Gérard Ducarouge (1941-2015)

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Ao lado de Ayrton Senna, Gérard Ducarouge fez parte da Lotus, nos últimos anos de glória do time fundado por Colin Chapman

RIO DE JANEIRO – Morreu nesta terça-feira um dos mais talentosos e criativos engenheiros do automobilismo: o francês Gérard Ducarouge. Ele tinha 73 anos e foi conhecido do público brasileiro por seu trabalho com a Lotus ao lado de Ayrton Senna e Nelson Piquet.

Formado na Escola Técnica Nacional de Aeronáutica na França, Ducarouge começou no esporte a motor em 1965, trabalhando na Matra em todas as categorias de monoposto – da Fórmula 3 até a Fórmula 1, sem esquecer dos lendários protótipos com motor V12 que ganharam o Mundial de Marcas e as 24 Horas de Le Mans entre 1972 e 1974.

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Uma das mais insólitas criações de Ducarouge, aqui em dupla com Paul Carillo, foi o Ligier JS5 de 1976, apelidado “Corcunda de Notre-Dame”

Com o fim das atividades da Matra como equipe de competição, Ducarouge foi convidado por Guy Ligier a integrar junto com Paul Carillo o corpo técnico da Ligier, que estreou na F1 em 1976. Ducarouge ficou por lá até 1981, causando sensação com os modelos JS11 e JS11/15, que incomodaram o poderio de Williams e Brabham. Inexplicavelmente, no meio da temporada em que Jacques Laffite brigava pelo título a bordo do Talbot-Ligier JS17, o engenheiro foi demitido por Guy Ligier e acabou ganhando abrigo na Alfa Romeo, onde os italianos passaram a chamá-lo de “Ducarosso”, porque o “rouge” do seu sobrenome é vermelho em francês.

Apesar das inovações propostas por Ducarouge nos modelos 182 e 183T, o primeiro com motor turbo construído pela marca do trevo de quatro folhas, os italianos não ficaram satisfeitos e Ducarouge, considerado culpado pelas más performances dos pilotos, especialmente de Andrea De Cesaris, foi novamente sacado de seu posto. Logo encontrou outra equipe: a Lotus. E em tempo recorde, projetou o modelo 94T, substituto do malfadado 93T, que começara o ano de 1983 com Elio De Angelis e o motor Renault Turbo.

Na estreia do novo carro, Nigel Mansell conseguiu a 4ª posição no GP da Inglaterra em Silverstone e Ducarouge recobrou o moral que estava em baixa na Fórmula 1. Foi o melhor período da equipe sem seu fundador, Colin Chapman. De Angelis foi 3º no Mundial de Pilotos em 1984 e a equipe venceu sete corridas entre 1985 e 1987, seis vezes com Senna e outra com o italiano, que saiu para a Brabham, morrendo no meio da temporada de 1986.

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O Lotus 100T de 1988 foi considerado o maior fracasso de Gérard Ducarouge como engenheiro e o começo do fim da equipe, então defendida por Nelson Piquet

Entretanto, Ducarouge não acertou a mão sempre na Lotus: o modelo 100T entregue para Nelson Piquet e Satoru Nakajima foi, desde o início, condenado ao fracasso. Fosse o ajuste que o bólido tivesse, o desempenho era sofrível. Piquet, um especialista em acerto de chassis, nunca criticou Ducarouge abertamente, mas dizia que o carro era ruim demais para suportar a força bruta do motor Honda V6 Turbo. O francês saiu da equipe no fim de 1988 e em seu lugar entrou Frank Dernie.

Suas últimas equipes na Fórmula 1 foram a Larrousse-Calmels, para quem desenvolveu junto com o engenheiro Chris Murphy o modelo LC89 do time de Gérard Larrousse e a Ligier, retornando à antiga casa em 1991, no meio de uma crise técnica sem precedentes da equipe do velho Guy, que também mudara suas instalações para Magny-Cours.

Ducarouge por lá permaneceu até 1994. Depois, dedicou-se a vários projetos paralelos, entre os quais o desenvolvimento do Renault Espace F1, aproveitando a estrutura da van construída pelo fabricante francês, na qual foi instalado o motor V10 aspirado de Fórmula 1, fazendo do carro um tremendo foguete.

Comentários

  • Gerard foi um dos grandes engenheiros da F1, desenvolveu carros vencedores e campeoes. Um frances boa gente, sempre disposto a tentar algo novo, um grande profissional, um bom chefe e um amigo.
    RIP Gerard!

  • Com ele está um dos maiores mistérios da F1 na minha opinião, o tal Lotus 100T “Maria-mole”. O que tem de história – ou estória – por trás da concepção deste monoposto…

    • Herik, concordo com você…no regulamento de 1987, o 99T estava muito acima do peso e usava os motores Honda de 1986, enquanto a Williams usavam os de 1987. Com o regulamento de 1988 e a redução da potência em 300 cavalos, o 100T o carro ficaria no peso do regulamento e usaria motores atualizados iguais aos da McLaren, apostei com vários amigos que a Lotus venceria de 8 a 10 provas…mas deu tudo errado…os gênios também erram, isto vale para Newey, Duca, Piquet, Senna….

  • Gérard era sempre lembrado pelo meu ídolo, Ayrton Senna, como um grande amigo, algo raro no mundo da F-1. Que ele descanse em paz e receba o abraço do Ayrton lá no céu.

    • Não se pode esquecer que ele “colocou” no Senna o espírito focado de pole-man, ao formar com o brasileiro uma dupla (e que dupla!), interagindo o tempo inteiro para extrair da máquina a performance extrema, mesmo quando sabia que o carro não aguentaria até o final da prova.

  • Este francês boa praça, nunca teve uma equipe rica nas mãos…Ligier, Alfa e até a Lotus (estava endividada desde a morte de Chapman e com poucos recursos) tudo equipe pobre, quando finalmente ele teria uma equipe rica, Senna tentou levá-lo para a McLaren em 1988, ele não quis ir, mas depois se arrependeu é famosa aquela carta que ele pede desculpas a Senna, no GP de Adelaide de 1987, O problema é que Ducarouge não gostava de dar entrevista depois da morte de Senna, ele se emocionava…porque todos perguntavam sobre a sua grande amizade com Senna, um dos poucos que conseguiu tirar alguma coisa dele foi o jornalista Jean Paul Orjebin..

  • Antes de mais nada uma das pessoas mais educadas que povoavam os boxes da Fórmula-1. Estive com ele nos GPs do Brasil de 1985 e 86, recolhendo informações da Equipe Lotus para inserções no vídeo, e o francês tinha a maior atenção e disponibilidade não só para fornecê-las, mas também para um papo tranquilo sobre as expectativas para a temporada. Um gentleman como não se vê mais hoje em dia, naquele ambiente estranho que se tornou a F-1.
    RIP Monsieur.

  • pelo q q sei ducaruge ficou no time lotus tamnbem em 89 quando o piqet declarou total gerra ao time e no seginte ano foi pra beneton ford, q teve 1 temporada boa com 2 vitorias e subidadas no podium de nanini + piqet em tempos naqele ano piqet teve que reduzir! o salario em dratica medida! pois na lotus honda f1 ele recebia. 1 dos maiores! salarios! da f1. so falo o q sei….. ko.

    • Ubiraci, Ducarouge saiu sim da Lotus ao fim de 1988. Em 1989 ele não trabalhava mais no time e o carro que Piquet guiou foi projetado pelo ex-engenheiro dele de Williams, Frank Dernie.

    • O problema da internet é que cada um, sem embasamento, pode sair postando por aí. (Fonte: http://paddockinfo.blogspot.com/ – Livro Lemyr Martins, Os Arquivos da Fórmula 1).

      O salário de Piquet foi reduzido, mas não foi algo drástico. Ele ganhava em torno de 180 mil dólares por ponto. Em 1990 ele foi terceiro no mundial da Benneton, conquistando em torno de 43 pontos + 1 dos descartes.Faça os cálculos…..
      Em 1991 fez 26.5 pontos, mas já recebia também um salário fixo.