Direto do túnel do tempo (248)

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RIO DE JANEIRO – Sete de abril, 1968. Naquele dia de 1000 km BOAC em Brands Hatch, na Inglaterra, morria aos 32 anos numa prova qualquer de Fórmula 2 no circuito alemão de Höckenheim a maior lenda do automobilismo britânico em qualquer tempo: o escocês Jim Clark.

E aí me dei conta que em pouco mais de dois anos do A Mil Por Hora nessa nova fase, falei pouco – quase nada – de Clark. Pois a data de hoje me traz a oportunidade de me redimir.

Aí está a foto do histórico Lotus 38 que o escocês guiou nas 500 Milhas de Indianápolis de 1965. O bólido dotado de motor Ford 4,2 litros e tanques especiais para abastecimento rápido liderou nada menos que 190 das 200 voltas previstas. Saindo de segundo no grid de 33 pilotos, Jim Clark deitou e rolou naquele dia 31 de maio. Venceu a corrida em sua terceira participação na prova, com a média horária de 242,506 km/h. E ainda foi segundo em 1963 e 1966.

Um fenômeno.

Há 49 anos, direto do túnel do tempo.

 

Comentários

  • Rodrigo,

    Puxa, pensei que ninguém ia lembrar…Ontem de manhã acordei pensando que eram os 50 anos da morte do Flying Scotsman, mas logo refiz as contas, e vi que eram 47.
    Por volta de 1962, eu com 8 anos, comecei a me interessar por automobilismo, vendo as fotos dos carros de corrida nas revistas estrangeiras que meu avo comprava (Quattroruote, Automobile, etc). Querendo saber mais, pedia sempre pra ele traduzir as reportagens. Logo eu estava pedindo pra ele comprar outras revistas especializadas em corridas, tais como Autosport, Echapment, Motor &Sport, e me acostumei a ler em italiano e francês, em função da vontade de entender o que se passava nas pistas ilustradas por aquelas fotos coloridas. Surgiram as revistas nacionais, 4Rodas e depois Autoesporte, e não demorou muito para que Jim Clark e sua Lotus, verde com a indefectível lista amarela, tornaram-se os meus primeiros ídolos no esporte a motor. No Brasil, a minha preferencia era toda por Bird Clemente e a Berlinetta, mas isso não me impedia de admirar muito o Jayme Silva e a maravilhosa Simca Abarth n° 26. Meu avô, sob minha intensa pressão, me levava pra assistir algumas provas no Rio, no Circuito da Barra e uma vez no Circuito da Ilha do Fundão, ambas provas de rua. E isso acabou sedimentando de vez a minha paixão pelo automobilismo de competição , e a minha vontade de estudar Engenharia Mecanica.
    Naquela época os jornais brasileiros não noticiavam quase nada sobre automobilismo internacional, e quando saia alguma notinha, era apenas uma lista de resultados, praticamente sem comentários. Sobre o automobilismo nacional , O Globo e o Jornal dos Sports noticiavam um pouco mais, principalmente por ocasião das provas regionais (Rio) ou das provas nacionais de maior importância, tais como os 500 Quilometros ou as Mil Milhas.
    Nessa época havia um tio, desquitado da minha tia, a quem eu via muito pouco, somente aos domingos quando ele aparecia para ver a filha, minha prima. Ele era um cara extremamente sarcástico, que adorava “pegar no meu pé” dizendo que eu gostava de “corrida de baratinhas” e torcia por um piloto que era “dono de uma sapataria” (nessa época, no Rio, havia uma famosa loja de calçados chamada Clark’s).
    Em 1968 eu já tinha 14 anos. Jim Clark e a Lotus eram francos favoritos para o campeonato, com o modelo 49 equipado com o “demolidor” Cosworth DFV, nessa época já debitando algo em torno dos 380 HP. A Lotus tinha “conspurcado” o British Racing Green, a partir da Copa da Tasmania, apresentando os carros pintados de vermelho com dourado, com “enormes” (na verdade, para os padrões atuais, seriam pequenos….) logotipos da Gold Leaf, marca de cigarros ingleses que a minha mãe gostava muito de fumar . Nesse tempo eu já fumava as claras, e as vezes, conseguia “tomar” dela um desses maços, com uns poucos cigarros dentro, que eu curtia de monte mostrar pros amigos. Apesar de triste pela falta do verde inglês, não tinha como negar que a pintura em vermelho e dourado ficara linda no Lotus 49.
    Apesar de 2 quebras nas provas iniciais, que viram Amon vencer com a Ferrari F2 equipada com um Dino V6, Clark dominara a Copa da Tasmania de 68, com o 49T equipado com uma versão de cilindrada reduzida do DFV, vencendo 4 vezes e chegando em segundo em outra prova. Na abertura da Formula 1, na Africa do Sul, apesar da oposição inicial de um surpreendente Stewart, agora guiando um estranho Matra com o bico cortado, equipado com um DFV igual ao dos Lotus, Clark vencera fácil, quebrando o recorde de vitorias de Fangio. Agora reinava absoluto nas estatísticas, com 25 vitorias e 33 poles ! E eu estava convicto que ele rumava para o tricampeonato mundial.
    Na segunda feira de manhã, dia 8 de abril, eu estava me preparando para ir para o colégio, quando o tio Djalma ligou. Minha mãe me chamou, para atender aquele raro e inusitado telefonema. Quando ele me falou: “Você já soube que o seu ídolo morreu ontem ?”, eu achei que era outra das sacanagens dele comigo. “Veja no Globo, está tudo lá”. Minha mãe assinava o Jornal do Brasil, que não deu a noticia. Então, ainda descrente, corri até o jornaleiro da esquina, comprei o jornal e voltei pra ler em casa. Estava tudo lá, numa reportagem até grande, em relação as noticias “normais” sobre corridas de carro. Infelizmente não era mais uma das gozações do meu tipo “porra-louca”. Lendo a noticias as lagrimas começaram a brotar, incontroláveis. Com vergonha de estar chorando a morte de um piloto de automóveis, corri para tomar banho antes de ir pra escola. No chuveiro me vi chorando copiosamente. Só iria chorar assim, novamente, nas mortes do Moco e do Gilles. E do John Lennon.
    Quando sai do banho falei pra minha mãe que estava me sentido gripado, e que não ia pra aula. Fiquei o dia todo na cama, arrasado, descobrindo como a vida podia ser ingrata, aprendendo como era difícil encarar a morte de uma pessoa que, apesar de desconhecida, era tão importante pra mim.
    Obrigado Rodrigo, por ter feito esse post, e desculpe pelo comentario gigante !!! Os fãs daquele que foi, provavelmente, o maior de todos os pilotos, estarão agradecidos como eu.
    Como homenagem ao grande piloto vale a pena dar uma olhada nesse vídeo do Clark pilotando o Cortina Lotus em Crystal Palace.

    https://www.youtube.com/watch?v=bWp-0TuY4Sk

    • Que legal, Antonio, lendo seu comentário voltei no tempo. Sou dois anos mais velho que você, e passei pelas mesmas dificuldades em obter notícias e informações sobre as corridas, que passei a acompanhar também por volta de 1962. E era um tal de rodar as bancas de Copacabana atrás de Quattroruote, L’Automobile, Sport Auto, etc… E discutir com os adversários de autorama na pista da Hobbycenter, na Galeria do Bruni. Eu não tinha um avô para me traduzir, mas tinha boa base de francês, de modo que algumas eu lia; e comprei um dicionário de italiano. Aprendi sozinho, já que a gramática das duas línguas é parecida… Mal sabia que esse conhecimento me levaria, muitos anos mais tarde, a ser enviado pela Rede Globo para morar na bota, trabalhando na Telemontecarlo! Mas isso é outra história. Voltando aos anos sessenta, fui admirando cada vez mais o Jim Clark, que acabou se tornando meu único ídolo, até hoje, na F1. Torci e vibrei muito com seus campeonatos e vitórias.
      Até aquele fatídico 7 de abril, em que vi a notícia sendo dada ao vivo na tv pelo Oduvaldo Cozzi. Fiquei incrédulo e fui chorar sozinho no meu quarto. Acho que só em maio de 1994 outros brasileiros tenham entendido o que se passava na cabeça dos garotos daquele tempo…
      O automobilismo levou muita gente, mas a gente acabava se acostumando e aceitando, por incrível que pareça. Eu mesmo, quando dei um porrão de Fórmula Vê no velho Jacarepaguá, pensei naquele instante que tinha chegado a minha hora de encontrar o Clark… Ainda bem que pelo menos a segurança mudou para muito melh0r.

      • Alvaro,

        É gostoso dividir lembrança (quase) comuns. Hoje posso dizer que graças ao Colegio São Bento e a paixão pelo automobilismo, eu falo ingles e frances, e graças a Autosprint me viro bastante bem em italiano, kkkkkkk
        Voce lembrou bem do autorama, eu nao era assiduo da Hobby Center, mas batia ponto direto na Coral, junto com meu primo, que acabou sendo jornalista e cobrindo F1 na Europa, pela Globo. Mas não eramos bons nem autorama, nem no futebol, nem no tenis, que tentamos jogar, na epoca de moleques. E eu, apesar de Flamenguista doente como ele, desde cedo sempre preferi o automobilismo.
        Fui rato de oficina, de boxes, de postinho (s), de noites de risco no Calombo, no alto e na descida de Petropolis. Acabei não correndo, como era previsto, pois a grana da família acabou. antes dos 18….mas fiz box pra alguns amigos, e quase fui trabalahr com automobilismo na Europa.
        Diferente de voce, depois do Clark (e do Bird) tive outros idolos, o Moco (estava lá em 75) e o Gilles.
        E, depois de velho, aprendi a admirar muito o belga Paul Frere, que eu entendo que foi o velhinho mais veloz do mundo !!!! Incrivel !!! Eu admirei (admiro) tanto o cara que cheguei a fazer uma resenha sobre a vida dele, para um conhecido blog de automobilismo, que não existe mais…. e o texto se perdeu (não guardei um back up…)
        Hoje, depois de velho, mato a vontade fazendo um curso de pilotagem ou outro, e um ou outro “Track Day”. Na Italaia, já tive a sorte andar com uma 430 Scuderia na pequena pista de Modena.
        Fora isso continuo “devorando” tudo o que se refere a corridas (err….quase tudo não gosto de ovais) que me cai nas mãos, ou na tela do PC.

        Abraços
        Antonio

  • Estatisticamente o maior de todos os tempos. Se tivesse 4 rodas e um motor era sempre o melhor. Corria no mesmo dia formula e turismo e sempre na frente. Pra ele não tinha carro ruim, sempre tirava o máximo dele. Meu pai tava em Monza naquele dia que teve um furo de pneu em que quase perdeu uma volta e voltou pra liderança e perdeu por falta de combustível. Meu disse que os italianos gritavam “campeão..campeão” pegaram ele e jogaram ele no topo do pódio para constrangimento dos demais.

  • Desperdiçar e arriscar um raro talento como o de Clark em provas de F-2, numa época em que a morte era presença quase constante no automobilismo, soa como loucura inadmissível.

    Só podia dar no que deu.

  • Paulo,

    Naquela epoca era comum os pilotos de F1 participarem de Provas de outras categorias. Primeiro porque os teams não tinham os pesados patrocinios dos tempos que se seguiram, então muito da renda dessas fabricas vinha da venda de chassis de F2 e F3. No intuito de promover seus carros de F2 e F3, as fabricas punham sus pilotos principais para pilotar esses carros, em busca de bons resultados, que iriam reultar em vendas aos pilotos privados. Segundo porque o salario dos pilotos de F1 como Clark, Hill, Amom, Stewart, Surtees e outros não eram módicos, principalmente se comparados aos salarios astronomicos dos Alonso/Vettel/Hamilton de hoje em dia, ou mesmo da época do Piquet/Senna/Prost. Logo os pilotos corriam em outras categorias para aumentar um pouco sua renda (por curiosidade, já li entrevistas de Frank Gardner e de Brian Redman, contando que ganhavam 150-200 Libras + despesas pagas, para participar de provas com o Porsche 917). Terceiro porque Clark adora correr, fosse do que fosse.
    Naquele fatidico 7/04 Clark estava previsto para correr no BOAC 500, em Brands, com lindo mas “nascido doente” Ford P68. Entretanto, como Clark estava com problemas com o fisco ingles, e provavelmente atendendo a um pedido de Chapman, optou por correr com o Lotus 48, já “vestido” nas cores da Gold Leaf (o que poderia significar uma boa grana para o piloto) em Hockenheim, um circuito que ele francamente detestava. Jim dizia que tudo o que se trabalhava pra ganahr tempo no “motodromo” (parte mista do circuito, com arquibancadas) voce perdia nas duas enormes retas no meio da floresta, por conta do vacuo. Segundo ele, isso penalizava os pilotos mais habilidosos em relação a pilotos apenas mediocres.
    No momento do acidente já não estava mais chovendo, mas a pista ainda estava ensopada, e Clark vinha num modesto 8º lugar. Estava viajando na metade da reta- curva que levava até a Oost Kurve, quando perdeu o controle a cerca de 230-240 por hora e escapou a cerca de em direção as arvores que ladeavam essa parte do circuito. Ninguém nunca vai saber a causa exata, mas, como no caso de Sena na Tamburello, naquela parte do circuito não poderia nunca ter sido erro do piloto.
    Segundo seu chefe de mecanicos, foi um pneu traseiro furado. Segundo Derek Bell e Chris Irwin, que vinham proximos, Clark vinha como motor falhando, e provavelmente, numa dessas “rateadas” o motor “voltou” com torque alto/tração plena sobre uma das poças dágua, fazendo Clark virar passageiro. Irwin declarou (conforme consta do livro de Bill Gavin sobre Jim) que Clark já tinha dado uma “atravessada” em plena reta, segundos antes do acidente. Alguns metros adiante, na segudna atravessa na reta, o carro rumou para o bosque….e o fim da estoria a gente já conhece.
    Como curiosidade, Irwin foi o escolhido pela Alan Mann para ser um dos pilotos do P68 na prova seguinte, em Nurburgring, substituindo Mike Spence, que havia falecido nos treinos para as 500 milhas de Indy. No trecho de Flugplatz (traduzindo: local dos voos !!!) o Ford “decolou” e ficou destruido na queda, causando serios ferimentos na cabeça de Chris, que causaram o encerramento prematuro de sua carreira. Se Mike não tivesse morrido em Indy, certamente poderia ter sido com ele. Se Clark não tivesse morrido em Hockenheim, poderia ter sido ele e não Spence a testar o Lotus 56 em Indy….e se tivesse sobrevivido, poderia ter sido ele a pilotar o P68 em Nurburgring. Não sou fatalista, mas, parece que “estava escrito” que Clark e Spence, dois ex-companheiros de equipe na Lotus, deveriam “partir” no inicio de 1968.