40 anos do bi, parte XIV – GP do Canadá de 1974

RIO DE JANEIRO – Penúltima etapa do campeonato de 1974, o GP do Canadá foi marcado para o circuito de Mosport Park, nas proximidades de Québec, no dia 22 de setembro. A reta final do campeonato estava empolgante como há muito tempo a Fórmula 1 não via: Clay Regazzoni chegou àquela data como o líder, somando 46 pontos. Jody Scheckter tinha 45 e Emerson Fittipaldi 43. Uma decisão imprevisível e sem qualquer tipo de favoritismo.

Mario Andretti regressou com o novo Vel’s Parnelli VPJ4 com motor Ford Cosworth

Mesmo com a distância entre a América do Norte e a Europa, um excelente contingente de inscritos se apresentou para a corrida. Com direito a duas estreias de equipes estadunidenses: o ítalo-americano Mario Andretti reaparecia após quase dois anos fora da categoria, a bordo do Vel’s Parnelli Ford. Projeto de Maurice Phillipe, um dos antigos colaboradores de Colin Chapman, guardava semelhanças imensas com o Lotus 72 – não por acaso, também desenhado pelo mesmo Philippe sob a supervisão do mago da equipe britânica.

Roger Penske também aparecia com outro carro novo: o Penske PC1, que por sua vez era bastante parecido em conceito com o McLaren M23. Desenhado por Geoff Ferris, o bólido teria a pilotagem de Mark Donohue, que estreara na categoria com um pódio no GP do Canadá, três anos antes – a bordo de um McLaren M19.

Na BRM, Henri Pescarolo caiu fora do barco e deu lugar ao neozelandês Chris Amon. No Team Surtees, o novato Helmut Koinigg foi contratado para guiar o segundo carro em substituição a José Dolhem. Por falar em Surtees, Jochen Mass, que defendera a equipe em grande parte da temporada, apareceu com o #33 da McLaren e já contratado como o substituto de Denny Hulme para a temporada de 1975. Por fim, duas Brabham BT42 inscritas para o britânico Ian Ashley e para o canadense Eppie Wietzes completavam a lista de 30 inscritos.

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Emerson fez a pole position para o GP do Canadá; McLaren introduziu o pré-aquecimento de pneus no fim de semana em Mosport

Um grande obstáculo surgiu para os pilotos e equipes: a baixa temperatura. Fazia muito frio no fim de semana da corrida e as equipes estavam desesperadas para conseguir o melhor aquecimento dos pneus. A McLaren foi genial: começou usando o sistema de aquecimento dos carros alugados para o transporte dos integrantes do time para aumentar a temperatura dos Goodyear. E depois, por sugestão de Emerson Fittipaldi a Teddy Mayer, foi construída uma enorme caixa que, aquecida a gás, conservou a temperatura dos pneus. A Ferrari descobriu a manobra da rival, mas aí já era tarde: Fittipaldi fez a pole position com o tempo de 1’13″188 numa pista amplamente favorável aos carros italianos, com retas longas e curvas rápidas. Niki Lauda foi superado por apenas 0″042 pelo brasileiro, com Jody Scheckter alcançando o terceiro tempo e Carlos Reutemann o quarto.

Os treinos oficiais não foram bons para Clay Regazzoni: o líder do campeonato ficou com o 6º tempo, a 0″365 da pole. José Carlos Pace obteve a nona posição com seu Brabham no grid de 26 carros. Entre os carros novos, o Parnelli saiu-se melhor com o 15º tempo de Mario Andretti, enquanto Mark Donohue foi o vigésimo-quarto. Dois novatos – Helmut Koinigg e Eppie Wietzes – conseguiram a classificação, enquanto Derek Bell, Mike Wilds, Vittorio Brambilla e Ian Ashley ficaram de fora.

Na hora do alinhamento, a McLaren deu outro pulo do gato diante da Ferrari: levou cobertores do hotel próximo ao circuito e, após tirar os Goodyear do “forno” improvisado nos boxes, cobriu os pneus com os cobertores. Há 40 anos, Emerson Fittipaldi e sua escuderia inventavam o pré-aquecimento de pneus, hoje feito com cobertores elétricos.

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Emerson “fritou” demais os pneus traseiros na largada e acabou superado por Lauda antes da primeira curva

Mas na largada, porém, Niki Lauda tirou partido da potência do motor boxer de 12 cilindros de sua Ferrari 312B3 e assumiu a liderança, seguido por Fittipaldi e Regazzoni, que veio da sexta posição. Jody Scheckter passou em quarto, seguido por James Hunt e Jean-Pierre Jarier. José Carlos Pace estava em oitavo.

Nas primeiras voltas, Moco foi um dos únicos no pelotão da frente a avançar. Superou o companheiro de equipe Carlos Reutemann e depois roubou de Jarier a 6ª colocação. Nessa altura, Scheckter já tinha deixado Regazzoni para trás. E na 23ª volta, Pace ganhou o quinto posto de James Hunt.

As posições entre os cinco primeiros colocados permaneceram inalteradas até pouco depois da metade das 80 voltas previstas. Os pneus da Brabham de Moco perderam aderência e começaram a apresentar pronunciado desgaste, tirando o brasileiro da zona de pontos. Na 49ª volta, Scheckter, que estava num sólido terceiro posto – resultado que o deixaria na liderança do campeonato – perdeu os freios de sua Tyrrell e bateu. Fim de prova para o sul-africano.

Os problemas de Jody levaram Rega a um confortável 3º posto e, quando a situação do pódio parecia definida em favor de uma vitória de Niki Lauda, o austríaco sofreu um acidente na 68ª volta, entregando de bandeja a ponta para Fittipaldi. Regazzoni assumiu a segunda posição com Peterson em terceiro, numa grande corrida de recuperação.

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Festa: Emerson e os mecânicos comemoram a importante vitória no GP do Canadá

As últimas voltas deveriam ser tranquilas para o líder da prova. Só que não: enquanto Denny Hulme ajudou e abriu passagem a Emerson, Mario Andretti resolveu não colaborar, fechando a passagem do brasileiro e quebrando o parabrisa do M23 com uma saraivada de areia e pedregulho à margem da pista. Felizmente deu tudo certo e Fittipaldi pôde cruzar a linha de chegada com 13 segundos de vantagem para Clay Regazzoni.

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No pódio, Rega sorri ao lado da Miss Grand Prix, do vencedor Fittipaldi e de Ronnie Peterson

A terceira vitória do Rato, 12ª dele na categoria, fez com que Emerson chegasse ao total de 52 pontos – o mesmo do rival da Ferrari, o que colocava ambos em igualdade absoluta de condições para a disputa do título no GP dos EUA, marcado para Watkins Glen em 6 de outubro.

E é a decisão da temporada que será o último capítulo da série.

O resultado final:

1º Emerson Fittipaldi (McLaren), 80 voltas em 1h40min26seg136, média de 189,112 km/h
2º Clay Regazzoni (Ferrari), a 13seg034
3º Ronnie Peterson (Lotus), a 14seg494
4º James Hunt (Hesketh), a 15seg669
5º Patrick Depailler (Tyrrell), a 55seg322
6º Denny Hulme (McLaren), a uma volta
7º Mario Andretti (Parnelli), a uma volta
8º José Carlos Pace (Brabham), a uma volta
9º Carlos Reutemann (Brabham), a uma volta
10º Helmut Koinigg (Surtees), a duas voltas
11º Rolf Stommelen (Embassy-Lola), a duas voltas
12º Mark Donohue (Penske), a duas voltas
13º Jacky Ickx (Lotus), a duas voltas
14º Graham Hill (Embassy-Lola), a três voltas
15º Jacques Laffite (Iso-Marlboro), a seis voltas (pneu furado)
16º Jochen Mass (McLaren), a oito voltas
17º Chris Amon (BRM), a dez voltas (não classificado)
18º Jean-Pierre Beltoise (BRM), a vinte voltas (não classificado)

Não completaram:

19º Niki Lauda (Ferrari), 67 voltas (acidente)
20º Tom Pryce (Shadow), 65 voltas (motor)
21º John Watson (Brabham), 61 voltas (acidente)
22º Jody Scheckter (Tyrrell), 48 voltas (freios)
23º Jean-Pierre Jarier (Shadow), 46 voltas (transmissão)
24º Arturo Merzario (Iso-Marlboro), 40 voltas (dirigibilidade)
25º Eppie Wietzes (Brabham), 33 voltas (transmissão)
26º Hans-Joachim Stuck (March), 12 voltas (pressão de gasolina)

Volta mais rápida: Niki Lauda, na 60ª – 1’13″659, média de 193,394 km/h

Comentários

  • Pelo que tenho acompanhado dos relatos das provas tenho a impressão que o grande piloto de 1974 foi Ronnie Peterson. O que ele fez com a já defasada Lotus 72 é digno de elogios.

  • Verdade, o sueco só não fez chover à bordo da já veteraníssima 72. . .
    Aquela “panela velha” ainda fazia muita “comida boa”!!