George e Naná

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George Martin (1926-2016), o “Quinto Beatle”: o homem que mudou a estética do rock e do pop, transformando os Beatles no maior grupo dos anos 1960

RIO DE JANEIRO – Um tinha 90 anos. O outro, 71. O conceito de tempo não se aplica a nenhum desses dois gênios da música mundial. George Martin e Naná Vasconcelos, cada um na sua especialidade, deixaram marcas indeléveis na história da arte que dominavam. Por isso, tudo o que está relacionado a ambos ficará para sempre.

O britânico ficou conhecido apenas e tão somente como o “Quinto Beatle”, por sua ligação quase umbilical com o conjunto de quatro rapazes que mudou o rock e a música pop a partir dos anos 1960. Além da sua importância vital para que o conjunto atingisse um patamar jamais alcançado por qualquer outro em termos de excelência, Martin era brilhante não só na área da produção e concepção de discos. Como arranjador e maestro, deu um colorido especial a várias canções do universo beatle. “Eleanor Rigby” é uma das que tem a marca do bom gosto de George Martin. Mas a partir do lendário álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, de 1967, é que seu trabalho foi realmente alçado a outro patamar.

Com o fim dos Beatles, o músico ainda colaborou com Paul McCartney e Ringo Starr, que foram seus amigos até o fim da vida, passando por artistas improváveis feito o Linkin’ Park e grupos/artistas de prestígio, como os rapazes do America, Robin Gibb, Shirley Bassey, Elton John, Kenny Rogers e outros.

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Naná Vasconcelos (1944-2016): o monstro pernambucano da percussão que ganhou o mundo, foi eleito oito vezes o melhor em sua especialidade e ganhou oito prêmios Grammy

Já Naná Vasconcelos transcendeu o rótulo reducionista de músico brasileiro para se tornar uma “entidade” cultuada em todo o planeta. Não por acaso, a revista Down Beat, especializada em percussão – no que o pernambucano era um craque – o elegeu (por oito vezes, é bom lembrar) o melhor em seu ramo. Ninguém é o número #1 na música em qualquer instrumento à toa. E Juvenal de Holanda Vasconcelos, creiam, não era um qualquer.

É bem capaz de muitos que souberam de sua morte pelas mídias sociais sequer dimensionassem a importância de Naná. Talvez ignorassem que ele teve, em sua carreira, um total de 24 discos gravados, que sua carreira começou como músico de Milton Nascimento, tocando berimbau, passando brevemente pelo Som Imaginário e daí para o brilhantismo das participações e colaborações com artistas dos mais variados estilos. De Mutantes a Jean-Luc Ponty, de Egberto Gismonti a B.B. King, de Pat Metheny a David Byrne, todo mundo quis gravar com ele.

Naná era impressionante. Além de dominar com perfeição os mais variados instrumentos percussivos, do bombo ao berimbau, passando pelas congas, tirava sons de uma forma que poucos músicos eram capazes de fazer. Mostrava sua excelência tocando com as costas das mãos e, pasmem, até com o queixo. O homem era mesmo monstruoso.

E mesmo quando ficou doente e o câncer que o consumiu e o levou nesta quarta-feira se agravou, Naná ainda dava a cara para bater em sua terra natal, cultivando as raízes mesmo diante de toda a sua consagração como percussionista e mostrando que o Brasil e Pernambuco não saíam de suas veias. Pelos últimos 15 anos, os carnavais do Recife foram abertos sob o comando e o talento de Naná Vasconcelos. As sextas-feiras pré-Carnaval, a partir de hoje, nunca mais serão as mesmas.

Aliás, quem disse que a música será a mesma depois de duas perdas tão colossais quanto estas?

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