Direto do túnel do tempo (324)

RIO DE JANEIRO – O blog e o blogueiro não esqueceram dele: Sir Frank Williams completou 74 anos no último sábado. Último representante da era romântica do esporte na Fórmula 1, o britânico que fundou a escuderia que leva seu nome “ralou” muito para fazer sua equipe chegar ao nível de time grande no automobilismo. Talvez as pessoas não tenham noção do quanto esse cara batalhou para ter orgulho do seu trabalho e montar uma equipe de ponta na categoria máxima. Talvez pouca gente saiba que, nos tempos de pouca grana, ele pagou o salário de um de seus mecânicos dando como garantia um relógio de pulso.

3f311c8c6edcc268325095c2d1230eb5
Frank Williams e Piers Courage, em 1969: o início da trajetória daquele que é o último sobrevivente dos garagistas na Fórmula 1

Frank nunca nadou em dinheiro. Fazia os chassis Titan de Fórmula Ford até que Piers Courage, herdeiro de uma cervejaria – e bom piloto, a despeito da ótima condição financeira – o incentivou a sonhar mais alto. Em 1969, os dois formaram uma bela parceria: Frank na retaguarda, Courage na pista. Com um Brabham BT26, conquistaram dois pódios em Mônaco e Watkins Glen. O piloto, cada vez melhor dentro da categoria, terminou o Mundial de Pilotos em 8º lugar.

Mas o sonho virou pesadelo: em 1970, Frank passou a alinhar o modelo De Tomaso, desenhado por um certo Gian Paolo Dallara. Com esse carro, Courage fez apenas mais quatro GPs até sofrer um acidente fatal em Zandvoort, durante a disputa do GP da Holanda. Brian Redman e Tim Schenken o substituíram. Só que ficou um enorme vazio.

Williams não jogou a toalha: passou a cliente da March e continuou sonhando alto. Em 72, teve José Carlos Pace como um de seus pilotos. No ano seguinte, seus carros passaram a se chamar Iso-Marlboro. E os primeiros Williams de verdade vieram só em 1975. Desenhados por Ray Stokoe, os modelos FW03 e FW04 foram os primeiros do time na Fórmula 1. E com eles, veio o primeiro pódio de um genuíno carro de Frank: o 2º lugar de Jacques Laffite no GP da Alemanha, em Nürburgring.

A história mostra que em 1976 Frank associou-se ao austro-canadense Walter Wolf e, após um ano de maus desempenhos, o mecenas pegou tudo o que tinha, montou sua própria escuderia e deu adeusinho ao sócio, que teve de começar novamente do zero – igualzinho a 1970.

patrick_neve__spain_1977__by_f1_history-d6t1eq6
Os petrodólares dos árabes começaram tímidos na Fórmula 1, em 1977, no pavoroso March 761 guiado por Patrick Néve. Depois, tudo mudaria…

Voltou a ser independente: alinhou o pavoroso March 761 para Patrick Néve, que tinha o apoio da cerveja Belle Vue. Mas já havia uma pequena diferença – o carro era movido a petrodólares. Notem na lateral do bólido o apoio dos árabes, via Fly Saudia. E foi esse dinheiro que possibilitou a construção do FW06 para 1978, guiado por Alan Jones.

O resto a gente sabe. Ou, por outra: sabiam que o primeiro piloto do FW06 poderia ter sido Emerson Fittipaldi?

Pois é: procurado por Frank na época das vacas magras da Copersucar, o Rato foi conversar com o britânico e ouviu dele o seguinte. “Tenho patrocínio dos árabes para a próxima temporada. Estou construindo um novo carro e gostaria que você o guiasse. Não precisa se preocupar com mais nada”. Emerson riu da oferta e preferiu seguir com a equipe brasileira. A Williams, da noite pro dia, virou time grande, fez de Alan Jones campeão mundial em 1980, quase ganhou com Reutemann em 1981, voltou a ser campeã com Keke Rosberg em 1982 e a Fittipaldi, como todo mundo sabe, virou estatística.

Há 47 anos, direto do túnel do tempo.

Comentários

  • Frank foi o construtor que mais foi prejudicado pelas mudanças de regulamento da FIA, sempre que seus carros esmagavam a concorrência vinha uma alteração no regulamento, mas ao contrário de seus rivais ele nunca reclamava, apenas construía o próximo carro.

  • Raramente me atrevo a comentar os posts desta série, mas este mostra como a equipe de Frank é uma relíqua ainda em atividade…todo o nosso respeito.