O fim de outra era: Audi se despede do WEC com vitória e Dumas/Jani/Lieb levam o título do Mundial de Endurance

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Ponto final: a Audi fecha sua trajetória no WEC com a 16ª vitória da marca na competição e 107ª da história desde 1999. Um fecho de ouro com Lucas Di Grassi, Loïc Duval e Oliver Jarvis no topo do pódio (Foto: Gabi Tomescu/AdrenalMedia.com)

RIO DE JANEIRO – Peço desculpas aos leitores por não ter escrito absolutamente nada sobre as 6h do Bahrein no blog após a corrida, por conta do trabalho e também pela absoluta falta de tempo no fim de semana. Mas nunca é tarde para falar de um momento emblemático da temporada 2016: a despedida – com vitória e dobradinha – da Audi no Campeonato Mundial de Endurance. A trajetória de 17 anos do construtor alemão em provas de longa duração foi encerrada como tinha de ser.

E para a trinca Lucas Di Grassi/Oliver Jarvis/Loïc Duval, o triunfo na etapa barenita representou não só a segunda vitória do carro #8 no ano como também a conquista do vice-campeonato mundial de pilotos, um feito extraordinário considerando não só as circunstâncias como também o mau rendimento da Toyota na última prova da temporada. Sem ritmo algum, a trinca formada por Mike Conway/Stéphane Sarrazin/Kamui Kobayashi chegou em quinto lugar na última etapa e perdeu a chance do título e também o vice, por um ponto e meio.

“É um sentimento fantástico poder terminar a temporada com esse resultado. Mostramos que evoluímos como trio de pilotos e ganhar duas etapas é ótimo. Naturalmente, estou triste porque a Audi e muitos de nós deixaremos o WEC, que é como uma grande família. Vou sentir falta não só das corridas, como também das pessoas em geral. As corridas de Endurance não me eram muito familiares até 2012, quando tive a primeira oportunidade pela Audi, mas eu adorei! Vou sentir saudade da adrenalina dessa competição”, comentou Di Grassi, que a partir de agora deve se dedicar integralmente à Fórmula E.

A Audi termina sua história nas provas de longa duração com um total de 107 vitórias desde 1999 – dezesseis delas no WEC, que teve 41 corridas disputadas desde sua criação em 2012. Lágrimas rolaram soltas no paddock não só pela saída dos quatrargóllicos como também por conta do adeus de Mark Webber. Campeão mundial no ano passado, o australiano chegou em 3º lugar junto aos parceiros Timo Bernhard e Brendon Hartley. Juntos, eles conquistaram neste ano quatro vitórias e seis pódios – uma grande recuperação após o início atribulado com poucos resultados em Silverstone, Spa-Francorchamps e Le Mans. O “canguru” se despede de cabeça erguida. Não tem do que se queixar.

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Romain Dumas/Neel Jani/Marc Lieb levaram o título do Mundial de Pilotos, apesar de não conseguirem subir ao pódio em nenhuma corrida após a vitória épica nas 24h de Le Mans (Foto: Gabi Tomescu/AdrenalMedia.com)

E muito menos a trinca Romain Dumas/Marc Lieb/Neel Jani: se lhes faltaram vitórias na segunda metade do ano e o desempenho da trinca do #2 ficou devendo em algumas corridas, sobrou regularidade. Eles driblaram um problema decorrente de um contato com o Porsche da KCMG Racing seguido de um furo do pneu traseiro esquerdo, para terminar a corrida em 6º lugar com três voltas de atraso. Foi o bastante para os pilotos conquistarem o título mundial, numa passagem de bastão da turma do #1 para os próprios companheiros de Porsche Team. Eles fecharam o ano com 160 pontos e duas vitórias – a mais importante delas no épico final de Le Mans.

Entre os LMP1 não-oficiais, nenhuma surpresa: a Rebellion chegou à frente da ByKolles em sua corrida de despedida da LMP1, completando a prova em 7º na geral – mesma posição ao fim do campeonato para o trio Dodo Kraihamer/Mathéo Tuscher/Alexandre Imperatori. Agora, os anglo-suíços vão ‘cair’ para a LMP2, divisão em que reúnem muito mais chances de levar um título do que correndo contra os times de fábrica, dependendo de eventuais quebras para conquistar pódios – o que inclusive aconteceu neste ano, duas vezes, é bom lembrar.

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Na despedida da equipe Tequila Patrón ESM do FIA WEC, Pipo Derani mais uma vez mostrou seu talento e ajudou a equipe a terminar em 4º lugar na classe LMP2 (Foto: Tequila Patrón ESM/Divulgação)

Na prova da LMP2, a vitória foi decidida nos minutos finais e a G-Drive Racing, que veio do fim do pelotão por conta da desclassificação do carro após o treino oficial – em que marcaram a pole – por conta de um duto de freio irregular, acabou por derrotar a RGR Sport by Morand por 6″840, hipotecando mais uma vitória para Roman Rusinov/René Rast/Alex Brundle. Apesar da derrota nas 6h do Bahrein, Bruno Senna e seus parceiros Filipe Albuquerque e Ricardo González não têm porque ficar tristes: os pilotos do Ligier JS P2 #43 conquistaram o vice-campeonato entre os pilotos em sua categoria.

“O carro estava muito bom no início, quando sai com pneus velhos. Estranhamente, piorou no terceiro stint, depois que coloquei um jogo de pneus zero. Com a queda de rendimento, chegamos a despencar para quinto na vez do Ricardo, mas felizmente o Filipe fez muito bem a parte dele e recuperou as posições perdidas”, elogiou o brasileiro.

“Fizemos sete pódios em nove corridas. Sofremos problemas com o motor em Spa e Le Mans, e esses resultados acabaram fazendo toda a diferença. Mas só posso estar satisfeito com essa colocação. Fizemos tudo o que era possível nas condições que tínhamos, e ainda levando em conta que essa era a primeira experiência da equipe na LMP2. Enfrentamos adversários duros, como os campeões da Signatech-Alpine, e a G-Drive, que venceu as últimas três provas”, lembrou Senna.

Já campeões, Nicolas Lapierre/Stéphane Richelmi/Gustavo Menezes fecharam o ano com a 3ª posição, à frente de outra equipe que fez sua despedida do WEC: a Tequila Patrón ESM (que não pôde fazer propaganda de bebida alcoólica nesta etapa, porque o Alcorão não permite) alcançou o quarto posto na pista de Sakhir, em mais uma performance do brasileiro Pipo Derani que arrancou elogios da imprensa internacional. O piloto inclusive teve a oportunidade de, no domingo, andar no Toyota TS050 Hybrid como prêmio e reconhecimento por suas performances competitivas nas duas últimas temporadas.

“Tivemos uma corrida muito forte hoje, onde fizemos o máximo e mostramos que podemos criar juntos uma nova estratégia para alcançar um resultado top”, declarou Derani. “O ritmo do carro era bom durante a prova e mostramos que podemos lutar com os líderes e ficar à frente deles por alguns períodos”, continuou o brasileiro.

“Antes da última parada, estávamos 50 segundos à frente, o que é realmente muito bom, porque a competição este ano foi muito dura, com os pilotos classificados em termos diferentes”, lembrou. “Foi outra grande apresentação e não houve erros. A temporada chega agora ao final e foi uma forma satisfatória de terminar nossa campanha no WEC. Tenho de agradecer à equipe por este super ano. Eles foram formidáveis e foi um prazer correr com este time e experimentar o sucesso que tivemos”, completou Derani – que vai trabalhar nos testes e no desenvolvimento do novo Ligier JS P217 concebido pela Onroak Automotive, sem saber ainda o que pode lhe acontecer no próximo ano dentro do Mundial de Endurance.

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Contra qualquer previsão feita no início do ano, a Aston Martin com pneus Dunlop consagrou Nicki Thiim e Marco Sørensen como os grandes campeões do WEC entre os pilotos de Grã-Turismo (Foto: Gabi Tomescu/AdrenalMedia.com)

A Aston Martin conseguiu o que parecia improvável no início do campeonato, quando foi anunciado que os britânicos correriam com os pneus Dunlop contra os Michelin dos outros times: Nicki Thiim e Marco Sørensen, a bordo do “Dane Train” #95, conquistaram de forma meritória o título do Mundial de Endurance entre os pilotos da LMGTE. E foram impecáveis, vencendo a disputa ao completar um total de 174 voltas, com 12″695 de vantagem para Gianmaria Bruni/James Calado, com a Ferrari 488 GTE da equipe italiana AF Corse. Com este resultado, a marca do cavalinho empinado de Maranello abiscoitou o troféu do WEC entre os construtores.

E na LMGTE-AM, uma quebra de motor – no único problema mecânico grave de qualquer carro durante as 6h do Bahrein – definiu o título: o carro #98 de Pedro Lamy/Paul Dalla Lana/Mathias Lauda acabou nocauteado por uma quebra e a trinca da Aston Martin Racing ficou a ver navios. Acabaram inclusive perdendo o vice-campeonato para David Heinemeier-Hänsson e Khaled Al Qubaisi, que venceram na categoria junto a Patrick Long com o Porsche 991 RSR da Abu Dhabi Racing-Proton e somaram 151 pontos contra 149 do trio rival.

O título, merecidamente, foi para as mãos de Rui Águas/Emmanuel Collard/François Perrodo, que com duas vitórias e oito pódios em nove etapas levaram o caneco, somando 188 pontos. O pior resultado do trio da AF Corse foi a 6ª posição nas 6h do COTA. Na prova de sábado, eles terminaram atrás também do Porsche 991 RSR da KCMG Racing guiado por Joël Camathias/Wolf Henzler/Christian Ried.

O WEC chega ao fim. Foi uma temporada das mais complicadas, não só pela interpretação dos Boletins de Equalização como também por discussões acerca do critério de graduação dos pilotos e principalmente pela saída da Audi, que deixa a competição órfã de um grande fabricante. Ficou a impressão de que, após às 24h de Le Mans, o Mundial de Endurance perdeu um pouco do seu brilho.

Tomara que a FIA e o ACO consigam reunir um bom plantel para 2017. Congelar o regulamento dos híbridos para até 2019 é uma boa solução, mas não é tudo. Em fevereiro saberemos o real nível da próxima temporada do Mundial, quando forem anunciados os participantes fixos das quatro categorias.

Comentários

  • A quebra em Le Mans causou mais prejuízos (ainda) à Toyota, afinal os pontos perdidos em Sarthe fizeram a diferença na pontuação final do campeonato.

    • Victor, você tem razão. Pero no mucho. Explico o porque: a Toyota venceria, mas o trio era do carro #5. Mesmo que ficassem em segundo, a turma do Porsche #2 marcaria 36 pontos ao invés de 50 e seria campeã do mesmo jeito.

      Façamos as contas: a trinca do #2 cairia de 160 para 146 pontos. Correto? Caso o #5 tivesse ganho, a trinca do #8 do Lucas teria terminado em 4º lugar em Sarthe e ao invés dos 30 pontos do terceiro lugar, teriam seis pontos a menos. De 147,5 baixariam para 141,5.

      E o trio do Toyota #6 perderia seis pontos também, passando de 145 para 139. No frigir dos ovos, a influência daquele abandono do carro da Toyota foi zero.

  • De cortar o coração saber que o Di Grassi não vai ter chance de vencer Le Mans em 2017 e vai ter que se contentar com essa bobagem de carrinho que não aguenta uma corrida inteira e anda menos que F3. Ele evoluiu muito e, na minha opinião, só ficava devendo pro Lotterer, outra puta perda nessa derrota coletiva do automobilismo que foi a saída da Audi.

    Tomara que a Porsche reformule mesmo o time e sobre umas vaguinhas pra esses dois. Di Grassi merece muito mais do que a FE e o Lotterer é um espetáculo à parte na pista.

  • Realmente foi uma despedida memorável da Audi, uma história que posso dizer que vi uma pequena parte dela in loco…eu e todos os que estiveram nas 6h de São Paulo entre 2012 a 14…
    Outro destaque foi o título da Aston Martin com o #95 na Pro…não deixa de ser surpreendente levando em conta as máquinas novíssimas da Ferrari e Ford, com seus motores Turmo e um conceito mecãnico muito mais atual, mas é aquele negócio…endurance é, antes de mais nada resistência e no endurance todos tem alguma possibilidade de triunfar. Que venha 2017…e se não será muito empolgante na LMP1, a expectativa é muito boa na LMP2 com os novos carros e novo regulamento e na LMGTE Pro com o Porsche de volta à briga.