Saudosas pequenas – Embassy Hill, parte III (final)

RIO DE JANEIRO – A Embassy-Hill prosseguiu com sua participação na Fórmula 1 em 1975, ano em que Graham Hill enfim daria um ponto final à sua carreira de piloto, que já tinha ultrapassado uma década e meia. Cansado e já com 45 para 46 anos de idade, o veterano bicampeão se aposentaria para cuidar apenas da estrutrura do time.

Formula One World Championship
Rolf Stommelen a bordo do Lola T370 no GP da Argentina de 1975

Apesar disto, o velho Hill estava a bordo do Lola T370 #22 para as duas primeiras corirdas da temporada, Argentina e Brasil, novamente com Rolf Stommelen como companheiro de equipe. O melhor resultado na perna sul-americana foi um 10º lugar de Hill, na Argentina. Muitos não poderiam prever, mas a corrida de Interlagos foi a 176ª e última do britânico em sua longa carreira na Fórmula 1.

Em Kyalami, estreou uma versão ligeiramente melhorada da T370 – o T371, projeto de Andrew Smallman. Stommelen conseguiu um bom 14º lugar no grid e chegou em sétimo, quase marcando o primeiro ponto da Embassy-Hill em 1975. Veio então o polêmico GP da Espanha, em Montjuich, onde o carro passou a se chamar Hill GH1, totalmente desvinculado da Lola.

Essa corrida é aquela mesma que foi interrompida antes de sua primeira metade, justamente em razão de um acidente com o próprio Rolf Stommelen. Após assumir a liderança na 17ª volta até a 21ª e liderar novamente a partir da 23ª passagem, quando ultrapassou o brasileiro José Carlos Pace, da Brabham, Stommelen ficou mais três voltas em primeiro. Aí…

É claro que, dada a precariedade da transmissão do GP da Espanha naquela época, as imagens do vídeo não são muito claras. Mas dá para ver o aerofólio do carro de Stommelen voando, o que provocou o acidente. O alemão perdeu o controle do Hill GH1 e o carro se projetou contra uma arquibancada, matando alguns espectadores e ferindo o piloto gravemente.

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Pavor: o carro de Stommelen, já destruído, provoca um grave acidente no GP da Espanha, em Montjuich
1975, Rolf Stommelen, Hill, Montjuich
O que restou do Hill GH1

Com Stommelen fora, a temporada tinha que continuar para a Embassy-Hill e a corrida seguinte seria o GP de Mônaco. Cinco vezes ganhador da corrida, não por acaso chamado de Mister Monaco, Graham Hill estava pessoalmente a bordo do único GH1 inscrito, pois François Migault, o outro piloto, teve que andar no Lola T370.

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A despedida do “Mister Mônaco”, com uma desclassificação nas ruas de Monte-Carlo

Na qualificação, que só punha 18 carros no grid, Hill tentou ao máximo não ficar de fora de seu último GP de Mônaco. Fez o possível e o impossível, mas o GH1 quebrou no meio do circuito. Superado em 0″37 pelo Hesketh do novato Alan Jones, alinhado pelo time particular de Harry Stiller, o velho Graham estava de fora. Não só da corrida como também da Fórmula 1, pois aproveitou para anunciar sua aposentadoria definitiva das pistas.

Ele encontrou ali mesmo nas ruas do Principado o seu substituto: na corrida preliminar de Fórmula 3, vencida por Renzo Zorzi, Hill se impressionou com o compatriota Tony Brise, um rapagão de 1,95 metro – altura incomum para um piloto de corrida – extremamente veloz e que se envolveu numa colisão com o brasileiro Alex Dias Ribeiro quando ambos disputavam a liderança. O acidente deu a vitória a Zorzi, deixou os ingleses fulos da vida com o brasileiro e Hill ganharia de presente um novo talento a ser lapidado.

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Tony Brise, dono de um potencial que impressionou toda a equipe

Convite feito, convite aceito e Brise estreou pela equipe no GP da Bélgica, em Zolder (ele já defendera a Williams em Montjuich, como substituto de Jacques Laffite). O rapaz de 23 anos parecia íntimo do carro, da pista e da equipe havia anos. E impressionou: fez o 7º tempo na qualificação, mais rápido que o então bicampeão mundial Emerson Fittipaldi. Na corrida, abandonou com quebra de motor. François Migault, que saiu bem mais atrás que Brise, desistiu com quebra de suspensão.

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Em poucas corridas, o britânico de 1,95 metro conquistou seus primeiros pontos na Fórmula 1

Em Anderstorp, na Suécia, Vern Schuppan entrou na vaga de Migault e Brise, em sua terceira corrida na Fórmula 1, largou de décimo-sétimo para chegar em sexto. O garoto de Dartford provou que era uma aposta certeira do velho Hill para o futuro.

Na Holanda, o carro #22 foi ocupado por um novo piloto: o australiano Alan Jones, o mesmo que se classificara em Mônaco e em outras corridas naquele ano com um Hesketh particular, passou a ser o companheiro de Brise. Numa corrida que começou com pista molhada e depois secou, o britânico largou e chegou em sétimo, quase somando mais um pontinho. Jones fechou a disputa em décimo-terceiro.

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Hill a bordo do carro reserva da equipe para uma volta de despedida em Silverstone

Em Paul Ricard, Brise novamente bateu na trave com mais uma 7ª posição, enquanto Jones não ia além de décimo-sexto. Na Inglaterra onde Jones foi décimo e Brise bateu, Hill aproveitou a ocasião para uma emocionada despedida a bordo de seu carro, dando uma volta de consagração para delírio de mais de 100 mil torcedores no circuito de Silverstone.

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Alan Jones marcou pontos com o Hill GH1 no GP da Alemanha, com um 5º lugar

Enquanto Brise batia novamente, desta vez no circuito de Nürburgring, Alan Jones dava a Graham Hill o melhor resultado da história da equipe, com uma 5ª posição no circuito alemão. Mesmo assim, Jones não ficou na Embassy Hill para as corridas finais: Rolf Stommelen, refeito da pancada na Espanha, reapareceu e assumiu o cockpit do #22 na Áustria, onde foi 16º e na Itália, onde se acidentou de novo – o que o deixou de fora da corrida final da temporada em Watkins Glen, nos EUA. Brise correu e saiu da disputa na 6ª volta.

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O GH2 estava pronto para o Mundial de 1976

Àquela altura, o novo carro da equipe já estava em construção e praticamente pronto para a disputa do Mundial de 1976. O Hill GH2 era um projeto bastante arrojado do designer Andrew Smallman, um dos mais bonitos daquele campeonato. Com a lateral baixa, tinha tudo para se sair bem quando mudasse o regulamento em maio de 76, durante o GP da Espanha, quando os periscópios dos motores seriam banidos da categoria.

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A equipe no lançamento do carro que nunca disputou qualquer corrida; em 29 de novembro de 1975, Hill, Brise, o designer Andrew Smallman e alguns mecânicos morreram num desastre aéreo

Após uma sessão bem-sucedida de treinos em Paul Ricard, na França, Graham Hill e equipe voltavam no avião particular do bicampeão em direção à base de Biggin Hill, de onde sempre decolava para suas viagens europeias. Na aeronave, um modelo Piper Aztec, estavam o dono da equipe, seu principal piloto Tony Brise, o engenheiro Andrew Smallman e alguns mecânicos do time.

Naquele 29 de novembro de 1975, a neblina era forte e Hill, atrapalhado por ela, procurava um lugar para fazer um pouso emergencial. Porém, não houve tempo: o bicampeão mundial e então dono de escuderia da Fórmula 1 perdeu o controle do Piper Aztec e caiu perto de um campo de golfe, em Elstree. Houve incêndio. E infelizmente todos os ocupantes morreram.

Estava decretado o trágico fim da equipe Embassy-Hill e a perda não só de um grande campeão das pistas como também de uma promessa britânica do automobilismo. Além do choque tremendo, a família de Graham passou por maus bocados: a viúva Betty e seus filhos perderam tudo o que tinham e tiveram que ir à luta.

O jovem Damon Hill, então com 15 anos quando o pai perdeu a vida, quis ser piloto. E mesmo tendo passado dos 30, estreou na Fórmula 1 e não só venceu corridas como o pai, como também seguiu o velho Graham e foi campeão mundial em 1996. Agora, quem surge no automobilismo é a terceira geração da família: Josh Hill, filho de Damon, que vai andar na Fórmula 3 europeia neste ano.

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