Saudosas pequenas – Theodore, parte I

RIO DE JANEIRO – A história da Theodore Racing começa muito antes da estreia do primeiro carro da equipe na Fórmula 1. Mais precisamente em 1956, ano em que Teddy Yip participa de uma das corridas preliminares do Grande Prêmio de Macau com um Jaguar XK120 de sua propriedade. Ninguém poderia apostar que, menos de duas décadas depois, ele já estaria envolvido até o pescoço com automobilismo.

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Nos anos 70, a Theodore Racing começou a aparecer no esporte em diversas categorias, passando pela Fórmula 5000 em três continentes, a Fórmula Indy, a Fórmula 2 europeia e as competições de Can-Am. E Teddy passaria a ser conhecido como o “Mr. Macau”, pelo entusiasmo com quem disputava a corrida na antiga possessão portuguesa. Até Ayrton Senna seria piloto da Theodore Racing – e venceria o GP de Macau com um Ralt de Fórmula 3, antes de chegar à Fórmula 1.

Por falar em F-1, Teddy Yip começou timidamente na categoria máxima. Estampou seu nome pela primeira vez no Ensign N174 guiado por Vern Schuppan e comprou um assento para Patrick Tambay, que conhecia das competições de Can-Am, guiar na segunda metade da temporada de 1977. No ano seguinte, Teddy fez as contas e chegou à conclusão de que poderia montar sua equipe e ter seu próprio carro de Fórmula 1.

Ele encomendou um projeto a Ron Tauranac, o antigo sócio e designer da Brabham que, depois de deixar a tradicional equipe britânica, começara o projeto do Rondel-Motul que, após abortado, virou o horroroso Trojan T103. O designer neozelandês fez para Teddy Yip o TR1, que faria sua primeira aparição no GP da Argentina com um jovem (20 anos) estadunidense chamado Eddie Cheever.

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Em Buenos Aires, Cheever ficou a cinco segundos e meio da pole position e com o 26º tempo, não se classificando para a largada. Para o GP do Brasil, o piloto ficou a menos de quatro segundos de Ronnie Peterson e mesmo assim ficou novamente de fora, com o 26º lugar entre 28 pilotos. Se isso serve de consolo, nem Vittorio Brambilla correu em Jacarepaguá.

Porém, Cheever não quis pagar para ver: tinha uma oferta de Ron Dennis para se dedicar à equipe Project Four com chassis March e motor BMW na Fórmula 2 e abandonou a Theodore Racing. O lugar foi ocupado por um finlandês igualmente novato: Keijo (Keke) Rosberg.

Entre trinta pilotos, Keke conseguiu um lugar no grid de 26: largou em vigésimo-quarto e sua corrida durou apenas 15 voltas – o tempo necessário para quebrar o motor. Mas o piloto e a Theodore Racing ainda fariam barulho naquele mesmo ano de 1978.

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A equipe apareceu em Silverstone para a disputa do BRDC International Trophy, uma corrida extracampeonato tradicionalmente disputada no veloz circuito inglês. Seria a prova de estreia do Lotus 79, o revolucionário carro-asa desenhado por Colin Chapman e seus engenheiros, além de marcar a primeira aparição do Brabham Alfa Romeo BT46 com Niki Lauda, que acabou não largando.





Décimo-primeiro no grid, Keke Rosberg destacou-se embaixo de um aguaceiro inclemente e venceu a corrida que teve 40 voltas, com pouco mais de dois segundos de vantagem para Emerson Fittipaldi e nada menos que três voltas de frente para Tony Trimmer, que alinhara um McLaren M23 da Melchester Racing com que corria na Fórmula Aurora.

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Apesar do grande desempenho em Silverstone, Rosberg e o Theodore TR1 falharam todas as outras qualificações até o GP da Espanha. Em Monte-Carlo e Jarama, o finlandês sequer passou das pré-qualificações. Como o problema era com o carro, excessivamente pesado e lento, Teddy Yip decidiu manter-se até onde dava, com um novo carro.

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Naquela época a Fórmula 1 permitia que as equipes comprassem bólidos feitos por terceiros e foi o que Teddy fez para manter Keke Rosberg na temporada, embora o finlandês tenha aceitado andar na ATS em três etapas como substituto de Jean-Pierre Jarier, que fora demitido do time alemão. Comprou dois chassis Wolf WR3 e WR4 e com eles disputou três corridas – Alemanha, Áustria e Holanda, não se classificando para o GP da Itália. Com o WR3, Rosberg chegou em décimo em Hockenheim.

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Em 1979, a Theodore voltou a fazer parceria com a Ensign, mas nenhum dos carros feitos por Morris Nunn era competitivo e no ano seguinte, Teddy Yip decidiu remontar sua escuderia. A Shadow, outrora uma razoável equipe de meio de pelotão, que chegou a assustar algumas vezes os times grandes, estava em crise técnica e financeira e o milionário de Hong Kong assumiu a equipe. Por pouco tempo, porém: o DN12, projeto de Vic Morris e Chuck Graeminger era o pior carro do ano e nem Geoff Lees, muito menos David Kennedy conseguiram se qualificar em Monte-Carlo e Paul Ricard.

Teddy Yip resolveu dar um tempo – outra vez – e recomeçar do zero em 1981. Mas isso, meus amigos (as) leitores (as), é assunto para o próximo post.

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