Saudosas pequenas – Minardi, parte VII

RIO DE JANEIRO – Em 1995, completava-se exatos 10 anos desde que a Minardi estreara na Fórmula 1. Mas não havia muito o que comemorar. A equipe sobrevivia com enormes restrições orçamentárias e embora o M195 tenha sido um bonito carro, projeto de Aldo Costa e do seu novo auxiliar Mauro Gennari, não havia dinheiro para desenvolvê-lo.

E nem motor capaz de colocá-lo em situação melhor: o Ford Cosworth ED1, com seus 650 HP de potência, deixava a Minardi na rabeira do pelotão, lutando – como sempre – com a turma que também remava contra a maré: Footwork-Arrows, Pacific, Simtek e a estreante Forti Corse.

Ainda assim, seria normal ver os pilotos titulares do time, o veterano Pierluigi Martini, que caminhava para sua 100ª corrida pela Minardi, e o regressado Luca Badoer, à frente da grande maioria destas escuderias e foi o que aconteceu durante praticamente todo o ano.

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Luca Badoer voltou à Fórmula 1 pela Minardi

A temporada de 1995 não começou bem, com abandonos no Brasil e na Argentina, apesar de um mais do que razoável 13º de Badoer no grid de Buenos Aires, sob chuva. Em San Marino, finalmente os dois chegaram ao fim de uma corrida, com Martini em 12º e Badoer em décimo-quarto.

Em Mônaco, o veterano Pierluigi quase beliscou um precioso pontinho – foi 7º colocado nas ruas de Monte-Carlo e Badoer seria oitavo no Canadá, justamente onde Martini completou sua 100ª corrida pela equipe. Mas… lembram da história contada no post anterior sobre a Mugen-Honda, a Minardi e Flavio Briatore? Pois é: ainda desgostoso com a situação, Giancarlo Minardi mandou seu compatriota “pro pau”: o tribunal que resolvesse a situação e a justiça não perdoou a Minardi, determinando o arresto dos bens do time.

Como consequência, os caminhões da escuderia italiana foram lacrados no paddock de Magny-Cours, deixando a equipe ‘de castigo’, como se fosse um menino ou uma menina dada a peraltices. Porém, o show tinha que continuar, a Minardi foi ‘perdoada’ e os carros puderam participar dos treinos do GP da França, onde Badoer foi décimo-terceiro e Martini se envolveu numa múltipla colisão após a largada.

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Pier Luigi Martini foi o homem que mais vezes correu pela equipe de Faenza; no entanto, quando faltou dinheiro no meio do Mundial de 1995, teve que ir embora da equipe

Em Silverstone, mesmo com um carro fraco, Martini quase marcou pontos novamente: chegou em sétimo. E na Alemanha, os dois pilotos da Minardi não chegaram ao fim. Foi aí que, pesaroso, Giancarlo Minardi chegou ao seu “móveis e utensílios” e comunicou que tinha que dar o lugar dele a outro piloto. Após 103 GPs pela equipe e 118 na carreira, Pierluigi Martini dava adeus à Fórmula 1.

Entrou a bordo do #23 o português Pedro Lamy, que sofrera um grave acidente testando pela Lotus um ano antes em Silverstone e trazia alguns patrocinadores pessoais para garantir a sobrevivência da Minardi até o fim do campeonato. Numa pista travada como a de Hungaroring, o M195 saiu-se bem: Badoer chegou em oitavo e Lamy regressou com uma animadora 9ª colocação.

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Badoer até andou bem com o M195 e, se faltava dinheiro, não faltavam invencionices como a mini-asa montada na parte central traseira do carro

A partir do GP da Europa, em Nürburgring, os carros da Minardi entraram numa onda de confiabilidade que deixou a equipe animada. Lamy foi 9º colocado na corrida disputada na Alemanha e Badoer repetiu o resultado em Suzuka, no Japão.

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O sobrevivente: Pedro Lamy chegou ao fim do GP da Austrália e com o 6º lugar, salvou a Minardi de gastar milhares de dólares com o transporte de equipamentos para fora da Europa

E veio a última corrida do ano, o GP da Austrália, disputado pela última vez nas ruas de Adelaide. A equipe fez uma homenagem à cidade, com um adesivo simpático que dizia “Grazie, Adelaide!” na carenagem do carro, mas Badoer, com problemas eletrônicos, não conseguiu largar. Restou Lamy que, mesmo após uma sequência um tanto quanto constrangedora de rodadas, levou o carro até o final.

O português completou a corrida em 6º lugar, tornou-se o primeiro piloto do país a figurar nos compêndios da Fórmula 1 com um ponto somado e fez a festa da Minardi na Austrália. Com o 10º lugar no Mundial de Construtores, à frente de Forti Corse e Pacific – que fecharia suas portas meses depois – a equipe italiana garantia o transporte gratuito de seus equipamentos para as corridas fora do território europeu. Alívio no apertado orçamento para 1996.

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Lamy com o M195B: temporada de 1996 foi complicada

Tão apertado que Giancarlo Minardi optou por não projetar um novo carro. O M195 ganhou uma versão revisada por Gabriele Tredozi, Mauro Gennari e Mariano Alperin e foi para a pré-temporada, onde Pedro Lamy permaneceu e Luca Badoer, que acabaria na Forti Corse, foi substituído por um jovem de 23 anos chamado Giancarlo Fisichella. O reserva do time era Tarso Marques, que vinha da Fórmula 3000, onde se sagrara o mais jovem vencedor de uma corrida da categoria em Portugal, no ano anterior. Com 20 anos, ele teria a chance de disputar duas corridas, no Brasil e na Argentina.

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Giancarlo Fisichella foi uma das muitas promessas italianas que estreou na F-1 através da Minardi

A Fórmula 1 mudou o cenário do GP da Austrália, que fechara o campeonato de 1995 em Adelaide e abriu o de 1996 em Melbourne. Lá, Fisichella conseguiu ser mais rápido que Lamy nos treinos em sua corrida de estreia, mas os dois abandonaram a disputa. Em Interlagos, como prometido, Tarso Marques entrou no #21 e, mesmo tendo largado em 21º, era o décimo-quarto no começo da corrida, quando ainda chovia. Por inexperiência, jogou tudo fora ao rodar no fim da primeira volta. Lamy foi décimo.

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Tarso Marques, então com menos de 20 anos, apareceu bem nos GPs do Brasil e Argentina

Tarso voltaria a impressionar em Buenos Aires, no GP da Argentina. Conseguiu o décimo-quarto tempo entre 22 pilotos e vinha em 12º lugar na 34ª volta, quando se envolveu num incidente com Martin Brundle, então na Jordan, e os dois bateram. O brasileiro não voltaria mais a guiar o M195B, pois foi requisitado pela Bridgestone para fazer os testes de pneus do novo fabricante, que ingressaria na Fórmula 1 em 1997.

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Fisichella conquistou o melhor resultado da equipe em 1996, mas não bastou: foi afastado para dar lugar a um “pay driver”

Assim, Fisichella regressou ‘em casa’, no GP de San Marino, onde o motor de seu carro quebrou e Lamy chegou em nono. Uma série de acidentes nas corridas seguintes abateu o moral do time e Fisico conseguiu, apesar da má fase do time, um bom 8º posto no Canadá, o melhor resultado da Minardi em 1996.

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O Conde Giovanni Lavaggi: muito dinheiro, pouco talento

O italiano ficou na equipe até o GP da Inglaterra, em Silverstone, quando a já frequente falta de fundos obrigou Giancarlo Minardi a trazer um pay driver: e veio o horroroso Giovanni Lavaggi, que nada acrescentaria ao time de Faenza a não ser dinheiro. Com a debandada da Forti Corse após os problemas desta escuderia com o Shannon Group, o grid ficou reduzido a 20 carros e invariavelmente a Minardi ocupava a última fila ou as últimas posições, isso quando conseguia superar a Arrows, principalmente a do brasileiro Ricardo Rosset.

Moral da história: em seis corridas que esteve presente, Lavaggi classificou-se em três. Largou de último em todas e foi 10º na Hungria e 15º em Portugal. Lamy se virou como pôde para ser décimo na Bélgica, 12º no Japão e 16º em Portugal. E foi tudo. A Minardi não pontuou pela primeira vez em sua trajetória na Fórmula 1 desde o ano de 1990.

E a sina perseguiria o time nos dois anos seguintes: assunto para o oitavo post da série.

Comentários

  • Na terceira foto parece tá até arrumadinho,uns patrocínios e uma evoluçãosinha um mini aérofólio,na pista travada,com pouca asa numa pista de alta,e a foto do tarso pilotando ficou muito boa.mais um talento perdido.