Direto do túnel do tempo (222)

dedodomeio

RIO DE JANEIRO – Essa imagem, vista pelo mundo inteiro em 22 de outubro de 1989, talvez seja a de maior significado do que foi o final daquele campeonato disputado metro a metro por Alain Prost e Ayrton Senna – e ganho pelo francês da forma que todos conhecem.

Foi o ano da explosão da rivalidade entre Alain e Ayrton – que no primeiro ano de McLaren, por sinal, tinham uma convivência bastante cordial e amena, iniciada com a quebra de um “acordo” (na visão de Prost) no GP de San Marino, segunda corrida daquele ano, onde Senna passou o companheiro de equipe antes do fim da primeira volta. Prost não gostou, invocou o tal “acordo” nos boxes, o brasileiro deu de ombros e pronto… o pavio aceso provocou o estouro da bomba.

Na pista, ambos eram brilhantes. Senna, em qualificação, era praticamente imbatível. Prost, em corrida, era o estrategista, o cerebral. Tanto que era apelidado “Le Professeur”, o professor. Mas nos bastidores, era maquiavélico, sujo, escroto até. E tinha um aliado tão maquiavélico, sujo e escroto quanto ele: Jean-Marie Balestre, o presidente da FIA.

Prost tirou partido de um mau momento de Ayrton no campeonato, abriu vantagem na pontuação e quando a temporada chegou ao GP do Japão, em Suzuka, ele tinha 76 pontos líquidos (81 brutos) contra 60 do brasileiro. Senna tinha uma alternativa: vencer ou vencer. Prost, com resultados a jogar fora, não tinha mais absolutamente nada a perder.

A corrida de 1989 foi tão eletrizante quanto a do ano anterior, em que Ayrton foi magistral e bateu Prost para ser campeão. O francês, com pouca asa traseira em sua McLaren MP4-5, foi mais agressivo na largada, um fato raro em sua carreira, e superou Senna para liderar a corrida até o acidente mais controverso da história da Fórmula 1 até aquela data – e talvez  de todos os tempos.

Prost saiu de seu carro e em troca, recebeu do rival e companheiro de equipe um dedo médio, como quem diz “covarde!”. Senna, que pediu a ajuda dos fiscais para empurrá-lo, pois o motor de seu carro morrera, voltou à pista vazando a chicane por uma escapatória. Bico quebrado em sua McLaren, foi para os boxes e voltou atrás do italiano Alessandro Nannini. Furibundo, fez a ultrapassagem e ainda venceu na pista.

Nos bastidores, porém, o jogo imundo de Prost e Balestre já davam às cartas. Senna foi chamado para a torre da direção de prova e lhe foi comunicada a desclassificação. O francês, já fora da McLaren para 1990, era tricampeão. Nannini venceu pela única vez em toda sua carreira na F-1, com Riccardo Patrese herdando a segunda posição e Thierry Boutsen, a terceira.

O episódio gerou outra controvertida decisão de título e um ódio generalizado do torcedor brasileiro em relação a Alain Prost. Na visão dicotômica dos fãs de Senna, Ayrton sempre foi o mocinho e o francês, sempre o bandido. O tempo provou que as coisas não eram bem assim…

Foram dois grandes pilotos, sem dúvida alguma. Mas não precisavam fazer o que fizeram, como Schumacher também o faria – e mais de uma vez – para tentar ou ser campeão do mundo na Fórmula 1.

Há 25 anos, direto do túnel do tempo.

Comentários

  • Sobre a largada do Prost em Suzuka: tava assistindo a corrida novamente (uma das minhas favoritas) no youtube e me parece que o francês queimou a largada…

    • Concordo com você, ele queimou sim, aliás foi a única forma dele largar melhor que o Ayrton. Porém eu acho que o que determinou a largada foi a mudança do local do pole, do lado sujo, que Balestre fez sempre para prejudicar o Ayrton.. Para mim tudo que aconteceu em Suzuka naquele ano de 89, foi tudo premeditado pela dupla, Prost e Balestre.

  • Muito legal a lembrança. Realmente o campeonato estava completamente a favor de Prost, que não precisa apelar para a colisão. Senna ainda teria que vencer na Austrália. Uma pena, mas não há como negar que o episódio jogou baldes de dramaticidade na rivalidade dos dois.