Esporte-Protótipos Inesquecíveis – Alpine Renault (1973/1978)

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RIO DE JANEIRO – A saga desse protótipo que é um ícone do automobilismo mundial durou cinco anos. Os Alpine-Renault, junção do fabricante francês com a lendária criação de Jean Rédélé, fincaram seu nome no esporte de 1973 a 1978 e conquistaram grandes resultados dentro das pistas.

Essa história começa quando a Societé des Automobiles Alpine, de Rédélé, tem 55% de suas ações absorvidas pela Régie após a deflagração da crise mundial do petróleo. A Renault, por seu turno, estava bastante interessada em promover sua marca nas competições de carros esporte e assim sendo, foi construído um primeiro carro para o Campeonato Europeu de Esporte-Protótipos 2 litros, com regulamento bastante semelhante na parte mecânica à Fórmula 2.

O primeiro carro foi o Alpine Renault A440 (topo do post), que nasceu em 1973 e foi impulsionado por um motor Gordini V6 naturalmente aspirado, com 285 HP de potência. Não foi suficiente, porém, para derrotar Chris Craft e a Lola, que se sagraram campeões daquela temporada.

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Em 1974, o investimento maciço da Renault proporcionou a entrada da equipe com o modelo A441 e um time de pilotos liderado por Gérard Larrousse, Alain Serpaggi, Alain Cudini e Jean-Pierre Jabouille. O motor ganhou ligas leves e magnésio na sua construção e o carro foi equipado com uma caixa de câmbio Hewland FG400. Aí não teve jeito: com sete vitórias, a Alpine Renault foi campeã entre os construtores. E entre os pilotos, Serpaggi levou o caneco naquela que foi a última temporada do Europeu, já que os carros 2 litros foram ‘convocados’ em 75 para compor grid no World Sportscar Championship, que estava bastante esvaziado.

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Para o ano de 1975, veio o Alpine Renault A442, um protótipo construído com monocoque misto de aço e alumínio, cujo motor ganhara um turbo Garrett para que o bólido fosse enquadrado no regulamento técnico do Grupo 6, onde os motores aspirados tinham 3 litros de capacidade cúbica. Usando a proporção de 1 para 1,4, a cilindrada máxima de qualquer unidade turbocomprimida era de 2.142cc. O motor do Alpine tinha 1.997cc com seis cilindros e ângulo de 90º, debitando inicialmente 495 HP a 9.900 rpm.

A estreia do carro aconteceu nos 1000 km de Mugello, em 23 de março de 1975. Após 150 voltas, Jean-Pierre Jabouille/Gérard Larrousse levaram o protótipo amarelo número #5 a uma sensacional vitória, derrotando a favorita Alfa Romeo e também a Porsche.

1000 KM Monza 1975_Lella LOmbardi_Marie C Beaumont_Alpine A441

E ficou por aí: a Alfa começou a enfileirar uma vitória atrás da outra com os carros alinhados pelo WKRT de Willi Kauhsen e, para piorar, até uma A441 pilotada pela dupla Marie-Claude Beaumont/Lella Lombardi apareceu no campeonato e, vez por outra, terminava mais bem-colocada que o carro oficial de fábrica. Isso aconteceu nos 800 km de Dijon, por exemplo.

Em Monza, Larrousse/Jabouille ainda salvaram o 3º lugar, atrás de Arturo Merzario/Jacques Laffite e Reinhold Joest/Mario Casoni. O Alpine A442 não apareceu em Spa e Enna-Pergusa, na Sicília, regressando com um 4º lugar no Nördscheleife de Nürburgring.

No circuito de Zeltweg, a fragilidade do A442 ficou evidenciada após a pole position conquistada por Larrousse e seu novo parceiro Jean-Pierre Jarier. A corrida da dupla não passou de 10 voltas, com problemas na injeção de combustível. O outro carro, de Patrick Depailler e Jody Scheckter, não teve mais sorte e também retirou-se por quebra. Em Glen, na última etapa do ano, Larrousse e Jarier ainda salvaram o pódio com um 3º lugar, mas chegaram atrás das duas Alfas da WKRT.

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Apesar do triunfo inicial, foi uma temporada desastrosa para a Alpine-Renault, que viu a Alfa Romeo fechar o ano com o máximo de pontos permitido – 140 – enquanto a Porsche foi vice-campeã com 98 pontos e os franceses somaram apenas 54. Em 1976, a surra seria pior: sem a Alfa Romeo, a Porsche dominou as ações com o protótipo 936 e sua dupla de então, formada por Jochen Mass/Jacky Ickx.

“Jumper” Jarier e Henri Pescarolo chegaram a dar algum trabalho no início do campeonato: nas 4h de Monza, Trofeo Filippo Caracciolo, ainda terminaram em 2º lugar. Mas o carro tinha seguidos problemas mecânicos que minaram seu desempenho ao longo da temporada, abandonando seguidamente – nos 500 km de Imola e na Coppa Florio Pergusa foi assim. Um novo 2º lugar veio em Dijon através de Jacques Laffite/Patrick Depailler e foi tudo.

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Nas 24h de Le Mans, que não faziam parte de nenhum campeonato na época, o Alpine Renault A442 foi partilhado por Jean-Pierre Jabouille/Patrick Tambay/José Dolhem. Com o numeral #19 pintado na carenagem, o bólido conquistou a pole position com o incrível tempo de 3’33″1 – seis segundos e sete décimos melhor que o Porsche 936 de Jacky Ickx/Gijs Van Lennep. Mas na corrida, a história foi outra: o protótipo alemão venceu com onze voltas de vantagem para o 2º colocado e os franceses abandonaram após 11h e 135 voltas, devido a uma quebra de pistão.

Apesar dos dissabores com os protótipos, a Renault continuava a investir no Alpine A442, agora para ganhar o créme de la créme da Endurance: as 24h de Le Mans. A marca ganhara a Fórmula 2 europeia enfileirando quatro pilotos do país nas quatro primeiras posições e o cerne das competições mudava para a Fórmula 1, onde a Régie pretendia ser a pioneira no uso de motores turbocomprimidos. Em 1977, o ataque foi total, com três carros.

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O #9 com Jean-Pierre Jabouille e Derek Bell fez a pole position, abrindo o grid onde o #8 com Jacques Laffite/Patrick Depailler foi segundo e o #7 de Patrick Tambay/Jean-Pierre Jaussaud largou em quarto. E os três, mais uma vez, ficaram pelo caminho – todos por quebra de motor. Jaussaud/Tambay “caíram” na 14ª hora; Jabouille/Bell desistiram na décima-nona hora e o outro carro de Laffite/Depailler entrou pelo cano na 22ª. Mais uma vez, a Porsche ganhou.

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O “vai ou racha” foi em 1978. Naquele ano, a Alpine-Renault iria fazer sua última aparição em Sarthe. Era aquela, ou nunca mais. E o carro foi preparado como nunca: o motor V6 turbo ganhou mais potência e até a aerodinâmica foi evoluída, com o uso de um parabrisa em plexiglass, melhorando a velocidade de ponta em cerca de 8 km/h no retão Les Hunaudières. O único carro que não teve essa novidade foi o A443, que tinha motor com 520 HP e 2,1 litros de capacidade cúbica, especialmente construído para a dupla Jean-Pierre Jabouille/Patrick Depailler, em quem os franceses depositavam as maiores esperanças.

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Entretanto, esse carro quebrou na vigésima hora, abrindo o caminho para que o #2 guiado por Didier Pironi, jovem promessa de 26 anos e o experiente Jean-Pierre Jaussaud, de 41, dessem à Renault a tão sonhada vitória em Sarthe. O carro completou 370 voltas, cinco a mais que “Brilliant” Bob Wollek/Jürgen Barth/Jacky Ickx, que chegaram em segundo num Porsche 936. Um carro não-oficial guiado por Guy Fréquelin/Jean Ragnotti/José Dolhem chegou em quarto. Aliás e por curiosidade, Dolhem era meio-irmão de Didier Pironi.

A vitória do Alpine-Renault nas 24 Horas de Le Mans em 1978 foi, curiosamente, a segunda e última deste protótipo em provas de grande vulto. Mas não é impossível dizer que os carros pintados primeiro em azul e depois em amarelo estão, de fato, na galeria dos grandes Esporte-Protótipos de todos os tempos.

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