Saudosas pequenas – Minardi, parte I

minardiRIO DE JANEIRO – A série Saudosas Pequenas chega ao fim. Deixei por último aquela que é, sem nenhuma dúvida, a mais querida entre todas as escuderias da turma do fundão. A que mais deixou saudade entre os fãs. E até mesmo entre o pessoal do paddock, pela qualidade da comida que se servia nos intervalos dos treinos. Essa equipe não podia ser outra que não a Minardi, presente na categoria máxima entre 1985 e 2005. Duas décadas de histórias que vamos relembrar a partir de agora.

É claro que tudo começou bem antes de 1985: o fundador do time, Giancarlo Minardi, começou no automobilismo aos 25 anos de idade, em 1972, na mesma Faenza onde seu pai Gianni tinha uma concessionária Fiat. Sua equipe se chamava primeiro Scuderia del Passatore, pela qual despontou Giancarlo Martini, recentemente falecido, com o título da Fórmula Italia em 1973.

Martini foi a primeira aposta de Giancarlo Minardi no automobilismo e os dois voltaram a se encontrar na Fórmula 2, onde a Scuderia Everest (novo nome do time de Minardi) dava seus primeiros passos em 1974. A estreia do time deu-se com um 16º posto em Hockenheim, na Alemanha.

Pelos dois anos seguintes, Giancarlo Martini seria piloto de seu xará na categoria de acesso à Fórmula 1. Em 22 corridas com os March BMW alinhados por Minardi, Giancarlo fez dois pódios. Foi 3º no GP de Thruxton em 1975 e Rouen les Essarts, 1976.

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Giancarlo Martini e a Ferrari 312T cedida a Giancarlo Minardi

Neste ano de 76, aliás, Giancarlo Minardi teve a distinção de receber de Enzo Ferrari um chassi de Fórmula 1. Após algumas tratativas, o jovem dono de equipe, então com 29 anos, realizava um sonho dele e de Giancarlo Martini, alinhando uma Ferrari 312 T em duas corridas extra-oficiais, não válidas pelo campeonato.

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A equipe fez apenas duas provas em 1976, nenhuma delas válida pelo Mundial de Fórmula 1

Você, leitor ou leitora, conhece um pouco da história: Martini não conseguiu correr na Race of Champions em Brands Hatch e foi 10º colocado no International Trophy em Silverstone. E foi só. A Scuderia Everest, após estas duas aparições fugazes, voltou a se concentrar na F-2. Em 1977, o time alinhou um modelo Martini MK22 Renault. A razão para isso? O construtor francês Tico Martini era a sensação daquele momento. Mas o desempenho não foi bom: Giancarlo Martini fez apenas um 8º lugar em Nogaro e foi 12º em Nürburgring e no Estoril.

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Elio de Angelis foi um dos primeiros destaques da equipe Everest nas categorias menores

Na temporada de 1978, Giancarlo Minardi trouxe para a sua equipe um jovem (18 anos) italiano chamado Elio de Angelis, que barbarizara no kart e na Fórmula 3 de seu país. Ele também mudou o carro: saiu o Martini Renault e entrou um Chevron B42 com motor Dino Ferrari V6. Na primeira prova, em Thruxton, Elio bateu logo no começo, junto com o brasileiro Ingo Hoffmann e o estadunidense Don Breidenbach.

Em Nürburgring, lendário circuito alemão onde Alex Dias Ribeiro obteve uma vitória histórica, De Angelis foi 10º e Giancarlo Martini, em sua última corrida pelo time, chegou em décimo-nono, com um Chevron B40 de motor BMW. A equipe não foi a Pau e Elio chegou em 14º no GP de Mugello, uma volta atrasado. Um 10º posto em Vallelunga, também na Itália, foi precedido de um abandono em Rouen – e desde a corrida italiana, o segundo cockpit passava a ser ocupado por um argentino: Miguel Angel Guerra, que concluiu a prova de Vallelunga em 13º lugar.

Em Donington, numa corrida de duas baterias, Guerra chegou em sétimo e De Angelis novamente abandonou – saindo do time para guiar os Chevron patrocinados pela ICI em Nogaro, onde o argentino não terminou. Angel Guerra foi oitavo em Enna, mas não obteve vaga no grid em Misano Adriático, onde o velho Clay Regazzoni colaborou com o time, contudo sem concluir a disputa.

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O argentino Miguel Angel Guerra correu em seu país com um carro do time de Giancarlo Minardi em 1978

A equipe veio à Argentina no fim do ano para uma temporada internacional de Fórmula 2. Rega alinhou um Chevron B40 com motor BMW e Angel Guerra regressou para andar na B42 com motor Dino Ferrari. O suíço foi 3º colocado em Buenos Aires após não largar em Mendoza. Guerra só fez a segunda corrida da mini-temporada, chegando na 8ª posição.

Em 1979, Guerra seguiu com Giancarlo Minardi para fazer toda a temporada europeia com um March 792 de motor BMW. Logo na segunda corrida, foi 3º colocado em Hockenheim. Ainda fez um quarto posto em Thruxton e um sexto em Pau. Marcou oito pontos e teminou o campeonato em 13º lugar, empatado com o italiano Alberto Colombo.

A Everest cansou-se de patrocinar e dar nome ao time de Giancarlo Minardi na Fórmula 2. Como única saída, Giancarlo acabou mudando o nome de sua equipe, batizando-a com seu sobrenome. Finalmente, em 1980, ele saía da sombra e se tornava também construtor. Homeageando o pai, Gianni Minardi, que em 1947 fizera um biposto de corrida com motor Fiat, construído em sua Faenza natal, Giancarlo batizou seu primeiro carro de Minardi GM75 – a mesma sigla do modelo antigo.

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Com o GM75, o primeiro monoposto genuinamente construído pela Minardi, Guerra fez um campeonato razoável no Europeu de Fórmula 2 em 1980

Angel Guerra disputou quase toda a temporada completa com o novo carro. Chegou em 4º lugar no circuito de Mugello, no melhor resultado do piloto em 1980. Acabou em nono no campeonato de pilotos com 10 pontos, tendo chegado entre os seis primeiros mais quatro vezes, com três quintos lugares (Pau, Zolder e Misano) e um sexto posto em Silverstone. Outros nomes também guiaram o Minardi GM75: Beppe Gabbiani (14º em Silverstone), Johnny Cecotto (15º em Zandvoort) e Bruno Corradi (13º em Vallelunga).

Como o argentino subiu para a Fórmula 1, assumindo um cockpit na Osella, Giancarlo Minardi chamou Johnny Cecotto e um jovem italiano, chamado Michele Alboreto, para guiarem o segundo carro construído por ele para a F-2: o Minardi Fly 281 com motor BMW. A entrada do “Fly” no nome do bólido é que o desenvolvimento ficou por conta do Studio Fly de Bolonha, comandado por Giacomo Caliri, que fez um reestudo do GM75.

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Michele Alboreto deu à Minardi a primeira vbitória da equipe na Fórmula 2

Cecotto fez apenas quatro corridas com o Fly 281, obtendo um 4º lugar em Thruxton como melhor resultado. Alboreto foi bem mais feliz: embora já estivesse comprometido com a Tyrrell na Fórmula 1 desde o GP de San Marino daquele ano de 1981, fez um 3º lugar em Enna e deu à Giancarlo Minardi a glória suprema da primeira vitória como construtor no circuito de Misano Adriático, o mesmo hoje batizado com o nome do piloto de MotoGP Marco Simoncelli.

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O Minardi M281B fez um campeonato razoável em 1982

Em 1982, os “eleitos” de Giancarlo Minardi foram dois novatos, também italianos: Alessandro Nannini, então com 23 anos e Paolo Barilla, de 21, herdeiro da indústria de alimentos. Só Nannini pontuou com o modelo 281B, chegando em 5º lugar em Silverstone na abertura do campeonato e em segundo no encerramento, em Misano. Com 8 pontos, “Sandro” fechou o ano em 10º lugar entre os pilotos.

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Pier Luigi Martini estreou na F-2 com o M283

A Minardi podia ser um time pequeno, mas progredia a olhos vistos na Fórmula 2, especialmente na construção de seus bólidos – verdadeiros Fórmula 1 em miniatura. O modelo M283 concebido para o Europeu de 1983 é um assombro. O carro guiado por Nannini e pelo recém-chegado Pierluigi Martini espanta toda a categoria pelo bom gosto e pelas soluções de aerodinâmica. Mas os resultados são modestos: Alessandro marca um 2º posto em Nürburgring, um quarto em Mugello e um quinto em Hockenheim. Martini foi 2º em Misano e só.

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Na última temporada da história da categoria, Nannini acelerou o M283B

E já que todo mundo falava que os F-2 de Giancarlo eram parecidos com modelos F-1, eis que o construtor de Faenza decide, para 1984, fazer o seu primeiro carro para a categoria máxima. Não sem antes participar da última temporada da história da Fórmula 2, com o chassis M283B, da foto acima.

Mais uma vez com Alessandro Nannini como piloto principal, a Minardi fecha o ano dando ao italiano a chance de completar o certame em 10º lugar com nove pontos e um pódio, no circuito de Enna-Pergusa. Enquanto isso, Giacomo Caliri passa grande parte do ano projetando o F-1 do time.

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A equipe chega a apresentar o M184 para estrear no GP da Itália, mas desiste; o carro corria o risco de não se classificar por ser pouco competitivo

No segundo semestre, enquanto a F-2 agonizava, o novo carro do Minardi Team é apresentado: o M184, concebido para andar com o motor Alfa Romeo 890T V8 Turbo, era realmente um bólido muito bonito. Mas, sabiamente, Giancarlo Minardi preferiu adiar a estreia de sua escuderia, prevista para o GP da Itália de 1984, em Monza, para o ano seguinte. Além da falta de testes, ele não tinha piloto: Pierluigi Martini, antes escalado para a estreia, foi chamado às pressas pela Toleman para substituir Ayrton Senna – e sem conhecer o carro, não se qualificou.

O próximo post será sobre as primeiras temporadas de fato da Minardi na Fórmula 1, em 1985 e 1986.

Comentários

      • Nem todo mundo pode comprar o livro, mas a grande maioria pode acessar o teu blog. Não acho que deve ser esquecida a Copersucar Fittipaldi por causa disto. Faz um post especial sobre ela.

  • Ótima história como sempre, RM. Só um adendo, no gp da Itália em 84 quem entrou no lugar de Senna foi o Stefan Johansson ( correu com o número 19 ). O Martini possivelmente foi testado no lugar de Ceccoto que sofreu um grave acidente e abandonou a f1. A Toleman correu só com o Senna algumas provas. O resultado do Johansson foi muito bom ( quarto se nao me engano) e depois continuou com a equipe correndo no carro 20 . Já o Martini foi descartado. Abraço!

    • Não. O Johansson já estava no time. Quem entrou em Monza no lugar do Senna foi o Martini mesmo. Cecotto estava fora desde a prova de Brands Hatch, como todos nós sabemos. Abrs

      • Na corrida anterior ( Zandvoort) Johansson correu de Tyrrel e Senna estava sozinho na Toleman. Lembro dessa história do livro da biografia do Senna que como nós sabemos, ele tinha sido afastado pela Toleman pois haviam descoberto que ele ja havia assinado ” escondido” com a lotus. E o Johansson foi chamado para correr no seu lugar com um rendimento muito bom. Posso estar enganado, mas acho que é isso. Mais uma vez, parabéns pelo seu trabalho, acompanho diariamente.

      • Johansson foi contratado pela Toleman para correr a partir de Monza. Quando estourou a bomba com o Senna, pegaram o sueco e o puseram no #19. Uma questão de números. O Martini entrou no #20 porque era o outro carro disponível. Depois, aparadas as arestas, o Ayrton voltou ao #19 e o Johansson ficou com o #20. Foi isso.