Saudosas pequenas – Arrows, parte VI

2318911348_142cee02f4RIO DE JANEIRO – Após um ano de resultados ruins e de um fracasso após o outro, a Arrows mudou tudo para o campeonato de Fórmula 1 de 1987. Para começar, a gestão do time foi compartilhada com a financeira USF&G, que garantiu uma estabilidade orçamentária ao time britânico e a criação do consórcio Megatron, para desenvolver com a ajuda do preparador helvético Heini Mader os motores BMW Turbo 4 cilindros em linha que os próprios bávaros já tinham perdido o interesse após o malogro do projeto BT55 “skate” de Gordon Murray para a Brabham.

O desenhista Dave Wass também pagou sua conta pela péssima temporada em 1986 e foi demitido. Entrou em seu lugar o engenheiro Ross Brawn, que desenvolveria sozinho seu primeiro carro de Fórmula 1. E também não sobrou nenhum dos antigos pilotos. Com Surer nocauteado pelo acidente no meio do campeonato anterior e sem chance de regressar,  Boutsen seduzido pela Benetton e Danner fechado com a Zakspeed, o jeito foi buscar pilotos com alguma experiência que estavam disponíveis no mercado.

Cheever_ARROWS__AGP_87Assim, Jackie Oliver contratou o britânico Derek Warwick, então com 32 anos, que disputara meia temporada na Brabham e o Mundial de Grupo C pela Jaguar e o estadunidense Eddie Cheever, que também era egresso das competições de protótipos e tinha um contrato com Tom Walkinshaw para ser piloto de sua equipe ao lado do brasileiro Raul Boesel – nas corridas que não coincidissem com a Fórmula 1. É bom lembrar que até o fim da década de 80, muitos pilotos da categoria máxima ainda dividiam seu tempo com as corridas de longa duração.

Com uma limitação de combustível de 195 litros por corrida, diferentemente dos 220 litros que podiam ser consumidos até 1986, a Arrows precisou contar muito com a colaboração de Heini Mader – até porque também havia a questão do uso da válvula pop-off que limitava a pressão dos turbos a 4 atmosferas. Era uma equação complicada a se resolver. E nas primeiras corridas, o que se viu foi um festival de problemas de superaquecimento. Eddie Cheever conseguiu sobreviver no GP da Bélgica e fez os três primeiros pontos dele e da equipe em 1987.

1987eddiecheeverarrowsaaa6O estadunidense conseguiu duas ótimas classificações no grid dos GPs de Mônaco e Detroit. No principado, uma cabeça de cilindro do motor determinou o abandono de Cheever e em Detroit, numa ótima corrida de recuperação após uma rodada, o piloto acabou em 6º e sem combustível na última volta…

Warwick demorou um pouco mais a sair do zero no campeonato. Fez um 5º posto no GP da Inglaterra, diante de sua torcida e foi sexto na Hungria, numa pista travada e pouco favorável aos motores turbo. E por mais que ele e Cheever se esforçassem, os resultados não vinham. Toda a sorte de problemas afetou os dois em 1987 e Warwick ainda teve o azar de sofrer um violentíssimo acidente durante o GP do México, ao bater na saída da temida curva Peraltada, como visto no vídeo abaixo.

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A porrada de Warwick dividiu a corrida em duas e ironicamente Cheever repetiria o 4º lugar obtido em Spa-Francorchamps, que se constituiu no melhor resultado dele e da equipe no ano. O estadunidense ainda foi sexto em Portugal. Saldo do ano: um modesto 7º lugar no Mundial de Construtores, com onze pontos – o mesmo total da Tyrrell, que corria de novo com o motor Ford Cosworth DFZ já de acordo com o regulamento que vigoraria a partir de 1989, quando os turbos seriam totalmente banidos da Fórmula 1.

Apesar de mais um ano de resultados bem medianos, a Arrows manteve o programa para 1988, cumprindo o contrato com a USF&G, o consórcio Megatron e Heini Mader, que fez o que era possível com o motor BMW – agora preparado para consumir apenas 150 litros de combustível em todas as corridas da temporada.

arrows-a10bWarwick e Cheever, mais enturmados e entrosados com a equipe e com o  modelo A10B, modificado e atualizado por Ross Brawn, fizeram um trabalho acima da média do que qualquer outra dupla de pilotos conseguiu pelo time até aquele ano. O britânico somou pontos em sete das 16 corridas e conseguiu chegar quatro vezes em 4º lugar: no Brasil, em Mônaco, Itália e Portugal. Cheever foi três vezes apenas aos pontos, mas o estadunidense deu à Arrows um pódio, com o 3º lugar no GP da Itália, atrás da dobradinha Berger-Alboreto que emocionou os tifosi da Ferrari na semana que precedeu a morte do Commendatore Enzo Ferrari.

1306415663_a10b-1988-1As últimas três corridas do ano foram de resultados desastrosos e abandonos de Warwick e Cheever, contudo sem apagar a boa impressão deixada durante todo o ano. A Arrows terminou o Mundial de Construtores empatada com a outrora poderosa Lotus e em sua melhor posição em toda a história da equipe, um 5º lugar. E isso só fez crescer a expectativa em relação ao que aconteceria em 1989, quando todo mundo da F-1 voltaria aos motores aspirados.

Mas isso é assunto para a sétima parte da retrospectiva da Arrows.

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