Especial 84 nomes das 24h de Le Mans – parte VI

RIO DE JANEIRO – Tá chegando a hora! A partir de amanhã, começa oficialmente a 84ª edição das 24h de Le Mans. E enquanto os motores não roncam em Sarthe para a definição do grid e também para os treinos livres, vamos com a série de posts no blog e continuando o Especial dos 84 nomes das 24h de Le Mans. Está no ar a 6ª e penúltima parte.

Boa leitura!

LEENA GADE

Leena Gade
Competência a toda prova: Leena Gade é a primeira mulher campeã em Le Mans como engenheira. Que venham outras!

Ela não poderia faltar: a engenheira britânica Leena Gade já tem lugar cativo na história das 24h de Le Mans. Filha de imigrantes indianos, daí suas feições típicas daquele país e a tez morena, ela se tornou a primeira mulher a trabalhar no acerto de um carro e vencer a prova francesa. Isso foi em 2011, quatro anos após ingressar na Audi Sport Team Joest, vinda de diferentes categorias do automobilismo. Desde então, ela cuida dos bólidos guiados pela trinca formada por André Lotterer, Marcel Fässler e Bénoit Tréluyer, com direito a um título mundial no FIA WEC e vários triunfos na competição. Mas como a vida é feita de ciclos, o de Leena está se encerrando dentro da marca quatrargólica: ela será remanejada na hierarquia do Volkswagen Auto Group e passa a ocupar um cargo na Bentley. As 24h de Le Mans deste fim de semana serão sua última prova como engenheira do carro #7. Uma página estará virada…

CARROLL SHELBY

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Lenda: Carroll Shelby virou sinônimo de “Muscle Cars” na história do automóvel

O texano Carroll Shelby (1923-2012) jamais poderia ficar fora dessa leva de grandes nomes de Le Mans, pelos mais variados motivos. Inclusive pelo que o trouxe ao pódio em 1959, vencendo a prova como piloto ao lado de Roy Salvadori a bordo de um Aston Martin DBR1. Mas o nome de Shelby está muito mais ligado ao seu histórico como construtor e como participante de um dos projetos mais sensacionais da história das 24h de Le Mans.

Após abandonar as pistas por razões de saúde, tornou-se o importador oficial do AC Cobra nos EUA, devidamente rebatizado como Shelby Cobra. Os carros com seu nome, por anos foram destaque em Sarthe. De 1962 a 1965, os Shelby Cobra correram com o aporte oficial da Ford, antes que fossem construídos os lendários GT40 que ganharam tudo de 1966 a 1969. E não se surpreendam: esses carros também tiveram o dedo e a competência de Shelby na preparação, especialmente dos motores. Foi um período de ouro dos “Muscle Cars” estadunidenses e Carroll, assim como Jim Hall e seu Chaparral, estão no Olimpo do esporte.

MASTEN GREGORY E JOCHEN RINDT

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O nerd e o magrelo. Masten Gregory e Jochen Rindt comemoram o triunfo de 1965 – o último da história da Ferrari em Le Mans na geral, até hoje…

A Ferrari ganhou pela última vez em Le Mans há pouco mais de meio século. Foram tantos os boatos nos últimos anos de que a marca de Maranello voltaria a Sarthe que ninguém mais leva essas histórias a sério, tanto que qualquer rumor tem status de lenda. No ano passado, todo mundo acreditou que seria diferente. A Ford já regressou com time oficial. Falta a rival que durante muito tempo fez da pista francesa seu feudo.

Antes do domínio da Porsche – e de ser superada pela Audi – a Ferrari emplacou nove vitórias entre 1949 e 1965. Na última, quem pilotava o carro que chegou à frente da concorrência foi a dupla formada por Masten Gregory (1932-1985) e Jochen Rindt (1942-1970). Um certo Ed Hugus foi inscrito no bólido alinhado pela NART (North American Racing Team), mas não consta que ele tenha o conduzido. Com o carro #21, os campeões da prova completaram 348 voltas – cinco a mais que Pierre Dumay/Gustaf Gosselin. Depois disto, a Ferrari tentou sem sucesso vencer em Sarthe até 1973, quando a equipe oficial entrou na pista pela última vez para ser derrotada pela Matra. E para nunca mais voltar.

ANDRÉ LOTTERER, MARCEL FÄSSLER E BÉNOIT TRÉLUYER

Marcel Fässler, André Lotterer, Benoît Tréluyer
Três vitórias nas últimas cinco edições das 24h de Le Mans já fazem deste trio um dos mais bem-sucedidos de todos os tempos

Eles são a trinca mais bem-sucedida da Audi e consequentemente das 24h de Le Mans nos últimos anos. Com três vitórias nas últimas cinco edições da história da corrida – duas delas em provas já válidas pelo FIA World Endurance Championship – eles são a formação mais coesa e em consequência a mais vitoriosa do Mundial de Endurance. Um alemão – André Lotterer, um suíço – Marcel Fässler e um francês – Bénoit Tréluyer, todos na faixa dos 35/40 anos, com experiência de sobra, velocidade e muita competência. Formando um esquadrão dos mais eficientes com a engenheira Leena Gade, eles querem chegar à quarta vitória nos últimos seis anos e acreditam que conseguem.

Quem poderá detê-los?

KLAUS LUDWIG

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Esse cara da foto era bom demais: campeão em Le Mans por três vezes, rápido toda vida mesmo depois dos 40 anos. Klaus Ludwig, um dos grandes do automobilismo alemão

Nascido em 1949, este alemão de Bonn tem um excelente histórico nas 24h de Le Mans. Em nove oportunidades que participou, esteve no pódio em quatro oportunidades – três delas no topo. Ademais, estava na trinca que largou na pole position da prova disputada em 1998: Klaus Ludwig é reconhecido como um dos grandes pilotos de seu país, um expert em carros Protótipos e Grã-Turismo, que mesmo perto dos 50 anos ainda guiava uma enormidade. Venceu pela primeira vez em Sarthe no ano de 1979 com um Porsche 935 K3 ao lado de Don e Bill Whittington e – não satisfeito – repetiria a dose em 1984/1985. Nestas duas oportunidades, integrou a equipe da lenda Reinhold Joest. No primeiro ano, ganhou junto a ninguém menos que Henri Pescarolo. Depois, compôs trio com Paolo Barilla (sim, aquele das massas Barilla) e Louis Krages, “a.k.a” John Winter. E ainda chegou em 2º no ano de 1988 num Porsche oficial de fábrica dividido com Hans-Joachim Stuck e Derek Bell. O que mais falar de Klaus Ludwig?

ALEXANDER WURZ

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A bordo do TWR-Porsche #7 para se tornar o mais jovem – até hoje – vencedor da história nas 24h de Le Mans; esse é Alexander Wurz

Treze anos são uma eternidade em termos de automobilismo. Na Endurance, então, nem se fala. Pois foi o que Alexander Wurz levou para voltar ao topo do pódio nas 24h de Le Mans. Isso depois de cravar um recorde histórico: desde 1996, quando tinha pouco mais de 22 anos de idade, ele se tornou o mais jovem vencedor da história da prova em Sarthe, dividindo um TWR Porsche preparado por Reinhold Joest (quem mais?) com Davy Jones e Manuel Reuter.

O tempo passou, Wurz foi para a Fórmula 1, onde viveu alguns dissabores como piloto oficial e de testes. Aos 34 anos, regressou a Le Mans com um Peugeot 908 HDi FAP. Fez parte da trinca que largou da pole position na edição de 2008, mas o carro chegou em 5º. No ano seguinte, foi diferente: largando de quinto ao lado de David Brabham e Marc Gené, no carro tido como o “Patinho Feio” da marca do Leão, Wurz fez a festa novamente. Depois disto, foi 4º colocado em 2011 (ainda pela Peugeot) e 2013 (já pela Toyota). Despediu-se das pistas ano passado e agora é embaixador oficial da marca japonesa. Ano passado, chegou em sexto na sua última prova em Le Mans. Seu jeito amável e afável nos autódromos já deixa saudades.

RAUL BOESEL

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Quase! Com este Jaguar XJR-12, Raul Boesel por pouco não venceu as 24h de Le Mans de 1991

Campeão Mundial de Endurance em 1987, Raul Boesel sempre foi um batalhador. Quando menos se esperava, o paranaense assinou com Tom Walkinshaw por US$ 80 mil mensais, mais as despesas de viagem, para conquistar um título que nenhum outro piloto brasileiro ousara ganhar. Uma conquista histórica e até hoje inédita. Ele não foi o primeiro do país a ter a primazia da primeira vitória em corridas internacionais de Endurance – o privilégio foi de Nelson Piquet, em 1981 – mais foi o que mais provas venceu. E também um dos que mais esteve perto de ser o primeiro brasileiro a ganhar em Le Mans.

Raul foi 5º colocado em 1987 na primeira tentativa, mas saiu feliz daquele ano com o título. Ele voltaria no ano seguinte para tentar a inédita conquista, mas seu Jaguar abandonou com 10h de disputa em razão de uma falha de transmissão. A terceira – e última participação – foi a mais marcante. Boesel alinhou num Jaguar XJR-12 da equipe da série IMSA, com Davy Jones e Michel Ferté. Largaram da 11ª posição e só não foram os vitoriosos porque tiveram que administrar uma cota de consumo de combustível para as 24h de prova – o que a Mazda não tinha, porque ninguém a considerava favorita. Como efeito, o protótipo do construtor japonês comemorou uma vitória inédita e a Raul e seus colegas restou apenas o vice da corrida…

JOHNNY O’CONNELL

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Corvette e Johnny O’Connell em Le Mans: uma simbiose sem igual

Sinônimo de Corvette nas 24h de Le Mans: este é Johnny O’Connell – que, aliás, volta este ano a Sarthe após seis anos ausente da clássica prova de Endurance, mas desta vez na classe LMGTE-AM. Hoje com 53 anos, o veterano piloto que defende a Cadillac no Pirelli World Challenge é um dos pilotos mais vitoriosos de todos os tempos em subclasses – não só da prova de Sarthe como também da extinta American Le Mans Series. Na prova francesa, venceu quatro vezes: a primeira não foi pela Corvette, não. Em 1994 ele ainda guiava pela Nissan e ganhou em Sarthe na divisão IMSA GTS, a bordo do modelo 300 ZX Turbo. Após três anos com os Panoz GT e Protótipo, mudou-se para a Corvette Racing e por lá ficou até 2010. Em 2001 e 2002, ganhou por duas vezes consecutivas na classe GTS com o modelo C5-R. Voltaria ao topo do pódio no último ano em que a classe LMGT1 competiu em Le Mans. Isso foi em 2009. Ainda foi quatro vezes ao pódio como 2º colocado e outra em terceiro.

VANINA ICKX

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Um sorriso que faz falta nos boxes das 24h de Le Mans…

Tal pai, tal filha? Nem sempre: mas Vanina Ickx seguiu os passos do pai nas 24h de Le Mans, com direito a usar o capacete escuro com detalhes na cor branca, marca registrada do belga – que ainda será visto aqui na série especial, na última parte, é claro. Nascida em 1975, Vanina disputou a prova em sete oportunidades. Estreou em 2001 num Viper da Paul Belmondo Racing, correu de Porsche e depois só guiou protótipos da classe LMP1. Ficou perto de conquistar um top 10 em 2008 – mas seu Pescarolo Judd que dividiu com Stéphane Grégoire e João Barbosa atrasou-se e ela acabou em décimo-primeiro. Em 2011, dividiu um Lola Aston Martin DBR1/2 com Maxime Martin e Bas Leinders. O carro nem estava na lista oficial de inscritos, só assegurando a participação com o forfait de diversos competidores. Só restava torcer pelas quebras alheias, já que não havia mais desenvolvimento do bólido por parte da Aston Martin Racing. E o carro alinhado pela Kronos Racing em parceria com a Marc VDS conquistou um honroso 7º lugar geral. Foi o melhor resultado de Vanina em Le Mans – e é uma pena que ela não tenha mais regressado depois disto.

Comentários

    • Sim, a história dele é bem interessante. Vale sim. Mas não para tão já. Só no segundo semestre. Obrigado pela visita, Elton.

  • Boa tarde Mattar , aproveitando a deixa desta série que vc apresenta , e claro , do seu conhecimento também , caso pudesse , um dia , correr em Sarthe , com qualquer carro , de qualquer época das 24hs de Le Mans , qual seria o carro e quais seriam os outros 2 pilotos pra formar a trinca contigo?

    Um abraço!!!

    • Puta pergunta difícil hein…

      Se eu pudesse correr com qualquer carro? Seria o Gulf Aston Martin Lola DBR1/2 LMP1.

      Os pilotos? José Carlos Pace e Henri Pescarolo. No auge dos dois, é claro.

  • “O que mais falar de Klaus Ludwig?” Nessa participação de 1988, com o fabuloso 962 com pintura Shell, ele e seus comparsas Derek Bell e Hans Stuck – a quem atribuo a melhor trinca que já li e/ou vi em ação – trucidaram a concorrência com uma pole-position monstruosa, com 3’15″64, enquanto que o 2º tempo estava a uns 3″ atrás! E era um 962 igual, e ainda tinha o fantástico Wollek ao volante! O 3º tempo tomaria mais 3s, com outro 962 Shell da família Andretti…
    http://www.racingsportscars.com/photo/Le_Mans-1988-06-12.html?sort=Grid
    A vitória escapou por um fio para eles…