Goulart e Geneton

RIO DE JANEIRO – A cada dia ficamos órfãos de referências no jornalismo. Num espaço inferior a 24 horas, perdemos dois grandes nomes da nossa profissão.

Primeiro, foi-se o Geneton de Moraes Neto. Jovem ainda – 60 anos, muita estrada a percorrer. O mestre dos dossiês, das reportagens investigativas. Com competência, trabalhou no Fantástico nos bons tempos do “Show da Vida”. Na Globo News e no próprio Fantástico, trouxe matérias e entrevistas sensacionais. A matéria com Geraldo Vandré, o cantor que era incensado pela esquerda no auge da Era dos Festivais e que – dizem as más línguas – teria se bandeado para o lado dos militares após um exílio no Chile e na França, foi um dos grandes momentos da televisão nos últimos anos.

O vazio que fica com a morte do Geneton é impreenchível.

Tanto quanto o deixado por Luís Felipe Goulart de Andrade.

Foram seis décadas de profissão, 83 anos de vida. E com que intensidade o Goulart se ‘atirava’ em suas pautas, em seus programas. O mais famoso deles, é claro, foi o Comando da Madrugada. Começou em 1978, como atração regional da Globo, em São Paulo, ficando no ar até 1983. Depois, levou a atração para a Bandeirantes, Manchete, SBT e TV Gazeta.

O homem era foda. Descobrir coisas que os telespectadores não tinham a menor noção de como eram e de como aconteciam era com o Goulart. O bordão “Vem comigo”, chamando o telespectador e seu fiel cameraman Capeta – também já falecido, este num acidente de moto – nos fez mergulhar em matérias inesquecíveis.

O Comando era programa obrigatório nas madrugadas insones de sábado, assim como o Perdidos na Noite, quando o Fausto Silva ainda era divertido. Nós éramos ‘convidados’ pelo Goulart para mergulhos profundos no submundo e vimos reportagens espetaculares sobre o Carandiru, a vida dos travestis, a Boca do Lixo, ET de Varginha, Paranormalidade, Crack, Santo Daime e outras situações da vida cotidiana que fugiam à nossa rotina. O Goulart não tinha peias e nem pudores. Orgulhava a nossa profissão.

E brindava aos “Filhos de Onan” (entendedores entenderão) com os shows de strip tease gravados na lendária casa Kilt Show, que fica na Nestor Pestana, mesma rua do Teatro Cultura Artística, no Centro de São Paulo. Grande época! Grande época!

Goulart e Geneton.

Grandes expoentes do jornalismo, do vídeo e da televisão brasileira.

Sentiremos muito a falta de vocês dois. Vocês estavam anos luz à frente dos outros em matéria de genialidade, arrojo, coragem e desprendimento. Honraram e orgulharam a nossa profissão.

Comentários