Porsche vence corrida movimentada em Fuji; Webber, Hartley e Bernhard assumem liderança do WEC

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Tomando gosto: a trinca Timo Bernhard/Brendon Hartley/Mark Webber venceu a terceira seguida e assumiu a liderança entre os pilotos do WEC (Foto: Nick Dungan/AdrenalMedia.com)

RIO DE JANEIRO – Valeu a pena ficar acordado a madrugada inteira para acompanhar as 6h de Fuji, no Japão. A 6ª etapa do WEC foi uma das mais movimentadas da temporada. Cortesia da chuva que deu as caras no circuito e embaralhou a prova durante praticamente sua metade, proporcionando grandes disputas, muitas saídas de pista, rodadas, intervenções de bandeira amarela da direção de prova e muitos desafios para os pilotos.

Mas a chuva, da mesma forma que chegou, deu um tempo. A pista secou e embora as nuvens ameaçadoras pairassem sobre o circuito, a corrida seguiu seu transcurso e terminou com a quarta vitória consecutiva da Porsche – terceira seguida do carro #17 guiado por Mark Webber/Timo Bernhard/Brendon Hartley, que assumiram com o triunfo (além do ponto extra da pole position) a liderança do Campeonato Mundial de Endurance pela primeira vez, quebrando o domínio de Marcel Fässler/Andre Lotterer/Bénoit Tréluyer, ponteiros da classificação desde a etapa inicial da temporada, em Silverstone.

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Foram 40 minutos de Safety Car e quando as 6h de Fuji começaram para valer, a Porsche levou um baile da Audi e até da Toyota (Foto: Nick Dungan/AdrenalMedia.com)

Com a pista molhada no início, os 31 carros deram a largada sob a ordem do diretor de prova Eduardo Freitas, em regime de Safety Car. As condições não eram tão piores quanto na edição das 6h de Fuji em 2013 (aquela que durou 16 voltas apenas, lembram?) e o carro de segurança ficou na pista por 40 minutos. Quando a corrida começou para valer em bandeira verde, a Porsche levou um baile da Audi e até mesmo da Toyota nas primeiras voltas com pneus de chuva. Talvez tenha sido o melhor momento dos atuais campeões do WEC em toda a temporada – mas os Fuscões reagiram e com um verdadeiro foguete em linha reta, despacharam primeiro os dois TS040 Hybrid e trataram de tentar fazer o mesmo com a Audi.

Só que dessa vez foi bem mais difícil: a liderança dos 919 Hybrid era eventual e dependia das paradas de boxe, embora a autonomia dos protótipos de Weissach fosse melhor que a do bólido de Ingolstadt, por cerca de três voltas. Só na 71ª volta que o #18 do trio Romain Dumas/Marc Lieb/Neel Jani despontou na frente. O #17 demorou mais para chegar ao 2º lugar – o início foi claudicante com Mark Webber a bordo: o australiano passou por vários sustos com seu carro – não que o #18 tivesse tido uma corrida tranquila, pois logo no início tocou com o Toyota #2 e rodou junto com o protótipo japonês – mas a partir daí o domínio da Porsche se estabeleceu, principalmente quando a pista secou de vez, e foi assim até o final.

Quando a vitória do #18 parecia encaminhada – e seria a primeira do trio no ano – a direção de prova anunciou uma penalização drive through ao carro líder por efetuar uma ultrapassagem em um setor da pista com bandeira amarela. Assim, com Timo Bernhard a bordo no último turno, o #17 herdou a ponta e a vitória – porque a Porsche assim decidiu. O triunfo deu ao alemão e aos seus companheiros de equipe o comando da classificação com 129 pontos contra 128 da trinca da Audi que chegou em 3º lugar.

Aliás, na chuva, os R18 e-tron quattro beneficiaram-se enormemente do seu sistema híbrido flywheel que dá tração total ao LMP1 de Ingolstadt. Marcel Fässler se manteve sólido na ponta a bordo do carro #7 e até Oliver Jarvis andou bem no #8. Mas quando a pista secou, os quatrargólicos foram deixados para trás. Acabaram com uma e duas voltas de atraso, respectivamente e o brasileiro Lucas Di Grassi fechou a disputa em 4º lugar, mesma posição que ocupa na temporada com 79 pontos.

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O Rebellion R-One AER de Mathias Beche/Nicolas Prost resistiu até o fim e venceu a disputa entre os LMP1 não oficiais

Os Toyota não tiveram muita chance com a secagem da pista: o #1 ainda chegou em quinto e o #2 sobreviveu a um severo superaquecimento no sistema de freios para terminar a disputa em sexto na geral, com 13 voltas de atraso. O Rebellion R-One de Nicolas Prost/Mathias Beche superou por quatro voltas o CLM P1/01 da ByKolles Racing e venceu a disputa entre os protótipos não-oficiais de fábrica.

Na LMP2, muitas disputas e a maior polêmica do domingo. No início, incrivelmente, os protótipos Spyder – o Alpine da Signatech e o Morgan EVO da SARD Morand – andaram na frente. Mas conforme a pista melhorava, os modelos Coupé passaram à linha de frente. A disputa tornou-se cruenta entre os dois Ligier da G-Drive Racing e o Oreca da KCMG, equipe líder do campeonato com os britânicos Matt Howson e Richard Bradley. O time de Hong Kong foi vítima do destempero dos pilotos do time russo – principalmente do carro #28, conduzido no turno final pelo colombiano Gustavo Yacaman.

A menos de sete minutos para o fim das 6 horas previstas, aconteceu o que mais se temia: a colisão dos dois pilotos. Enquanto muitos (inclusive eu) acharam que Yacaman teria sido o responsável direto pelo incidente, Bradley teria – segundo uma investigação preliminar – freado antes do necessário (cerca de 37 metros antes), para defender sua posição. O piloto foi advertido pelos comissários, mas horas depois uma nova decisão suspendeu a advertência ao britânico. Segundo uma nota divulgada lá mesmo em Fuji, o #47 da KCMG estava “em aceleração plena” quando foi abalroado e jogado para fora da pista pelo #28.

O acidente acima descrito está por volta de 3′ no vídeo abaixo. Assistam-no e tirem as suas conclusões.

Os incidentes macularam a vitória do #26 de Sam Bird/Julien Canal/Roman Rusinov – que com o triunfo assumiram a liderança do FIA Endurance Trophy da classe LMP2 com 12 pontos de vantagem para Howson e Bradley. Em ótima prova, o Alpíne da Signatech conquistou o segundo posto do pódio, principalmente pelo bom trabalho de Paul-Loup Chatin no primeiro turno sob chuva, com Nelson Panciatici e Vincent Capillaire mantendo o ritmo nas horas restantes. O #28, apesar de Yacaman, conseguiu se recuperar após uma penalização que jogou o carro para último na geral e uma performance menos boa de Ricardo González no molhado.

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Mais uma ótima performance de Pipo Derani na temporada: brasileiro chegou ao quinto pódio da categoria LMP2 (Foto: Clement Marin/Divulgação)

Em sua primeira experiência na pista, Pipo Derani impressionou mais uma vez, sendo largamente elogiado pelo narrador John Hindnaugh, que faz as transmissões do WEC pelo streaming oferecido pelo site oficial. O brasileiro fez um ótimo turno de pilotagem e foi um dos principais responsáveis pelo bom resultado na corrida.

“Foi uma corrida boa e brigamos bastante, mostrando um ritmo muito bom”, declarou Derani. “Quando eu entrei no carro, chovia muito e estávamos em último na LMP2, atrás inclusive de vários carros da GT, mas acabei recuperando. Fiz um ‘triple stint’, três ‘stints’ diretos, seguidos, com o mesmo jogo de pneus e acabei entregando o carro em quarto para a 1h30 final da corrida. Acabei andando quase três horas direto, então da minha parte fiquei muito satisfeito. O carro estava muito bom e tenho de agradecer muito ao meu engenheiro e à Dunlop também, pelo excelente pneu que nos deram para essa prova”, disse. “O pódio foi bom, pelo problema no nosso início de corrida, mas é uma pena porque a gente poderia ter vencido hoje. Mas ainda faltam duas corridas para o final do campeonato e a gente espera conseguir essa primeira vitória nas próximas provas, o que vai ser extremamente importante na briga pelo título”, completou o brasileiro.

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Porsche e Ferrari lutaram do início ao fim pela vitória na LMGTE-PRO: prevaleceu o cavalinho de Maranello, com a vitória dos atuais campeões Gimmi Bruni/Toni Vilander (Foto: Nick Dungan/AdrenalMedia.com)

Na LMGTE-PRO, Fernando Rees e seus companheiros Stefan Mücke e Alex MacDowall nada puderam fazer contra os Porsche e Ferrari, tanto no seco quanto no molhado. A trinca do #99 completou a disputa em sétimo e último na categoria, com três voltas de desvantagem em relação ao carro #51 de Gimmi Bruni/Toni Vilander, atuais campeões mundiais da divisão. A dupla da AF Corse fez as pazes com a vitória após quatro corridas repletas de percalços. Após uma disputa duríssima, eles bateram o Porsche 991 RSR de Patrick Pilet/Fréderic Makowiecki por uma volta de vantagem, com James Calado/Davide Rigon completando o pódio.

Mesmo terminando em 4º lugar ao lado do parceiro Michael Christensen, Richard Lietz ainda lidera a classificação entre os pilotos das classes LMGTE, somando 110 pontos – sete a mais que Rigon e Calado. Rees e MacDowall ocupam o 7º lugar no Mundial, com uma vitória e 68 pontos somados.

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Não existe um ditado que diz que “a primeira a gente nunca esquece”? Então Patrick Dempsey não vai esquecer tão cedo sua primeira vitória no WEC, na categoria LMGTE-AM, ao lado de Patrick Long e Marco Seefried (Foto: Nick Dungan/AdrenalMedia.com)

Já entre os LMGTE-AM, a espetacular performance do #77 guiado por Patrick Dempsey/Marco Seefried/Patrick Long ofertou à trinca do Porsche da Dempsey-Proton a primeira e histórica vitória para o time do “McDreamy” no WEC. Mesmo com algumas saídas de pista de Dempsey no início, com a pista em piores condições, o carro seguiu firme na pista. Seefried e depois Long fizeram a parte deles. O carro foi entregue ao galã-piloto para cumprir o tempo mínimo de pilotagem e receber a pontuação no Mundial. Dempsey recebeu a quadriculada com 17″210 de vantagem para o Aston Martin de Pedro Lamy/Paul Dalla Lana/Mathias Lauda. A Ferrari de François Perrodo/Emmanuel Collard/Rui Águas completou a disputa em terceiro na classe, uma volta atrás dos dois primeiros.

Após um início de prova forte, chegando inclusive a liderar a disputa, a Ferrari #72 da SMP Racing teve um turno complicado com a pista seca, inclusive com um furo de pneu. Viktor Shaitar/Andrea Bertolini/Aleksej Basov terminaram em 6º na classe, com duas voltas a menos que os vencedores da LMGTE-AM – mas continuam na liderança do campeonato com 140 pontos – 29 a mais que Perrodo/Collard/Águas. Dempsey/Long/Seefried ocupam o 3º posto na tabela, com 104.

A penúltima etapa do WEC é as 6h de Xangai, na China, no próximo dia 1º de novembro.

Resultado das 6h de Fuji

Comentários

  • Ótima corrida com excelentes brigas. A velocidade dos Porsche é animal, na reta chegava a ser 20 km/h mais veloz que a Audi e Toyota. Apesar de não gostar de ordens de equipe para inversão de posição, dá para entender a atitude da Porsche, briga pelo título é entre o 17 e o 7 esse ano. Que venha Xangai.

  • Mattar, desculpa a pergunta sem pesquisar antes mas a corrida foi ou será transmitida pela Fox? estava viajando desde sexta e infelizmente não pude acompanhar nada da WEC este final de semana. Pelo visto a Toyota já esta com a cabeça em 2016 e deve vir carro forte ano que vem que nem este RS040 quando foi lançado…

  • E não deixa de ser interessante o fato de Webber ter capitalizado sobre uma ordem de troca de posição, depois de toda a polêmica a época do multi 21. O mundo dá voltas mesmo

  • Com ou sem ajuda de decisão de equipe, acho que a trinca do carro #17 vem muito forte para pegar a taça deste ano…quanto ao incidente da LMP2, O Yacaman parece ter voltado aos tempos de Rolex há 2 anos atrás, quando se metia em uma série de confusões.