Histórias do Edgard Mello Fº

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RIO DE JANEIRO – Já dizia minha avó: “Senta que lá vem história”. E as do Edgard Mello Fº, este craque que felizmente voltou à mídia através dos canais Fox Sports, meu mestre, o cara que me ensinou indiretamente tanta coisa e que hoje tenho o privilégio de considerar um grande amigo, são maravilhosas. A sorte dele é que ele tem fãs doentes no meio. E eu sou um deles. O Bruno Vicaria também. O Flavio Gomes confessou igualmente a admiração.

Na esteira do achado que foi uma foto do lendário Chevettinho D-3 com o qual o nosso querido “Promessinha” andou no fim dos anos 70, veio outra imagem de outra lenda das nossas pistas: o Opala da Itacolomy Safra com o qual o Edgard venceu o Campeonato Brasileiro da Divisão 3 em 1974.

E nada melhor do que o Edgard pra dar detalhes até hoje – para mim – absolutamente inéditos sobre a situação que o levou ao título histórico daquele ano, derrotando o Maverick “Haras Hollywood” preparado pelo Berta para o Tite Catapani.

Senta que lá vem história!

Saudade desse Opalão, viu?

Deixa eu botar um pouquinho de água na boca então, porque esse carro tem uma história engraçada. Esse carro, na época, quer dizer, inclusive antes de chegar às minhas mãos… esse carro foi parte de um projeto ambicioso até em função… os caras se basearam no Opala do Pedro Victor de Lamare, que era um carro que andava muito bem, enfim. O “seu” Chico Landi já tinha andado de Opala e tinha mostrado que o carro tinha um ótimo potencial.

E a equipe na época – vou falar o nome da Hollywood, você está sentado? – a equipe na época, a Hollywood, mandou um carro pra um cidadão e pediu um projeto avançado. Quer dizer, uma coisa totalmente nova até porque era uma pessoa já acostumada às coisas da Europa, já tinha tido muito sucesso em diversas categorias e esse cidadão na Argentina se chamava Oreste Berta.

E o Berta fez… fez esse Opala pra Hollywood. Tanto é que ele inovou em algumas coisas que na época chocaram. Mas eu não sei, não entendi porque nunca deu certo. Por exemplo: esse Opala tinha aerofólio.

Você olha pra fora e diz ‘não, Edgard, você está maluco’. Mas o aerofólio era embaixo. Atrás do diferencial. A suspensão traseira era a famosa Ponte De Dion e atrás dele o Berta fez um aerofólio, que por incrível que pareça funcionava. Porque quando você mexia na angulação da asa, você sentia a diferença. E algumas outras inovações também, embora a suspensão, como todo bom e velho Opala, sempre funcionasse nos pneus. A suspensão tava ali pro forma: alguns amortecedores você tinha só pra constar. Se pusesse um pedaço de madeira era a mesma coisa.

Então ele funcionava nos pneus. Por isso, a gente usava pneu de Fórmula 1 na época. Aliás, todos os carros da categoria.

E esse carro veio parar na minha mão por assim… foi uma coisa inusitada, porque quando começou o campeonato de 1974 eu fui pra Itacolomy e eu tinha corrido em 1973 com um Opala quatro portas. E ganhei várias corridas da categoria, era o único Opala contra 14, 15 ou 16 Mavericks. E depois o resto, os outros carros que corriam no Grupo 1 da época.

E eu sempre tava ali na jogada, ganhava umas corridas, chegava em segundo nas outras e tava pontuando bem no campeonato. Foi quando o (Reynaldo) Campello me chamou pra guiar pra ele – na verdade era pra correr com um carro da Itacolomy no Grupo 1. Até porque eu já tava conversando com a GM naquela época, já tínhamos outras ideias, já começava a se falar com o engenheiro Beccardi do 250-S – depois até fui trabalhar com ele na General Motors, na engenharia de motores.

Então a ideia era exatamente correr pela equipe no Grupo 1. E como eu ganhei a primeira corrida de Grupo 1 e o Campeonato Paulista tinha todas as categorias, depois do Grupo 1 corria a Divisão 3. E a Itacolomy tinha três carros. Por que? Porque como esse Opala não deu certo na Hollywood, ele ficou jogado lá, acho que dois anos, um ano e meio, dois anos. Ficou jogado lá, era galinheiro. Ninguém mexeu, o carro tinha uma crosta de pó, não tinha motor, não tinha nada.

E o Campello fez um rolo com a Itacolomy naquela época, perdão, com a Hollywood, montou o carro e ele ficou de carro-reserva, porque tinha dois carros novos. Um era dele (Campello) e o outro, do glorioso e querido Antônio Castro Prado, o Pradinho, que infelizmente nos deixou naquele acidente horrível (N. do Blog: Prado bateu com a cabeça numa cancela de eucalipto na saída dos boxes do autódromo de Guaporé, em 1981. Ele liderava a temporada da Fórmula 2 Brasil e certamente seria o campeão).

E esse carro era o carro-reserva deles. Como eu ganhei aquela corrida do Grupo 1 e os dois carros estavam em ordem, o Campello me chamou, acabou a corrida. ‘Quer ir andar no carro-reserva?’ Pombas, imagina: pergunta ao macaco se ele quer banana?

Aí veio o Binão (Bini Campello, irmão do Reynaldo): ‘Pô! Mas você nem classificou?’ ‘Eu largo nem que seja na Avenida Paulista com esta merda. Dá aqui.’

E claro, você sai de um carro com pneu Cinturato que escorrega, senta e anda num carro que por mais bobo que fosse o motor tinha uns 290 cavalos – já tinha os Weber, já tinha pneu de Fórmula 1 e tudo… eu larguei em último e foi uma experiência fantástica. E eu ganhei essa corrida pelo número de voltas. Deu pra recuperar, chegar nos líderes. O Campello teve um problema, quebrou. O Pradinho também, o carro dele caiu muito a performance. E eu acabei ganhando essa corrida.

E o Campello pegou no breu e falou: ‘Quer continuar correndo com ele?’ ‘Depende de você, chefe. O dono da concessionária, o patrocínio é seu.’ ‘Manda bala.’

Aí então fiz mais uma do Paulista e aí fomos pra Goiânia na abertura do Campeonato Brasileiro de Divisão 3. E a partir daí tem uma história longa e engraçada que a qualquer hora te conto.

Imagine que esse carro foi feito por um campeão chamado Luizinho Pereira Bueno. Eu entrava no carro e pedia a bênção. Sentava no carro e falava. ‘Bênção, Luizinho’. E o Luizinho várias vezes esteve lá no box, ia lá, queria ver o carro. Uma vez num treino até deixamos ele dar uma volta. ‘Não acredito que vocês fizeram isso no carro.’

Pois é… deu muito trabalho, muita dedicação, “pente fino” no carro pra deixar ele competitivo, porque ganhar do Berta era muito bacana, mas precisava ser trabalhado. Eu não sei se a Hollywood esperava outra coisa e o tiro acabou saindo pela culatra.

E o que eles fizeram? Mandaram vir outro foguete do Berta, com motor do Dan Gurney, tinha quase uns 500 cavalos, não era pra dar desespero. Que é que eu fiz na hora? Vou pros pontos. Ganhei Goiânia na inauguração. E fui brigar por pontos: segundo, quarto, terceiro, segundo, segundo, terceiro, segundo. E cheguei na penúltima prova, já deu pra botar a coroa de louros, pintar o capô. E foi um título que eu guardo com muito carinho.

Se o Edgard guarda essa conquista com carinho, imaginem nós, que vamos levar essas histórias pra sempre? O cara é mesmo demais. Além de uma figura maravilhosa, derrotou o Maveco do Berta, que era um canhão. Não é pra qualquer um.

Comentários

  • MARAVILHOSO!!!!! tempos que não voltam, pra quando um programa com o Mestre Edgard?? Você pode fazer a entrevista Rodrigo, abs

  • sensacional! acho que vale criar uma coluna fixa: histórias do Edgard! Sou fã de carteirinha do Promessinha e paro de fazer q q coisa para ler, ver ou ouvir uma história dele, e tem muitas! Além de contarem a história do nosso automobilismo em sua época aura ainda tem muitas da f1 tmbm em sua época de ouro onde ele estava lá, ativamente participando! O melhor de tudo ainda é a forma como são contadas! Fiquei muito feliz em ler essas linhas com essa maravilhosa história do mestre Edgard!

  • Edgard é mito! Muito bom a Fox ter colocado ele na transmissão das 6 horas de Glen, espero que isso se repita mais vezes.

  • Por causa do Edgar na Manchete nos anos 80 – 90, não lembro ao certo, que sou apaixonado por automobilismo!!!

    Expressões como essa de entrar no carro e pedir a bênção, um abraço pro gaiteiro, deixou a porta da igreja aberta o carro de trás entra e pede a bênção pro Vigário entre outras, chamavam demais minha atenção na época do DTM na Manchete!!!

    Parabéns para a FOX por colocar esse monstro ao lado de toda a equipe de automobilismo do canal!!!

    E valeu Mattar, por nos presentear com essas histórias maravilhosas!!!

  • Mattar, eternos agradecimentos a quem teve a iniciativa de convidar o Edgard pra voltar a comentar uma corrida!

    Matou saudades de todo mundo mesmo!

    Quem sabe ele não volta à atividade regularmente? Tomara!

  • Falar sobre a competência e o carisma do Edgard é chover no molhado. . .
    #EdgardMito!!
    Rodrigo, seguinte, até por ser da mesma emissora, ok:
    Salvo engano, ele participou recentemente de um Fox Nitro juntamente com o Christian Fitipaldi.
    Alguma chance de você disponibilizar esse programa por aqui, já procurei na web e não encontrei.
    Abraço.
    Zé Maria

  • Que legal essas histórias do Edgar….quando eu andava de kart em Avaré-SP no final dos anos 90 ele apareceu no kartódromo de lá…..com a família do Alan Helmeister que começou no kart em Avaré…….eu muleque ainda, via o Edgar na TV, na época nem lembro de internet…queria mesmo era andar de kart, e ele lá contando umas histórias, falando de kart, acertos…fiquei abismado com ele….lembro muito desse dia…e show de bola a Fox voltar com ele nas transmissões e no Fox Nitro…parabéns a emissora…

  • Poxa vida!!! É sensacional assistir as corridas na Fox e ouvir ele comentando e suas histórias!!! Vida longa ao Edgard!!!

  • Valeu Rodrigo por trazer mais este “causo” do mestre.
    Mestre Edgard é patrimônio dos alucinados por automobilismo.
    O acompanho a muito tempo, mas só agora me atrevi a escrever algo.
    Em parte por vir tanta coisa na cabeça, que chegava na hora de escrever algo, travava.
    Valeu mestre e um grande abraço.

    .

  • Irado cara ………… vai ser preciso armazenar em algum lugar essas histórias ou até mesmo pegar alguém que tenha as manhas de contar histórias e grave em audio, só não podemos deixar que elas se percam;

  • Rodrigo, sensacional essa com o Edgard. Olha sugiro você nos brindar depois com essa história longa e engraçada que ele disse que quer contar.
    Estive na inauguração do autódromo de Goiânia e foi fantástico assistir as corridas de sua inauguração, em especial da Divisão 3.

  • Esse cara é uma lenda , não pode ficar afastado nem das transmissões nem dos carros, sabe tudo manda muito bem e é muito engraçado, é divertido assistir corridas com ele. Alem do que se sentar em qualquer foguete desses é capaz de dar muito trabalho. Conheci ele nos anos 90 em uma concessionária Kawasaki que ele frequentava e transmitia corridas do DTM , sempre dei muitas risadas com ele.
    Figura interessante e emblemática do automobilismo nacional, é uma cara que não pode faltar nunca em eventos automobilísticos. Parabéns a voce Rodrigo tambem pela simplicidade e conhecimento de causa , um cara não menos importante nesse esporte que amamos , sou fã dos dois e mais uma vez parabens pela homenagem a essa figura iluminada ao seu lado junto com os outros que tambem é muito legal de assistir, abraço Deus os ilumine.

  • Grande Edgar.. esse cara é top. Parabéns a você Mattar, por trazer essas brilhantes e ótimas histórias do Edgar e à Fox por trazê-lo de voltas às transmissões televisivas. Show de bola.

  • #edgardmito
    Esse cara é Fenomenal, com maiúscula mesmo! Lembro de uma transmissão da DTM em Avus onde teve um Big One incrivel e ele soltou um “Como diria Viola: Que são Isso? ” Vale apena assistir as transmissões dele, pela qualidade, conhecimento e é logico, pelas histórias.
    Por favor Rodrigo, mostre a ele o carinho dos fãs pelo trabalho e pela história que ele construiu.

  • Sou suspeito para falar do Edgard Mello Filho . Se hoje eu consigo falar algo sobre automobilismo foi por que ele me ensinou . Foi uma experiência marcante e inesquecível poder lhe dar um abraço por ocasião do encontro de foristas da Autoracing. Fiquei emocionado!!

  • Lembro que era moleque e olhava as revistas 4R do meu irmão só pra ver as fotos das corridas dos Opalas e Mavericks… Aprendi a admirar Edgar nas transmissões e a melhor coisa que aconteceu foi ele parar na fox agora. Edgar é mestre!

  • Muito legal. Dispensa comentários. Sou fã do Edgard, sempre meu preferido. Adorava a D3 e D1. Fiz muitos carrinhos de autorama naquele estilo aero da D3. Como narrador e comentarista, nunca vi ou ouvi ninguém melhor do que ele. Assisto muitas corridas, locais e de fora, e ninguém nunca chegou perto do Edgard. Edgard, participe mais . Voce faz muita diferença. Mattar, parabéns, voce é realmente um entendedor de automobilismo.

  • Rodrigo, pergunta pro Edgar se foi nessa época – e com esse Opala – que ele ganhou dos Maverick APÓS correr de Ford… Ele contou isso tem uns 10 anos.

  • Xará, procurei na página da Fox Sports e não encontrei informações sobre quem vai narrar e comentar as etapas da Xfinity e da Sprint Cup neste fim de semana no Kentucky. Por isso tenho duas perguntas:

    1 – Você estará em alguma das transmissões?
    2 – O Mestre Edgard estará em alguma das transmissões?

    • Respondendo:

      1 – Comento hoje a Xfinity Series. Amanhã na Sprint Cup, a dupla é Hamilton Rodrigues e Sergio Lago.

      2 – Não, o Edgard não estará em nenhuma das transmissões do fim de semana, uma vez que as produções serão todas no Rio de Janeiro.

  • Só uma correção, o Carro foi comprado com mecânica sim, feita pelo Luizinho na Hollywood, que quebrou na 1a. prova e aí sim foi feito o motor na Itacolomy, pelo meu pai, Caito, que já fazia os outros dois carros e tinha feito todos os outros do Pedro Victor De Lamare, que foi correr naquele ano na europa.
    Excelente relato!

    • O que o Edgard quis falar, Rodrigo, é que quando o carro estava lá, não tinha o motor. Depois, o Caito, grande preparador dos “seis canecos”, deu seu talento. Que bom que você gostou do relato. Obrigado!

      • Eu e meu pai gostamos muito do texto! Contem conosco sobre as histórias do passado e em breve do presente, pois estamos montando um Old Stock e em breve estará nas pistas!

      • Que legal, Rodrigo. Bacana mesmo…

        Seguinte: o Edgard mandou um WhatsApp pra mim e disse, simplesmente, pra mandar um muito obrigado, um abraço e um beijo pro Caíto, a quem ele carinhosamente chamava de “Engenheiro Nakamura”.

        “Automobilismo não se ganha sozinho”, fez questão de frisar, sabendo da importãncia que seu pai e os irmãos Campello tiveram naquele título histórico em 1974, batendo o Maverick-Berta da Hollywood.

  • Se não fosse o Edgard e sua competência…abraços pro gaiteiro… deixaram a porta da igreja aberta, e o Promessinha entrou. Benção, meu vigário!

  • texto cita mentiras. o maverick dominava.o opala corria em dobro de carros,o q favorecia o gm.na divisao 1 e interlagos só dava o ford. opala só foi bem antes de 73 e este opala venceu em 74 pq parece q atendia mecanicamente o regulamento.tava c/ preparaçao acima.

  • Eu lamentavelmente não tive a oportunidade de ver o Edgar piloto, somente depois na area jornalistica sempre ligado na veia com o automobilismo. Mas ele é singular quando narra ou comenta, se utiliza de um expediente todo seu para passar a informação da corrida ao ouvinte que fica LIGADÃO!!! Na DTM era uma loucura, passei a acompanhar só em razão dele narrar!!! Vi a matéria no aniversário do nosso eterno Ayrton Senna, ele tem muito a oferecer!! Queria ele narrando a F1 , tenho certeza que resgataria o DOMINGO de muitos brasileiros!!