Audi faz 1-2 no WEC com show de McNish; Pizzonia e Senna vencem também

68588_438094596275188_1081410096_n

RIO DE JANEIRO – Tristes aqueles que nunca viram uma corrida de Endurance na vida. Mais tristes ainda os que não puderam ver neste domingo as 6 Horas de Silverstone, corrida de abertura da temporada 2013 do Campeonato Mundial de Endurance (WEC). Na ponta do lápis, ao longo de 197 voltas, houve catorze trocas de líder. Tudo bem: a Audi, com seus modelos R18 e-tron quattro, dominou praticamente a disputa inteira. Mas ninguém contava com o que o escocês Allan McNish viria a fazer no trecho final da disputa.

521775_438094452941869_349787117_n

Em parte, o piloto de 43 anos até se beneficiou de uma falha no carro #1 dos atuais campeões Marcel Fässler/Andre Lotterer/Bénoit Tréluyer, que não tinha o sistema híbrido flywheel funcionando a contento por um problema de cardã no protótipo coirmão. Na última meia hora, descontente com o comportamento do #2 e reportando vibração nos pneus após uma saída de pista, McNish entrou nos pits para a última parada de rotina. Reabastecimento de diesel, troca de pneus e lá se foi o piloto babando para cima de Tréluyer, que antes do problema do companheiro de equipe já dera duas escapadas de pista também.

483435_438094506275197_854511977_n

Quando os dois passaram pelo transponder da cronometragem, a diferença entre primeiro e segundo colocado era de 33 segundos. Houve quem duvidasse que McNish tiraria a diferença para deixar o final ainda mais imprevisível e emocionante. E o escocês trucidou a vantagem: 24 segundos… 20… 18… 15…13… 9… 6… 5… menos de um segundo! “Multi 21” como na Fórmula 1? Nem pensar. Não há jogo de equipe na Audi. Vence quem está melhor. E o carro #2 voava. McNish fez nesse interregno a volta mais rápida em 1’42″767, superando em quase dois décimos o tempo obtido por Tréluyer no correr da disputa.  Por isso, Allan chegou no francês, passou e venceu – com três segundos de vantagem, registre-se. Uma atuação soberba onde não restou outra alternativa a Tom Kristensen e ao recém-chegado Loïc Duval: aplaudir de pé a performance do companheiro de pilotagem.

Foi um final digno de uma grande abertura de campeonato e é de se lamentar de todo modo que a Toyota não tenha sido páreo para a Audi apesar da primeira fila obtida na véspera. Ainda com o TS030 spec 2012, os japoneses sofreram com a má performance de Stéphane Sarrazin no #8, o que ninguém esperava, e também com o erro de estratégia que levou o #7 de Alex Wurz/Nicolas Lapierre, tido como o mais direto rival dos bólidos alemães, a fazer nove paradas nos boxes.

2012-6-Heures-de-Silverstone-MOTOR-RACING-02113802-273_hd

Houve um determinado momento da corrida em que choveu e a equipe decidiu trocar os pneus slicks por um slick riscado à guisa de intermediário. A chuva assustou, mas não molhou a pista e o rendimento do carro não foi muito superior ao dos e-trons que ‘patinavam’ com pneus apropriados para piso seco. Por conta dessa aposta, a dupla acabou apenas em quarto lugar na geral, atrás de Sarrazin/Davidson/Buemi – este último, com boa atuação no seu turno de pilotagem.

Motor Racing - FIA World Endurance Championship - WEC- Round 1 - Silverstone, England

Com o abandono do HPD da Strakka Racing, nocauteado após uma forte colisão com a Ferrari LMGTE-AM da AF Corse, a Rebellion reinou sozinha em Silverstone entre os LMP1 sem vínculo com fábricas e movidos somente a gasolina, sem sistemas híbridos. O #12 de Nicolas Prost/Neel Jani/Nick Heidfeld foi bem mais constante no correr da disputa e conquistou um merecido 5º lugar, somente quatro voltas atrás do Audi vencedor, o que é bastante positivo. O #13, graças a um festival de barbaridades do chinês Congfu Cheng, levou três voltas do carro gêmeo do time suíço e completou em sexto.

MOTORSPORT - 6 HOURS OF SILVERSTONE WEC 2013

Na LMP2, a Delta-ADR dominou grande parte da disputa e viu coroados os esforços de seus pilotos: o brasileiro Antonio Pizzonia liderou a tripulação do Oreca 03 Nissan número #25 para uma importante vitória, com o 7º posto na geral, 13 voltas atrás do Audi vencedor. Responsável pelo melhor tempo do carro na pista, o amazonense teve a companhia do britânico James Walker e do tailandês Tor Graves durante a corrida, recebendo a quadriculada com uma volta inteira de avanço sobre o Morgan Nissan #24 da OAK Racing partilhado por Olivier Pla/David Heinemeier-Hänsson/Alex Brundle.

Após um início muito complicado, a ítalo-argentina Pecom Racing conquistou um suado 3º lugar na divisão, com um ótimo turno de Pierre Kaffer no fim da prova, batendo o Morgan #35 da OAK Racing e o Zytek #41 da Greaves, que chegaram a lutar de forma hercúlea pelo último lugar no pódio. Aliás, efetivamente o bólido de Tom Kimber-Smith/Michael Marsal/Chris Dyson chegou em terceiro, mas o trio foi punido com a perda de uma volta e baixou para o 5º lugar na divisão, 11º na geral.

A KCMG, de Hong Kong, conquistou um interessante 6º posto em sua corrida de estreia no WEC. Alexandre Imperatori, um dos pilotos da trinca, chegou a andar em segundo. Não fosse alguns probleminhas mecânicos e o carro do time de Paul Ip teria dado trabalho à OAK e Greaves no fim da disputa. Por falta de confiabilidade, os Lotus T128 ficaram pelo caminho. Mas o carro – lindo, por sinal – mostrou que poderá dar trabalho quando melhor desenvolvido. Pela aparência, já foi chamado até de “Mini-Audi”.

252_AMR_WEC2013_Rnd1_Silverstone.crop

Na LMGTE-PRO, o Aston Martin Vantage #97 dominou back to back as 6 horas de disputa: liderou do começo ao fim sem sustos – mesmo com problemas com o controle de tração do carro, especialmente quando a pista ficou úmida – e a tripulação formada por Darren Turner/Stefan Mücke/Bruno Senna deu à marca uma vitória muito importante, pois neste ano se comemoram 100 anos de fundação do construtor britânico. E nada melhor do que um pódio para dar mais visibilidade à equipe.

383005_10151436756569285_291424478_n

Os Vantage, é bem verdade, foram bastante beneficiados pelo Balance of Performance (BoP) divulgado antes do começo do campeonato. Mas o trabalho dos três pilotos foi muito bom e Senna começa sua caminhada no WEC no topo do pódio. O sobrinho de Ayrton Senna pode ficar tranquilo: não há tanta pressão nem cobranças descabidas. E vai ser feliz, livre da Fórmula 1 e do pachequismo exacerbado de uns e outros.

1300328_ccl

Quem também deixou sua marca em Silverstone com boa atuação, apesar de uma rodada – fruto de água ou óleo que escorreram no acidente entre o HPD de Nick Leventis e a Ferrari de Jack Gerber – foi o “mito” Kamui Kobayashi, que com o parceiro finlandês Toni Vilander subiu também ao pódio em sua estreia na Endurance com a 2ª posição na classe. O outro Aston, o #99 de Paul Dalla Lana/Fréderic Makowiecki/Pedro Lamy, reagiu no fim para terminar em terceiro, à frente do Porsche 911 (991) GT3 RSR de Marc Lieb/Richard Lietz/Romain Dumas, que estreou de forma até discreta nesta corrida.

Os atuais campeões Gianmaria Bruni/Giancarlo Fisichella tiveram um domingo atribulado. Sem grande chance de lutar por vitória ou pódio, contentaram-se com o quinto posto no grupo, seguidos por Jörg Bergmeister/Patrick Pilet/Timo Bernhard, no único carro que realmente teve alguns problemas no correr da disputa, sanados a tempo de nenhum dos LMGTE-PRO abandonar a prova.

2012-6-Heures-de-Silverstone-MOTOR-RACING-02113802-284_hd

E na LMGTE-AM também houve brasileiro no pódio: Fernando Rees e seus parceiros franceses Patrick Bornhauser e Julien Canal chegaram em 2º lugar no Corvette #50 da Larbre Competition – e isto após uma disputa férrea com a Ferrari #81 que no fim da corrida era guiada pelo português Rui Águas. Houve um contato entre o “trovão” e o carro alaranjado, que teve um pneu furado e mesmo assim voltou à pista para conquistar o terceiro posto. A vitória, sem susto algum, foi do trio dinamarquês formado por Christoffer Nygaard/Allan Simonsen/Kristian Poulsen, que faturou com três voltas de vantagem.

Um grande, excepcional, fantástico início de campeonato. E, sem ser redundante – mas já sendo – é só o começo mesmo. Dia 4 de maio vem mais por aí, com as 6 Horas de Spa-Francorchamps, o grande teste de pilotos e equipes para a 81ª edição das 24 Horas de Le Mans.

O resultado final das 6 Horas de Silverstone é este:

1º #2 Allan McNish/Tom Kristensen/Loïc Duval
Audi R18 e-tron quattro LMP1
197 voltas em 6h00min01seg686

2º #1 Marcel Fässler/Andre Lotterer/Bénoit Tréluyer
Audi R18 e-tron quattro LMP1
a 3seg462

3º #8 Stéphane Sarrazin/Sébastien Buemi/Anthony Davidson
Toyota TS030 Hybrid LMP1
196 voltas

4º #7 Alex Wurz/Nicolas Lapierre
Toyota TS030 Hybrid LMP1
196 voltas

5º #12 Nicolas Prost/Neel Jani/Nick Heidfeld
Lola B12/60 Toyota LMP1
193 voltas

6º #13 Andrea Belicchi/Congfu Cheng/Mathias Beche
Lola B12/60 Toyota LMP1
190 voltas

7º #25 Antonio Pizzonia/James Walker/Tor Graves
Oreca 03 Nissan LMP2
184 voltas

8º #24 Olivier Pla/David Heinemeier-Hänsson/Alex Brundle
Morgan Nissan LMP2
183 voltas

9º #49 Pierre Kaffer/Luis Perez-Companc/Nicolas Minassian
Oreca 03 Nissan LMP2
179 voltas

10º #35 Bertrand Baguette/Martin Plowman/Ricardo Gonzalez
Morgan Nissan LMP2
179 voltas

11º #41 Michael Marsal/Chris Dyson/Tom Kimber-Smith
Zytek Z11SN Nissan LMP2
179 voltas

12º #47 Alexandre Imperatori/Matthew Howson/Jim Ka To
Morgan Nissan LMP2
179 voltas

13º #26 Roman Rusinov/John Martin/Mike Conway
Oreca 03 Nissan LMP2
176 voltas

14º #97 Stefan Mücke/Darren Turner/Bruno Senna
Aston Martin Vantage V8 LMGTE-PRO
171 voltas

15º #71 Toni Vilander/Kamui Kobayashi
Ferrari F458 Italia LMGTE-PRO
170 voltas

16º #99 Paul Dalla Lana/Fréderic Makowiecki/Pedro Lamy
Aston Martin Vantage V8 LMGTE-PRO
170 voltas

17º #92 Romain Dumas/Richard Lietz/Marc Lieb
Porsche 911 (991) GT3 RSR LMGTE-PRO
170 voltas

18º #51 Gianmaria Bruni/Giancarlo Fisichella
Ferrari F458 Italia LMGTE-PRO
170 voltas

19º #95 Christoffer Nygaard/Allan Simonsen/Kristian Poulsen
Aston Martin Vantage V8 LMGTE-AM
169 voltas

20º #91 Jörg Bergmeister/Patrick Pilet/Timo Bernhard
Porsche 911 (991) GT3 RSR LMGTE-PRO
168 voltas

21º #50 Patrick Bornhauser/Fernando Rees/Julien Canal
Chevrolet Corvette C6-R ZR1 LMGTE-AM
166 voltas

22º #81 Enzo Potolicchio/Rui Águas/Philipp Peter
Ferrari F458 Italia LMGTE-AM
165 voltas

23º #96 Roald Goethe/Jamie Campbell-Walter/Stuart Hall
Aston Martin Vantage V8 LMGTE-AM
165 voltas

24º #88 Christian Ried/Paolo Ruberti/Gianluca Roda
Porsche 911 (997) GT3 RSR LMGTE-AM
165 voltas

25º #57 Tracy Krohn/Maurizio Mediani/Nic Jönsson
Ferrari F458 Italia LMGTE-AM
164 voltas

26º #76 Raymond Narac/Christophe Bourret/Jean-Karl Vernay
Porsche 911 (997) GT3 RSR LMGTE-AM
163 voltas

27º #45 Jean-Marc Merlin/Jacques Nicolet
Morgan Nissan LMP2
154 voltas

28º #61 Jack Gerber/Matt Griffin/Marco Cioci
Ferrari F458 Italia LMGTE-AM
139 voltas

29º #32 Thomas Josef Holzer/Dominik Kraihamer/Jan Charouz
Lotus T128 LMP2
113 voltas (não recebeu classificação)

30º #21 Nick Leventis/Danny Watts/Jonny Kane
HPD ARX-03c LMP1
55 voltas (abandonou)

31º #31 Kevin Weeda/Christophe Bouchut/Vitantonio Liuzzi
Lotus T128 LMP2
44 voltas (abandonou)

Comentários

  • Meu, tem tanto coisa acontecendo numa corrida de 6 Horas por causa das 4 classes que você nem vê o tempo passar. O cara que chama de monótono ou não entende o que está acontecendo (o que é bem capaz) ou realmente é “fanzente” de F1 aí só os meus pêsames para uma criatura destas. McNish destruindo tudo em Silverstone e o Kristensen andou muito também mostrando que no endurance a idade pode ser um pouco mais avançada e calou a boca dos lado jovem da Audi que sentiu a pressão e ficou de cara fechada. Mas faz parte do jogo as vezes se ganha as vezes se perde né verdade ? A disputa na LMP2 foi boa do 2º pra baixo porque o Pizzonia andou demais mas no final os outros carros estavam chegando. Aquele Lotus T128 é sensacional. Tomara que tenham dinheiro para evoluir. A GTE-PRO, o BOP só beneficiou os Aston o que me parece ser exagerado demais num esforço para que eles andem bem nos 100 anos da marca, mas acho que não precisava disso. A equipe de David Richards é competente o suficiente para ganhar sem tamanha ajuda. A diferença é brutal de reta e com um tanque maior eles param bem depois. Na GTE-AM foi a mesma coisa. O destaque ficou para a briga no final entre o Corvette e a Ferrari mesmo.

  • Foi um ótimo começo de campeonato! O ano promete!
    Excelente texto, Rodrigo, meus parabéns, você é um exemplo de jornalista!