Paco de Lucia (1947-2014)

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RIO DE JANEIRO – Choram de dor e tristeza as guitarras flamencas. Morreu nesta quarta-feira, aos 66 anos, um mito da música gitana. O espanhol Paco de Lucia sofreu um infarto fulminante em Cancún, no México, onde passava férias.

“Um músico que transcendeu fronteiras e estilos” – assim ele foi definido em 2004 ao ganhar o prêmio Príncipe das Astúrias, um dos mais prestigiosos de seu país. De fato, ele deixou sua Algeciras natal, próxima a Cádiz, para ganhar o mundo com seus violões e guitarras, tornando a música espanhola universal.

Estreou em disco em 1965 e logo se tornou um ícone do estilo flamenco, formando uma parceria com Camarón de la Isla, outro músico celebrado dentro da então nova geração. Fizeram juntos nove álbuns. Paco, que tinha também um sexteto no qual participavam seus irmãos Ramón e Pepe, desfilou sua competência em três álbuns gravados com outros craques dos violões e guitarras: Al Di Meola e John McLaughlin. Esses discos foram celebrados pelos jazzistas como dos maiores da história.

O músico também tocou na íntegra o “Concerto de Aranjuez”, obra-prima de Joaquín Rodrigo, com a Orquestra de Cadaques. A gravação arrancou rasgados elogios do autor, pela “entrega e intensidade” com que a peça clássica foi tocada por Paco de Lucia nas gravações.

Paco contribiu também para diversas trilhas sonoras de filmes – e fez aparições como em Carmen, do compatriota Carlos Saura. Foi dele o score de Vicky Cristina Barcelona, o elogiado filme de Woody Allen e ele também tocou a “Malagueña Salerosa” em “Kill Bill, vol. 1”, do grande Quentin Tarantino.

No Festival de Montreux, no qual esteve presente diversas vezes, estreitou amizade com músicos e produtores brasileiros. Um deles, Marco Mazzola, o convenceu a fazer a guitarra flamenca em “Oceano”, de Djavan. Ele era fã incondicional de Tom Jobim e João Gilberto, tocou com o prematuramente falecido (e brilhante violonista) Raphael Rabello, além de ter gravado músicas como “Tico-Tico no Fubá” e “Frevo Rasgado”.

Seus últimos shows por aqui foram no fim de 2013, após um intervalo de mais de uma década e meia, quando já vivia numa ponte-aérea entre Palma de Mallorca e Cuba. A prefeitura de Algeciras está tomando as providências necessárias para o traslado do corpo do músico, de Cancún para a Espanha.

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