Outsiders: Greg Moore, um possível campeão que deixou saudades

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Com a Copa Vanderbilt, que conquistou em Michigan: Moore foi um cometa que passou pelo automobilismo e deixou saudades em seus compatriotas

RIO DE JANEIRO – Dia 31 de outubro, uma data sempre lembrada pelos canadenses, assim como o 8 de maio. Em ambas as oportunidades, uma em 1982 e a outra em 1999, dois ídolos do esporte a motor do país sucumbiram em tragédias que provocaram lágrimas fartas dos fãs. Há 32 anos, desaparecia Gilles Villeneuve. E há exatos 15 anos, era o talento de Greg Moore que nunca mais seria visto nos autódromos.

Moore foi um cometa nas pistas. Nascido em 22 de abril de 1975 na região da Columbia Britânica, mais precisamente em New Westminster, seu destino poderia ter sido a NHL. Quando criança, chegou a jogar com Paul Kariya, um dos maiores nomes daquele esporte. Mas seu ídolo máximo era o craque Wayne Gretzky, o Pelé do hockey. Por isso, Moore, quando trocou o stick pelo volante, escolheu correr com o #99 em homenagem a Gretzky.

Sua primeira incursão profissional no automobilismo foi aos 16 anos em 1991, na Esso Protec Formula Ford 1600. Quarto colocado no campeonato, foi o novato do ano e conquistou uma vitória. No ano seguinte, venceu a divisão oeste da USAC Formula Ford 2000 e tornou-se outra vez o melhor novato desta categoria. O passo seguinte foi a subida para a Indy Lights, que em 1993 trocava de equipamento, optando pelo modelo T93/20 construído pela britânica Lola, com motores Buick V6 de mais de 400 HP de potência.

A Indy Lights era uma ótima opção para pilotos em início de carreira e que tinham a Fórmula Indy como grande objetivo. Corria em praticamente todas as pistas do calendário da categoria principal, suas provas eram preliminares em várias etapas da Indy. Em suma: uma vitrine que Moore não queria e nem podia desperdiçar.

Ele começou com um esquema particular, a Greg Moore Racing. Em seu primeiro ano no certame, foi o 9º colocado com 64 pontos. Fez somente um pódio em Portland e um quarto lugar em Mid-Ohio. O desempenho melhorou muito em 1994, tanto que, aos 18 anos, o garoto canadense tornou-se o mais jovem piloto a ganhar uma prova de qualquer categoria sancionada pela CART, que gerenciava a Fórmula Indy. O histórico triunfo aconteceu no oval de Phoenix, no Arizona.

Moore venceria também noutros dois circuitos ovais: New Hampshire e Nazareth. Com mais três pódios em Long Beach, Milwaukee e Cleveland, emplacou o terceiro lugar na temporada, somando 154 pontos, quase o triplo de 1993. Como prêmio, caiu nas graças da companhia Players Ltd., fabricante de cigarros e o principal patrocinador dos pilotos canadenses no automobilismo.

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Demolidor: Moore tornou-se campeão da Indy Lights com 10 vitórias em 12 corridas no ano de 1995

Em 1995, no terceiro ano de Indy Lights, Moore estava maduro o suficiente para aniquilar a oposição. No time júnior da Forsythe, destruiu com 10 vitórias (com uma sequência de cinco triunfos e outra de quatro, quebrada com um 2º lugar em Detroit) e foi campeão com larga antecedência. Somou 242 pontos e seu pior resultado foi uma quinta posição em Vancouver. O título lhe assegurou uma vaga na Forsythe para 1996 na Fórmula Indy. Aos 20 anos, ele sucederia ninguém menos que Jacques Villeneuve, o filho de Gilles, que estava de malas prontas para a Fórmula 1.

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Na primeira temporada pela Player’s Forsythe, o canadense conquistou o 9º lugar no campeonato de 1996

Moore logo mostrou do que era capaz em seu primeiro ano na turma de cima. Foi 2º em Nazareth, terceiro em Surfers Paradise e Cleveland. Mas cometeu erros em excesso que prejudicaram sua boa temporada de estreia. Foram seis abandonos em 16 corridas e o canadense terminou em 9º lugar, com 84 pontos. Perdeu o troféu Jim Trueman Rookie of The Year para ninguém menos que Alex Zanardi, que estava na equipe de Chip Ganassi.

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Após um contato com o carro de Moore, Fittipaldi terminou sua carreira e a corrida de Michigan no muro

O piloto também foi protagonista indireto do acidente que tirou Emerson Fittipaldi das pistas. O brasileiro da Hogan-Penske foi alijado da disputa da Marlboro 500 em Michigan após uma disputa com Moore logo no início da disputa. Fittipaldi jamais usou os microfones para culpar o rival pelo fato de não ter terminado aquela que seria sua última temporada como piloto de competição.

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Com 22 anos, Moore foi o mais jovem vitorioso da história da CART

O canadense continuou na Forsythe com chassis Reynard e motor Mercedes para sua segunda temporada na CART. Na 7ª etapa do campeonato, Moore conseguiu um feito histórico: aos 22 anos, consagrou-se o mais jovem vencedor de uma prova da categoria ao faturar a etapa de Milwaukee, batendo Michael Andretti. Não satisfeito, o piloto do #99 ganhou a segunda seguida em Detroit, graças a um erro de estratégia da equipe PacWest, que deixou seus dois pilotos – Maurício Gugelmin e Mark Blundell – sem combustível. Moore vinha em 3º no circuito de Belle Isle e recebeu de presente a vitória. Mas os sete abandonos nas últimas oito provas do ano cobraram a conta e o piloto acabou o ano em 7º lugar, com 111 pontos.

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Em 1998, o canadense teve sua melhor temporada, com vitórias na Rio 400 e nas 500 Milhas de Michigan

Em seu terceiro ano na equipe de Jerry Forsythe, mais maduro, Moore teve sua melhor temporada. Começou 1998 com um pódio em Homestead e após um 4º em Motegi e um sexto no circuito urbano de Long Beach, voltou ao pódio em Nazareth com a terceira colocação. Conquistou uma vitória espetacular na Rio 400, derrotando – e deixando furioso – o italiano Alex Zanardi, com quem batalhou acirradamente pela primeira posição. Foi ainda 3º em Gateway, venceu outra prova espetacular – as 500 Milhas de Michigan – e foi segundo na prova final do ano em Fontana. Mas a exemplo das duas temporadas anteriores, Moore foi de novo prejudicado por sequências de abandonos. Foram sete desistências do canadense, cinco delas consecutivas. Apesar dos desempenhos irregulares, fechou o ano em 5º com 141 pontos.

Muita gente já olhava Greg Moore com outros olhos e apostava nele como um futuro campeão. Roger Penske enxergou qualidades no garoto e iniciou negociações para tê-lo a partir de 2000, quando seu contrato com a Forsythe expiraria. A Penske não passava por uma grande fase, mas se reestruturava para retomar os dias de glória e o chefão da mais bem-sucedida equipe dos EUA queria Moore, então com 24 anos, como o companheiro de equipe do brasileiro Gil de Ferran. A mescla de experiência e juventude, acreditava Roger, tinha tudo para dar muito certo.

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O #99 nas cores da Penske e da Marlboro: parceria jamais concretizada

O ano do piloto começara muito bem com uma vitória sensacional em Homestead, mas de novo os resultados foram irregulares. Moore conquistou apenas mais dois pódios, com o 2º posto em Milwaukee e a terceira posição em Detroit. Mesmo com apenas 97 pontos somados, o canadense tinha a total confiança de Roger Penske para 2000, tanto que o piloto foi anunciado para guiar o Reynard Honda 00i, com o bom e velho #99 decorando o carro pintado nas cores da Marlboro.

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Moore venceu em Homestead e queria se despedir em grande estilo da Forsythe antes de ingressar na Penske. Mas…

A despedida de Greg da Player’s Forsythe Racing seria em Fontana, na Califórnia. A temporada seria decidida entre o escocês Dario Franchitti e o colombiano Juan Pablo Montoya, que sucedera Alex Zanardi na Ganassi e vinha como sensação da categoria. No paddock, o canadense guiava uma motocicleta do tipo scooter e sofreu um pequeno acidente – suficiente, porém, para lesionar sua mão direita.

Sem ter certeza da presença de Moore – que não treinou – na última etapa do campeonato de 1999, Jerry Forsythe imediatamente chamou o brasileiro Roberto Pupo Moreno para ficar de stand by e largar com o #99 caso o canadense fosse reprovado na avaliação médica. Porém, Moore recebeu o ok dos médicos e preparou-se, mesmo com bandagens na mão machucada, para largar de 28º e último na corrida final pela equipe Forsythe.

Aí aconteceu o pior.

Na nona volta de um total de 250 previstas para a disputa da California 500, Moore perdeu o controle de seu Reynard Mercedes na saída da curva 2 e saiu rodando na grama, a mais de 300 km/h. A violenta guinada deixou o bólido incontrolável e o canadense bateu com muita violência no muro do infield da reta oposta. Um acidente gravíssimo.

Como se soube depois, Moore deixou o circuito para ser transportado de helicóptero para o Loma Linda Medical Center, na Califórnia, já em estado crítico. O óbito foi confirmado no decorrer da California 500 e a CART ordenou que todas as bandeiras da pista ficassem a meio mastro. Adrián Fernandez venceu e Juan Pablo Montoya foi campeão. Não houve festa. E a Penske, sem piloto em razão desta trágica circunstância, teve que correr atrás. Afinal de contas, faz parte do esporte e Roger Penske logo contactou e fechou com Hélio Castroneves – que continua na equipe até hoje.

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In memoriam: Gonzalo Rodriguez e Greg Moore foram recordados no evento de fim de ano da CART em 1999

No evento de fim de ano da CART, tanto Moore quanto o uruguaio Gonzalo Rodriguez, que também morrera num acidente em Laguna Seca, foram homenageados. O #99 foi imortalizado pela CART, mas continuou sendo usado pela IRL e segue nas pistas até hoje. Foi instituído o troféu Greg Moore Legacy Award, ofertado ao piloto que, anualmente, representasse o espírito combativo e competitivo do canadense nas pistas estadunidenses. Hélio Castroneves, inclusive, foi o primeiro piloto a ganhar este prêmio. E em julho do ano passado, ele foi apontado pela revista britânica Autosport como um dos 50 melhores pilotos de todos os tempos a não competir em provas de Fórmula 1.

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O capacete que o canadense usaria em 2000: imortalizado

Justiça seja feita: Greg Moore era um piloto excelente. Pena que o destino não quis que se transformasse num legítimo campeão das pistas.

Comentários

  • Belo texto. Além do que era bem conhecido sobre ele, ficamos sabendo de outros detalhes sobre sua carreira. É um cara que faz muita falta na Indy.

  • Mais um texto maravilhoso, como já era de se esperar.Sua morte foi uma das que mais senti no automobilismo.Achava que teria condições de ser campeão na Indy e chegar à F1.Sobre o acidente com o Emerson, lembro que na época houve uma reunião dos pilotos sobre segurança e Greg quis opinar.Christian Fittipaldi o interrompeu, mandando-o se calar após ter quase aleijado o tio.
    Como faz falta um verdadeiro corredor como o Greg…

  • NOS DIAS DE HOJE COM TANTA TECNOLOGIA, PORQUE F-1 E INDY NÃO PODEM TER CARROS TÃO LINDOS QUANTO ESSES NA ÉPOCA DA CART.

    CUSTA CRIAR ALGO AGRADÁVEL DE SE VER…

  • Era fã desse rapaz, acreditava que um dia ele ia mesmo ser campeão.
    Uma pena mesmo o que aconteceu, o mais triste é saber que de certa forma ele receberá um aviso para não correr… mas piloto bom é assim mesmo, corre até estando cego de um olho (se ninguém souber eles vão mesmo).

    e Fabio, concordo contigo, carros lindos como aqueles fazem muita falta!

  • Excelente piloto que teve sua carreira abreviada e que não fez mais enquanto vivo por limitação de equipamento, inclusive pelo seu motor Mercedes na época não se comparar ao Honda. Não tivesse morrido dando espaço a Hélio Castroneves, creio que as disputas pelos títulos de 2000 e 2001 teriam sido dentro da Penske.

  • ESSE ERA E CONTINUARÁ SENDO O CARA MAIS ESPECIAL QUE JÁ CONHECI.ELE ERA TÃO ESPECIAL QUE NÃO FOI FEITO PRA ESTE MUNDO.NUNCA VOU ESQUECÊ-LO.ATÉ HOJE CHORO POR SUA PARTIDA TÃO TRÁGICA E CEDO.