“No money, no race”

RIO DE JANEIRO – Automobilismo. Esporte que, na maioria dos momentos, é cruel. Só existe um vencedor. E muitos, dezenas, centenas de perdedores mundo afora.

A crueldade também dá as caras quando um piloto não consegue atingir o objetivo de angariar o patrocínio necessário para fechar uma vaga numa equipe. Se essa equipe está na Fórmula 1, o buraco é muito mais embaixo. Como dizia Nelson Piquet, “no money, no race”. E hoje, infelizmente, é assim.

Em tempos onde o talento é cada vez mais posto para escanteio, em troca de maletas varadas de dólares, carregadas por pilotos cujo currículo é discutível, o dinheiro é o grande combustível para a sobrevivência das equipes da categoria máxima – exceção feita, talvez, às quatro grandes. Nem a Lotus, que terminou entre as melhores no Mundial de Construtores de 2012, vive uma situação 100% saudável.

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Imaginem a Marussia. A pior equipe do lote, que leiloou os cockpits em troca de milhares de euros. Um foi comprado pelo britânico Max Chilton, filho do dono da seguradora AON. O outro seria do brasileiro Luiz Razia, que anunciou através de um canal de televisão – antes da oficialização por parte da equipe – a sua contratação para o lugar que pertencia antes ao alemão Timo Glock, que ao contrário dos dois pilotos acima citados, recebia para correr.

E algo errado, muito errado, aconteceu no meio do caminho. Razia andou no MR02 de sua nova equipe em Jerez de la Frontera e depois, não mais. A equipe alegou que o pagamento prometido não tinha sido feito. Lembram do “no money, no race”? Então… sem dinheiro, nada de testes a bordo do carro que seria repartido com Max Chilton – ironicamente o piloto que mais quilômetros completou até aqui na pré-temporada.

Como o pagamento falhou e a equipe não quis esperar, aconteceu nesta sexta-feira o inevitável. Luiz Razia ficou a pé para a temporada 2013. O lugar que seria do brasileiro será ocupado por Jules Bianchi, mais um estreante na Fórmula 1. E a França, que há bem pouco tempo não tinha ninguém no grid, vai ter quatro representantes – além de Bianchi, haverá Vergne, Pìc e Grosjean. A Alemanha também ficou com outros quatro pilotos neste ano: Rosberg, Hülkenberg, Sutil e o tricampeão Vettel.

Já o Brasil… bem… ficamos só com Felipe Massa mesmo. É a primeira temporada desde 1978 que só um piloto do país inicia um campeonato sozinho. Naquele ano, Emerson Fittipaldi só teria a companhia de Nelson Piquet a partir do GP da Alemanha. Se levarmos em conta uma temporada completa, a última onde um único piloto do país competiu foi a de 1971 – exatamente no ano de nascimento deste blogueiro.

É preocupante para o torcedor, sem nenhuma dúvida, saber que o Brasil chegou ao patamar mais baixo na Fórmula 1 em mais de três décadas e meia. Mas não surpreende. Eu e muitos outros já vínhamos batendo nesta tecla: com a decadência do automobilismo de consumo interno, era questão de tempo para que a situação atingisse o ponto que atingiu hoje.

Quanto ao Razia, acho que fica bem difícil conseguir algo para este ano – em qualquer outra categoria. Se o sonho do baiano era a Fórmula 1 e algo aconteceu de muito errado no meio do caminho, é preciso admitir e vir a público dizer o que houve de fato. Nós – tanto o blogueiro aqui como vocês, leitores – gostaríamos de saber a verdade em torno do que era um “sim” e hoje se tornou um “não”.

ATUALIZANDO

E o Razia falou, sim, sobre a sua saída da Marussia e os 23 dias como piloto de Fórmula 1. Quem conversou com ele foi o Victor Martins e vocês podem conferir a entrevista aqui.

Comentários

  • Mas convenhamos: Razia não é um exemplo resplandecente de talento.
    Talento por talento, Bianchi tem mais. Isso fica evidente pela sua trajetória.
    Ao escolher o francês, a equipe uniu o útil ao agradável: um piloto talentoso que precisa de experiência + o dinheiro que ele traz consigo.

    • Disse TUDO!!
      O Razia não é metade do que pensa ser ou dizem que seja. . .e o dindim sempre foi meio que de origem nebulosa, em toda a carreira do baiano. . .que fez a maior baianada na F1 . . .nada contra os baianos, apenas para aproveitar o trocadilho, ok !
      Zé Maria

  • Junto ao fato de que Bianchi é queridinho da Ferrari… e esta equipe (marussia) esta sem motor para 2014…
    -parece a fome e a vontade de comer… (os russos são consumidores vorazes de Ferrari)…. e os italianos tem que faezr milhagem…
    Resultado; janta servida!

  • Pra falar a verdade acho que o patrocinador está é certo….Pagar uma baba dessas pro cara andar lá atrás é no mínimo grotesco.. O dindim tá escasso nesse nosso mundão..
    Quanto a Razia.. O tempo vai resolver tudo.. É certo que ele é melhor do que esse carro que iria pilotar.. Certamente se queimaria na categoria… Acho que foi melhor assim…

  • O Razia foi precipitado. Uma pena. Mas de qualquer forma estar na F1 na Marussia ou não estar dá quase na mesma. Piloto de equipe pequena só progride se antes de entrar na equipe já for respaldado por gente graúda, como Alonso na Minardi com o Briatore. No mais só serve pra botar no currículo, se queimar e olhe lá.
    E pro Brasil, sinceramente pouco muda. A situação é tipo a de 95, em que só tínhamos 1 piloto na prática. Não dava pra contar com os dois da Forti…

  • Como você disse, Rodrigo: A pedra já vinha sendo cantada há muito tempo. Ninguém fez nada, ou melhor, fizeram um puta esforço só pra encher os bolsos dos dirigentes de dinheiro. A fase do automobilismo interno já não era boa e, agora mais ainda, com o fim de várias categorias, destruição de autódromos (Jacarepaguá como símbolo máximo), e com a concretização do projeto de perpetuação no poder dessa corja que vem sugando nosso automobilismo, a coisa tende a piorar cada vez mais. E eles ainda têm a cara de pau de dizer que foram reeleitos “por tudo que conquistaram para o automobilismo brasileiro”… É lamentável, é triste, mas a gente sabe onde isso vai dar em poucos anos. A gente já está numa das fases de um círculo vicioso: Sem autódromos, sem patrocinadores, sem categorias de base, sem pilotos se formando, sem pilotos chegando às categorias de elite, e mais autódromos são fechados, etc…
    E o pior é que é muito difícil conseguir reverter essa situação…