Direto do túnel do tempo (330)

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Elio de Angelis (1958-1986): talentoso, gentleman, exímio pianista, bom piloto e dono de um dos capacetes mais fodásticos da história do automobilismo.

RIO DE JANEIRO – Dia 15 de maio de 1986. Testes da Fórmula 1 em Paul Ricard, na França. Esses de La Verrière. De repente, um carro se acidenta a 270 km/h naquele ponto do circuito. Há incêndio. O piloto dentro do carro não resiste aos ferimentos e morre horas depois. A tragédia tira do automobilismo um dos pilotos mais queridos de seu tempo, há exatos 30 anos: Elio de Angelis.

Italiano de família rica, nunca teve problemas com dinheiro e mostrou muito mais talento do que alguém poderia supor. Com apenas 20 anos, estreava em 1979 na quase defunta Shadow. Já na segunda temporada, conquistou até pódio com a Lotus. Colocou Mario Andretti no bolso e Nigel Mansell, que estreou em 1981, não era páreo para a regularidade e categoria do italiano.

Elio de Angelis, Lotus
Elio pilotou para a lendária equipe Lotus entre 1980 e 1985

Faltava uma vitória. E ela veio para acabar com a seca da Lotus, que perdurava desde 1978. A equipe britânica não vencia desde o GP da Holanda daquele ano, o boné de Colin Chapman não voava mais nos autódromos e o mago dos carros de corrida andava meio cabreiro. Nesse interregno, chegou a perder o patrocínio da John Player Special. Entrou a Martini, veio a nebulosa Essex, mas a JPS voltou e os Lotus tornaram a ser pretos e dourados como nos velhos tempos.

E foi com as cores icônicas do time que veio o primeiro triunfo de Elio. A princípio, o GP da Áustria de 1982, na veloz pista de Zeltweg, seria apenas mais um no escritório para o piloto, então com 24 anos. Era a 13ª etapa de um campeonato que tinha visto oito pilotos vencerem até aquela data – Alain Prost, René Arnoux, Didier Pironi, John Watson, Niki Lauda, Nelson Piquet, Riccardo Patrese e Patrick Tambay.

De Angelis começou bem: passou em quinto na primeira volta, viu a Renault de René Arnoux ter problemas e depois, quando o campeão de 1981 Nelson Piquet parou nos boxes com sua Brabham para inaugurar a era dos reabastecimentos na categoria, passou ao terceiro lugar.

O acidente do líder e compatriota Riccardo Patrese, que rodou e saiu da pista, assustando o público, deixou Elio em 2º lugar. Já era bom demais – ele igualava o melhor resultado da carreira. Só que… a cinco voltas do final, expirou o motor da Renault de Alain Prost.

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A alegria pela primeira vitória na F1, a bordo da Lotus 91 no GP da Áustria de 1982. Foi a última vez que vimos o boné de Colin Chapman voar numa pista da categoria

Era demais pro italiano. Líder da corrida, perto da primeira vitória da carreira na F1. Só que outro piloto pensava igual: Keke Rosberg, da Williams, também perseguia o primeiro triunfo, fundamental na luta pelo título. Mas Elio correu por ele, pela Lotus e por Colin Chapman. Era matar ou morrer: só restavam os dois na mesma volta. E furiosamente eles desceram a curva Rindt rumo à linha de chegada. Deu Elio, que ergueu o braço direito em júbilo, por apenas 0″050.

E foi um momento histórico: como Anthony Colin Bruce Chapman morreu no fim daquele ano de 1982 em circunstâncias até hoje permeadas de mistério, aquela foi a última vez que tivemos o boné voador numa prova de Fórmula 1.

Saudades, Elio.

Há 34 anos, direto do túnel do tempo.

Comentários

  • Caramba, grande lembrança Mattar!

    Elio de Angelis tem se tornado um dos meus preferidos pilotos, tenho visto pelo you tube as corridas dos anos 80, (já (re)vi o final da temporada de 81, a temporada 82 completa e estou no meio da de 83) a cada dia que passa respeito mais o cara.

    isso fora os bastidores daquela greve dos pilotos de 82… olhem só que relato legal da greve do gp da africa do sul de 82:

    http://www.vivaf1.com/viewtopic.php?f=23&t=616

    ah, pra quem ficou interessado, aqui segue o primeiro link do GP da bélgica de 82:

    https://www.youtube.com/watch?v=VzLsTWNrnYQ

    e aqui o canal desse cara que colocou várias dessas corridas no ar. tem muita coisa lá, muita mesmo:

    https://www.youtube.com/channel/UCy_u0AgAkdKEI3qgfsJzBAQ

    abraços a todos!

  • Em 1986 a formula 1 já era altamente profissional e organizada, me parece inconcebível e inacreditável o fato de não haver equipes de resgate e salvamento em um treino coletivo de várias equipes. Tragédia que poderia ser evitada.

  • Collin é vivo.. ele é o Briatore..que fez 4 plasticas com Pitanga..no RJ..e ficou nisso..
    Ainda.. tem uma gostosa que cuida de seus poucos bens como cidadão inglês..
    R.I.P Collin.. e la vida Flavio..rsssssss

  • Me lembro muito pouco de Elio. Mas há muitas histórias importantes a seu respeito, como as brigas com Senna na Lotus. O brasileiro, que não era flor que se cheirasse, teria tomado uns sopapos do italiano. E olha que para tirar De Angelis de sua elegância…

    A morte de Elio de Angelis inaugurou a melhoria de condições de segurança nos circuitos durante testes, além de ter contribuído um pouco para o fim dos motores turbo.

    • Não, não existe mais. Acho até que falei sobre ela aqui no blog. Era de um certo David Thiemme e sumiu da mesma forma como apareceu no automobilismo. Do nada.

  • Sempre achei que o Elio de Angelis fosse argentino, não sei porque. Não tem um De Angelis na Moto GP hoje em dia, é parente?