Bino, 50

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RIO DE JANEIRO – No último fim de semana, completou-se meio século de um triste acontecimento para o automobilismo brasileiro. Em 1963, durante a disputa da 31ª edição das 24 Horas de Le Mans, morria Christian Heins, o Bino. Piloto – e dos bons – ele foi o responsável pela implantação da equipe de competição da Willys no Brasil e inspiração para Luiz Antonio Greco, o inesquecível Trovão, que deu sequência a seu trabalho.

Nascido em 16 de janeiro de 1935 em São Paulo, começou no automobilismo em 1954, aos 19 anos, após passar sua adolescência na Alemanha. Seu primeiro apelido, “Bambino”, foi encurtado para “Bino”, como passou a ser eternamente conhecido. Com apenas 21 anos, foi destaque nas Mil Milhas Brasileiras que faziam sua primeira corrida em Interlagos. Dividindo um Volkswagen muito bem preparado por Jorge Lettry com Eugênio Martins, lutou de igual para igual com diversas Carreteras bem mais possantes e chegou em segundo. E só não venceram porque um cabo do acelerador se rompeu.

Tornou-se piloto da Porsche ao voltar à Europa e no fim dos anos 50, disputou pela primeira vez as 24 Horas de Le Mans e os 1000 km de Nürburgring. Mostrou também grande aptidão ao volante dos monopostos Fórmula Júnior, conseguindo expressivos resultados, à frente de gente que chegaria até a Fórmula 1, caso do italiano Lorenzo Bandini.

Em 1960, voltou para assumir a chefia da equipe DKW com apoio da concessionária Serva Ribeiro. Mas Heins se indispôs com Jorge Lettry e Bird Clemente entrou em seu lugar. Venceu as 1000 Milhas e as 24 Horas de Interlagos com um FNM JK ao lado de Chico Landi e, depois disto, foi convidado por William Max Pearce para assumir o Departamento de Competições da Willys-Overland do Brasil.

Primeiro começou como diretor e piloto, mas já planejava, com menos de 30 anos de idade, aposentar-se da segunda função. Estava casado e com uma filha e, ao mesmo tempo, oferecia espaço para jovens valores do automobilismo brasileiro, como José Carlos Pace, Luiz Pereira Bueno e Wilsinho Fittipaldi. Mas não recusou o convite da Alpine para guiar o M63 nas 24 Horas de Le Mans, dividindo o carro com o jornalista e piloto José Rosinski.

Heins era muito mais rápido que Rosinski a bordo do carro #48 preparado pela marca de Jean Rédelé e vinha liderando na classe de Protótipos até 1.000cc quando, na altura da 6ª hora de prova, em torno de 20h locais, o Aston Martin de Bruce McLaren explodiu o motor e derramou óleo na pista.

Os acidentes são inevitáveis. Roy Salvadori é o primeiro a bater e Jean-Pierre Manzon, a bordo de um René Bonnet, também se acidenta e seu corpo é ejetado para fora do carro. Bino vinha a mais ou menos 230 km/h, quando tentou desviar-se do corpo de Manzon e colidiu com o carro do francês e um poste. Houve incêndio e o piloto, com o corpo parcialmente carbonizado pelo fogo e com uma pancada violenta na cabeça, não resistiu e faleceu.

Christian “Bino” Heins foi enterrado em 27 de junho de 1963 no Cemitério do Redentor, em São Paulo. No fim de semana, uma missa foi rezada em sua homenagem. E depois de sua morte, só dez anos depois um outro piloto do país – José Carlos Pace – voltaria a disputar uma 24 Horas de Le Mans.

Comentários

  • Tempos trágicos. Felizmente hoje a Endurance melhorou bastante a segurança. Faleceu alguém depois do Alboreto?

  • Bino está enterrado no Cemitério do Redemptor conforme está grafado nos seus portões, passo lá uma vez por semana quando vou trabalhar na região. É só uma curiosidade . Bino foi um grande piloto e, poderia até chegar a F-1, quem viu conta e … a gente tem que ouvir a história desses desbravadores.

  • Nunca tinha visto uma foto do carro na pista, e pelo tipo fisico, parece mesmo ser o Bno ao volante, e não o Rosinski. Reza a lenda que Bino “vestiu” não só o Rosinski, mas também os outros pilotos da Alpine.

    Fatalidade idiota, ele poderia ter tido um grande resultado na prova. Quem viu dizia que ele guiava muito.

    Antonio