6h do Bahrein: em corrida dramática, trio do Porsche #17 é campeão do WEC

2015-6-Heures-de-Bahrein--DSCF2357_hd
Alívio e dever cumprido: Brendon Hartley, Mark Webber e Timo Bernhard são os novos campeões do Mundial de Endurance. E o australiano comprova que existe vida além da F1…

RIO DE JANEIRO – Uma temporada de oito corridas e 66 horas de disputa – incluindo sete eventos de 6h de duração, mais as 24h de Le Mans, só podia terminar como terminou neste sábado: com emoção e a imprevisibilidade que faz da Endurance uma das modalidades mais sensacionais do automobilismo em todos os tempos.

A edição de 2015 das 6h do Bahrein entra para a história não só pelas disputas épicas que tivemos a oportunidade de assistir, como também pela volta da Porsche ao topo das provas de longa duração. A marca alemã cacifou todas as conquistas que estavam ao seu alcance. Venceu as 24h de Le Mans, a principal prova da temporada do FIA WEC. Ganhou por antecipação o título do Mundial de Construtores, o 33º da turma de Weissach. E fez de Mark Webber/Brendon Hartley/Timo Bernhard os grandes campeões do Mundial de Pilotos na classe dos Protótipos – além, é claro, de faturar a etapa derradeira com o trio Marc Lieb/Neel Jani/Romain Dumas.

A corrida em si foi sensacional desde o início e já na primeira meia hora, um drama: o #17 perdeu velocidade com Timo Bernhard a bordo, tendo que recorrer aos boxes para reparos. O carro ficou parado cerca de oito minutos e perdeu cinco voltas em relação aos líderes. A partir daí, quem esteve a bordo do 919 Hybrid empreendeu uma recuperação sensacional que levou a trinca a galgar posições, a ponto de chegar entre os dez primeiros na 46ª volta.

Se o começo de prova foi terrível para os líderes do campeonato, foi bom demais para a Audi. E melhor ainda para Lucas Di Grassi, que a partir do 17º giro, assumiu a liderança da disputa, eventualmente perdendo-a para o Porsche #18. Mas o brasileiro teve que obedecer a ordens de equipe e na 76ª passagem, o carro #7, dos grandes rivais do trio do #17, os campeões de 2012 Marcel Fässler/Bénoit Tréluyer/Andre Lotterer, assumiu a liderança.

O #8 resistiu bem até enfrentar um problema de freios, o que impossibilitou a Audi de contar com seus dois carros na luta para manter a trinca do #7 com chances de ser campeã. Na situação em que a corrida se encontrava na altura da volta 90, por exemplo, os quatrargólicos lideravam e o Porsche #17, mesmo em recuperação feroz, não passava do 6º lugar – o que dava o título à trinca Fässler/Tréluyer/Lotterer. Com o problema do carro de Jarvis/Duval/Di Grassi, a quinta posição passou aos líderes do campeonato e logo depois, entrou em ação o carro #18 com Marc Lieb a bordo.

2015-6-Heures-de-Bahrein-Adrenal-Media-ND5-0741_hd
Épica! A batalha entre o Porsche de Marc Lieb (em primeiro plano) e o Audi de Bénoit Tréluyer foi um dos pontos altos da corrida. Depois que o #18 prevaleceu, veio a vitória na última prova do ano

A batalha titânica entre o alemão da Porsche e Tréluyer no Audi #7 valeu o ingresso e foi um dos pontos altos da corrida. Tréluyer, como observou o Renan do Couto nas redes sociais, mostrou colhões, mas Lieb se impôs, abriu e sumiu. Depois, o Audi #7 também passou a ter problemas de freios e perdeu o contato com o Porsche líder. Nessa situação, o #17 poderia seguir tranquilamente em quinto que o título era dos pilotos da casa de Weissach.

Mas qual o quê! A corrida estava longe de ser tranquila para Bernhard, Hartley e principalmente para Mark Webber. Foi com o australiano a bordo que o 919 Hybrid voltou a apresentar uma falha mecânica que o levou novamente para as garagens em Sakhir. O sistema híbrido do bólido não funcionava mais e o problema não foi totalmente resolvido – mas a Porsche resolveu mandar o #17 de volta à pista assim mesmo e correr o risco. O #8 eventualmente poderia passar o carro do construtor rival e ganhar a quinta posição, mas perto do fim esse carro acabou punido por uma irregularidade e perdeu 3 minutos num stop & go que o levou a ficar onze voltas atrás dos vencedores.

WEC 6 Hours of Bahrain
Um pódio honroso para Alexander Wurz (ao centro) em sua despedida oficial do automobilismo após 22 anos nas pistas

Após 199 voltas, Dumas/Jani/Lieb conseguiram enfim a primeira vitória da trinca em 2015 e a segunda deles no FIA WEC depois (coincidentemente) de ganharem a etapa de encerramento do ano passado, as 6h de São Paulo, em Interlagos. Fässler/Lotterer/Tréluyer conquistaram assim o vice-campeonato pelo terceiro ano consecutivo e o terceiro lugar no pódio marcou a honrosa e digna despedida de Alexander Wurz das pistas. O austríaco e seus companheiros Stéphane Sarrazin e Mike Conway conquistaram o melhor resultado do Toyota #2 no ano, igualando o pódio de Buemi/Davidson/Nakajima na abertura da temporada, em Silverstone.

Entre os LMP1 não-oficiais, chegou à frente o que teve menos problemas ao longo da disputa. Alexandre Imperatori/Dominik Kraihamer/Mathéo Tuscher completaram a disputa em 11º na geral, seguidos pelo CLM P1/01 AER da ByKolles com Pierre Kaffer/Simon Trummer. Mas o título simbólico dos pilotos das equipes privadas ficou com Mathias Beche/Nicolas Prost, que sobreviveram para chegar na décima-quarta colocação.

2015-6-Heures-de-Bahrein-Adrenal-Media-ND5-1102_hd
Em grande estilo: dessa vez a G-Drive não marcou bobeira e foi campeã na LMP2 com Roman Rusinov/Julien Canal/Sam Bird

Na classe LMP2, a vitória e o título finalmente chegaram às mãos da G-Drive Racing. A equipe francesa com suporte do grupo russo Gazprom levou a melhor após uma batalha titânica contra o Oreca 05 Coupé da KCMG Racing não só na prova barenita como também ao longo de todo o campeonato. Roman Rusinov/Julien Canal/Sam Bird terminaram em 7º lugar na geral, com 183 voltas concluídas e pouco mais de 25 segundos na frente dos rivais. A vitória deixou a trinca campeã com 23 pontos à frente de Matt Howson e Richard Bradley – que ficaram com o vice, já que Nick Tandy não fez todas as provas pela equipe na divisão, disputando Spa e Le Mans (que venceu, é bom lembrar) com a Porsche.

O terceiro lugar no pódio foi conquistado no finalzinho pelo segundo Ligier JS P2 Nissan da G-Drive, que contou com tripulação 100% latino-americana. Em seu ano de estreia no WEC, Pipo Derani fez um excelente trabalho ao conquistar sete pódios nas oito corridas do calendário, com direito à pontuação máxima nas 6h de Spa-Francorchamps – em que pese a vitória na pista ter sido do protótipo da Jota Sport. Com isso, Derani e seus parceiros Ricardo González e Gustavo Yacamán encerraram a temporada com o 3º lugar na classificação, somando 134 pontos.

Além da Signatech-Alpine, que fez boa prova e chegou em quarto com Nelson Panciatici/Tom Dillmann/Paul-Loup Chatin, destaque para o bom quinto posto da trinca do BR01 Nissan da AF Racing. A equipe russa, que correu com esse nome no Bahrein para evitar sanções em razão do embargo dos EUA ao SMP Bank de Boris Rotemberg – como também em algumas provas do ELMS – deve fazer a temporada da LMP2 em sua totalidade no WEC em 2016 com pelo menos um carro.

2015-6-Heures-de-Bahrein-Adrenal-Media-ND5-1188_hd
Porsche 100% na LMGTE-PRO: a vitória de Pilet/Makowiecki deu aos alemães o título de Construtores contra a Ferrari. E Richard Lietz levou o título entre os pilotos

Voltando a falar de Porsche, a marca alemã não foi triunfante apenas e tão somente na LMP1 nesta edição das 6h do Bahrein. A turma de Weissach, com a luxuosa assessoria técnica de Olaf Manthey e sua equipe, conquistou o título mundial de Construtores da LMGTE, graças à vitória da dupla Fred Makowiecki/Patrick Pilet no último evento do campeonato, após uma luta árdua contra as Ferrari F458 Italia GTE da AF Corse. E mesmo terminando a prova em 5º, o título ficou com o austríaco Richard Lietz, por 14,5 pontos sobre Gianmaria Bruni/Toni Vilander.

O brasileiro Fernando Rees e seus parceiros Richie Stanaway e Alex MacDowall foram prejudicados por um stop & go que acabaram obrigados a pagar por ter estourado o uso de cinco sets de pneus novos durante os treinos livres e a classificação. Acabaram caindo para a última posição na pista e na categoria – e por lá ficaram. Completaram a prova num esquálido 25º lugar para fechar o FIA WEC em 7º lugar com 84 pontos. Restou a Fernando o gostinho da primeira e histórica vitória na categoria, em Spa-Francorchamps.

E na LMGTE-AM, o triunfo final foi do Aston Martin de Pedro Lamy/Mathias Lauda/Paul Dalla Lana, seguidos dos dois Porsche 991 RSR – primeiro o de Marco Mapelli/Klaus Bachler/Khaled Al Qubaisi e depois o de Patrick Long/Marco Seefried/Christian Ried. Mas o 5º lugar na divisão bastou para a festa da SMP Racing: Viktor Shaitar/Aleksej Basov/Andrea Bertolini levaram o título entre os pilotos da categoria, com 17 pontos a mais que Emmanuel Collard/François Perrodo.

Que pena…. acabou o WEC em 2015 e eu já estou com saudades. Mas o blog vai ficar de olho em tudo da pré-temporada e o campeonato do próximo ano começa de novo em abril, com as 6h de Silverstone.

Comentários

  • Tem mais alguém?….Tem mais alguém?…Não só de 24 Horas de Le Mans se faz um Mundial de Endurance….trucidamos…esmagamos….aniquilamos….todos…todos…todos!
    Só a PORSCHE tem 33 Títulos no Mundial de Marcas/Endurance….só a PORSCHE.

    Valeu Rodrigo!

  • É, mas convenhamos, se não fosse o BoP, feito pós 24h de Le Mans, daria Audi… alías o BoP feito acabou tb com a GT…

    Desse jeito até meu Fusca 66 levaria…

  • Eu vou dizer porque tenho grande admiração pela Porsche ,todos que me conhecem sabem que desprezo marcas que tenham categorias únicas (que competem só com veículos da mesma marca mas nunca contra outras) O que não é o caso da Porsche que tem a Cup mas também compete contra outros marcas com muita eficiência (talvez até demasiada,para tristeza de seus concorrentes).Outra coisa notável na Porsche é que dese que começou a ter sucesso nas pistas nos anos 50 ,só vem evoluindo .Passaram-se mais de duas gerações de engenheiros e a marca nunca perdeu a competitividade diferentemente de outras que só tiveram vida enquanto seus criadores estiveram a frente da “Squadra” e em muitos casos morreram juntamente com seus criadores .
    Outro mérito se deve dar ao grupo controlador das marcas AUDI e Porsche , que nunca interferiram em esta ou aquela equipe para prestigiar mais uma ou outra marca ,coisa inteligente e racional muito típica de alemães ,muito diferente do grupo Fiat que preferiu matar duas marcas que também tinham muito prestigio em competições para privilegiar uma única , e esta medida parece não ter sido das mais inteligentes ou eficaz , Não é de estranhar a Alemanha ser a maior economia da Europa e a Itália sempre estar na corda bamba se equilibrando sobre o abismo.
    Para mim ,é uma tristeza ,principalmente porque sempre tivemos membros de nossa família dedicados a equipes de competições oficiais de uma destas duas equipes que foram colocadas ao largo por força politica de um “cordero” e não por deficiência técnica ´pois esta equipe privilegiada só teve um grande sucesso nas pistas após a morte de seu fundador, quando de italiana só tinha o nome ,pois o seu staff era Inglesi,gaulesi ,i tedeschi , quando de novo italianou ,virou aquilo em que as últimas gerações viram nas pistas , só fracassos e com muito dinheiro gasto inutilmente. Parabéns a PORSCHE E SEUS PILOTOS . E tomara que italianos (que mandam) aprenda que marcas do mesmo grupo podem concorrer entre si ,pois o grupo sempre tem um ganho técnico e sai fortalecido em seu todo.

  • Fico feliz por presenciar este momento histórico…onde a Porsche retoma seu lugar na “hierarquia” do esporte a motor…fico ao mesmo tempo triste por saber que nós poderíamos presenciar “In Loco” aqui em Interlagos se nossos promotores e gestores do esporte tivessem o mínimo de competência e organização.
    Quanto ao Mark Webber, um cara que se cansou do muno “faz de conta” do tio Bernie e largou o osso rumo ao endurance…quando vejo Webber fico pensando que Barrichello tinha condições de fazer o mesmo, mas preferiu manter a cabeça na F1 mesmo quando o corpo estava na Indy em 2012 e, depois, em 2013, quando se deu conta que não mais tinha chances de retornar ao mundo do tio Bernie, novamente poderia tentar se envolver com o endurance, no WEC ou nos USA (Christian Fittipaldi que o diga…), ainda mais com a chansela de ser o piloto com mais largadas na F1, mas preferiu vir correr nos carrinhos de bate-bate da Stock Car brasileira, ainda que tenha sido campeão ano passado…vai entender