Mega-sena do alemão

RIO DE JANEIRO – Demorei, mas nunca é tarde. Assisti o GP da China de Fórmula 1 só hoje, porque ficar acordado de madrugada e com o WEC no dia seguinte, não dá.

E devo dizer o seguinte: não é que a corrida foi bem legal? O que não deixa de ser interessante, porque pro meu gosto, a pista de Xangai é um saco. Essa febre de se construir pistas mais do mesmo, como são praticamente todos os circuitos desenhados pelo arquiteto alemão Hermann Tilke, é um dos pontos fracos do automobilismo na atualidade, tirando dos pilotos a sede e a fome pelo desafio. Numa categoria que tem sido pautada pelo artificialismo das disputas por conta das estratégias, até que o que se viu no último domingo foi bem bacana.

Ok… Nico Rosberg praticamente não teve oposição. Foi beneficiado pelo estouro de pneu da Red Bull de Daniel Ricciardo, que conseguiu numa bela largada assumir a liderança, e disparou para a sexta vitória consecutiva, à sua mega-sena. O alemão da Mercedes atingiu pontuação máxima nas três primeiras etapas e com o triunfo – o 17º da carreira – superou Stirling Moss para se tornar o maior vencedor da F1 a jamais ter sido campeão mundial.

A corrida teve também suas tretas. A principal foi entre Daniil Kvyat e Sebastian Vettel. O alemão queixou-se do russo que, na largada, o rival veio para cima numa manobra temerária e por isso ele perdeu o carro e atingiu o próprio companheiro de equipe, Kimi Räikkönen. O diálogo ganhou ares de alguma animosidade na sala de espera do pódio, mas os dois sossegaram os respectivos fachos e tudo ficou bem. A outra treta foi pós-corrida: na Sauber, cada vez mais habitué do fundo do pelotão, Marcus Ericsson – cheio de chinfra – tirou onda para cima de Felipe Nasr. Propôs até uma troca de carro e bravateou.

“Já provei que sou melhor que ele.”

Uau! Que fodão, o sueco… que, aliás, chegou em décimo-sexto em Xangai. O Nasr parou na primeira volta, andou em último e chegou em 20º, à frente da Renault de Jolyon Palmer – em início patético, nível Manor na administração John Booth e Graeme Lowndon – e de “Rios de dinheiro” (como diria Paulo Silvino) Haryanto.

Aliás, sobre a Sauber, é bom lembrar que a corrida da China foi assistida in loco por Sergio Marchionne. Se vocês não sabem, este moço é o presidente da Fiat, dona da Ferrari e da Alfa Romeo. É o mesmo que tem dito abertamente, para quem quiser ouvir, que a Alfa tem que voltar à Fórmula 1. Embora o país oriental seja um ótimo mercado para a Ferrari, não foi com os chineses que Marchionne foi conversar e/ou negociar.

A fase da Sauber é terrível e urge uma resolução para que a escuderia helvética não se transforme em massa falida e seja absorvida como uma espécie de time B do grupo Fiat. O ideal seria que a situação se resolvesse rápido, de preferência em 2016 ainda…

Voltando ao que interessa, além do toque entre as Ferrari, Lewis Hamilton veio de último no grid e teve o bico do carro quebrado porque Felipe Nasr o atingiu numa infelicidade (se escrevi que ele errou, peço desculpas, não vi direito a manobra e achei que ele tinha errado – mas tem leitor idiota que só vê defeitos. Vida que segue…). Sorte dele que a direção de prova deflagrou a entrada do Safety Car por conta do excesso de detritos na pista e isso foi crucial para o tricampeão e para Kimi Räikkönen, que eventualmente conseguiram se recuperar.

Foi fácil para os dois passarem meio mundo, especialmente quem não tem equipamento suficiente para segurar a onda, mas aí no final, com pneus médios, Comandante Hamilton não conseguiu avançar – foi ultrapassado por Räikkönen, como já havia sido por Daniel Ricciardo – e sequer superou Felipe Massa. De novo o brasileiro da Williams criou a estéril ilusão de que poderia lutar mais além do que sua Williams tem lhe proporcionado, mas segurou Lewis com classe para terminar na 6ª posição.

O Risadinha é que conseguiu uma ótima posição, mostrando que a Red Bull ainda pode fazer muita coisa boa até o fim de um longo campeonato. A filial Toro Rosso saiu de Xangai com cinco pontos e Valtteri Bottas – o que acontece com este rapaz? – somou o último ponto do dia.

No resto, a McLaren até conseguiu fazer os dois carros terminarem na mesma volta do vencedor, só que faltou velocidade aos bólidos de Fernando Alonso e Jenson Button. A Haas despertou – ou melhor, caiu da cama – do sonho que os resultados das duas primeiras provas pareciam ter acalentado ao time de Gene Haas e Günther Steiner. E Pascal Wehrlein, mais uma vez, comeu seu companheiro de equipe com farinha.

A próxima prova é o GP da Rússia, em Sochi, no dia 1º de maio. Vou dar mais um crédito à Fórmula 1 e tentarei assistir essa corrida. O automobilismo é mesmo uma cachaça. Vicia…