De volta ao jogo

Motor Racing - Formula One World Championship - British Grand Prix - Qualifying Day - Silverstone, England

RIO DE JANEIRO – Sem ter para quem torcer na Copa do Mundo, os ingleses tiveram pelo menos um motivo para comemorar neste domingo: Lewis Hamilton venceu sua quinta corrida em 2014 e está de volta ao jogo do título mundial de pilotos. Muito deste triunfo, o 27º da carreira (igualando Jackie Stewart) se deve ao abandono de Nico Rosberg – só que Lewis estava no lugar certo, na hora certa, e por isso mesmo triunfou com absoluta tranquilidade após a desistência do adversário.

O placar da classificação mostra ainda Nico à frente do companheiro de equipe: 165 pontos contra 161. Lewis tem mais vitórias – cinco contra três, porém soma mais abandonos: enquanto Hamilton desistiu duas vezes neste ano, Rosberg ficou fora pela primeira vez em nove corridas disputadas, quebrando assim uma sequência de oito pódios do alemão.

A corrida foi movimentada – desde o início. Logo na primeira volta, Kimi Räikkönen passou do limite da pista, “pisou” na grama com sua Ferrari e deu uma batida violentíssima num guard-rail. O carro foi rechaçado de volta à pista e foi atingido de raspão pela Marussia de Max Chilton e quase em cheio pela Williams de Felipe Massa, que ficara para trás na largada e tinha feito algumas ultrapassagens para se recuperar. Felipe teve muito reflexo para provocar uma rodada e evitar uma batida em T que, caso acontecesse, poderia trazer consequências gravíssimas aos dois pilotos. Com os carros danificados, os dois deixaram a corrida e Kimi, com o tornozelo machucado, preocupou – mas o piloto deve disputar a próxima corrida.

Para Massa, foi mais um acidente no prontuário: o 15º da carreira e justo no 200º GP do currículo.

“Foi um fim de semana para esquecer”, disse o piloto. Discurso pronto: é o que mais Massa tem dito num ano em que somou apenas 30 pontos no campeonato.

Aliás, aos que acham que a marca será comemorada na Alemanha, cabe o lembrete: completou-se a primeira volta antes da bandeira vermelha. Logo, Massa largou e, mesmo se arrastando, chegou ao grid e depois aos boxes, onde foi constatado que o carro não tinha mais condições de regressar. Um caso mais ou menos parecido ocorreu em 1986, quando Jacques Laffite comemorava sua marca recorde de 176 corridas na Fórmula 1 e bateu logo após a largada justamente do GP da Inglaterra, em Brands Hatch. O piloto francês quebrou as duas pernas e a bacia – não pôde voltar à disputa e mesmo assim foi considerado como recordista ao lado de Graham Hill.

Voltando ao que aconteceu neste domingo: Rosberg comandou a corrida após a relargada, que demorou mais do que o previsto em decorrência do conserto do guard-rail, danificado na batida de Räikkönen. E o alemão ficou na frente, com boa margem para Lewis Hamilton, até um problema de câmbio se manifestar na Mercedes W05 do líder da prova. Nico começou a queixar-se de problemas de redução de marchas e o ritmo diminuiu consideravelmente. Hamilton descontou a diferença e ultrapassou Rosberg com absoluta folga, para delírio da multidão que tomava conta das dependências de Silverstone. Aí foi só partir para o abraço: o câmbio do carro do líder do campeonato travou de vez e ele teve que desistir.

Atrás das Flechas Prateadas, como diria o filósofo, “o couro comeu”: Valtteri Bottas, considerando a posição de largada, fez uma corrida extraordinária – mais uma do finlandês, aliás. Não satisfeito com o pódio na Áustria, conquistou o segundo seguido e o melhor resultado dele em 28 GPs disputados. Com o resultado, superou Vettel na classificação do campeonato – soma 73 pontos e é o 5º colocado. Esse piloto vai longe…

Daniel Ricciardo conquistou um sólido 3º lugar, mantendo a mesma posição no campeonato e resistindo muito bem aos ataques de Jenson Button, que fez uma boa corrida – contudo sem conseguir chegar ao primeiro pódio correndo em casa, um tabu que o piloto da McLaren dificilmente terá condições de quebrar. Mas a melhor briga, disparadamente, foi pela quinta posição, reunindo seis títulos mundiais: os quatro de Sebastian Vettel e os dois de Fernando Alonso.

Mesmo com uma punição stop & go de 5 segundos, acrescida ao tempo de parada dos boxes, Alonso fez coisas incríveis na pista. Sua defesa de posição dos ataques de Vettel foi fantástica – enquanto durou. Pois o alemão aproveitou uma brecha e conseguiu inverter a posição, ficando com o 5º posto na quadriculada. O problema no duelo Vettel versus Alonso foi o eterno #mimimi de ambos. Muita choradeira de parte a parte: Vettel resmungando que não conseguia ultrapassá-lo; Alonso porque o alemão teria saído fora do limite da pista para ultrapassar o piloto da Ferrari. Essa Fórmula 1, cada vez mais coxinha…

De resto, um mais do que razoável sétimo posto de Kevin Magnussen; Nico Hülkenberg salvando o dia da Force India com a oitava posição e a dupla da Toro Rosso cumprindo um fim de semana correto, em que Daniil Kyvat pontuou pela quarta vez na temporada – e na carreira e Jean-Éric Vergne chegou pela terceira corrida no top 10 na quadriculada.

A próxima parada é na Alemanha, terra de Rosberg e… da Mercedes. Será que teremos o jogo virando a favor do “Comandante Amílton”?

Comentários

  • A vitória caiu no colo de Hamilton. Bottas e Alonso só apareceram lá na frente graças a uma estratégia de uma parada apenas nas boxes que funcionou excepcionalmente nesta corrida graças a condições de temperatura mais baixa em pista que confundiu as demais equipes. A Mercedes quase ia nesta também com Hamilton, mas preferiu não arriscar. Alonso fez o que melhor sabe, tentar ganhar no grito e na política de floresta queimada. Ainda bem que sua carreira na F1 está chegando ao fim. Já há pouca gente que o aguenta. Acho que os pilotos devem confiar uns nos outros para que certas manobras possam acontecer e com segurança, e hoje Alonso esteve muito perto da deslealdade em certos momentos e quebrou aquela confiança entre os grandes. Aquela confiança que houve por exemplo entre Hamilton e Alonso no GP da Espanha em 2013. Vai ficando orgulhosamente só no cadeirão da Ferrari. Vettel podia ter passado muito antes, mas adiou por duas razões, primeiro porque quis valorizar a ultrapassagem que era fácil, segundo porque quis evitar a todo o custo a “obrigação” de atacar o 3º lugar da corrida e ser o melhor do resto, coisa que o alemão está fugindo igual ao capeta foge da cruz. E tem razões para isso. Enquanto a Renault não lhe der um motor efetivamente capaz de vencer, Vettel vai evitar andar perto do pódio e fazer de papagaio de pirata na foto da Mercedes. Pode parecer que não, mas Vettel teve papel fundamental no problema com o câmbio do carro de Rosberg. Pela primeira vez neste campeonato a RB esteve mesmo com índices de competitividade bem elevados durante os treinos livres e qualificação, o que obrigou Paddy Lowe e cia ltda a adotar configurações mais ousadas para evitar alguma surpresa. O trabalhador voltou. A corrida de hoje marcou definitivamente o fim do mito Alonso e marcou categoricamente que Hamilton e Vettel são mesmo os melhores pilotos da atual F1, evidentemente que Vettel é mesmo o melhor.

  • Há quem diga que a Mercedes, equipe e montadora alemã, favorece descaradamente o piloto alemão, pois os problemas aparecem sempre no carro #44…acho que não é bem por ai. Hamilton passou por uma série de maus resultados em relação ao parceiro, mas acho que foi só uma fase, pois ainda o considero mais piloto que Rosberg. Se vencer, ou chegar a frente na próxima, dai a “pressão” muda de lado.

  • Caro Rodrigo em relação ao Gp da Inglaterra se não houve uma disputa pelo 1 º lugar como no Bahrem, houve bastante disputas nas posições intermediárias. Em relação ao duelo Vettel x Alonso fico pensando no GP da França de 79 será que Villeneuve e Arnoux ficaram chorando pelo rádio enquanto duelavam?