GP do Brasil: histórias que vivi

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O templo: Interlagos recebe neste fim de semana a 44ª edição do GP do Brasil de Fórmula 1

RIO DE JANEIRO – Fim de semana de Grande Prêmio do Brasil de F1 e, por menos emocionante que esteja a categoria máxima do automobilismo, afloram as lembranças de corridas passadas, acontecidas em Jacarepaguá e Interlagos. São 43 anos de história e esse é o 44º evento realizado aqui, incluindo a prova extracampeonato de 1972 – e se não fosse por ela e pelo título de Emerson Fittipaldi naquele mesmo ano, talvez eu não estivesse aqui falando de GP do Brasil. Rendo também minhas homenagens a Antônio Carlos Scavone, personagem importante em todo esse processo.

Minha primeira memória de GP do Brasil é ainda criança. 1978, calor infernal no Rio de Janeiro e em Jacarepaguá. Eu não estava lá in loco, mas assisti à corrida ao vivo pela TV, ainda sem entender direito o que era aquilo tudo. Também pudera: eu era um guri que ia fazer sete anos, apenas. Só soube que uma multidão comemorou o histórico 2º lugar do Copersucar, o único F1 sul-americano e brasileiro da história, com o bicampeão mundial Emerson Fittipaldi a bordo. Momento inesquecível.

Tão inesquecível quanto a primeira vez que se assiste uma corrida ao vivo. E logo a primeira foi o GP do Brasil de 1981, marcado para 29 de março no Autódromo de Jacarepaguá. Desde as primeiras horas da manhã daquele domingo, chuva. Muita chuva. Ainda eram tempos em que se podia ir de carro – fui com meu pai, mais uns amigos vizinhos da gente em Ramos, subúrbio do Rio, de Chevette – e o que não faltava perto do autódromo era terreno baldio. Bem diferente do que se vê hoje e do que não se vê. A pista sucumbiu à sanha da especulação imobiliária, como todo mundo sabe, tendo os Jogos Olímpicos de 2016 como desculpa.

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“Arrentina! Arrentina!” Carlos “Lole” Reutemann levou os hermanos da arquibancada “F” ao delírio, enquanto o escriba, então com 9 para 10 anos, ficava triste com o fiasco de Nelson Piquet

Nossa arquibancada era a “F”, descoberta, no meio do retão, com boa visibilidade do miolo norte e do ponto de frenagem para a curva 1. Assistimos à emocionada despedida de Emerson Fittipaldi, que se empolgou tanto na volta a bordo do F8 que quebrou o câmbio do carro. O bicampeão acabou acenando ao público a bordo de um prosaico bugre. E na corrida, tristeza: Nelson Piquet, pole position, largou com pneus slicks, numa sugestão tola do chefe de mecânicos Alastair Caldwell – que por conta do episódio acabou demitido da Brabham por Bernie Ecclestone. Carlos Reutemann venceu com sobras e, para piorar, havia centenas de argentinos assistindo à corrida e não foram poucos os que, empunhando bandeiras, gritavam “Arrentina! Arrentina!” a plenos pulmões.

Menos mal que o resto do campeonato redimiu Piquet e o pequeno torcedor (eu, no caso), que tinha 9 para 10 anos na época do GP do Brasil. O brasileiro acabou com o título, um ponto à frente de Reutemann. E foi por conta dessa empolgação toda que voltamos para assistir à corrida de 1982, desta vez no fim do retão, arquibancada “A”, uma das mais caras. Eu, meu pai, um primo e um amigo de trabalho do meu pai. Novamente de carro. Novamente de Chevette, coincidentemente.

Aquela corrida foi sensacional. As primeiras 30 voltas são inesquecíveis pelo início fulminante de Piquet, vindo de 7º no grid com o velho Brabham Cosworth BT49C e pela performance de Gilles Villeneuve e Keke Rosberg. Dois alucinados que deram show naquele domingo, 21 de março, com Piquet no meio deles todos e lutando de igual para igual. Quando Gilles foi mais Gilles do que nunca e rodou na entrada da Norte, aí Piquet pôs Keke no bolso e venceu. Delírio em Jacarepaguá.

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Ganhar e não levar: Piquet fez grande corrida em 1982, venceu e foi desclassificado. Uma polêmica que maculou aquela temporada, marcada por duas mortes, acidentes graves e onze vencedores diferentes

Venceu, mas não levou: tanto a Brabham do brasileiro quanto a Williams do finlandês estavam fora do peso. Uma bulha que prejudicou o resto do campeonato, marcado pelas mortes de Villeneuve e do italiano Riccardo Paletti, pelo grave acidente de Didier Pironi e por ter 11 vencedores diferentes em 16 provas. Rosberg, bafejado pela sorte, foi campeão com um triunfo apenas, em Dijon-Prenois.

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Em 1983, Piquet lavou a alma e dessa vez não só ganhou de fato como também de direito. O brasileiro seria bicampeão mundial numa luta heroica contra três pilotos franceses

Mesmo assim, voltamos em 1983 – desta vez de busão – para acompanhar o GP do Brasil de novo como “arquibaldos”. Dessa vez, compramos ingressos no setor “D”. Só fomos eu, meu pai e meu primo. E naquele dia 13 de março, lavamos a alma. Piquet fez uma corrida de campeão com a maravilhosa Brabham BMW BT52, obra prima do designer Gordon Murray, talvez o mais belo carro de corrida que vi em ação. Largou em quarto, logo passou à ponta, abriu, sumiu e venceu com autoridade. Se em 1982 o esforço de nada valeu, em 1983 valeu e muito a pena: Piquet não poderia prever, mas aquele triunfo foi fundamental na guerra que empreendeu contra os franceses Alain Prost, René Arnoux e Patrick Tambay para ser bicampeão com um carro inferior às Renault e Ferrari.

Mas aqueles tempos felizes de vitórias do Piquet eram tempos de economia instável, maxidesvalorização do cruzeiro (a moeda da época) e hiperinflação. O preço do ingresso ficou proibitivo para 1984 – e para todos os anos seguintes. Meus pais também se separaram e como fiquei morando com minha mãe, adeus GP do Brasil em Jacarepaguá. O jeito era assistir pela televisão.

E foi pela telinha que vi Prost ganhar de novo, de novo… e de novo. Seis vezes. O anão é o recordista de vitórias aqui, sendo cinco triunfos em Jacarepaguá – ou melhor, quatro, porque o de 1982 veio no tapetão. Nesse meio tempo, Piquet venceu brilhantemente em dobradinha com Ayrton Senna em 1986 e Nigel Mansell, estreando pela Ferrari, venceu a última corrida no Rio em 1989.

Jacarepaguá perdeu a F1 de vez para Interlagos. E aí minhas poucas esperanças foram de vez para o espaço.

Imaginei que só veria uma corrida no Brasil se fosse trabalhando ou já na condição de jornalista. Comecei a faculdade em 1992 e até o início dos anos 2000, GP do Brasil só pela televisão. Já em outubro de 1999, fui efetivado na Globo, onde trabalhei por 13 anos, sendo nove no SporTV. E foi através dela que estive acompanhando de perto duas corridas memoráveis.

Era para eu ter ido em 2002, mas eu tive dengue, caí de cama a dias da viagem para São Paulo e, constrangido, tive que telefonar deitado no meu quarto para meu chefe na época, Emanuel Castro (saudades, maluco!), avisando que não poderia ir por conta de um Aedes Aegypti filho da puta. Só voltei a trabalhar em abril com a certeza de que tinha tido uma dengue hemorrágica e que não fui desta para a melhor por intervenção de alguém que pegou minha ficha e decretou: “Deixa esse aí mais tempo.”

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O insano GP do Brasil de 2003 acabou assim, com destroços espalhados pela pista e a surpreendente vitória de Giancarlo Fisichella, então na Jordan

Foi melhor assim, porque no ano seguinte, recuperado daquilo tudo, estava lá naquele temporal que se abateu sobre Interlagos para acompanhar uma das mais loucas edições do GP do Brasil – aquela que não terminou, porque Mark Webber e Fernando Alonso bateram na curva do Café – em que muita gente bateu na curva do Sol, Schumacher inclusive, e em que Rubens Barrichello, liderando de forma brilhante, ficou pelo caminho… sem combustível.

Essa é a mesma corrida que Kimi Räikkönen foi declarado vencedor e muitos de nós sabíamos (inclusive eu e o locutor Cleber Machado) que o verdadeiro primeiro colocado era Giancarlo Fisichella, então na Jordan. O pódio teve os dois primeiros (em ordem invertida), sem Alonso, que não tinha condições físicas e depois Fisico recebeu de Kimi, em Imola, o troféu da vitória no Brasil. A FIA refez as contas, reconheceu a cagada e viu que de fato o italiano estava na ponta de acordo com o regulamento – que prevê a última classificação válida duas voltas antes da interrupção em bandeira vermelha.

Os anos passaram e o GP do Brasil foi transferido do primeiro para o segundo semestre. Virou fechamento, decisão de campeonato. Em vários deles, não pude ir. A maior parte das corridas em Interlagos ficou para outubro, mês de aniversário do meu filho. Entre uma e outra paixão, escolhia ficar com meu filho. Mas em 2008, foi diferente. Meu último – até agora – GP do Brasil ao vivo, igualmente inesquecível como todos os outros.

Era uma época em que o SporTV não transmitia todos os treinos livres – o de sábado, principalmente – então participei com entradas ao vivo por telefone. Inclusive, dei a notícia da renovação de Nelsinho Piquet com a Renault, comentando no ar que o ambiente era “meio pesado”. Os semblantes na equipe eram os piores possíveis e poucos podiam imaginar que era por conta do episódio de Cingapura, naquele mesmo ano. Flavio Briatore não queria renovar com o filho de Nelson Piquet que, na época, já ameaçava contar a Charlie Whiting, da FIA, tudo o que sabia do episódio que manchou a carreira do brasileiro e acabou com a reputação do mafioso italiano e do britânico Pat Symmonds, seu cúmplice naquela história toda.

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Enquanto Massa vencia e achava que era campeão, acontecia isso aí acima na Junção. A ultrapassagem de Lewis Hamilton sobre Timo Glock rendeu muita discussão – e ainda rende. Até hoje

O desfecho daquela corrida todo mundo sabe. Felipe Massa venceu – foi a última vitória de um brasileiro em casa – e Lewis Hamilton conquistou o título superando a Toyota de Timo Glock na última curva da última volta. Felipe foi campeão por 30 segundos ou menos. Acabou vice. E, por muito tempo, não perdoou Nelsinho pelo episódio de Cingapura. Esqueceu-se, contudo, da rodada na Malásia, da desastrosa atuação em Silverstone, do motor estourado em Budapeste e da mangueira de combustível na própria Cingapura. Se Massa não foi campeão, a culpa é repartida entre os erros do piloto e as falhas da Ferrari – que não foram poucas.

Interlagos viveu um clima tão antagônico que, depois da explosão das arquibancadas pelo título que não veio, veio a incredulidade e um silêncio ensurdecedor, sepulcral. Comentei isso no programa “Tá na Área”, do qual participei ao vivo após a corrida. Também foi um domingo de muita água, mas não tanta quanto em 2003.

Essas são minhas memórias de GP do Brasil. E as suas, caros leitores, quais são?

Comentários

  • GP Brasil. O primeiro foi em 89, Busão de SP pro Rio, chegando de madrugada no autódromo e ficando na bancada mais barata. Calor infernal desde madrugada pra ver, mas principalmente ouvir – foi o que mais me marcou – a sinfonia de V8’s, V10 e V12. 1990 fui nos três dias. Cagada do Senna e Prost vencendo. De 91 a 2000, trabalhei como bandeirinha, resgate. Bons tempos de “escravidão”, trabalhar sem ganhar um centavo, e às vezes até tendo que pagar o uniforme…. Mas pelo menos a gente conseguia estar bem perto dos carros e naquela época dava até prá andar no boxes, ver os pilotos, tirar foto e tentar arrumar alguns brindes…. Amais legal foi em 92, corrida previsível mas o ambiente de trabalho era ótimo, porque o pessoal que trabalhou resolveu peitar os donos de clubes que mandavam na mão de obra e como a International Promotion diminuiu a grana que eles iam levar, eles queriam tirar todo o pessoal para trabalhar. Mas a galera se reuniu e mostrou que como pra gente não fazia diferença, porque a grana só ficava pra eles, resolvemos ir pra pista. Sem stress de muito cacique e politicagem.2001 foi no telhado da oficina de pintura de capacete X1000 dos grandes Paolo e Ricardo, com direito a cerveja e churrasco e de 2002 pra cá só na tv. Abraço

  • Não precisa ir muito longe. Em 2012 Alonso arrastava a Ferrari nas costas na tentativa de um título que seria épico se conquistado. Vettel largava atrás é surpreendido por uma panca do Brunno que não é Senna. A disputa do título ficou tensa, pois o espanhol não tinha carro para vencer e o alemão torcia para que sua máquina não o deixasse na mão após o impacto. Para uma F1 moderna, um belo Show.

  • Rodrigo,

    Minha época de F1 começa em 1988, com 10 anos já que sou de 1978. Primeiro Flash que recordo é o Ayrton cruzando a reta de Suzuka com os braços pra fora e o Galvão gritando ” Ayrton, Ayrton, Ayyyrrrrtonnnn Senna do Brasil ! Campeão de Fórmula 1 de 1988 ! “.

    Depois comecei a colecionar revistas, jornais, etc…, sobre F1 e Automobilismo. Depois disso comecei a acompanhar os campeonatos do RS desde os Fuscas até os Opalas.

    Claro que lembro da corrida da 6° marcha, dos berros de ” I can´t believe it… Eu não acreditoooo,… Aaahhhhhhhhh !!!! PUTA QUE PARIUUUUU ! ahhhh… ”

    Claro que lembro, e pra mim a imagem de F1 e esportes junto do povo mais emblemática, é a da McLaren no meio da galera na reta oposta e o Senna de pé, capacete amarelo acima de todos e claro, braços em V de vitória…

    Depois a época do Rubens e toda a cachorada que fizeram com ele…

    Dava dó de ver o que faziam e uma extrema raiva dos babacas que falavam isso e aquilo sem nem saber andar de carrinho de lomba ( rolimã para os de fora do RS )..

    Bom, é isso.

    Lembro a do Massa sim, foi muito show e confesso que escorreu uma lágrima tanto pelo Massa, quanto pelo Rubens na época de Ferrari e claro de saudades do McLaren Marlboro apntando para as câmeras nas voltas finais…

    PÁU NELES !!!!!!!!

    • Fabiano, me desculpe, mas vou discordar de vc com relação ao Barrichello…

      Ele tem muita culpa do que foi feito com ele sim, pois ainda novato e inexperiente na F1 aceitou ser alçado ao patamar de “próximo Senna” imposto pela merda da Globo, logo após o acidente em Ímola. Aquela frase de “apenas um brasileirinho contra o mundo” é culpa dele sim, pois deveria aguardar mais os anos para ver se seria o “novo salvador do Brasil”, coisa que a Globo tentou fazer com o Massa e não conseguiu, pois o Massa sim foi pés no chão e refutou esse “título”.

      A grande maioria da torcida, por carência ou burrice mesmo já que a maioria é “massa de manobra” da Globo (basta ver que uns imbecis ficam trancados numa casa comendo e bebendo do melhor, curtindo uma piscina e ar condicionado, e fazendo putaria, sendo idolatrados como “celebridades”) entrou nessa de “domingo é dia de ver o Brasil sil sil sil” e realmente achou que Barrichello poderia ser um próximo Senna, sem esperar para ver o quê viraria.

      Tanto isso é verdade que foi só perceberem que o Barrichello não daria em nada que a Globo começou a inventar um monte de “desafios” no Esporte Espetacular, colocando brasileiros contra outros nações para disputarem qualquer coisa, só para o “Brasil sil sil sil” ser campeão nos domingos de manhã, como na época do Senna.

      E sabe pq os “babacas falavam isso ou aquilo sem saber andar de carrinho de rolimã???

      Pq brasileiro não gosta de esporte, brasileiro gosta de ver brasileiro ganhando. Basta ver o que foi feito com o UFC e o Anderson Silva, o Surf com o Gabriel Medina e tantos outros exemplos…

      A torcida tem sua parcela de culpa sim, pois foi induzida pela Globo / Barrichello a acreditar que os “shows nos domingos de manhã” continuariam, mas sem dúvida nenhuma os maiores culpados são a Globo e o próprio Barrichello.

  • Só assisti ao vivo a edição 1990.
    Muita festa, um pouco de confusão na arquibancada, vaias para Balestre (alguns chamando de nazista), Fernando Collor chegando de helicóptero, Senna abalroando Nakajima.
    O restante foi pela televisão.
    O de 1998 eu dormi, o domínio onipotente dos McLaren foi covardia.
    Vitórias de Emerson (1973 e 1974). Moco vitorioso em 1975.
    De 1976 a 1982 aplaudindo os estrangeiros. De 1983 a 2008 vitórias de brasileiros e de estrangeiros. Contente pelas vitórias de Senna (1991 e 1993) e Massa (2006 e 2008). Vamos aguardar o que acontecerá este ano.

  • O primeiro que vi ao vivo foi o de 2003. Com 19 anos, fui com meu pai e com a minha então namorada, que ficou meio surda por dias a fio com o barulho dos motores da época. Ver a corrida da reta principal era algo misterioso, pois não víamos os vários abandonos no miolo do circuito e dávamos falta dos pilotos a medida que o pelotão passava para completar as voltas.

    Lembro da euforia com Barrichelo na liderança, o descredito com seu abandono, a suspensão da segunda Jordan partindo bem na nossa frente, o combo Webber-Alonso no final da corrida e a Jordan do vencedor Fisichela pegando fogo logo após parar e ele rindo!

    Uma corrida clássica!

    Das outras que vi e que também foi uma senhora corrida, foi a de 2010. Quatro pilotos disputando a liderança do campeonato, a uma corrida do fim de um senhor campeonato – o melhor dos últimos 20 anos, talvez? – e a sensacional novidade que era Vettel na época.

    As de 2012 e do ano passado também foram bacanas, mas nada assim, um 2003. Vou domingo, apesar dos motores silenciosos e do campeonato chatíssimo, é Formula 1, e isso, por enquanto, basta.

  • As minhas lembranças são mais longínquas, coisas da idade… A primeira é de 1972, primeiro GP, extra-campeonato. Eu tinha acabado de fazer o Curso de Pilotagem Santa Fúria aqui no Rio, tendo como professores o Aurelino Machado, Bob Sharp e Giu Ferreira (turma boa!). Fui prá Sampa de ônibus, com um amigo maluco por carros que nem eu. E rumo a Interlagos, de madrugada, doido prá ver aquelas máquinas de sonho pela primeira vez. Fomos andando até o barranco do retão e ali ficamos, babando. Apenas 12 carros, mas que carros; as Lotus 72, os Brabham BT-34 (Reutemann) e BT-3 (wilsinho), o Luizinho de March, o Ronnie Peterson, as BRM, as Surtees… Voltei pro Rio de madrugada, sonhando que estava ao volante daqueles foguetes que tinham passado bem na minha frente.
    Em 1973, com mais 3 outros malucos, tudo de novo, pela Dutra no Fuscão preparado de um deles. De novo no retão, corrida fantástica, vitória maravilhosa do Emerson, mas o calor estava infernal. Ainda fomos aos boxes depois da corrida (outros tempos), ver os carros e os pilotos, principalmente um garoto que tinha me impressionado pela precisão de suas trajetórias com a BRM, um tal de Niki Lauda. Ele estava sério, contando ao chefe de equipe, nos mínimos detalhes, o comportamento do carro durante a corrida… O amigo dono do Fuscão passou mal, foi atendido no pronto-socorro do autódromo, foi hidratado mas teve alergia a algum medicamento que deram e ficou com a cara toda inchada. Melhorou um pouco durante a noite e saímos cedinho de Sampa. Nessa época eu estava correndo de kart, com meu Cox-Riomar, e peguei o volante, prá chegarmos logo ao Rio. E assim foi, dos Jardins até Copacabana em exatas quatro horas, eu feliz como nunca, os outros com os olhos meio esbugalhados, mas entregamos nosso amigo em casa prá repousar!
    Depois não fui mais a Interlagos, mas a quase todos aqui no Rio, 1978, 1984, de 1985 a 1989 nos boxes e torre, trabalhando prá Globo, época de chegar perto de todos que podia. Muitas histórias, mas uma que ficou na minha lembrança foi depois da classificação em 1989. Nós estávamos no barracão atrás dos boxes checando a inserção de caracteres para o dia seguinte, quando adentra o recinto um certo Ayrton Senna. Veio direto a mim e perguntou se a gente tinha a gravação da volta em que ele fez a pole. Eu disse que sim, claro, e colocamos prá ele ver. Ele olhou atentamente, e pediu: posso ver de novo? Passamos, e no trecho em que ele passava na Curva da Lagoa, ele pediu: dá prá congelar e repetir? Claro que dava, fizemos o que ele pediu. Então ele fez um muxoxo e disse. É, errei ali! Escapei demais, demorei a acelerar de novo… Perdi um tempo…Agradeceu timidamente e saiu.
    Isso porque tinha feito a pole, fácil! Ali deu prá perceber o perfeccionismo que esses caras têm!
    Aquele foi meu último GP. Por acasos dessa vida, não voltei a assistir outros ao vivo. Mas um dia desses eu vou.

  • No início dos anos 90 fui em todas até 94.

    Mas as inesquecíveis foram a primeira vitória do Senna em 1991 e a rodada do Prost com a Williams em 1993, bem na minha frente no “S do Senna”.

  • Vindo aqui para parabenizar o escriba, por ser o único que colocou os pingos nos “is” de o porque do Massa haver perdido em 2008!
    Com relação aos GPs, assisti in loco os 2 primeiros, depois só pela TV, até por conta das dificuldades crescentes ano à ano para se chegar ao autódromo e pela comodidade de ficar “diboando” no sofá de casa. . .
    Abraço.

      • Nem esquente, o texto está ótimo. São tantas as informações contidas nele que um errinho só não compromete em nada a qualidade do trabalho. Acompanho a Fórmula 1 desde 1981, quando tinha 12 anos, e sei de cor as datas de quase todas as corridas da década de 1980.

  • Nota 1000 pelo irretocável post e pela imprescindível honenagem ao responsável pela F1 no Brasil: Antonio Carlos Scavone. Ah! Os meus gps inesquecíveis? Fácil: 82,86 e 03

  • Desde a vinda da F1 para SP em 90 assisti dezesseis vezes a corrida.
    Com certeza a mais marcante foi a de 91, essa foi inesquecível.
    Mas em 94 consegui entrar nos boxes na quarta feira e para minha surpresa tive acesso ao pit line. Vi de perto a Williams e Senna em visita a seu box.
    Fiquei até às onze e meia da noite no autódromo. Bons tempos.

  • Caro Rodrigo , se eu fico triste ao ver fotos do atual traçadinho de Interlagos quando conheci aquele antigo e magnifico onde a equipe Jolly sempre colocou seus carros com orgulho de participar das provas no local ,pois era uma pista muito seletiva e formadora de bons pilotos ( o Piero falava que : Quem ganhasse em Interlagos ,poderia ganhar em qualquer pista do mundo ,tal o nível de dificuldades em todo seu percurso . Só se comparando ao velho Spa e perdendo para Nurburgring (Nordschleife) e fico imaginando a tristeza dos cariocas apaixonados por automobilismo, que tinham ,apesar de plano , um belo autódromo com um traçado muito interessante ,melhor que qualquer Tilkhdromro do mundo onde só se deve levar em consideração a suntuosidade das edificações pois os traçados são de matar qualquer piloto que se preze ,de raiva ! E sabemos muito bem a que se destina ,na verdade a destruição de Jacarepaguá. Haja obra super faturada para encher bolso de politico sujo de pés e mãos e familiares em prefeitura .

  • Estive uma única vez in loco… 2003!!!!!!! Tomei a maior chuva da minha vida e presenciei uma loucura na pista!!!!!! Coincidência ou não, o primeiro carro de Fórmula Um que vi na vida na pista foi a Jordan do Fisichella!!

  • Salve, xará. Só uma pequena correção: quem narrou a corrida em 2003 foi o Galvão Bueno. O Cléber só ficou no “esquenta”, durante o Esporte Espetacular. Foi direto dele que você ouviu que o Fisichella tinha vencido e que a FIA errou? Interessante e maneiro demais! =D

    Fora isso, baita texto, como aliás são todos os que você posta aqui. E como é bom poder postar algo com a certeza que ele será publicado!

    Pra mim, a mais emblemática é a de 1993. Contra as Williams de outro mundo, vendo o Prost rodar pateticamente, vendo o Senna passar o Hill como quem passa um retardatário, abrir, quase ter problemas com o superaquecimento do motor e, ao final, a invasão.

    Sensacional!!

    • Não falei que o Cleber Machado narrou a corrida, xará. Ele estava tanto em Interlagos quanto eu. E pelo telefone, nós dois conjecturávamos se o Fisichella era o vencedor e não o Räikkönen. Só por isso citei o nome dele. É claro que sei que em 2003 o narrador foi o Galvão. Abraços!