Pequenas maravilhas – Ford GT40 (1969)

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RIO DE JANEIRO – Este é um carro com uma história bastante singular. Foi concebido para ser a resposta de Henry Ford II à Ferrari, quando Detroit quis assumir a marca de Maranello, antes de ser absorvida pela Fiat, o que só aconteceria em 1973.

A história que norteou a criação deste verdadeiro monstro das pistas é deliciosa e vale ser compartilhada. Lá por 1965/66, Enzo Ferrari queixava-se de dificuldades financeiras e a Ford, que tentara suas primeiras investidas equipando os AC Cobra de Carroll Shelby, fez uma proposta indecorosa ao Comendador, querendo comprar a Ferrari e assim assumir o Reparto Corse (Departamento de Competição) e toda a produção de GTs em pequena escala.

Franco Gozzi, secretário particular de Enzo Ferrari, narrou assim o episódio:

“Na reunião final, com os acertos transformados em documentos, tudo corria aparentemente bem. Mas na leitura dos papéis, o Comendador pegou a caneta – um sinal que achara alguma coisa que precisava correção. A redação dos advogados da Ford trazia duas expressões que fizeram o velho Ferrari sair do sério. Falava em submissão e na necessidade de obter aprovação da Ford para despesas em competições que ultrapassassem certo teto. O Comendador Ferrari leu o texto, sublinhou tais palavras com sua caneta de tinta violeta. Não assinou. E encheu a sala com uma torrente que se imaginava serem palavrões – eram, mas em dialeto que nem os advogados da Ford nem seus tradutores entenderam – ficando em dúvida sobre o que estava ocorrendo.”

Ato contínuo, Enzo retirou-se da sala e chamou Gozzi para almoçar. E não voltou mais, deixando os advogados, tradutores e o representante da Ford Europa na mão. Em Detroit, Henry Ford II tomou conhecimento do ocorrido e decretou: “Vamos fazer um carro para passar feito rolo compressor sobre a Ferrari.”

Dito e feito: com orçamento ilimitado, contratou quem quis e por quanto podia. Lee Iaccocca, o famoso executivo idealizador do projeto do Mustang, apresentou seus planos de construir um carro capaz de superar a barreira das 200 milhas por hora.

Foi pedida ajuda para Eric Broadley, da Lola e a John Wyer, egresso da Aston Martin. E em 1966, a Ford respondeu à altura cravando os três primeiros lugares com o protótipo MK II. Bruce McLaren venceu em dupla com Chris Amon e durante a prova, Dan Gurney tornou-se o primeiro a virar acima de 230 km/h de média horária.

Em 67, com a evolução do modelo – rebatizado de MK IV – os heróis de Indianápolis Dan Gurney e A.J. Foyt derrotaram os cavalinhos empinados. E com direito a novo recorde de volta na prova, a 238 km/h – com o carro de Denny Hulme/Mario Andretti.

Para o ano seguinte, chegou o monstruoso Ford GT40, um veoitão puro-sangue com 5 litros de capacidade cúbica. E com ele, a marca do oval de Detroit chegou ao tricampeonato em Le Mans, com o excepcional Pedro Rodriguez e o belga Lucien Bianchi.

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A quarta vitória foi de novo obtida com o GT40 e em circunstâncias dramáticas: Jacky Ickx, que quase perdera o sogro “Beurlys”, acidentado um ano antes, protestou contra as condições de segurança e o procedimento de partida, onde o piloto corria em direção ao carro, ligava-o, não atava os cintos e pisava fundo já na primeira volta. Largou por último porque decidiu não sair sem os cintos de segurança afivelados. E como efeito, escapou do acidente que matou o piloto John Woolfe.

Durante a prova, ele e Jackie Oliver tiveram nos Porsches uma duríssima oposição, em especial o modelo 908 de Gérard Larrousse e Hans Herrmann. Nas últimas voltas, houve uma inesquecível disputa entre o Ford GT pintado nas cores da Gulf e o Porsche, no que resultou na chegada mais apertada da história da prova: vinte metros apenas. E Ickx venceria pela primeira de seis vezes em que triunfou em Sarthe.

23+6+Auto+Art+1.18

O Bento Bach, que sempre colabora com o blog, foi quem trouxe a miniatura do GT40 #6 da equipe Gulf-John Wyer que venceu em 1969, na escala 1:18, produzida pela AutoArt. Valeu, Bento! Continue colaborando!

Comentários

    • Sim isso mesmo, e que os atuais Ford GTs teriam a sua denominação inicial de Ford GT 43, por serem um pouco mais altos e largos.. Porem não foi aprovada a idéia infelismente…
      Só a titulo de comentário um carro histórico que foi reeditado foi brutalmente achincalhado pelo narrador desinformado dos problemas enfrentados por quem se propos a redita-lo.Esse narrador do Sportv no fim de semana passado falou um monte de maldades de um carro 2004 que está correndo na Fia GT. Carro que não sofreu evolução. Seus fabricantes deixaram bem claro a equipe que o carro teria sérios problemas por não ter peças de reposição. Seria melhor a equipe ter optado por um modelo 2012, que é fabricado por encomenda e é totalmente diferente do de 2004. Outro grupo o fabricava, e não deixou documentação para a manutenção dos seus produtos…
      Infelismente a desinformação é uma arma muito poderosa nas mãos desses narradores de fim de semana que se aventuram em assuntos sem o conhecimento necessário..Esse deve seguir a linha dos que se acham os mais poderosos do mundo por terem a mídia ao seu dispor…Isso tem que acabar de um jeito ou de outro..
      Agora a história vitoriosa do Fordão é muito maior do que esse comentário no mínimo infeliz…Quem viu o ano passado os fordões andarem em Interlagos sabem que andaram e muito…
      Valeu….
      Seu comentário sobre a denominação do GT 40 foi 10!!! Eu mesmo só descobri isso a uns anos atrás nos boxes de Interlagos. Quando da apresentação dos Ford GTs para a GT3. Colocaram um Ford GT40 MKII de 7litros. “”Carro de corrida restaurado que veio ao Brasil só para essa apresentação””” ao lado dos dois novos e distribuiram um panfleto dizendo das diferenças de cada carro….Eu mesmo se tivesse uma trena ali na hora teria medido a altura do carro…..

  • Belo post sobre está verdadeira jóia do automobilismo mundial!!!Ferrari Killer!!!! Porém está mini está me parecendo mais um Jouef ou Universal Hobbies do começo dos anos 90, as quais considero mais preciosas que as badaladas Autoart atuais.