Há 35 anos…

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Um andando de lado, o outro subindo na zebra: apenas um dos momentos inesquecíveis do fabuloso duelo entre Gilles Villeneuve e René Arnoux, numa nublada tarde de 1º de julho de 1979, no GP da França, em Dijon-Prenois

RIO DE JANEIRO – Sim, este post poderia ser o 200º da série do Túnel do Tempo no blog. Mas por diversos motivos, não o será. O principal deles é que a ocasião é boa demais para ser apenas mencionada com um texto simples, de poucos parágrafos e palavras. O que aconteceu em 1º de julho de 1979, há três décadas e meia, está gravado para sempre na memória de quem é – feito eu e muitos de vocês, leitores – apaixonado pelo automobilismo.

Era a disputa da 65ª edição do GP da França, que naqueles tempos era realizado em revezamento entre dois circuitos: Paul Ricard e Dijon-Prenois. O caprichoso acaso do destino marcou a corrida em Dijon, um circuito de pouco mais de 3,8 km de extensão, para os anos ímpares. O mesmo destino encarregou-se de nos brindar com a maior disputa da história da Fórmula 1. Os protagonistas: Gilles Villeneuve e René Arnoux.

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Os dois pilotos trocaram sete vezes de posição nas últimas voltas, naquela que é celebrada como a maior disputa da Fórmula 1 em todos os tempos

Quem viu, viu. Quem não viu, que procure os vídeos, porque vale a pena. Levando seus carros ao limite, com fritadas de pneu, batidas de roda e tudo o mais, os dois levantaram os 120 mil torcedores presentes em Dijon, emocionando também milhares de telespectadores que assistiam a corrida pela televisão. Eles trocaram várias vezes de posição mas, de fato, Villeneuve perdeu a posição apenas uma única vez para o rival, na 78ª volta, quando Arnoux passou defronte os boxes em segundo. O troco, como sempre, veio rápido e o piloto da Ferrari segurou a posição.

Cabe lembrar que Gilles liderou o GP da França até a 47ª volta, quando perdeu a ponta para Jean-Pierre Jabouille, com a outra Renault Turbo. Ele não se deixaria permitir – nunca – perder também a segunda posição. Fazia parte do espírito aguerrido, moleque e suicida do canadense, se entregar numa disputa até onde fosse possível. Muito por Villeneuve é que tivemos aquele 1º de julho inesquecível.

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Muita gente acha que Villeneuve e Arnoux brigavam pela vitória; o canadense recebe a quadriculada do 2º lugar, à frente do piloto da Renault

Terminada a prova, sob a ovação intensa do público francês, Villeneuve e Arnoux trocaram um caloroso abraço. Anos mais tarde, o francês lembraria do duelo com muito carinho.

“É uma lembrança maravilhosa, ainda que tenha terminado aquela corrida em 3º lugar”, disse. “Foi uma batalha com aquele que era o meu maior amigo na Fórmula 1. Villeneuve não era simplesmente um piloto. Era um acrobata das pistas! A gente só tinha um jeito de lutar contra ele em qualquer disputa e eu penso que tínhamos o mesmo temperamento, a mesma garra, a mesma fome de vencer”, completou Arnoux.

“Com os carros que guiávamos naquela época, você tinha que confiar plenamente no seu adversário porque, em caso de colisão, voaríamos para fora da pista. Ele confiou em mim e eu nele. Por isso, trocamos alucinadamente de posição umas seis, sete vezes. Apesar das loucuras, Villeneuve era confiável e leal. Era um grande amigo, um cara e tanto. E eu adorava competir com ele”, finaliza o francês.

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Amigos: Arnoux e Villeneuve se respeitavam dentro e fora das pistas

Arnoux diz também que o episódio é, até hoje, lembrado pelos fãs do automobilismo. Muitos perguntam a respeito de 1º de julho de 1979.

“Fazem mais de 30 anos que tudo aquilo se passou e continuamos falando disso! Isso mostra que milhares de pessoas nunca esquecerão aquela batalha em Dijon, tanto os fãs quanto os pilotos. Certo dia alguém comentou comigo: ‘Uau! Que corrida aquela em Dijon! Quem foi que venceu naquela ocasião? Você ou Villeneuve?’ E eu respondi: ‘Nenhum dos dois, foi Jabouille!’. Ninguém esquece daquilo. É um momento marcante da minha vida”.

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O pódio de Dijon: os mais celebrados ladeiam o vencedor Jabouille

De fato, muita gente fica com a impressão de que a batalha Gilles x Arnoux era pela vitória na ocasião. E o triunfo de Jean-Pierre Jabouille, o primeiro de um carro com motor turbocomprimido na história da Fórmula 1, foi tão histórico quanto posto de lado, em segundo plano, diante de tudo o que se viu e o que é venerado – até hoje.

Trinta e cinco anos depois, cabe a pergunta: no automobilismo de hoje, o que seria feito de pilotos como Gilles Villeneuve e René Arnoux se resolvessem fazer algo semelhante?

Cartas para a redação.

Comentários

  • Se isso acontecesse hoje Rodrigo, os dois sairiam presos, com algemas e camisas de força do autótromo, além de serem punidos com 50 corridas de gancho, por conduta perigosa. A F1 está muito fresca nos dias de hoje.

  • Ahhh…Rodrigo…tu sabes….com esse “frescos” a comandar a atual f-1 ridícula….seriam punidos com atitudes antidesportivas…rsrsrs….hoje a f-1 só tem fresco…do comando aos volantes…..e tudo “fake”…

  • Caríssimo Rodrigo, hoje, infelizmente, um duelo assim sequer terminaria, pois as “vacas bravas” bateriam na primeira oportunidade, e ficaria um acusando o outro pelo acidente. Ou se terminasse a FIA provavelmente eliminaria os dois do automobilismo (ou, quem sabe, o que não estivesse em uma Ferrari, lembrando recentes patacoadas). Não existe mais o cavalheirismo mostrado em seu emocionante texto, descrevendo uma época magnífica onde existiam PILOTOS de verdade, com todas as letras maiúsculas. Grande abraço!

  • Que diferença para a chata Formula 1 atual, isto sim era uma verdadeira corrida de automóveis.
    Atualmente está faltando muito pouco para que tenhamos carros com de Formula 1 com piloto automático, o boneco sentado no banco será um mero enfeite.

  • KKKKKKKKKK
    Eu tenho a corrida toda, inteirinha gravada… foi uma corrida morna, chata de tudo, com uma largada excepcional do Piquet, abandono do Lauda, o Copersucar F5A passando na reta falhando, tudo narrado pelo Leo Batista e comentado pelo Reginaldo Leme… a abertura da transmissão mostra imagens das curvas 3 e 4 do antigo Interlagos, o Interlagos de verdade, e a corrida vai até duas voltas do final bem chata e então…. Villeneuve e Arnoux se encarregam de transformar tudo aquilo na corrida do século…. Acho que eles devem ter conversado via rádio: ganhar nós não vamos, então vamos fazer algo diferente para entrar na história? O outro respondeu Sim, vamos mudar a história disso aqui que tá muito chato….
    e o resto é história, aquilo que todo mundo comenta até hoje

  • Guardadas as devidas proporções (durou uma volta, não duas), e com o acréscimo de chuva, Massa X Kubica de 2007 foi parecido.
    É um pouco mimimi nosso (fãs e imprensa) achar que uma disputa assim seria punida simplesmente por ocorrer.

  • Provavelmente teriam sido obrigados a devolverem a posição um ao outro, levariam um stop and go, teriam que passar dentro dos boxes

  • Hoje ? Não pode uma coisa dessas rapaz. Vão os dois ser punidos com 30 posições no grid na próxima corrida mas 40 pontos na carteira e $ 100.000 de multa. E também não poderiam ser amigos fora das pistas. A F1 hoje em dia é muito fresca e prega a guerra.