DE JANEIRO – No ano de 1989, a Coloni seguiu na Fórmula 1 com direito a um salto quantitativo. Ao invés de alinhar apenas um carro, preparou dois – para os contratados Pierre-Henri Raphanel, francês de origem argelina e Roberto Pupo Moreno, o batalhador brasileiro, então com 29 anos, que após ser desprezado pela AGS no andamento da preparação para o campeonato de 1988, venceu a Fórmula 3000, foi convidado para testar o primeiro carro da categoria com câmbio semi-automático (a Ferrari 639) e, por indicação da própria equipe, foi alocado na Coloni para fazer uma temporada completa pela primeira vez.

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Roberto Pupo Moreno em Jacarepaguá: o Baixo não correu em casa com o Coloni

A Coloni seria uma espécie de time B da Ferrari, mas com a morte do Commendatore Enzo Ferrari, o dinheiro nunca chegou ao time de Enzo Coloni como deveria. Mesmo assim, Moreno seguiu com salários pagos por Maranello como piloto do time.

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Moreno não passava pelas pré-qualificações na primeira metade do campeonato

No início do ano, Moreno começava os treinos entre os 26 aptos a conseguir um lugar no grid, mas Raphanel não. O francês tinha que passar pelas pré-qualificações e o início da campanha foi frustrante. Nenhum dos dois largou no Brasil e em San Marino. Mas em Mônaco, aconteceu o inesperado: Raphanel passou pela pré-qualificação e foi mais além – conseguiu um lugar no grid, com um ótimo 18º tempo, dada a dificuldade de se largar naqueles tempos. Moreno ficou com o penúltimo lugar no grid, ao lado do espanhol Luis Perez-Sala, da Minardi.

Raphanel, enquanto conseguiu permanecer na pista, ficou à frente de Nelson Piquet, às voltas com a tísica Lotus-Judd. Abandonaria na 20ª volta com quebra de câmbio. O mesmo problema tirou Moreno da pista, quando o brasileiro estava em décimo-quinto entre 18 pilotos.

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Pierre Henri Raphanel a bordo do Coloni C3

Havia a esperança de que um carro novo melhorasse a situação da equipe e dos pilotos, e Enzo Coloni trouxera Christian Vanderpleyn, ex-AGS, para conceber o novo projeto. Até que ficasse pronto, Moreno e Raphanel ‘dançaram’ no México e em Phoenix. E o Coloni C3 apareceu, enfim, no Canadá.

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Moreno estreou com o carro no GP do Canadá e andou o quanto pôde, sem nenhum quilômetro de testes

Com um carro que não passou por nenhum teste dinâmico de pista, Roberto Pupo Moreno operou mais um de seus milagres: qualificou-se em último em Montreal e, em meio a um temporal de filme de pirata, tentou andar o máximo que pode com o C3. Até uma roda caiu do carro e o brasileiro andou alguns quilômetros em três rodas. Com – mais um – problema de câmbio, ele abandonou na 58ª volta, quando era o nono.

Moreno ainda teve direito de ficar entre os 26 com passagem direta aos treinos classificatórios até o GP da Inglaterra. Em Silverstone, ele fez o 23º tempo, mas de novo sua atuação foi atrapalhada por um problema de câmbio. A partir daí, o brasileiro amargaria, assim como Pierre-Henri Raphanel, a pré-qualificação.

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Enrico Bertaggia foi o substituto de PHR quando o francês saiu para a Rial

Após o GP da Hungria, entretanto, o francês deixou a equipe e levou consigo todos os seus patrocinadores pessoais rumo à escuderia alemã Rial. A Coloni, com sérias dificuldades financeiras e técnicas, se socorreu do italiano Enrico Bertaggia para ocupar o segundo cockpit até o fim do ano.

Os resultados frustrantes se seguiram até o GP de Portugal, quando foi montado no carro de Roberto Pupo Moreno um novo bico dianteiro projetado por Gary Anderson, que melhoraria, segundo o engenheiro, o desempenho do carro. O “bico milagroso” – único espécie, aliás – deu a Moreno a possibilidade de passar da pré-qualificação de 60 minutos na sexta e conseguir um incrível 12º tempo na primeira sessão oficial de treinos.

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Ui! Essa doeu!

Porém, uma manobra desastrada do estadunidense Eddie Cheever provocou um acidente sério com o Coloni de Moreno, que ficou destruído na colisão. O “bico milagroso” foi para o espaço e o brasileiro, sem poder melhorar seu tempo da véspera, largou em 15º no Estoril, à frente de carros como Benetton, Lotus, Lola-Larrousse, Tyrrell, Ligier, Leyton House e Arrows.

Foi uma corrida frustrante não só para o brasileiro como também para Enzo Coloni, que mais do que nunca precisava de resultados para a sobrevivência de sua equipe. Moreno passou em 17º na primeira volta e na sétima já caíra para último. Abandonou na 12ª volta com problemas elétricos.

Os maus resultados voltaram em Jerez, Suzuka e Adelaide – e nem Moreno, muito menos Bertaggia, conseguiram colocar de novo um carro da equipe no grid. Aliás, mais nenhum outro piloto conseguiria.

No próximo post, o sofrimento e os problemas da Coloni em 1990 e 1991.

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