Baixo quorum

RIO DE JANEIRO – O momento da Fórmula 1 não é dos melhores. Neste domingo, teremos o menor grid de uma prova da categoria desde 2005. Com a ausência já confirmada de Caterham e Marussia, por graves problemas financeiros e administrativos, o total de carros, que poderia ser de no mínimo 21, baixa para 18. É uma amostra da crise institucional pela qual atravessa aquela que sempre foi reputada a principal categoria do automobilismo.

Claro, a F1 já passou por crises em sua existência e sobreviveu a todas. Mas o momento exige mudanças. E não é o que temos em vista no horizonte para 2015. Equipes nanicas na categoria nunca foram tão mal-vindas e tão mal-vistas como agora. Mas isso, todos sabemos, é o reflexo das equivocadas decisões de Max Mosley em trazer para a categoria verdadeiros cheques sem fundo em forma de escuderias.

O blog vai procurar aqui elencar algumas corridas da história com o quorum mais baixo de carros em todos os tempos.

1 – GP de Indianápolis (2005), 6 carros

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A imagem acima simbolizou o fracasso da Fórmula 1 em Indianápolis. No ano de 2005, a Michelin equipava 70% das equipes, deixando o restante dos carros sob clientela da Bridgestone, que tinha seus pneus na Ferrari, Jordan e Minardi. Os compostos franceses tiveram problemas no circuito estadunidense e um grave acidente com Ralf Schumacher, nos treinos livres, pôs a segurança dos pneus em dúvida. Os pilotos treinaram, alinharam no grid, mas se recolheram aos boxes num protesto nunca antes visto. O público, claro, detestou e vaiou. A corrida marcou a única vitória de Michael Schumacher naquele ano.

2 – GP da Argentina (1958), 10 carros

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Da lista de inscritos, constavam 17 carros. E só uma dezena compareceu. Na época, uma viagem dos carros de F1 para a América do Sul era muito cara e a prova inaugural do campeonato de 1958 foi marcada para 19 de janeiro daquele ano. Pentacampeão, Juan Manuel Fangio estava determinado a encerrar sua carreira e o GP da Argentina de 1958 seria uma de suas últimas corridas. Fez a pole, mas só chegou em 4º. Os pilotos da foto acima, Mike Hawthorn na Ferrari #20 e Stirling Moss no Cooper #14, foram os grandes protagonistas de uma corrida disputada sob calor senegalesco. Moss, ainda sem o Vanwall com que competiria ao longo do restante do campeonato, tinha o único carro com motor traseiro na pista e surpreendeu a todos, ao conquistar uma vitória que seria histórica sob todos os aspectos. Em menos de dois anos, a F1 não teria mais nenhum carro com motor dianteiro.

 3 – GP da Espanha (1968), 13 carros

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A vitória de Graham Hill no GP da Espanha, em Jarama, foi outro momento histórico da F1. Pela primeira vez, um carro da categoria vencia com as cores de um patrocinador – os cigarros Gold Leaf, produzidos pela Imperial Tobacco. De resto, o grid dessa corrida, a 2ª do Mundial de 1968, deveria ter 15 pilotos, mas o carro de Jack Brabham quebrou nos treinos e ele não pôde largar. Mike Spence havia morrido nos treinos das 500 Milhas de Indianápolis e Hill era justamente o único piloto do time de Colin Chapman, embora houvesse uma outra Lotus 49 na pista, inscrita pela equipe particular de Rob Walker para Jo Siffert. A corrida foi um massacre. Só cinco pilotos terminaram: Hill, Denny Hulme (McLaren), Brian Redman (Cooper-BRM), Lodovico Scarfiotti (Cooper-BRM) e Jean-Pierre Beltoise (Matra) – este último, nove voltas atrasado.

4 – GP da França (1969), 13 carros

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Não há como negar: um grid do nível deste do GP da França de 1969 jamais pode ser considerado baixo. Havia Jackie Stewart, Denny Hulme, Jochen Rindt, Bruce McLaren, Graham Hill, Jean-Pierre Beltoise, Chris Amon, Jo Siffert, Vic Elford e Piers Courage, só para exemplificar. Mas a categoria não atravessava um grande momento no que dizia respeito à presença dos times. A BRM, por exemplo, resolveu ausentar-se da corrida realizada em Clermont-Ferrand, na região de Charade, nos Alpes Franceses. Portanto, só 13 pilotos compareceram e Stewart, brilhante como sempre, venceu de ponta a ponta com seu Matra MS80 de motor Ford Cosworth.

5 – GP de San Marino (1982), 14 carros

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Ponto baixo de uma guerra política que atravessou todo o início da temporada de 1982, o GP de San Marino foi boicotado por quase todas as equipes da chamada FOCA (Formula One Constructors Association), em guerra contra a FISA (Federation International du Sport Automobile). Trocando em miúdos, a guerra se resumia a uma batalha de poder entre Bernie Ecclestone, de um lado e, do outro, Jean-Marie Balestre. Ecclestone ficou possesso com a desclassificação da Brabham de Nelson Piquet e da Williams de Keke Rosberg no GP do Brasil, sem contar a ascensão de Alain Prost, da Renault, da 3ª posição à vitória que o francês não conquistou na pista. A FISA contra-atacava com a desclassificação de Gilles Villeneuve no GP dos EUA em Long Beach e a guerra, declarada desde o episódio das superlicenças na África do Sul – acarretando em greve dos pilotos, inclusive, eclodiu. A corrida de Imola só foi disputada porque era preciso chegar ao total mínimo de 14 carros para contar pontos para o campeonato e a Tyrrell, do bloco da FOCA, foi autorizada a furar o bloqueio. Apesar do grid minúsculo, a corrida foi emocionante e no final, quando estava combinado que Gilles Villeneuve venceria com a lendária #27, Didier Pironi desobedeceu as ordens da Ferrari e ganhou a corrida. O pódio teve ainda Michele Alboreto, da Tyrrell. Só cinco pilotos pontuaram.

6 – GP da Holanda (1961), 15 carros

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Realizado oito dias após o GP de Mônaco, em plena segunda-feira, no dia 22 de maio de 1961, o GP da Holanda disputado no circuito de Zandvoort foi outro que entrou para a história da F1. A corrida foi a primeira de todos os tempos em que não foi registrado nenhum abandono. Todos os 15 pilotos viram a quadriculada e a vitória foi de Phil Hill, da Ferrari. Esse recorde seria igualado somente 44 anos depois, no GP da Itália de 2005, em que os 20 pilotos que largaram na ocasião terminaram. Depois disso, só o GP da Europa de 2011 teria igualmente todos ao final, aí registrando o maior número de carros à chegada.

 

Comentários

  • Rodrigo, essa briga entre FISA e FOCA, teria como explicar melhor, pare-me que o Prost levou uma vantagem nessa história toda, correto?
    Um post sobre isso seria bem legal.
    Abraços