A polêmica decisão da Fórmula E

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Alma lavada: Sébastien Buemi comemorou com direito a lágrimas o suado título da Fórmula E na temporada 2015/16, após a derrota na primeira temporada e nas 24h de Le Mans, há duas semanas (Foto: Fórmula E/Divulgação)

RIO DE JANEIRO – Os leitores e leitoras do blog que me perdoem. Mas de sexta-feira até ontem, fiz seis transmissões ao vivo, com pouco tempo para descansar. Tudo tão desgastante que eu só pensava em aproveitar o domingo em família depois das 14h30, quando consegui chegar em casa e desfrutar o resto do dia. Foi o que fiz. Por isso, o blog ficou sem atualizações.

Mas vamos lá: impossível não falar da polêmica decisão da Fórmula E em Londres.

Até porque motivos não faltam. O maior deles, o acidente na primeira volta entre os dois protagonistas da disputa pelo título. Empatados com 153 pontos, em vitórias (três) e segundos lugares (dois), Lucas Di Grassi e Sébastien Buemi partiram para a última etapa dispostos a vencer ou perecer.

O que se sucedeu na freada em que o brasileiro encheu a traseira do suíço é discutível. Cada piloto tem sua versão. Para Lucas, Buemi e Nicolas Prost vinham freando antes do possível. O helvético acha que não. Que Lucas não tinha necessidade de fazer o que fez. O próprio Nicolas também deu sua opinião. “Eu não sei o que ele tinha na cabeça para fazer aquilo”.

Nas tendas improvisadas como boxes, o velho Alain, pai de Nicolas Prost, viu um antigo fantasma do passado atormentar sua cabeça novamente. Sem dúvidas ele se lembrou de 1989. E também de 1990. E logo as associações a essas duas decisões de título e ao que Schumacher fez com Jacques Villeneuve em Jerez, 1997, vieram à tona.

As redes sociais viraram um embate de opiniões de todos os lados. Epítetos eram disparados a Di Grassi. Vi e li muita gente chamando o brasileiro de “sujo” e “mau caráter”. Até fui acusado por um e outro de defender Lucas e chamado de “pachequista”. Em primeiro lugar, não posso defender ou acusar A ou B sem ter provas cabíveis. Em segundo, não sou “pachequista”. Sou realista. Tentei fazer uma análise com o máximo de isenção possível, sem brigar com a imagem.

Mas enfim… cada um faz o julgamento que quiser. Inclusive a meu respeito. Não ligo para críticas que questionam meu posicionamento no momento da transmissão ao vivo. Tenho a consciência tranquila de que – mais uma vez – fiz um trabalho com correção e competência. Quem pode me julgar é a direção dos canais Fox Sports, que não falou absolutamente nada contra.

Voltando à pista, o acidente criou uma situação inusitada – afora o anticlímax causado pela batida. Os dois trocaram de carro e buscaram o único recurso que lhes cabia, especialmente a Buemi: os dois pontos da volta mais rápida. Está no regulamento e os dois postulantes ao título exploraram essa situação.

Lucas lutou com o que tinha. Buemi, que sobrou no treino classificatório para a última corrida, marcando uma pole position avassaladora, tinha sobra de equipamento. Provou e mostrou isso na pista. O monoposto da Renault e-Dams é, hoje, o melhor da Fórmula E. Di Grassi não tinha muito o que fazer. Sua melhor volta, no verdadeiro desafio de “hot lap” que se tornou a batalha pelo título, foi meio segundo pior que a do suíço. E vamos e venhamos: Buemi conquistou um justo título de campeão, que lhe escorreu por entre os dedos ano passado.

Não à toa, o piloto se emocionou e chorou. Também pudera: seria frustração demais perder outra oportunidade de consagração após a derrota no primeiro campeonato e também nas 24h de Le Mans, onde o Toyota dele e dos companheiros Kazuki Nakajima e Anthony Davidson quebrou a uma volta e meia do fim, jogando fora uma vitória inédita da montadora japonesa em Sarthe.

O automobilismo é assim. Ora cruel, ora justo. No caso de Buemi, repito, fez-se justiça ao piloto que teve o melhor carro da temporada. Lucas Di Grassi, tenho certeza, não gostaria de ser campeão dessa forma e ele tem talento e capacidade para buscar um título da Fórmula E na próxima temporada.

Mas há que se lembrar que outros fatores poderiam ter feito a diferença contra: a desclassificação por falta de peso no México foi o primeiro. A não-inversão de posições em Berlim, outro.

E até podemos apontar que os dois pontos que Nelsinho Piquet conquistou ao cravar a melhor volta na prova #1 de Londres, no sábado, possam ser outro fator de decisão.

Num campeonato resolvido nos detalhes como este, tudo isso faz parte.

Comentários

  • O Lucas Di Grassi que sempre criticou o piloto Nerlsinho Piquet por aquela atitude de Cingapura, que gerou muita discussão e pela qual o Piquet pagou um preço altíssimo, envolveu-se nas duas temporadas da Fórmula E várias irregularidades que geraram desclassificações e nesta corrida de ontem, envolveu-se num acidente que, por sorte, não teve maiores consequências já que ele bateu atabalhoadamente na traseira do carro do Buemi.
    Não acho que ele seja tão correto, inocente e livre de más inteções quanto muitos, especialmente, membros da equpe do site Grande Prêmio tanto apregoam.

  • Perfeito, Rodrigo! Esse negócio de sempre querer apontar culpado prá isso, prá aquilo, tá enchendo o saco. Primeiro que, como você falou, sem analisar dados de telemetria dos 3 primeiros, qualquer conclusão é especulação. Segundo porque corrida é assim mesmo, um quer passar, o outro não quer deixar, às vezes batem! Não foi a primeira e nem será a última. Decisões têm que ser tomadas em décimos de segundo, eventualmente alguém faz a escolha errada, a pista é estreita demais, os pneus estão frios, enfim, acontece.
    Foi um bom campeonato, cheio de alternativas, o Buemi é um piloto batalhador, o Lucas fez o que pôde, achei legal, quem dera outras categorias fossem disputadas assim!
    Ah! Outra coisa; belas transmissões, Rodrigo, vai gostar de corrida assim lá em Pindamonhangaba!

  • Vamos primeiro falando de vc e Hamilton deram um Show aparte sempre falando coisa pertinentes a prova parabéns aos 2 denovo. Mais indo pela corrida. Analisando imagens anteriores do mesmo ponto. Boemi freava mais um pouco a frente para poder fazer fazer essa curva e sair mais embalado. Porém não sei pq ele fez o freio ali naquele ponto revi uma cena da F1 aonde o David C. Freou no meio de uma reta e se não me engano uma McLaren passou por cima igual o Lucas. Mesmo não concordando Boemi levou e Título e mais uma vez o Lucas foi vice. Continuando sem ganhar nenhum campeonato. Mais Carreras são Carreras. Parabéns novamente.

  • Primeiro, acho justo pontuar o seguinte: sua postura durante a transmissão foi perfeita, e eu ao me imaginar na sua posição teria exatamente a mesma atitude.

    Isto posto, e agora me atendo à imagem em si, meu julgamento mais severo é que, pra mim, Lucas errou e foi proposital. Se não foi, eu digo que no mínimo ele não fez nada pra evitar a batida. Ele assumiu um risco muito grande, talvez por saber que os carros da e-Dams são melhores e a tendencia normal seria que fizessem o 1-2, e então deve ter passado na cabeça dele partir para o tudo ou nada naquele momento.

    Porém, se o piloto assume o risco de estar numa posição como aquela, ele não deve se queixar das consequências, muito menos da repercussão que o fato causar., Também não deve se queixar de o campeonato ter sido decidido com os pontos dados ao piloto que fez a volta mais rápida da prova. Tudo isso vale pra todos da mesma forma, e os julgamentos positivos, negativos e neutros fazem parte.

    Pra encerrar, vou ser mais claro: Lucas é um piloto excelente – tanto que foi escolhido pra ser o desenvolvedor desse carro antes do início da primeira temporada, quando o trem de força ainda era igual pra todos – e como tal, se aproveitou dos erros de Buemi para se manter na disputa mesmo com um carro inferior – mas no momento da decisão, errou, e errou feio, não só pela batida, mas por ter tentado impedir Buemi de fazer á volta mais rápida saindo dos boxes e andando lentamente na frente do suiço. Se a posição fosse inversa, Lucas reclamaria, com razão. Foi feio!

    Nenhum piloto deveria ficar feliz por decidir as coisas de forma controversa, como imagino que ele não deve ter ficado e na minha opinião, a taça ficou nas melhores mãos. À Lucas, resta lamentar, chorar, assimilar a derrota e colher os ensinamentos para voltar de novo, mas forte. Porém essa atitude é uma escolha que depende apenas dele.

    Parabéns, Sebastien Buemi!

  • Parabéns pela cobertura Rodrigo, o zumbi do automobilismo, parabéns.

    A manobra do Di Grassi foi bizarra, se o brasileiro tivesse ganho o campeonato com ela, criticaria, ninguém gosta de um título decidido num acidente, nunca gostei.

    Se foi com raiva, sem querer, um acidente, também não sei, mas valeu ter visto o poder de superação de um piloto injustiçadona Formula 1 e a poucos dias de ter perdido a 24 horas de Le Mans.

    Valeu o braço, o talento, a equipe e força de vontade do Buemi, que parabenizo por ser o melhor piloto da Formula E.

    Lamento ao Di Grassi, tente outra vez.

  • Minha opinião: Di Grassi arriscaria na largada, uma vez que naquela pista, é bem difícil ultrapassar… E foi o que ele fez…tentou e errou…e pagou o preço pelo erro, perdendo o campeonato. Até achei que seria punido durante a prova ou coisa parecida… Mas realmente, concordo com o blogueiro…eu mesmo estava acompanhando as mensagens via Twitter e o clima estava pesadíssimo com manifestações contra o piloto e a equipe de transmissão…. Como sempre, alguns acham que redes sociais são terra sem lei e falam com os dedos o que muito dificilmente teriam coragem de falar cara a cara, com quem quer que seja.
    No mais, parabéns pelo ótimo trabalho na cobertura da categoria.

  • Por tudo que a gente vê e lê do Di Grassi por aí parece surreal considerar um cara desses um piloto sujo. Na minha opinião de torcedor do cara, mas de total desinteressado pela F-E, me parece que ele errou. Seja porque bateu nervosismo, seja porque veio na cabeça a chance de ficar sem título pela segunda temporada, mesmo sendo provavelmente o melhor piloto do grid da F-E, o fato é que nada justifica a engrossada que ele deu. Não deixo de fora uma batida proposital, mas não dá para ter certeza. Ninguem tem como ler a mente do cara para saber o que se passou naquele momento.

    Dá uma preguiça ler as babaquices dessa galera que quer adivinhar tudo e julgar o esporte sob métricas morais que têm bem pouco a ver com decisões tomadas por seres humanas em frações de segundo e sob pressão.

    • o Di Grassi nunca ganhou nenhum campeonato….mas ainda assim é um piloto top, a Audi nao é boba , pra andar no time WEC tem que agregar valor no camarote…o problema dele é que ele fala muito, pra tudo ele tem palpite…pra que chamar o Vergne de idiota…vê se tem cabimento isso, coisa de riquinho filho de banqueiro…esses tempos falou que o Piquet Jr. sempre teve os melhores esquemas na vida…como se ele nao tivesse tido o pai milionário bancando a carreira…vai construindo a antipatia no dia a dia…

      • Pai dele nunca saiu por aí montando equipe e forçando a mão nos bastidores pra ver o filho mimado campeão de tudo, até virar rejeito na F1 – inclusive com atitude antidesportiva que deveria bani-lo do esporte pra sempre. Não adianta comparar a trajetória de um com outro esperando tornar a carreira do Di Grassi o desastre que é a do Piquet (inclusive por culpa basicamente exclusiva do mimado filho do Nelson)

  • Simples assim: o Lucas errou feio. Ponto. Chama-lo de “vigarista” e “jogador-sujo” como muitos fizeram é ridículo!!

    Perfeita análise, xará!

  • Li muitas opiniões e revi o acidente algumas vezes, minha conclusão é de que, mesmo que não tenha sido premeditado, algo que nunca ninguém irá saber, di Gratis não tentou em nenhum momento evitar a batida. Acontece…a pressão numa decisão tão apertada deve ser imensa. Torço para que a categoria continue avançando e crescendo, daqui uns dez anos, com o avanço da tecnologia, será muito mais legal ver as corridas, provavelmente já correndo em circuitos melhores , pra mim o grande ponto fraco atual da categoria, o layout das pistas parece ter sido feito por uma criança de cinco anos. As disputas são boas, a mescla entre refugos da F1 e pilotos de outras categorias torna as corridas interessantes, quando os carros forem mais rápidos, certeza que teremos mais qualidade no grid

  • Rodrigo vc e disparado o melhor jornalista de automobilismo do pais ….Mas eu peço licença pra discordar de vc sobre esse acidente …..Lucas é um piloto que praticamente nao comete erros ….e um piloto seguro em sua conduçao ….eu vendo e revendo a imagem pra min foi um erro unicamente dele e foi um erro ate bisonho …e acho que foi ate justo terminar com o titulo do Buemi ….pois essa manobra iria manchar o possivel Titulo do Di Grassi …….Forte abraço

  • Esse Dis graça.. é um pé de breque muito fraquinho..
    Não achando pouco..por ser contratado pela AUDI..ele já procurar um team pro EGO dele..
    Convencido.. pre potente..bundão…entre ele e o Pigmeu da Cantareira..não se sabe quem é uma peste..
    Vai fiu..fica de mimi.. vai se achando vai.. vce viu que uma mola,, fez o Pigmeu ficar abestado..e vce não espera muito não..viu..
    Ze foguin…não sabe o que é..e fica de onda.

  • Apenas quanto a reclamação – até geral, inclusive dos jornalistas – de que houve um anticlimax pela decisão ter ocorrido na busca pela melhor volta, digo que se não tivesse ocorrido a batida, a E-Dams teria feito uma dobradinha com sobras, numa corrida que seria extremamente chata. Lucas JAMAIS passaria Prost, ou com esse é que iria bater… Como sou fã de rally (velocidade, não este passeio de ricos que o Brasil adotou) também, as hot laps lembrou os PC’s entre Carlos Sainz, Colin McRae e Tommi Mäkinen nos anos 90! E aí quase deu para o Lucas… Até o Buemi cravar aquela volta de 1’24 baixo, ainda havia esperança de gato-e-rato. Perto do que seria a corrida, ficou sensacional (e justo, é bom dizer)

  • Ninguém além da Fia, Abt e E-dans, sabe o que se passou ali, a telemetria diz a verdade e só eles tem acesso. Porem a imagem do Di Grassi sai muito arranhada, na ITV onde tem um extenso pre e pos race, os comentarista (Alex Blundell e J. Alguersuari) foram categóricos em afirma que foi de propósito, na transmissão internacional o Franchitti balançou em cima do muro. Acredito que o que aconteceu nesta corrida pode ser levado em consideração em uma renovação de contrato em uma Audi que esta em reestruturação, apesar do Dr. Ullrich gostar deste tipo de atitude do Di Grassi (vide o DTM) a VW ta precisando limpar a imagem e um piloto que vai ser considerado desonesto por um período ainda, não ajuda muito.