WEC: a redenção dos campeões do mundo

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Primeira no ano, quinta no WEC: os atuais campeões mundiais de Endurance bisaram o triunfo das 6h de Nürburgring no ano passado (Foto: Gabi Tomescu/AdrenalMedia.com)

RIO DE JANEIRO – Com apenas 3,5 pontos somados nas três primeiras provas do campeonato – Le Mans inclusive, logo no evento que dá pontos em dobro – é natural dizer que Mark Webber/Brendon Hartley/Timo Bernhard são carta fora do baralho na disputa pelo título do Campeonato Mundial de Endurance. Mas em se tratando de automobilismo, nada é definitivo. E a trinca do carro #1, atual campeã mundial, voltou a fazer jus ao galardão neste fim de semana. Com uma boa dose de sorte e muita competência, eles finalmente voltaram a sorrir, triunfando nas 6h de Nürburgring, quarta etapa da temporada 2016.

A corrida começou com o domínio da Audi, que fez a primeira fila do grid e teve o carro #7, guiado apenas por Marcel Fässler e Andre Lotterer, como o que comandou a prova nas primeiras 28 voltas até começarem os pit stops. Já na primeira parada, a Porsche foi melhor e colocou o #1 na ponta com Brendon Hartley a bordo, após o primeiro turno com Timo Bernhard. Contudo, o neozelandês não conseguiu se manter por muito tempo na frente: o Audi #8, guiado por Oliver Jarvis no turno inicial, superou o bólido da casa de Weissach e logo depois também o #7, já com Andre Lotterer no cockpit, o ultrapassou. Um furo lento de pneu fora a razão da queda de desempenho do carro, que saiu da janela de paradas dos líderes.

Mas um fator voltou a favorecer a Porsche: o excessivo número de Full Course Yellows (FCY) determinados pela direção de prova. Foram seis no total e num deles, o carro #1 fez uma parada de box que o ajudou a voltar à ponta por 21 voltas. Só que o #2, que lidera o campeonato de pilotos com Neel Jani/Marc Lieb/Romain Dumas, precisava da vitória. E foi beneficiado: na altura da 90ª volta, houve uma inversão marota de posição e o carro vencedor em Le Mans despontou na frente.

Faltando cerca de 1h30min para o final, como se diz na gíria, “deu ruim” para a estratégia da Porsche: o #2, com Marc Lieb a bordo, bateu num retardatário da divisão LMGTE-AM, coincidentemente, um Porsche. E além de provocar mais um FCY, o carro sofreu alguns danos e o bico precisou ser trocado. Não foi só isso: a direção de prova achou que o alemão foi o culpado na manobra e determinou um drive-through penalty para o carro, que caiu assim para o 4º lugar na prova. Não obstante, ainda houve um problema na última parada, em que o fio do rádio de um mecânico foi arrancado e acabou entranhado na asa traseira – tudo isso depois de uma disputa de tirar o fôlego entre Neel Jani e Andre Lotterer, que valeu o ingresso e fez delirar o público de 58 mil torcedores presentes ao circuito.

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Momento de troca de pilotos no Audi #8 do brasileiro Lucas Di Grassi, que chegou ao pódio pela terceira vez no ano (Foto: AdrenalMedia.com)

Com o #1 inatacável na frente, a Audi jogou pelo campeonato e fez com que a dupla do #7 apenas comboiasse o #8 guiado por Lucas Di Grassi/Oliver Jarvis/Loïc Duval, que assim salvaram mais um pódio – o terceiro em quatro corridas – e a vice-liderança do campeonato, somando 73 pontos contra 106 de Lieb/Jani/Dumas. “Temos que estar contentes com o 2º lugar”, comentou Di Grassi. “Não cometemos erros e guiamos constantemente no limite. Evidente que, quando você larga na primeira fila, o objetivo é vencer. Hoje nos faltou um pouquinho de sorte. Por isso as posições que conquistamos na corrida foram OK para nós”, disse.

A Toyota não foi nem sombra do que se viu em Le Mans e o papel dos TS050 Hybrid em Nürburgring foi de mero coadjuvante. “Não estivemos em momento algum na corrida”, resmungou o diretor técnico Pascal Vasselon. “Tivemos dois stints muito ruins”, completou o francês. A equipe apostou na autonomia de combustível e na confiabilidade – e pelo menos um dos carros teve problemas e foi para a garagem. Tiveram que se contentar com a 5ª e 6ª posições após a forte performance em Sarthe.

Entre os LMP1 não oficiais, a ByKolles outra vez se viu às voltas com fogo em seu CLM P1/01, o que custou algumas queimaduras ao piloto britânico Oliver Webb na mão direita. Os dois Rebellion R-One chegaram a andar bem para o padrão do time, mas aqui e ali tiveram alguns probleminhas. Mais o carro #12 do que o #13, que assim levou a vitória entre os carros sem apoio de fabricantes oficiais e sem sistemas híbridos. Dodo Kraihamer/Alexandre Imperatori/Mathéo Tuscher bateram os companheiros de equipe pela terceira vez no ano e ainda terminaram em 7º lugar na geral, mesmo que a 16 voltas dos vencedores.

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Mais uma vez, deu Gustavo Menezes/Nicolas Lapierre/Stéphane Richelmi e Signatech-Alpine (Foto: Gabi Tomescu/AdrenalMedia.com)

Na LMP2, a G-Drive Racing tinha o carro mais rápido da pista e provou isso com a conquista da pole e a liderança nas primeiras voltas. Só que o câmbio deu problema e o Oreca 05 Nissan do time britânico Jota Sport, que corre com bandeira russa, acabou nocauteado nos boxes. A partir daí, a Signatech-Alpine dominou e faturou mais uma com Gustavo Menezes/Nicolas Lapierre/Stéphane Richelmi. É o preço que se paga pelo critério de graduação da FIA, por vezes dúbio: a gente entende que o anglo-brasileiro Menezes é jovem (21 anos) e tal. Mas entre os pilotos com licença prata para o WEC, é um dos mais rápidos – se não for o mais rápido, o que desequilibra claramente as coisas a favor da equipe de Philippe Sinault, que venceu três provas consecutivas em 2016.

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A RGR Sport by Morand brigou muito em Nürburgring e salvou um pódio na LMP2 (Foto: MF2/Divulgação)

Apesar da disparidade, os brasileiros presentes tiveram bom desempenho. Bruno Senna ajudou a equipe RGR Sport by Morand a ir com moral para a etapa do México. O sobrinho de Ayrton Senna, o português Filipe Albuquerque e o mexicano Ricardo Gonzalez conquistaram o segundo pódio do Ligier JS P2 Nissan #43 na temporada. “Foi muito bom. Nosso ritmo foi bem melhor que nas duas provas anteriores e o desgaste dos pneus, uma incógnita até o início da prova, se mostrou muito bom. Pena que no começo perdemos muito tempo atrás do carro da SMP, senão poderíamos ter brigado mais de perto com a Alpine”, comentou Senna.

“Hoje foi um daqueles dias em que praticamente deu tudo certo. As bandeiras amarelas, a não ser a primeira que não interferiu em nada, apareceram sempre em momentos favoráveis. E o nosso engenheiro (Gaultier Boutelier) é mesmo muito bom de estratégia, como já havia ficado claro em Le Mans. O cara é um ninja”, elogiou Bruno.

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Na primeira corrida com os pneus Michelin, a Tequila Patrón ESM buscou um pódio nas 6h de Nürburgring (Foto: Divulgação)

A Tequila Patrón ESM apareceu para as 6h de Nürburgring com pneus Michelin em seus carros e a troca pareceu ter dado certo. Apesar da falta de ritmo do canadense Chris Cumming e de Pipo Derani também ter perdido tempo atrás de um dos BR01 da SMP Racing, o carro #31 reapareceu muito forte na segunda metade da disputa, suplantando a Manor e a Strakka Racing. Assim, Derani, Ryan Dalziel e Cumming chegaram ao segundo pódio (e não primeiro como eu dissera na transmissão do Fox Sports, perdão) nesta temporada.

“O primeiro turno foi duro para nós”, comentou Pipo. “Ficamos presos no tráfego e isso nos custou tempo precioso. Foi uma corrida de altos e baixos, mas o time foi mais uma vez fantástico. Para nós, foi um bom resultado por muitas razões, mas principalmente porque ainda estamos aprendendo mais sobre o carro com os pneus Michelin”, disse o brasileiro.

Antonio Pizzonia reestreou no WEC e conquistou junto aos parceiros Matt Howson e Tor Graves um bom 5º posto na categoria. O experiente piloto brasileiro não teve como tirar do #42 da Strakka Racing a quarta colocação ao final da disputa. Aliás, nesta equipe, destaque para a boa estreia do escocês Lewis Williamson, que fez dois ótimos turnos de pilotagem e chegou inclusive a figurar entre os três primeiros.

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Dessa vez nada deu errado e a dupla James Calado/Gimmi Bruni venceu a primeira do ano com a Ferrari 488 GTE da AF Corse (Foto: Gabi Tomescu/AdrenalMedia.com)

Na LMGTE-PRO, susto logo no início da corrida, quando o Ford GT que seria guiado por Andy Priaulx após o primeiro turno de Harry Tincknell teve um problema com a válvula do tanque de combustível. O carro pegou fogo no contato da gasolina com as partes quentes e Andy Priaulx saiu machucado. A equipe perdeu muitas voltas nos boxes e se contentou com o 7º lugar na categoria, numa prova de várias alternâncias na dianteira. E por fim, a AF Corse riu por último: após duas provas repletas de percalços, James Calado/Gianmaria Bruni triunfaram à frente dos colegas de equipe Sam Bird/Davide Rigon, com 170 voltas completadas.

Foi a 13ª vitória de Bruni no WEC – primeira após Fuji, no ano passado, o que faz do italiano o maior vencedor individual de provas do campeonato em subclasses, empatado com Roman Rusinov. E a primeira de James Calado na competição. Alívio para a dupla, que assim sobe para 44 pontos na classificação da temporada.

Olivier Pla e Stefan Mücke, líderes entre os pilotos de Grã-Turismo, perderam o 3º posto por um motivo banal. Um dos cintos não foi bem afivelado durante um dos pit stops e a direção de prova deu drive through para a dupla do #66. “A penalização foi uma piada e nos custou o pódio”, rosnou Pla. A posição foi herdada pelo Aston Martin de Nicki Thiim e Marco Sørensen, que fizeram um bom trabalho e não têm nada com isso. Richie Stanaway/Darren Turner ficaram somente com a 5ª posição, seguidos pelo Porsche de Richard Lietz/Michael Christensen.

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Pedro Lamy, Matthias Lauda e Paul Dalla Lana deram à Aston Martin Racing a vitória na LMGTE-AM (Foto: Gabi Tomescu/AdrenalMedia.com)

E na LMGTE-AM, pelo menos a Aston Martin sorriu: triunfo do #98 de Pedro Lamy/Paul Dalla Lana/Matthias Lauda, após completarem 166 voltas. O Porsche da KCMG Racing chegou em 2º com Wolf Henzer/Christian Ried/Joël Camathias na pista, mas acabou excluído do resultado final por um problema na vistoria técnica. Isso beneficiou os líderes do campeonato: François Perrodo/Rui Águas/Emmanuel Collard ainda acabaram com a 2ª posição, mesmo com uma saída de pista de Perrodo. A Larbre Competition herdou a 3ª colocação ao final, seguida pela Abu Dhabi Racing-Proton (prejudicada pela batida do #2 e por um pequeno incêndio) e pelo #86 da Gulf Racing UK.

Ao fim deste post, quero agradecer ao retorno que tivemos – eu e Hamilton Rodrigues – nas redes sociais durante a transmissão das 6h de Nürburgring, especialmente no Twitter, onde os telespectadores puderam interagir conosco. Sim, eu sei: perdemos o momento da largada, mas esse tipo de situação não me cabe criticar aqui e nem discutir, pois não é problema meu. O meu trabalho fiz com a competência de sempre e espero que os telespectadores tenham ficado felizes com a nossa primeira transmissão ao vivo – e na íntegra – de uma prova do WEC como as 6h de Nürburgring.

A próxima parada é o México: pela primeira vez na história, o país da América Central entra na competição, com a 5ª etapa marcada para o dia 3 de setembro.

Comentários

  • Olá galera….

    Com sorte ou sem sorte, com chuva ou sol, com AUDI, ou sem AUDI, com ou sem TOYOTA.
    Durante o dia, a tarde ou a noite.
    A PORSCHE vence outra vez!

  • Rodrigo,

    Foi muito bacana a transmissão. Assisti as ultimas 5:00 horas e foram demais. Sempre com os Highlights e muito bem explicado. Única ausência foi o Sergio Lago que completa o trio da FOX no Endurance. Aconteceu algo com o Sergio ?

    Parabéns pela transmissão, foi muito legal.

    Renan

  • Parabéns pela transmissão. Isto é corrida de carro. Para ultrapassar não precisa abrir asa ou apertar botão nenhum . Vamos esperar outra transmissões.

  • Boa tarde Rodrigo,
    Domingo perfeito com o quarteto fantástico: WEC, transmissão da FOX, chimarrão e churrasco, coroado com a vitória do Gustavo Menezes e as boas colocações dos demais brasileiros.
    Diney

  • Grande transmissão, expectativa é que seja a primeira de muitas, pois o campeonato é legal e merece uma transmissão integral, mesmo com a concorrência do futebol e de outros produtos da casa.

  • Rodrigo, parabens pela transmissao! Extremamente profissional e informartiva, mantendo o pique o tempo todo…e aliás, que corrida hem? Foram 6 horas sensacionais, daquelas que não se vê passarem!

    Sobre isso que eu gostaria de um comentário seu: domingo, em casa, ficamos ligados na TV a corrida inteira. Claro que não ficamos grudados na tela o tempo todo…voce levanta, pega um cafe, olha o celular, da uma volta…mas assistimos e discutimos a corrida do começo ao fim.

    Terminada a prova do WEC, colocamos a gravação da F1…e o que pensei foi: 1h e meia de F1 vai passar voando, perto das 6 horas que acabei de ver….ledo engano: vi a largada e apertei fast forward…fui ate a volta 50…depois outro fast forward…

  • Mattar, sou suspeito para falar…afinal, fui um dos que suplicaram ainda no ano passado para que o Fox Sports assumisse as transmissões do WEC após a excelente cobertura das 24h de Le Mans, e tenho ciência de que outras dependem de inúmeros fatores alheios à nossa vontade. As próximas, no Mexico e USA, devem coincidir com a própria Nascar, fora outras modalidades esportivas transmitidas pelo canal. Sendo assim, fico satisfeito mesmo com os VT’s al longo da semana.
    Por isso, mais uma vez, meus parabéns pelo excelente trabalho, a você e ao também excelente Hamilton Rodrigues.