Discos eternos – Jongo Trio (1965)
RIO DE JANEIRO – Houve um tempo, lá pelos anos 60, onde a música brasileira foi levada de roldão por uma verdadeira febre que tomou conta dos bares e boates no eixo Rio-São Paulo onde houvesse espaço para a apresentação dos artistas e para quem quisesse ouvi-los. E foi um tempo em que tivemos a chance de conhecer uma geração fantástica de músicos, das mais diversas tendências e origens.
Muitos desses músicos se agruparam em formações de piano-baixo-bateria, formando trios que entraram para a história. Posso citar aqui o Zimbo Trio, o Manfredo Fest Trio, o Bossa Três, por exemplo. E um dos mais emblemáticos e importantes de todos foi o Jongo Trio.
O grupo era formado pelo pianista Cido Bianchi, que tocava na lendária boate Stardust, o baixista Sabá (Sebastião Oliveira da Paz), residente na Baiúca e o baterista Toninho Pinheiro, que era do grupo de Pedrinho Mattar (que, pelo que soube, é primo bem distante do escriba aqui). Os três eram os músicos mais requisitados no circuito da Bossa Nova em São Paulo, tocando principalmente no Fino da Bossa, o famoso programa de televisão estrelado por Elis Regina e Jair Rodrigues.
Com tantas horas de voo nos palcos e tantos talentos reunidos num único conjunto, ninguém se surpreendeu quando a pequena gravadora Farroupilha, do maestro gaúcho Tasso Rangel, fez uma proposta a Cido, Sabá e Toninho para gravarem um disco que se tornou histórico em todos os sentidos.
Ao contrário da maioria dos trios brasileiros, que eram praticamente instrumentais, o Jongo se destacava pela versatilidade de seus integrantes – todos participavam dos bem-elaborados arranjos vocais concebidos por Cido Bianchi e o repertório escolhido para este trabalho único na história do Jongo Trio é, de fato, primoroso.
Entre os clássicos tocados por eles estão “O Menino das Laranjas”, de Théo de Barros (Compra laranja, doutor… que ainda dou uma de graça pro senhor), a panfletária “Terra de Ninguém”, dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle, a ótima “Seu Chopin, Desculpe”, de Johnny Alf, canções de Luís Chaves/Adílson Godoy (que eram do Zimbo Trio), Vera Brasil e da dupla Evaldo Gouveia/Jair Amorim, duas de Edu Lobo, com parceiros diferentes – “Reza”, com Ruy Guerra e “Arrastão”, já imortalizada por Elis Regina e escrita por Vinícius de Moraes,e talvez a mais bela música de todo o disco, “Feitinha Pro Poeta”, homenagem de Baden Powell e Lula Freire, justa e exatamente para o Vina.
Ah! Quem me dera ter a namorada
Que fosse para mim a madrugada
De um dia que seria minha vida
E a vida que se leva é uma parada
E quem não tem amor não tem é nada
Vai ter que procurar sem descansar
Tem tanta gente aí com amor pra dar
Tão cheia de paz no coração
Que seja carioca no balanço
E veja nos meus olhos seu descanso
Que saiba perdoar tudo que faço
E querendo beijar me dê um abraço
Que fale de chegar e de sorrir
E nunca de chorar e de partir
Que tenha uma vozinha bem macia
E fale com carinho da poesia
Que seja toda feita de carinho
E viva bem feliz no meu cantinho
Que saiba aproveitar toda a alegria
E faça da tristeza o que eu faria
Que seja na medida e nada mais
Feitinha pro Vinícius de Moraes
Que venha logo e ao chegar
Vá logo me deixando descansar
Mesmo com tantas músicas boas, o Jongo Trio não sobreviveria com sua formação original. Cido Bianchi foi “saído” da formação e em seu lugar entrou Cesar Camargo Mariano. Com Sabá e Toninho Pinheiro, surgiu o Som Três, o grupo que acompanhou o auge da carreira de Wilson Simonal entre 1966 e 1970. O Jongo Trio até voltaria a existir com Toninho Pinheiro, já fora do Som Três, tocando com Paulo Roberto (piano) e Humberto Claiber (baixo). Mas a mística já não era mais a mesma.
Ficha técnica de Jongo Trio
Selo: Farroupilha
Gravado no ano de 1965
Músicas:
1. O Menino das Laranjas (Théo de Barros)
2. Feitinha Para o Poeta (Baden Powell/Lula Freire)
3. Ela Vai, Ela Vem (Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli)
4. Eternidade (Luís Chaves/Adílson Godoy)
5. Terra de Ninguém (Marcos Valle/Paulo Sérgio Valle)
6. Seu Chopin, Desculpe (Johnny Alf)
7. Arrastão (Edu Lobo/Vinícius de Moraes)
8. Garota Moderna (Evaldo Gouveia/Jair Amorim)
9. Vai João (Vera Brasil)
10. Reza (Edu Lobo/Ruy Guerra)
11. Balanço nº 1 (Hermeto Paschoal)
12. Deus Brasileiro (Marcos Valle/Paulo Sérgio Valle)
Gostaria que a pessoa que escreveu o artigo sobre o Jongo Trio, retratasse o nome do músico Sebastião Oliveira da Paz, SABA.., e não como você se refere Mario Saba. Att Regina Paz
Será corrigido.
Para mim um dos melhores bateristas brasileiros e abrilhantou o Dick Farney Trio de 1972 a 1987 juntamente com o grande baixista Sabá .
Sou filha do Toninho e agradeço pelas palavras.
Toninho foi o baterista de melhor estilo e balanço da bossa nova. Assisti ao vivo algumas de suas apresentações e fiquei simplesmente encantado. Que pena a bossa nova morrer no Brasil, em detrimento de uma porcaria que é essa música sertaneja. Que evolução sensacional teve este povinho!,,, Sem Tom Jobim e sem Toninho a nossa música não é a mesma nem nunca mais será.
Tom Jobim, se vivo fosse, se contorceria de raiva com tanta porcaria que invadiu a música brasileira…
Sou filha do Toninho Pinheiro e obg pela lembrança do meu pai.