Direto do túnel do tempo (111)

1073092_412763662175234_1313384445_oRIO DE JANEIRO – Celebrando mais uma vez a existência dos Esporte-Protótipos nacionais nos tempos da Divisão 4, publico a foto deste carro: o Heve P6 Volkswagen de Newton Pereira, com que o piloto disputou a temporada de 1973, inclusive ganhando a corrida inaugural na classe A, para modelos com motores até 2 litros, no Autódromo de Interlagos.

Aquela foi sem sombra de dúvidas a melhor temporada da história do chamado Campeonato Brasileiro de Construtores. Em Tarumã, por exemplo, 25 carros chegaram a participar de uma das etapas daquele ano. Pena que a crise do petróleo ajudou a definhar a Divisão 4, que só teve três corridas em 1974 e uma pequena sobrevida em 1975, quando o desinteresse pela categoria era crescente e só a equipe Hollywood investiu para fazer Luiz Pereira Bueno campeão com o Hollywood Berta-Ford na classe B e Maurício Chulan tetracampeão na classe A.

Há 40 anos, direto do túnel do tempo.

 

Comentários

  • Sempre que você posta fotos ou textos das divisões 3 e 4, é um resgate muito legal, porque os anos 70 foram o máximo nível do automobilismo nacional e eu não perdia uma corrida……

  • Me dá uma tristeza muito grande quando vejo as fotos do meu amigo Newton Pereira. É que ele partiu para o mundo superior este ano. Chorei, porque eu pretendia visita-lo ainda este ano em Angra aonde ele morava. Lembrei muito dele no último sábado em Volta Redonda aonde fiz a pole position e cheguei em terceiro. Que Jesus esteja com ele.

  • Em 1973, o Newton Pereira, Piloto Carioca, tinha em sua equipe dois primos de um amigo meu, o Sérgio Blasi. O Pai dele, já falecido, Sr. Roberto Blasi, um excelente mecânico por sinal, tinha uma pequena oficina especializada em Volkswagen. Só atendia esta marca. Era construída em frente à casa deles, no Bairro Hugo Lange, em Curitiba. Havia uma corrida da divisão 4, que ia se realizar no autódromo de Curitiba no domingo, e a equipe toda chegou na sexta feira perto do meio dia, se não me engano, e os primos pediram para o Tio, se ele poderia ceder o usa da oficina para retificarem o motor do Heve P6 do Newton Pereira, que corria pela Vicsa, pois tinham ido ao autódromo e o motor fundiu. Como o Sr. Blasi não tinha clientes previsto para aquela tarde, disse que não teria problema. Mesmo assim o Newton disse-lhe que não seria de graça e acertou com o Sr. Blasi, um valor pelo uso da oficina. Tudo acertado, começaram a desmontar o protótipo. Eu ia quase todo dia para a casa do Sérgio, por que ele e eu fazíamos corridas de autorama, e no porão da oficina preparávamos carros e motores. Como estudávamos na Escola Técnica Federal do PR, mecânica industrial, tínhamos todo interesse nos carrinhos. E´ramos aficionados, na verdade. Quando vi o que estava acontecendo, me “colei” junto ao Sérgio dentro da oficina com ele, lógico. Dentro em pouco era um tal de “me alcance a chave tal, por favor”, “pode passar um papel nesse óleo?” me dá o parafuso ai perto? E assim foi. A Equipe tinha tudo que era necessário para montar um motor novo. Muito bem equipados e organizados. Ao meio da tarde, tudo montado, o motor pegou bem, decidiram ir ao autódromo. Estávamos juntos, evidentemente. Os primos tiraram o Heve do reboque, empurraram até a pista, que ainda estava aberta. E ouvi os dois pedirem para o Newton que começasse devagar, nas primeiras voltas, para deixar as peças se assentarem um pouco. Para que o conjunto todo fosse se soltando lentamente. O Newton acenou com a cabeça, já com a balaclava e o capacete colocados, dando a compreender que tinha entendido o disseram. Assim que arrancou com o carro, foi ultrapassado por outro que também saía, e parece isso o atiçou, por que saiu em desabalada carreira na perseguição. Não deu outra, na 3.a volta explodiu o 2.o motor! A cara de todos foi de desalento. Rebocado o heve para a plataforma, de volta para a oficina do Tio, Depois de uma avaliação do que tinha de bom e o que não, acharam que dava para recuperar o motor, mas faltava um comando novo, que havia quebrado, e que não tinham outro, e precisariam de novas válvulas, pois algumas não estavam muito boas. O Newton pediu para usar o telefone da oficina, e ligou para São Paulo. Conseguiu que lhe mandassem tudo novo, e de avião. Como a oficina do Sr. Blasi ficava próximo do Aeroclube do PR, foi muito fácil toda a operação. Por volta das 21:00 horas as peças estavam dentro da oficina. O Newton pediu umas 10 pizzas, e todos se fartaram. Avisei em casa que estaria lá, informando do ocorrido e evidentemente, não houve objeções. Mas ai, começamos o Sérgio e eu, a nos envolver com a operação, e o pessoal já estava meio cansado, e foi muito gosto poder participar mais ativamente. Dois Guris de 15 e 16 anos, próximos a um carro de corrida de verdade! Imagine só. E ajudando! Inimaginável! Fomos até às 02:30 da manhã do sábado aproximadamente, para terminar o novo motor e fazer uma revisão geral. Estávamos bem cansados, todos, e decidimos fazer um cochilo até às 06;00. Ás 07:30 seguimos para o Autódromo de Curitiba, novamente. Lá havia um aviso que só se poderia fazer tomada de tempo para a classificação. O Newton falou com os fiscais , explicou a situação, e estes decidiram permitir 60 minutos de amaciamento do motor. E assim foi. O Carro ficou ótimo, andou muito bem. Mas, depois, pelo que posso me lembrar, parece que houve um entrevero com os diretores da prova e outros pilotos que reclamaram do fato, e o Newton foi penalizado, mesmo tendo feito um ótimo tempo de classificação, a ter que sair dos Boxes. E assim foi. Mas o carro estava tão bom, que me poucas voltas ele já estava quase alcançando o primeiro pelotão. Quis o azar que ao terminar o retão dos boxes, “entrasse” uma pedra no freio a disco dianteiro em uma das rodas, e ele fez um cavalo de pau, na pista indo terminar no mato com mais um competidor que ele estava ultrapassando por dentro. E foi o fim da prova para o Newton. Recolhemos tudo depois da prova, que terminou assim:
    CLASSE A
    1. Sergio Benoni Sandri – Heve
    2. Maurício Chulam – Heve
    3. Jose Pedro Chateaubriand – Manta
    4. Valdeban Ribeiro – Manta
    5. Luiz Alberto do Casal – Heve

    Voltamos os dois, o Sérgio e eu, desenxabidos com o que aconteceu, mas o Newton, vendo nosso desanimo, disse que corrida era assim mesmo, e que isso seria recuperado na próxima. Fiquei pensando em como ele tinha bom humor, apesar de tudo que tinha investido. Que deveria ser mesmo muito rico, para levar as coisas daquele jeito!. No presenteou com um chaveiro que era a miniatura de num capacete dele, preto com traços amarelos e no nome dele gravado.
    Ficamos bem contentes com a gentileza. Nos deu mais algum para o bolso e pronto, se foram. Eu sempre o acompanhei a distância e depois o perdi. Não vim mais nada sobre ele. Hoje fique contente de ter encontrado este blog com um relato sobre ele. Se estiver vivo, que receba um abraço meu, pelas boas lembranças e seu espírito de competição.

    • Muito bacana a sua história, Roberto. Sou sobrinho do Newton e infelizmente ele faleceu há alguns anos. Eu era pequeno na época que ele corria, tive a oportunidade de sentar no cockpit de alguns dos carros dele, mas as histórias de competição infelizmente não tive a oportunidade de ouvir. Muito legal a sua narrativa. Agradeço de coração. Um forte abraço.