40 anos do bi, parte XIII – GP da Itália de 1974

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A reprodução da feérica capa da programação do GP da Itália, disputado em 1974 pela 45ª vez

RIO DE JANEIRO – A histórica pista de Monza recebeu em 8 de setembro de 1974 a 13ª etapa do Campeonato Mundial de Fórmula 1. Seria uma corrida absolutamente decisiva para os rumos da temporada, pois poderia encaminhar o título para o ítalo-suíço Clay Regazzoni, então líder do campeonato com 46 pontos – e vale lembrar que a corrida seria na Itália, terra da Ferrari. E os tiffosi, com sua paixão característica, prometiam invadir as dependências do circuito.

Por outro lado, o GP da Itália também poderia representar a reabilitação de Emerson Fittipaldi. Fora dos pontos nas provas anteriores na Áustria e Alemanha, o brasileiro sabia que a corrida italiana seria fundamental. Campeão pela primeira vez ali mesmo dois anos antes em 1972 e derrotado no ano seguinte, numa ocasião em que resolvera mudar de equipe de uma vez por todas, o piloto da McLaren só pensava em recuperação.

Mais uma vez o total de carros inscritos superou o número permitido à largada. Foram 31 pilotos para 25 vagas e os treinos classificatórios teriam suma importância para muitos. Chris Amon regressava com o Amon AF101 após a doença que o tirou do GP da Alemanha. John Watson tinha à disposição um Brabham BT44 todo branco, igual ao de José Carlos Pace e Carlos Reutemann. Carlo Facetti e Jean-Louis Lafosse apareciam inscritos pela Scuderia Finotto, mas só o primeiro disputou os treinos. Ian Ashley aparecia também com uma equipe particular alinhando um Brabham – e também ficou sem participar do GP da Itália. E José Dolhem reapareceu como o segundo piloto do Team Surtees, ao lado de Derek Bell.

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Niki Lauda deitou e rolou no treino: fez mais uma pole position com a 312B3

Propícia para os motores de 12 cilindros, os mais potentes da categoria, a pista fez a Ferrari deitar e rolar na classificação com Niki Lauda, detentor de mais uma pole com o tempo de 1’33″16 – mais de 223 km/h de média. Mas os Brabham BT44, cada vez melhores, surpreenderam: Carlos Reutemann foi o segundo do grid, José Carlos Pace brilhou com o 3º tempo e até John Watson andou muito, com a quarta posição. Clay Regazzoni e Emerson Fittipaldi dividiram a terceira fila e Ronnie Peterson, na velha Lotus 72E, largava em sétimo.

Assim que foi autorizada a largada, num dia de muito sol, Lauda disparou na frente, seguido pelos três Brabham e por Clay Regazzoni. Prudente, Emerson Fittipaldi passou ao fim da primeira volta em sétimo. Rega, que precisava de um pódio para ampliar sua liderança, agiu rápido e em três voltas passou – pela ordem – Watson, Pace e Reutemann, assumindo o segundo posto atrás de Lauda, para delírio dos ferraristas.

Os Brabham começaram a capitular cedo: com problemas de pneus, John Watson foi para os boxes e despencou para os últimos lugares. José Carlos Pace também precisou poupar seus Goodyear e perdeu rendimento. E na 12ª volta, quebrou o câmbio do carro de Carlos Reutemann, o que deixou Ronnie Peterson em 3º e Emerson Fittipaldi em quarto. Vittorio Brambilla e Jody Scheckter fechavam os seis primeiros, mas o italiano logo abandonaria a disputa.

A dobradinha da Ferrari não sofreu nenhuma alteração até a metade das 52 voltas. Mas o #12 de Niki Lauda não estava bem. O austríaco começou a perder terreno e rendimento. Na 30ª passagem, Regazzoni superou o líder e pole position e assumiu a liderança. Os tiffosi começaram a gelar quando o carro de Lauda parou nos boxes com vazamento de água, claro sinal de superaquecimento.

A quebra do motor de Regazzoni calou a ruidosa torcida italiana em Monza

O abandono de Lauda beneficiou Peterson e Emerson, que torciam claramente pela quebra de Rega. E aconteceu o que os italianos mais temiam: o motor do carro de Clay estourou na 41ª volta com vazamento de óleo. Silêncio sepulcral em Monza, quebrado apenas pelo ronco característico dos motores Cosworth da Lotus de Peterson e da McLaren de Fittipaldi.

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Confronto direto: as últimas 12 voltas foram de luta cruenta entre Ronnie e o Rato. Os dois chegaram separados por apenas oito décimos de segundo na quadriculada final

Aí ficou mano a mano entre os protagonistas da disputa ocorrida em 1973 e dessa vez, em lados opostos, Emerson vislumbrou a chance de tirar toda a diferença que o separava do líder do campeonato e assumir de novo a ponta da tabela. Mas Peterson, tal como no ano anterior, foi um osso duríssimo de roer. Não cedeu em momento nenhum. O sueco também precisava da vitória e ela veio: ao fim de 52 voltas e quase 1h23min de prova, os dois cruzaram a meta separados por apenas oito décimos de segundo.

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Emerson escancara o sorriso no pódio. Peterson, coroa de louros no pescoço, comemora. Scheckter só observa

Scheckter chegou em terceiro e Arturo Merzario, em boa performance com o Iso-Marlboro, chegou em quarto. José Carlos Pace conseguiu se manter até o fim, fez a melhor volta em 1’34″2 e salvou dois pontinhos, seguido por Denny Hulme, pela quarta vez em sexto lugar ao fim de uma corrida.

Imóvel na liderança com os mesmos 46 pontos com que chegara da Áustria, Regazzoni agora era um homem sob muita pressão. Jody Scheckter vinha em seus calcanhares, um ponto atrás. E Emerson Fittipaldi, mais vivo do que nunca, tinha 43 pontos e estava em terceiro. Nada estava ainda definido. E o GP do Canadá seria tão decisivo quanto fora a corrida de Monza.

O resultado final:

1º Ronnie Peterson (Lotus), 52 voltas em 1h22min56seg6, média de 217,421 km/h
2º Emerson Fittipaldi (McLaren), a 0seg8
3º Jody Scheckter (Tyrrell), a 24seg7
4º Arturo Merzario (Iso-Marlboro), a 1min27seg7
5º José Carlos Pace (Brabham), a uma volta
6º Denny Hulme (McLaren), a uma volta
7º John Watson (Brabham), a uma volta
8º Graham Hill (Embassy-Lola), a uma volta
9º David Hobbs (McLaren), a uma volta
10º Tom Pryce (Shadow), a duas voltas
11º Patrick Depailler (Tyrrell), a duas voltas

Não completaram:

12º Clay Regazzoni (Ferrari), 40 voltas (vazamento de óleo)
13º Niki Lauda (Ferrari), 32 voltas (vazamento de água)
14º Jacky Ickx (Lotus), 31 voltas (acelerador)
15º Rolf Stommelen (Embassy-Lola), 25 voltas (suspensão)
16º Jacques Laffite (Iso-Marlboro), 22 voltas (motor)
17º Jean-Pierre Jarier (Shadow), 19 voltas (motor)
18º Vittorio Brambilla (March), 16 voltas (acidente)
19º Tim Schenken (Trojan), 15 voltas (câmbio)
20º Carlos Reutemann (Brabham), 11 voltas (câmbio)
21º Hans-Joachim Stuck (March), 10 voltas (motor)
22º Henri Pescarolo (BRM), 3 voltas (motor)
23º James Hunt (Hesketh), 2 voltas (motor)
24º François Migault (BRM), 1 volta (câmbio)
25º Jean-Pierre Beltoise (BRM), não completou a primeira volta (pane elétrica)

Volta mais rápida: José Carlos Pace, na 46ª – 1’34″2, média de 220,892 km/h

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