Discos eternos – Eis o ôme (1968)

RIO DE JANEIRO – A música negra brasileira deve muito a Moisés Cardoso Neves. Ele não é conhecido por seu nome de batismo e sim como Nilo Amaro. Nascido em 1928, ele formou nos anos 60 o famoso conjunto Nilo Amaro e seus Cantores de Ébano. Todos de vozes privilegiadíssimas: um soprano, um mezzo soprano, um contralto, um tenor, três barítonos e dois baixos. Lançaram o fundamental disco Os Anjos Cantam, em 1962 pela Odeon, onde destacou-se a música “Leva eu sodade” e um cantor em especial: Noriel Arantes.

Carioca do Lins e dono de uma voz personalíssima, diria eu que única na história da música brasileira, Noriel enveredou para a carreira solo enquanto ainda era do grupo de Nilo Amaro. E nos presenteou com um dos trabalhos mais emblemáticos da MPB.

noriel-vilela-eis-o-ome-1968-samba.html-xx-FolderGravado e lançado em 1968 com arranjos caprichados, melodias e harmonias espetaculares, Eis o ôme é hoje um clássico absoluto destes tempos cibernéticos em que qualquer um de nós pode jogar no Google o nome de Noriel Vilela e se deparar com as faixas de seu disco.

Morto prematuramente seis anos depois deste trabalho, em decorrência de uma reação alérgica a uma anestesia ministrada por seu dentista, Noriel foi redescoberto na década passada, quando uma emissora esportiva usou “Só o ôme” como trilha de uma chamada de programação. Na esteira daquela música divertida, que misturava ponto de macumba e sambalanço de primeiríssima qualidade, veio também a reedição de “16 Toneladas”, versão do clássico “Sixteen Tons” (Ernie Ford/Merle Travis), que o Funk Como Le Gusta tentou regravar – sem sucesso – com o mesmo suingue e o mesmo grave da voz de Noriel Vilela.

Naqueles tempos da gravação de “Eis o ôme”, o Brasil vivia momentos de popularidade enorme da entidade Seu Sete da Lira na mídia nacional, em tempos da intensa rivalidade pela audiência entre Abelardo Chacrinha Barbosa e Flávio Cavalcanti. Noriel foi malandro: entrou na esteira dessa rivalidade por uma outra porta e nos brindou com interpretações espertas e divertidíssimas de músicas que, em sua grande maioria, falam de Orixás e do Candomblé. Todas, como já dito anteriormente, com o maior capricho na gravação – incluindo órgãos, sopros e coros.

Baluarte do Império Serrano, uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio de Janeiro e compositor do famoso “Baleiro Bala”, que derrotou em 1974 o igualmente famoso “Estrela de Madureira” (Acyr Pimentel/Cardoso), imortalizado por Roberto Ribeiro, para representar no Carnaval em 1975 o enredo sobre a vedete Zaquia Jorge, Avarese comparece em cinco faixas, quatro em parceria com Edenal Rodrigues e outra sozinho. Edenal também escreveu músicas sozinho, feito a clássica “Só o ôme”. E entre outros nomes menos conhecidos, até Noriel arriscou compor uma música – fez “Saudosa Bahia” com Sidney Martins.

Com o falecimento de Noriel Vilela já citado anteriormente, Nilo Amaro desfez temporariamente os Cantores de Ébano, por julgar que não havia ninguém à altura do talento dele. De fato, o grupo só voltaria a gravar um último álbum em 1984. Nilo morreu em Goiânia aos 76 anos, no dia 18 de abril de 2004.

https://www.youtube.com/watch?v=Nc1oTohC7PE

Ficha técnica de Eis o ôme
Selo: Copacabana/EMI Music
Gravado em 1968 no Rio de Janeiro
Tempo: 45’38”

Músicas:

1. Promessado (Carlos Pedro)
2. Saravando Xangô (Avarese/Edenal Rodrigues)
3. Só o Ôme (Edenal Rodrigues)
4. Meu Caboclo não deixa (Avarese/Edenal Rodrigues)
5. Para Yemanjá levar (Délcio Carvalho)
6. Samba das Águas (Josan de Mattos)
7. Eu tá vendo no copo (Avarese/Edenal Rodrigues)
8. Acredito, sim (Avarese/Edenal Rodrigues)
9. Peço licença (Avarese)
10. Cacundê, Cacundá (José de Souza/Orlando)
11. Acocha Malungo (Sidney Martins)
12. Saudosa Bahia (Noriel Vilela/Sidney Martins)

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