Saudosas pequenas – Simtek, parte II (final)

RIO DE JANEIRO – Após um duríssimo ano de aprendizado, a Simtek esperava colher os frutos da experiência do campeonato de 1994 no segundo ano de existência do time de Nick Wirth na Fórmula 1. A equipe enfrentava – ainda – algumas dificuldades a nível financeiro e não faltou quem se dispusesse a ajudá-la.

Flavio Briatore foi um deles: o esperto italiano ofereceu ao time britânico os câmbios semi-automáticos desenvolvidos pela Benetton, para ajudar no desenvolvimento do novo S951, projeto do próprio Wirth com assessoria de Paul Crooks. Em troca da transferência de tecnologia, Briatore ofereceu os préstimos do holandês Jos Verstappen, então com 23 anos e empresariado pelo dirigente máximo da equipe das cores unidas.

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O segundo carro começaria guiado por Domenico “Mimmo” Schiattarella, mas o japonês Hideki Noda entrou com patrocinadores pessoais para repartir o cockpit do bólido quando a Simtek o solicitasse. Mas no começo do ano, a vaga era mesmo de Schiattarella.

No Brasil, os dois carros com motor Ford Cosworth EDB começaram largando das últimas filas. Verstappen fez o 24º tempo e Schiattarella o último. Ambos abandonaram. Mas, na Argentina, a equipe mostrou uma evolução espantosa: num treino disputado sob forte chuva e piso molhado, Verstappen qualificou-se na sétima fila e seu companheiro de equipe foi o vigésimo.

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Na corrida, Verstappen impressionou: chegou a andar em sexto entre a 17ª e 22ª volta até sua parada de box para troca de pneus e reabastecimento. Só que seu pit foi muito mais lento que o habitual e o holandês logo abandonaria. Schiattarella levou o seu carro até o fim e chegou em nono.

Em San Marino e Barcelona, nas duas provas seguintes, novamente Verstappen fez barulho, colocando um carro de uma equipe que só andava entre os últimos em 1994 no meio do pelotão, melhor que Minardi e Arrows, por exemplo. Entretanto, tamanha velocidade não era respaldada pelo desempenho em pista. Enquanto em Imola os dois abandonaram, Verstappen e Schiattarella foram, respectivamente, 12º e 15º em Barcelona.

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Às vésperas do GP de Mônaco, mesmo com os apoios pessoais de Schiattarella e Noda, a situação da equipe era preocupante e ruinosa. Nos bastidores, falava-se de uma possível associação da Volkswagen através da marca Skoda, para que a equipe se salvasse da bancarrota. Havia ainda a simpatia de Flavio Briatore, uma possível ‘proteção’ da FIA em razão do fato de Max Mosley ter aceito a Simtek para competir na Fórmula 1 em 1994 e estes fatores poderiam ser favoráveis para o futuro do time.

Acontece que os resultados não foram os esperados no Principado: Schiattarella largou em 20º, bateu na primeira largada e não pôde voltar. Verstappen, vigésimo-terceiro no grid, foi traído pelo câmbio. Não podia ser pior para Nick Wirth, que sem os prometidos apoios, se viu obrigado a fechar as portas. Hideki Noda, coitado, sequer andou e ficou a ver navios. A Simtek encerrou suas atividades com 21 GPs disputados em uma temporada e apenas cinco corridas no segundo ano de existência.

Nick Wirth não ficou de mãos abanando: foi contratado pela própria Benetton, de quem recebera tecnologia para o S951, para projetar um túnel de vento. Depois, ele foi o responsável pelo projeto da Acura e posteriormente da Honda Performance Development (HPD) nas classes LMP1 e LMP2 nas mais diversas competições de Endurance. O engenheiro ainda voltaria à Fórmula 1 como o responsável pelo desenvolvimento dos carros da Virgin (hoje Marussia), através do sistema Computational Fluid Dynamics (CFD), que não deu muito certo – a ponto de Wirth ser afastado de suas funções.

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