Discos eternos – Edison Machado é Samba Novo (1963)

CapaSambaNovoRIO DE JANEIRO – Nascido no Engenho Novo, zona norte do Rio de Janeiro, Edison Machado é considerado entre seus discípulos e também por dezenas de músicos como um dos maiores bateristas já surgidos no país. Em sua curta vida de 56 anos, iniciada em 1934 e ceifada abruptamente em 1990, ele deixou um legado inesquecível para o samba e os ritmos dele surgidos, como o samba-jazz e a própria Bossa Nova, com seu inconfundível suingue e o estilo de “ataque” do instrumento que tanto dominava.

Edison tomou intimidade rápida com a bateria e também com a vida noturna. Criado no ambiente da gafieira, aos 23 anos gravou o disco A turma da gafieira. Ele não tardou a ingressar no círculo musical da Bossa Nova, inovando no estilo de tocar samba, usando os pratos e o pé direito de uma forma até então jamais vista, tornando-se uma lenda do Beco das Garrafas, formado por estabelecimentos como o Ma Griffe, Little Club, Baccara e Bottles Bar. O contrabaixista Tião Neto, que mais tarde integraria o grupo de Sérgio Mendes (com quem Edison gravaria o álbum E você ainda não ouviu nada, de 1962), disse certa vez o seguinte:

“Edison foi o maior baterista de samba de todos os tempos. O tempo dele no samba no prato e no pé direito é irreprodutível. Ele tinha um suingue fantástico, e quem quisesse que fosse atrás. Foi, sem dúvida, uma figura de proa na MPB. A música brasileira atual, principalmente o samba, deve muito a Edison.”

Edison Maluco era um baterista tão à frente do seu tempo, que em 1963 tornou-se o astro principal de um álbum que se tornou uma lenda e também um dos mais queridos por quem gosta de boa música brasileira: Edison Machado é Samba Novo.

Cabe observar que ele não era o único “cobra” que concebeu o disco. Músicos consagrados – ou que se consagrariam – como o próprio Tião Neto, o lendário J.T. Meirelles (do Meirelles e os Copa 5), o jovem Paulo Moura e o excepcional trombonista Raul de Souza – fizeram parte das sessões de gravação.

Sabe-se que é raro um álbum instrumental produzido e gravado no Brasil ter tanto bom gosto, do começo ao fim. Além dos ótimos músicos, Edison Machado se cercou de composições de alto nível e da chamada MPM (Música Popular Moderna, tida como um filhote da Bossa Nova). O disco abre com “Nanã”, em emocionante versão pontuada pelo sax tenor de J.T. Meirelles. A composição de Moacir Santos, “o maestro que não é um só, mas é tantos” e Clóvis Mello, só teria sua letra finalmente conhecida quando gravada por Wilson Simonal em A Nova Dimensão do Samba.

“Só por amor”, de Baden e Vinícius, segundo tema do disco, é executada em delicioso ritmo, daquele tipo de samba gostoso de se dançar juntinho. E assim as músicas vão se alternando entre ritmos vertiginosos, como se ouve em “Aboio” e “Quintessência”, ambas de J.T. Meirelles, além da excepcional e suingada “Coisa nº 1”, outra obra-prima da parceria Moacir Santos-Clóvis Mello, e outras pontuadas pela “cama” do naipe de metais, tais como “Tristeza vai embora”, de Baden e Mário Telles; “Miragem” e “Solo”, de J.T. Meirelles; e a ótima versão para “Menino Travesso”, de Moacir Santos e Vinícius de Moraes.

Edison Machado foi um músico tão fundamental para a MPB que seu nome apareceu depois deste disco na ficha técnica de trabalhos de outros artistas de renome, como Nara Leão (ele tocou no show Opinião), Elis Regina, Johnny Alf, João Donato, Wanda Sá, Luiz Carlos Vinhas, Edu Lobo, Maria Bethânia, Dick Farney, Victor Assis Brasil, Rosinha de Valença e Agostinho dos Santos.

Ele também formou com Dom Salvador (piano) e Sérgio Barroso (baixo) o Rio 65 Trio, projeto de curta duração e com apenas um álbum: A hora e a vez da MPM. MPM era sigla para Música Popular Moderna, uma espécie de estuário onde desaguariam os estilos derivados da Bossa Nova, que já tinha conhecido o seu fim.

Entre 1970 e 1971, montou o Quarteto Edison Machado e pelo desconhecido selo Stylo, lançou dois álbuns intitulados Obras. Seus músicos acompanhantes eram Ion Muniz (sax), Edson Maciel (trombone), Haroldo Mauro Jr. (piano) e Ricardo Pereira dos Santos (baixo). Cinco anos mais tarde, fixou residência nos Estados Unidos, tocando também com Chet Baker e Ron Carter até voltar em 1990 para uma curta temporada na Boate People, no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro.

Porém, em 15 de setembro daquele ano, três meses depois dos shows cariocas, Edison Machado faleceu vítima de um infarto fulminante em Niterói. Foi-se o músico e o ser humano, ficaram na memória as incríveis performances pra sempre lembradas por quem gosta de música brasileira de verdade.

Ficha técnica de Edison Machado é Samba Novo
Selo: Columbia/CBS Discos/Sony Music
Gravado em 1963
Tempo: 27″00

Músicas:

1. Nanã [Coisa nº5] (Moacir Santos/Clóvis Mello)
2. Só por amor (Baden Powell/Vinícius de Moraes)
3. Aboio (J.T. Meirelles)
4. Tristeza vai embora (Baden Powell/Mário Telles)
5. Miragem (J.T. Meirelles)
6. Quintessência (J.T. Meirelles)
7. Se você disser que sim (Moacir Santos/Vinícius de Moraes)
8. Coisa nº 1 (Moacir Santos/Clóvis Mello)
9. Solo (J.T. Meirelles)
10. Você (Rildo Hora/Clóvis Mello)
11. Menino travesso (Moacir Santos/Vinícius de Moraes)

Comentários