Outsiders: o galã François Cévert

Francois Cevert, Le Castellet 1973

RIO DE JANEIRO – No próximo domingo, 6 de outubro, quando a Fórmula 1 estiver disputando o infame GP da Coreia do Sul no não menos infame circuito de Yeongnam, há 40 anos a mesma categoria chorava a perda de um piloto que tinha tudo para ser grande: Albert François Cévert, ou simplesmente François Cévert.

Filho de um joalheiro judeu, Charles Goldenberg, cujo sobrenome François não usou de fato em seu registro civil – nem mesmo com o fim da II Guerra Mundial, Cévert nasceu em 25 de fevereiro de 1944 em Paris. E saiu direto do serviço militar em Weingarten, na Alemanha, para as pistas de corrida. Aos 22 anos, derrotou o compatriota Patrick Depailler no concurso Volant Shell, onde a companhia petrolífera premiava um piloto do país com uma bolsa de 1 milhão de francos para investir na própria carreira.

Cévert tinha como opção a Fórmula 3 e dois chassis: o Alpine francês e a italiana Tecno. Optou pelo Alpine, mas colecionou nada menos que dezesseis abandonos em sua primeira temporada completa no automobilismo.

As dificuldades não abalaram François, que se preparou melhor – trocando o Alpine pelo Tecno – e venceu o campeonato em 1968, derrotando Jean-Pierre Jabouille. A conquista lhe abriu o caminho para a Fórmula 2 europeia, como piloto da Tecno, tendo direito a tudo do bom e do melhor em termos de equipamento preparado pelos irmãos Pederzani.

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Porém, o título não veio: Cévert chegou ao fim da temporada em 3° lugar e a passagem para a Fórmula 1 teria que esperar um pouquinho mais. Àquela altura, quando 1970 começou, os laços de Cévert com a categoria máxima estavam nas mãos de Jean-Pierre Beltoise. O então piloto da Matra era casado com Jacqueline, irmã de François. Logo, Beltoise era cunhado de Cévert.

No início da temporada de 70, Cévert estava de novo comprometido com a Tecno e, evidentemente, com as provas de F-2. E foi aí que a sorte sorriu para ele. A equipe de Ken Tyrrell, que trocara os chassis Matra por se recusar a correr com os motores franceses V-12, estava com o novo modelo March 701, construído por Max Mosley, Graham Coaker, Alan Rees e Robin Herd. Seus pilotos eram o então campeão mundial Jackie Stewart e o francês Johnny Servoz-Gavin.

Subitamente, Servoz-Gavin resolveu pôr um ponto final em sua carreira automobilística, abandonando a Fórmula 1 e a Tyrrell no início do campeonato, após o GP de Mônaco. Com um cockpit livre e a influência da Elf, Ken Tyrrell não teve dúvidas e fez o convite a Cévert, que prontamente aceitou-o.

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A estreia do piloto foi no GP da Holanda, em Zandvoort. François obteve um mais do que razoável 15° lugar no grid e estava uma posição mais à frente do que largara na volta 31, quando uma roda se soltou do March 701 e ele foi obrigado a abandonar a corrida. Naquela ocasião, morria o britânico Piers Courage, que sofrera um acidente ao volante de um De Tomaso.

Era a Fórmula 1, tão emocionante e competitiva quanto insegura. E Cévert já experimentava, logo na estreia, a alegria de ser um piloto da categoria máxima e o dissabor da perda de um companheiro de profissão.

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O show tinha de continuar e François, dentro da equipe Tyrrell, tinha o melhor professor que um piloto podia ter. Jackie Stewart, a quem o francês se referia de brincadeira como “Le Patron”, era o nome mais respeitado do grid. E Cévert saberia tirar partido desse companheirismo, aprendizado e amizade.

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Passou raspando do primeiro ponto nos GPs da Inglaterra e da Alemanha, conquistando dois 7°s lugares consecutivos. E novamente num dia triste para o automobilismo, pois Jochen Rindt morrera no treino para o GP da Itália com a Lotus 72, François Cévert marcava enfim o seu primeiro ponto na Fórmula 1, em sua sexta corrida. Nada mal. Ainda naquele ano de 1970, ele venceu em dupla com Jack Brabham sua primeira grande corrida longa – os 1000 km de Paris, com uma Matra-Simca MS660.

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A dupla Stewart-Cévert foi, logicamente, mantida para o campeonato de 1971. E a Fórmula 1 reconheceu que o francês tinha outras qualidades além daquelas pelas quais as mulheres reviravam os olhinhos. De fato, com pinta de galã, François arrebatava corações ao atacado e despertava paixões – há quem diga que em ambos os sexos. Sabe-se que o piloto conquistou Brigitte Bardot e – pode ser lenda – até o travesti Rogéria teria batido ponto na cama do francês.

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Enfim, voltamos às corridas, onde a Tyrrell tinha o melhor carro para 1971 e o melhor piloto, Stewart. Com a morte de Rindt e os problemas enfrentados pelas demais equipes, o caminho estava aberto para mais um título do Vesgo. O fiel escudeiro Cévert corresponderia à lealdade esperada por Ken Tyrrell e faria uma ótima temporada, com quatro pódios, duas dobradinhas com Jackie, um 3° lugar na sensacional corrida de Monza e, quando o título já estava definido, a primeira vitória, no GP dos EUA em Watkins Glen – feito que rendeu ao piloto o prêmio de US$ 50 mil, o mais alto pago naquela época na Fórmula 1.

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Além de ser o segundo piloto do país a vencer na categoria máxima e o primeiro desde o longínquo ano de 1958, após o pioneiro Maurice Trintignant, Cévert embolsou o 3° lugar no Mundial de Pilotos com 26 pontos – bem menos que a metade do que fez Jackie Stewart, mas a apenas sete de Ronnie Peterson, seu antigo rival de Fórmula 2.

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Em 1972, a Tyrrell e Stewart não seriam páreo para Emerson Fittipaldi e a Lotus, que voltava a ter um carro competitivo. O modelo 005, previsto para estrear no meio do campeonato, teve problemas de confiabilidade que minaram a oposição do escocês ao brasileiro. Como fiel escudeiro, Cévert não podia contrariar a hierarquia do time. Sua hora viria e ele sabia disso. Apesar dos pesares, conquistou dois pódios – no GP da Bélgica (onde Stewart não correu, nocauteado por uma úlcera) e no GP dos EUA, em dobradinha com o companheiro de equipe.

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Fora da Fórmula 1, Cévert mostrava suas qualidades: a bordo da Matra-Simca MS670, chegou em segundo nas 24 Horas de Le Mans, dividindo o carro com o neozelandês James Howden Ganley, na histórica dobradinha onde a vitória foi de Graham Hill/Henri Pescarolo. Em paralelo, o francês corria na série estadunidense de protótipos Can-Am, conquistando com o modelo M8F da McLaren uma vitória em Donnybrooke. Terminou o campeonato daquela categoria com quatro pódios e em 5° lugar, com 59 pontos.

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Em 1973, a parada seria ainda mais dura: a Lotus contratara Ronnie Peterson para correr ao lado de Emerson Fittipaldi e Stewart, perto de completar 34 anos, tinha planos de se despedir definitivamente do automobilismo – de preferência com um terceiro título. E contava com Cévert para ajudá-lo.

No GP da Argentina, o francês teve a possibilidade de vencer sua segunda corrida na Fórmula 1. Liderou da 29ª à 85ª volta, mas o piloto da Tyrrell não contava com um Emerson Fittipaldi inspirado e possuído, que lhe roubou o primeiro lugar. Após dois abandonos no Brasil e na África do Sul, Cévert foi de novo segundo em duas etapas seguidas – o GP da Espanha em Montjuich e no GP da Bélgica, em Zolder – esta em dobradinha com Stewart, a quarta deles em três anos.

O fiel escudeiro também era um piloto regular: ficou oito corridas consecutiva na zona de pontos e, quando as coisas não davam certo para Stewart, era Cévert que mantinha a Tyrrell na luta direta pelo título do Mundial de Construtores contra a Lotus. Foi assim na Suécia, França e Inglaterra, quando a fase do escocês no campeonato atingiu o ponto mais baixo.

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Jackie reagiu: venceu na Holanda, na trágica corrida onde morreu Roger Williamson e na Alemanha, em Nürburgring. Foram mais duas dobradinhas com François Cévert – e seriam as últimas deles na Fórmula 1. O escocês foi segundo na Áustria e, graças à colaboração do companheiro de equipe, sagrou-se campeão antecipado no GP da Itália, em Monza.

Stewart teve um pneu furado na 8ª volta daquela corrida e após a troca, voltou em vigésimo, uma volta atrasado. O piloto do Tyrrell 005 não só recuperou essa volta como, a cinco voltas do fim da corrida, fez o resultado que bastava: ao trocar de posição com Cévert, passou ao quarto lugar e com os três pontos somados – já que na Lotus, Ronnie Peterson recusou-se a fazer a mesma tática com Emerson Fittipaldi – Jackie sagrava-se campeão mundial pela terceira vez.

Após o GP da Itália, o escocês anunciara que as etapas do Canadá e dos EUA seriam as suas últimas e que Cévert estava mais do que preparado para sucedê-lo como primeiro piloto da Tyrrell e ser campeão mundial futuramente. O francês também sabia que sua hora havia chegado e se considerava pronto para o desafio.

Em 3° lugar no Mundial de Pilotos, com 47 pontos, Cévert estava logo atrás de Emerson Fittipaldi e almejava o vice, para terminar uma temporada de sonho para ele, Stewart e Ken Tyrrell. Mas no GP do Canadá, ele se envolveu num entrevero com o atrevido novato Jody Scheckter, que tinha o singelo apelido de “Troglodita”. Cévert esqueceu a educação nos boxes e quis dar uns pescoções em Scheckter, no que foi impelido pela turma do deixa-disso.

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Em 7 de outubro, aconteceria a última etapa em Watkins Glen – a mesma pista onde Cévert conquistara sua primeira vitória na Fórmula 1. Nos treinos, o piloto cumpriu o ritual de sempre: vestiu o macacão azul-claro com os brasões dos patrocinadores e da Tyrrell, o capuz anti-chamas, o capacete bleu-blanc-rouge e as luvas. Sedutora e displicentemente, deve ter piscado os imensos olhos claros para alguma nativa, como quase sempre fazia. E acelerou sua Tyrrell 006 de motor Ford Cosworth V8 número #6 para iniciar o último treino livre antes da qualificação e tentar melhorar o tempo da véspera – 1’40″444, o quarto mais rápido da sexta-feira.

Como sempre, Ken Tyrrell, cronômetro na mão, começou a marcar o tempo de seu pupilo mais jovem e futura aposta para ganhar o campeonato em 1974 e entrar para a história na sucessão de Jackie Stewart. Mas alguém notou que Cévert demorava mais do que o tempo que se levava para completar uma volta no circuito novaiorquino.

Uma bandeira vermelha foi acenada. O treino estava interrompido.

Todos os outros 27 carros chegaram aos boxes. Menos o #6 de Cévert. E o desespero tomou conta do paddock. Mecânicos, pilotos e chefes de equipe logo ficaram com os semblantes carregados.

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Não sem razão: François Cévert perdera o controle numa sequência de esses em subida. O carro bateu numa guia a 250 km/h e capotou. Na condição de “passageiro”, o piloto nada pôde fazer e o bólido ficou inteiramente destruído na seção dianteira, reduzida a menos da metade do tamanho original do carro. Não havia nada que estivesse ao alcance dos bombeiros e médicos: aos 29 anos de idade, Albert François Cévert estava morto.

Foi um baque: Helen, a mulher de Jackie Stewart, entrou em estado de choque. Enlutada, a Tyrrell retirou-se da corrida e o escocês despediu-se da Fórmula 1 num dos dias mais trágicos de sua história e sem atingir a marca histórica de 100 GPs na carreira. A pista foi reaberta uma hora após o acidente e o segundo treino classificatório foi realizado em clima de velório. A bandeira francesa foi hasteada a meio pau e nos alto-falantes do autódromo tocou-se a Marselhesa, como respeitosa e última homenagem a François Cévert.

No dia seguinte, enquanto Jackie e Helen assistiam à corrida com a mulher do tricampeão dopada por sedativos, Ronnie Peterson partiu da pole position, venceu a corrida de ponta a ponta e roubou de Cévert a 3ª posição do Mundial de Pilotos. Ao fim da corrida, conversando com um jornalista de seu país, o piloto desabafou:

“Sabe de uma coisa, Björn? Essa foi a pior corrida que disputei até hoje. Correr é tudo para mim e acho que não saberia fazer outra coisa. Não senti prazer nenhum nesta vitória. Mas corri para ganhar. É para isso que sou pago”, finalizou Ronnie.

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A Tyrrell nunca mais seria a mesma: sem Stewart e sem Cévert, teve que se reconstruir – sem contudo se reerguer por completo. E os franceses teriam que esperar mais um pouco para ver um piloto do país campeão mundial de Fórmula 1. Porque François Cévert, o galã, não pode atingir o objetivo que tinha desde que ganhou a bolsa de 1 milhão de francos e derrotou Patrick Depailler no Volant Shell, em 1966.

Comentários

  • Belo texto mesmo, Rodrigo. Nesta época ainda era garoto, morava no Espírito Santo e acompanhava Fórmula 1, com o meu pai, pelo rádio. Valeu!

  • Cevert, grande piloto, aprendeu muito com Stewart, a fase mais gloriosa da F1.
    Poucos pilotos desta geração atual da F1, poderiam juntar-se aos grandes daquela fase!
    Não haviam pilotos pagantes, nem Bernie Ecclestone, haviam grandes jornalistas.

  • Belíssimo texto Rodrigo, parabéns! Fico imaginando até onde Cevert chegaria, será que seria o primeiro campeão francês da F1 uma década antes do Prost? Nunca saberemos… Só uma curiosidade, se não estou enganado, aquela corrida, que seria a derradeira do Stewart, também marcaria o seu 100º GP na F1.

  • Esse tal de Rodrigo Mattar sabe mesmo escrever e, acima de tudo, pesquisar e apurar as notícias que publica. Parabéns RM. Gostei de reler a história do mais galã da F1. Abs. e até a próxima.

  • Muito bom o texto. O cara andava forte e era muito técnico, lembro bem de 1973, como fazia o trecho da curva do Lago, Sol e Sargento, no velho Interlagos, redondo e rápido, com acelerações bem dosadas no Veoitão Cosworth. E só não ganhou em Nürburgring por causa do jogo de equipe, tava mais rápido que o Stewart mas teve que ir escoltando até o final.

  • Cevert se foi numa época em que automobilismo era inseguro e sexo era seguro. Recebi este texto de um amigo:

    Albert Francois Cevert Goldenberg, 1944-1973.

    Em 1974, um ano após a morte de François Cevert, foi publicada uma biografia do piloto chamada: “Contrato com a Morte”. Nesse livro, está a impressionante história contada por Anne Van Malderen, a “Nanou”, que por muito tempo foi namorada do piloto. Bonita e divertida, conheceu Cevert em 1964, em Saint Tropez, quando ele tinha 20 anos de idade. Tinha 25 anos e era casada, e não resistiu aos olhos azuis e ao sorriso do piloto.

    Segundo ela conta, “em 1959, fui com a minha mãe visitar uma vidente que tinha sido recomendada a ela. Essa mulher morava na França, numa casa simples, e nada fazia crer que havia um elo dela com o ‘outro mundo’. Ela não lia cartas de baralho, nem tinha bola de cristal. O seu método era simplesmente olhar para você durante um longo período de tempo, ou então observar uma fotografia, quando alguém lhe trazia uma. E então ela concentrava-se, num silêncio total.

    Nessa época eu tinha 20 anos, e tinha somente ido ali para acompanhar a minha mãe. Naqueles dias eu era completamente cética em relação a esse tipo de previsões sobre o futuro. Subitamente, a vidente olhou para mim e fixou-me com os seus olhos. ‘Preciso falar consigo’, disse ela. Assustada, a segui até seu quarto”.

    “O seu casamento não vai durar. Você irá encontrar um jovem que deixará marcas profundas na sua vida. Você vai ser profundamente feliz… posso ver os olhos azuis dele… posso ver o mar… vocês vão se encontrar perto do mar”. Tinha acabado de me casar, então isso me deixou curiosa por algum tempo. Com o tempo, acabei esquecendo a visita. Cinco anos mais tarde, em 1964, conheci François Cevert em St.Tropez, na praia.

    Dois anos mais tarde, quando François decidiu tentar o ‘Shell Scholarship’ (competição cujo vencedor ganhava um patrocínio para a Fórmula 3), senti necessidade de voltar à casa da vidente para saber o que o destino havia reservado para nós dois. Quando cheguei, ela não disse uma palavra sobre ele. Apenas lhe entreguei uma fotografia. Ela permaneceu em silêncio por aproximadamente uma hora. E nada disse.

    ‘Você já veio aqui antes’, disse, para logo a seguir afirmar: ‘Você já o encontrou! Que estranho, a foto dele está toda embaralhada nesta máquina estranha, tem rodas, mas não corpo, o que poderia ser?’

    ‘É um carro de corridas’, expliquei, disse. ‘ele quer ser piloto’.

    ‘Ele vai fazer um tipo de teste, e vencerá facilmente. Vejo uma brilhante carreira à sua frente…’Logo ela parou, olhou para mim e disse: ‘Você vai ser muito feliz, mas não vai conseguir segurá-lo, pois o sucesso dele irá se intrometer entre vocês dois’.

    Outro silêncio prolongado, e ela continua:

    ‘Preciso lhe dizer uma última coisa… Este jovem não viverá para comemorar os seus 30 anos’.

    Havia um calendário na parede. Até o dia da minha morte jamais esquecerei do dia em que lá fui: 29 de junho de 1966.

    Quando mais tarde encontrei François, confesso que foi com um sorriso amarelo. Logo a seguir contei: ‘Fui a uma vidente. Ela disse que você vai vencer o Shell Scholarship’. Isso lhe deu segurança. Ele estava ansioso, pois só então decidimos fazer a inscrição na escola de pilotagem em Magny-Cours, e ele já tinha mais que certeza que estava preparado para o teste.
    Depois, afirmei-lhe o seguinte:
    ‘Ela também disse que sua carreira seria brilhante, mas que acabará por nos separar’.

    ‘Separar-nos? Essa sua vidente é louca. Seja como for, esse tipo de coisa não passam de conversa fiada. Vou vê-la pessoalmente e aposto como vai prever para mim um futuro completamente diferente do seu’.

    Cerca de dois meses mais tarde, ele foi vê-la. Quando voltou, perguntou: ‘Você ligou para ela, né?’

    ‘Ligar para ela para quê?’, respondi.

    ‘É que o que ela previu para mim exatamente aquilo que você me disse’, afirmou.

    De repente fiquei com medo. ‘Isso não significa nada, ela provavelmente te reconheceu. Eu mostrei uma foto sua…’

    – ‘Ela também te disse que eu não chegaria aos 30 anos?’

    – “François, isso é bobagem! Essas velhinhas falam pelos cotovelos, como pode alguém prever o futuro?’

    – ‘Então ela disse isso para você também…’

    E então François olhou para mim e sorriu: ‘Que importa? Até lá, já terei sido campeão do mundo. Desaparecer no auge da fama… que morte gloriosa!’. Ele me abraçou e me beijou”.

    O resto da história todos conhecem: chegou à Formula 1 em 1970, após a retirada surpreendente de Johnny Servoz-Gavin. François Cevert correu na Tyrrell durante as três temporadas seguintes, onde venceu por uma vez, no GP dos Estados Unidos de 1971. Em 6 de Outubro de 1973, durante os treinos para o GP dos EUA, o carro de Cevert bateu contra um guard-rail, matando o francês instantaneamente. Era o último GP que faria antes de comemorar o seu 30º aniversário.

    Algum tempo após a morte de Cevert, Nanou decidiu -após algumas conversas com a família do piloto- visitar mais uma vez a vidente, nessa altura já uma mulher idosa. Novamente, entregou a foto dele, desta vez de quando era criança, para que ela não pudesse reconhecê-lo. A vidente olhou para a foto, fechou os olhos e mergulhou em profundo silêncio. Quando abriu os olhos, olhou para Nanou e disse: “Ele não está mais aqui com a gente. Ele está morto…”.