Discos eternos – Os afro-sambas (1966)

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RIO DE JANEIRO – Quando Vinícius de Moraes se autointitulava “o branco mais negro do Brasil”, era bem difícil duvidar das palavras do poetinha.

Mas a negritude do Vina só viria à tona quando foi presenteado por Carlos Coqueijo, compositor bissexto e juiz do Tribunal Regional do Trabalho da Bahia com um disco contendo sambas de roda, pontos de candomblé e toques de berimbau que o encantaram de modo que ele não só passou a se intitular enfaticamente um filho de Oxalá e na linha direta de Xangô como, anos depois, se casaria com a baiana Gessy Gesse e fixaria residência naquele estado.

Voltando algum tempo antes de 1965, Vinícius, desejoso de transformar aquela inspiração toda em música, chamou Baden Powell para compor com ele. Os dois se trancaram no apartamento do poetinha no Parque Guinle, em Laranjeiras e, após beberem caixas e mais caixas de uísque Haig, saíram de lá com 25 canções prontas – oito delas dariam forma ao que seria o disco Os afro-sambas, gravado em 1966 e distribuído pelo selo Forma, de Roberto Quartin.

A produção é um espetáculo. As canções não se limitam ao básico de voz e violão em matéria de arranjos, trazendo instrumentos percussivos como atabaques, bongôs, afoxés, agogôs e pandeiros. O maestro Guerra Peixe foi o responsável pelos arranjos e pela regência nas gravações, que contaram ainda com a luxuosa participação do grupo vocal feminino Quarteto em Cy – que, por sinal, continua existindo até hoje.

Os afro-sambas produziu um clássico instantâneo da MPB, “Canto de Ossanha”, de múltiplas regravações ao longo de quase 50 anos. Havia também os cantos de Xangô, Iemanjá e do Caboclo da Pedra-Preta, pontuando o disco, que tem também as maravilhosas “Tristeza e solidão” e “Tempo de amor”, esta última uma das mais bonitas canções da parceria Vinícius-Baden, que ainda nos ofertaria canções como “Samba em Prelúdio”, “Berimbau” e tantas outras que fizeram a delícia dos ouvintes e história na música popular brasileira.

Ficha técnica de Os afro-sambas
Selo: Forma/Companhia Brasileira de Discos
Gravado em 1966
Produzido por Roberto Quartin e Wadi Gebara
Tempo: 32’42”

Músicas:

1. Canto de Ossanha
2. Canto de Xangô
3. Bocoché
4. Canto de Iemanjá
5. Tempo de amor
6. Canto do Caboclo da Pedra-Preta
7. Tristeza e solidão
8. Lamento de Exu

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