25 anos sem o “Commendatore”

tumblr_mbi6ighI9y1ry1zooo1_500RIO DE JANEIRO – “Commendatore”, pelos que lhe tinham profundo respeito ou “Drake di Maranello”, por seus detratores. Assim era conhecido Enzo Anselmo Ferrari, o homem por trás do surgimento e da existência de um ícone do automobilismo. Nascido em Modena, em 18 de fevereiro de 1898, o fundador da Ferrari morreu aos 90 anos de idade em Maranello, cidade onde ergueu a fábrica de sua criação imortal, no dia 14 de agosto de 1988.

A morte de Enzo só foi comunicada dois dias depois e, como homenagem, a Ferrari fez a dobradinha no GP da Itália daquele ano, em Monza, graças à quebra do motor Honda do McLaren de Alain Prost e de um acidente entre Ayrton Senna e Jean-Louis Schlesser. O time de Ron Dennis deixou de vencer o campeonato de forma invicta e o povo italiano explodiu em júbilo e lágrimas com o triunfo de Gerhard Berger e a 2ª posição de Michele Alboreto.

Enzo começou seu envolvimento no automobilismo como piloto e depois como dirigente. Trabalhou na Alfa Romeo, onde ficou até 1937, quando rompeu com a empresa e fundou a Auto Avio Costruzioni. Só dez anos depois, em 1947, é que pôde usar o nome Ferrari para os carros que construía. Nascia, naquele ano, uma lenda das pistas.

A Ferrari foi a única equipe até hoje a participar de todos os campeonatos de Fórmula 1, sem exceção. E com seus carros esporte construídos em pequena escala, começou a tomar parte das corridas de longa duração e de Grã-Turismo, vencendo tudo o que estava a seu alcance. Nos anos 60, com a crise do time na categoria máxima e as dívidas se acumulando, o “Commendatore” quase cometeu a venda de sua marca à Ford, que já participava de provas de Endurance com o AC Cobra preparado por Carroll Shelby. Aí sucedeu-se o seguinte episódio, narrado pelo secretário particular de Enzo, Franco Gozzi.

“Na reunião final, com os acertos transformados em documentos, tudo corria aparentemente bem. Mas na leitura dos papéis, o Comendador pegou a caneta – um sinal que achara alguma coisa que precisava correção. A redação dos advogados da Ford trazia duas expressões que fizeram o velho Ferrari sair do sério. Falava em submissão e na necessidade de obter aprovação da Ford para despesas em competições que ultrapassassem certo teto. O Comendador Ferrari leu o texto, sublinhou tais palavras com sua caneta de tinta violeta. Não assinou. E encheu a sala com uma torrente que se imaginava serem palavrões – eram, mas em dialeto que nem os advogados da Ford nem seus tradutores entenderam – ficando em dúvida sobre o que estava ocorrendo.”

O resto todo mundo sabe: a Ferrari realmente foi suplantada pela Ford, que fez o GT40 para passar sobre os carros vermelhos feito um rolo compressor e a marca italiana perdeu o passo nas competições de longa duração por um bom tempo. Enzo abandonou este tipo de competição em fins de 1973 e a Ferrari voltou a ser o que fora na Fórmula 1 dos anos 50 e início dos anos 60: forte, pujante e vitoriosa, especialmente com Niki Lauda, que foi bicampeão em 75 e 77 e só não levou a taça em 1976 por conta de seu terrível acidente no GP da Alemanha, em Nürburgring.

As relações do dirigente com seus pilotos variavam de acordo com o humor do próprio Enzo Ferrari. Com John Surtees e Niki Lauda, ele teve sérios atritos. Já Gilles Villeneuve, que está com Enzo na foto que ilustra este post, era tratado quase como um filho. A morte trágica do canadense, em 1982, não foi contudo a ponta do iceberg nos episódios de sofrimento do velho “Drake di Maranello”: o desaparecimento prematuro do filho Alfredino, aos 24 anos, em 1956, foi um baque tremendo para Enzo Ferrari. Ele teve um filho bastardo, Piero Lardi Ferrari, que só foi reconhecido em 1978, após a morte de Laura Ferrari, esposa do Commendatore – já que não havia divórcio na Itália naquela época.

Personagem polêmico e controvertido desse esporte que tanto amamos, Enzo Ferrari saiu da vida e entrou para a história. O cavalo negro empinado sobre um fundo amarelo, do característico brasão do time, continua altivo e reluzente. Como sempre.

Foto: Enzo Ferrari e Gilles Villeneuve em conversa animada, no ano de 1979 (arquivo)

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