Verstappen, o iluminado

RIO DE JANEIRO – Finalmente encontrei tempo para assistir ao GP da Espanha. No dia da corrida, não quis. Preferi acompanhar Blancpain Endurance Series e European Le Mans Series. A argumentação era a de sempre: Mercedes vai dominar de cabo a rabo.

Só que não.

A gente sabe, o mundo inteiro sabe o que foi que aconteceu aos dois pilotos da marca alemã. Claro que vieram as acusações, as ilações. Disseram que o Hamilton fez uma “bobagem”, “algo inaceitável”, que o erro foi dele e só dele. Até concordo que o tricampeão errou. Mas a análise de culpa e erro de Lewis perde todo o sentido quando se soube que Nico Rosberg, que já assumira a primeira posição, vinha mais lento por conta de um ajuste errado. Segundo a telemetria, uns 17 km/h. O vídeo abaixo, que o brother Flavio Gomes já havia postado, não me deixa mentir que o líder do campeonato tentou remediar o problema. Mas já estava feito.

Outra coisa: o que impedia Rosberg de defender sua posição pela linha de dentro, mesmo sacrificando a curva? Nada: ele não mudou de posição mais de uma vez. Trouxe o carro até o limite e impediu o ataque do companheiro de equipe. Mas fez isso já em velocidade bem menor. Aí não teve jeito. E depois, tome esporro no caminhão do time. Niki Lauda, Toto Wolff e até Dieter Zetsche, o presidente, o big boss da Daimler, cobriram os ouvidos não só de Lewis como de Nico de uma saraivada de broncas.

A FIA entendeu que o incidente foi “de corrida” e não puniu ninguém. Bom senso? Provavelmente… E o acidente impediu que a Mercedes-Benz igualasse a sequência de 11 triunfos consecutivos da McLaren, durante a temporada de 1988. Mais: desde o GP dos EUA em 2012 que um carro da marca da estrela de três pontas não pontuava numa corrida da categoria. Eram 62 corridas consecutivas, no total. Uau!

verstappinhobizarro
O que você, leitor ou leitora, fazia quando tinha 18 anos? Eu vi o Botafogo ser campeão carioca. O Verstappen, com essa idade, já venceu uma na Fórmula 1

Enquanto a turma falava do imbróglio nas redes sociais, lancei a deixa: “Vai que o Verstappen vence o GP da Espanha depois dessa”.

Pois é… GP da Espanha de vencedores diferentes desde 2007, quando Felipe Massa ganhou no dia da missa do Papa Bento XVI (lembram-se?) e desde então ninguém ganhou mais de uma vez. Entre esses vitoriosos, a incrível zebra chamada Pastor Maldonado. E vocês pensando que um raio não podia cair duas vezes no mesmo lugar e ter outra surpresa? Então não combinaram com Max Verstappen.

O holandês de 18 anos foi simplesmente espantoso em sua estreia pela Red Bull, dando razão a Helmut Marko em colocá-lo no lugar que era de Daniil Kvyat. Talento absolutamente bruto, um diamante pronto para ser lapidado. Como todo jovem (e eu na idade dele vi o Botafogo ser campeão carioca, o Prost campeão de Fórmula 1 naquela polêmica contra o Senna e a Imperatriz Leopoldinense, minha escola do coração, ganhar o carnaval do Rio), é impetuoso e sujeito a erros. Mas ninguém pode negar: o moleque é fera, bota dos grandes.

Ignorem o coitado do Mika Salo, que andou falando – muita – besteira. Um cara que teve uma vitória nas mãos pela Ferrari e tirou o pé pro panaca do Eddie Irvine ganhar a corrida (acho que o GP da Alemanha) e dar o troféu do primeiro lugar ao finlandês, não merece muito crédito.

A Fórmula 1 merecia um vencedor assim, o mais jovem da história, superando o recorde que era de Sebastian Vettel desde o triunfo no GP da Itália há quase oito anos. E nunca mais haverá alguém tão imberbe a repetir ou superar o feito, já que a FIA – que cedeu a Superlicença ao filho do Jos Verstappen – agora criou um sistema de pontos que incapacitaria hoje alguém tão novo a guiar um dos carros da categoria máxima.

Com a vitória conseguida na estratégia (fez uma parada a menos) e com imensa categoria, além de uma boa dose de sangue frio para aguentar a pressão de Kimi Räikkönen, Verstappen tornou-se o 106º da história e primeiro holandês a vencer um GP, ao contrário do pai Jos Verstappen, que só tinha ido ao pódio duas vezes quando foi piloto da Benetton em 1994. E o último que vencera pela primeira vez foi justamente seu novo colega de equipe, Daniel Ricciardo.

De resto, a Ferrari amargou uma derrota que talvez ela não imaginasse, uma vez que com a Mercedes fora do caminho a concorrência pelo lugar mais alto do pódio foi com os rubrotaurinos da Red Bull. Mas acho que ninguém de Maranello contava com a audácia e o desprendimento de Max Verstappen. A Williams salvou a 5ª posição com Valtteri Bottas – já que Felipe Massa foi nocauteado por mais uma besteira da equipe durante os treinos, que o deixou em décimo-oitavo no grid para terminar em oitavo numa corrida até bem razoável, considerando o prejuízo da má posição de largada.

Carlos Sainz fez uma bela corrida diante de seus torcedores, chegando a ser terceiro no início. Faltou fôlego: o filho de “El Matador” foi sexto – belíssimo resultado, o melhor do guri, por sinal, pondo no bolso o Kvyat – que, pelo visto, continua com a cabeça não muito boa depois do GP da Rússia e seu posterior rebaixamento à Toro Rosso.

Por fim, Sergio Pérez fez uma corrida bem honesta com a Force India e Jenson Button, na regularidade de sempre, botou de novo a McLaren nos pontos. Aos poucos, o carro da tradicional equipe britânica vai ganhando fôlego (Alonso foi para o Q3, inclusive) e o time já não passa tantos vexames quanto em 2015. Hoje dá pra dizer, sem sustos, que a equipe de Ron Dennis é melhor que a Renault, Manor e a Sauber – esta sim a pior do lote hoje.

Aliás, apesar do novo chassi, Felipe Nasr nada pôde fazer. A equipe não desenvolve nada, não testa (sequer ficou para os treinos lá mesmo em Barcelona) porque não há grana para nada e os resultados são um desastre. O brasileiro ainda viu – de novo – o sueco Marcus Ericsson chegar à sua frente, em 12º lugar. Realmente, a fase é terrível para o time suíço, que luta mais do que nunca por sua sobrevivência.

A próxima parada é o GP de Mônaco, no fim de semana de gala que terá também as 500 Milhas de Indianápolis e a Charlotte 600 da Nascar. Tomara que a corrida da Fórmula 1 não seja a procissão que costuma ser e que tenhamos novidades boas como esse GP da Espanha, em que vimos a história ser escrita e mais um fenômeno do automobilismo meter o pé na porta como quem diz… “Eu sou o cara!”

Comentários

  • Rodrigo,

    Bom dia !

    A “regra” da FIA e que a CBA já usou na Stockcar com o Fraga x Tiago Camillo a uns 2 anos foi a de:

    Regra: O piloto da frente que está defendendo a posição pode se movimentar uma vez, não sendo permitindo que retorne e deve deixar espaço de um carro entre ele e o limite da pista.

    Ou seja, o Nico se mexeu uma vez mas colou o carro na linha branca, sem deixar espaço…

    Igual ao outro Alemão, que prensou o Barrichello contra o muro da reta na Hungria.

    Hamilton sem culpa nenhuma… sabendo da regra ele armou o bote e já vinha puxando pra direita sabendo que teria o espaço de um carro, mesmo passando raspando roda com roda e grama…mas o da frente não obedeceu e pra não acertar no meio da traseira ou catapultar na roda traseira, o Hamilton só tinha a grama como opção…

    Minha opinião…

    Grande abraço !

    ** Tô te devendo os DVD´s das 12 Horas de Tarumã 2015 e da Primeira Etapa da Copa Classic e Endurance RS 2016 **… Correria afuzél não deixa tempo… mas vou enviar sim para o FOXSports aos teus cuidados assim que possível.

  • Por mim, o que aconteceu com a Mercedes poderia acontecer mais vezes em nome do espetáculo.

    Salve o plano B e os pilotos número 2. É claro que nem a Red Bull e nem a Ferrari esperavam que o Verstappen e Raikkonen iriam ditar o ritmo. Esperavam que Riccardo e Vettel os superassem na pista com uma parada a mais… só que não.

    O Australiano pode ter levado a pior nesse GP, mas não se pode dizer que ele arregou. Pra mim o cara está em uma fase iluminada, com a faca nos dentes e juízo na cabeça. Aquela “se jogada” na curva para cima do Vettel foi f*** o mesmo que fez com o Nico na Hungria em outra ocasião. Piloto “pé de boi” esse!

    Eu acreditava que Verstappen ia fraquejar e errar sobre a pressão do finlandês, mas mostrou que é um fenômeno mesmo o que é ótimo para categoria.

    2007, dois pilotos da mesma equipe brigando pelo título. Muita briga, muita discórdia, muito mimimi e o Homem de Gelo finalmente se sagrava campeão. Os tempos são outros, carros são outros, a pontuação é outra, mas olha onde Kimi está na tabela de pontuação.

  • A F1 esse ano está muito boa, bem acima da média dos últimos anos… E, bem, Mônaco é Mônaco… tomara que chova… eeee domingão: GP de Mônaco; 100ª Indy 500 e Charlotte 600!!! O que mais querer?!?!?!

    • Mais uma coisinha: só eu que estou me lembrando de Senna x Prost ou Piquet x Mansell com essa disputa Hamilton x Rosberg? PS: Não estou comparando o talento dos pilotos, mas sim as disputas na pista!

  • Aos 18 anos eu planejava equilibrar minha vida entre o primeiro semestre de engenharia de produção na Poli, a nascente cena indie rock de São Paulo e uma provável volta de um rotina mais intensa de skate…

    Com uma facilidade impressionante, a faculdade me mostrou que não seria bem assim.

  • Foi um puro incidente de corrida e, como apenas a Mercedes foi prejudicada, “seeegue o jogo!” (imitando o Milton Leite)

    Só fiquei com uma curiosidade: o que disse o Mika Salo?

  • Rodrigo, alem das provas mencionadas ainda temos as 24 horas de Nurburgring (que estamos postando fotos dos vencedores lá no mural A&M do Brasil e depois – se der tempo – dos inscritos, pelo menos das classes mais fortes) e provas da British GT, Australian GT (com a endurance de Phillip Island)…imperdivel final de semana…

  • Tá certo que o pequeno Max segurou legal a parada, mas ainda tá muito cedo pra falar que o menino vai ser um futuro campeão mundial. O Vettel levou ainda levou dois anos depois daquela épica primeira vitória dele em Monza/2008 pra ganhar o primeiro campeonato e além do talento tem que ter carro, ou o bom Sebastian teria colocado quatro títulos na estante da casa dele se não tivesse um carro e equipe excepcionais como foi a Red Bull de 2010 a 2014?? Vamos acompanhar o moleque holandês e ver qual é a dele…
    Não sei quanto a você, caro Mattar, mas eu não queria estar lá no motorhome da Mercedes depois da lambança dos dois pilotos, pois o que Lauda, Wolf e outros falaram nas orelhas deles deve ter sido sinistro… Vamos ver como eles se comportam na próxima corrida e pra azar deles (e alegria nossa e do resto do grid) o embate será em Mônaco. Imagine os dois dividindo a primeira fila e disputando quem passa em primeiro na St. Devote…

  • Mattar,

    Também concordo em incidente de corrida, com os dois “Mercêdicos” errando.

    Tanto o Mirto quanto a Rosdiva erraram, cagaram no pau e levaram a “comida” bem dada!!!

    HE HE

    Aproveitando, PARABÉNS meu camarada!!!

    Muita paz, saúde e felicidades pra vc!!!

    Continue nos presenteando com seus comentários precisos, tanto aqui no blog quanto na FOX!!!

  • Não concordo que foi incidente de corrida…
    Rosberg não cumpriu as regras… E deveria ser punido…
    Mas não vou ser o advogado do Hamilton…

    Uma coisa que precisa ser proibida nas pistas é a famosa “espalhada”…
    …tirando a chance da ultrapassagem por fora das curvas…
    Colocou do lado deveria ser obrigatório deixar espaço…
    Seja “pulso firme” (pra não falar macho) e faça a curva mais rápido por dentro…
    Por que não???

  • Continuando…

    E porque o piloto de trás não pode furar a gincane para fazer a ultrapassagem mas o da frente pode fazer para defender???