Porsche vence mais uma e conquista bicampeonato do Mundial de Endurance

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Eles, de novo: Bernhard, Hartley e Webber ganharam a quarta das últimas cinco corridas e com a vitória em Xangai, a Porsche levou o bicampeonato de Construtores no Mundial de Endurance

RIO DE JANEIRO – Pole position, melhor volta, maior número de voltas na liderança e vitória. No jargão do automobilismo, barba, cabelo e bigode. A Porsche fez tudo isso para se consagrar na madrugada de sábado para domingo aqui no Brasil como bicampeã mundial de Endurance entre os construtores. O 919 Hybrid chegou ao sexto triunfo em oito corridas, o que deixa a marca de Weissach inalcançável tanto por Audi quanto por Toyota na batalha paralela ao Mundial de Pilotos – este sim, ainda em aberto e que será decidido nas 6h do Bahrein, última etapa de 2016.

O carro #1 guiado por Brendon Hartley/Mark Webber/Timo Bernhard alcançou a quarta vitória nas últimas cinco corridas e dessa vez, sem muitos sustos. Exceto no início, quando o Toyota #5 da trinca Sébastien Buemi/Anthony Davidson/Kazuki Nakajima assumiu a dianteira e logo depois houve um Safety Car, em virtude da rodada do Oreca #45 da Manor, que acabou atravessado na pista e colhido pelo Aston Martin #97 de Richie Stanaway. Como os danos nos dois carros foram extensos, eles ficaram de fora da prova – e foram os únicos a não completar a disputa neste fim de semana.

Após a relargada, o Porsche voltou a dominar as ações e seria muito pouco incomodado pelos rivais. O único motivo de preocupação foi a troca da seção dianteira do carro, em torno da 2ª hora de corrida, por conta do acúmulo de detritos – borracha solta dos pneus de todos os carros – na pista. A Audi chegou a ocupar a segunda posição com o #8 do brasileiro Lucas Di Grassi e seus parceiros Loïc Duval e Oliver Jarvis, mas a prova dos quatrargólicos foi desastrosa: um problema na mangueira responsável pelo fluxo de combustível fez com que o tanque de combustível recebesse menos diesel e a equipe tivesse que diminuir o intervalo entre os pit stops – o que prejudicou a corrida da trinca e, consequentemente, acabou com as chances de título dos pilotos da equipe Audi Sport Team Joest.

Não obstante, os R18 e-tron quattro conseguiram a façanha de bater entre si, fazendo com que os dois bólidos fossem para a garagem. Como efeito, o carro #7 de Marcel Fässler/Bénoit Tréluyer/Andre Lotterer perdeu várias voltas no conserto e só acabou ao final em 6º lugar porque era muito mais rápido que o CLM P1/01 AER biturbo da ByKolles Racing.

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A ByKolles sobreviveu entre os LMP1 não oficiais e conquistou um mais do que razoável 7º lugar na geral

A Toyota acabou beneficiada pelos problemas da rival e brigou palmo a palmo com o Porsche #2 de Neel Jani/Marc Lieb/Romain Dumas para ver se colocava seus dois carros no pódio. Conseguiu: na última parada, os japoneses fizeram exatamente o que aconteceu nas 6h de Fuji – e que na ocasião lhes deu a vitória. Pararam nos pits somente para reabastecimento. Sem trocar os pneus, ganharam tempo e conseguiram sustentar o 2º e o 3º lugares para seus carros.

E tem mais: com os 18 pontos somados em Xangai, Mike Conway/Kamui Kobayashi/Stéphane Sarrazin partem para Sakhir ainda com chances de conquistar o Mundial de Pilotos. A trinca tem 135 pontos contra 152 dos líderes do campeonato, que não vencem desde Le Mans, chegando desde então nada menos que quatro vezes na quarta posição e outra em quinto. Com 121,5 pontos, Duval/Di Grassi/Jarvis agora terão que contar com o azar dos rivais da Toyota para sonhar ao menos com o vice-campeonato.

Entre os LMP1 não oficiais, a ByKolles resistiu bem com seu carro e não só conquistou o 7º lugar geral, marcando seis pontos no campeonato para seus pilotos, como finalmente chegou bem à frente da Rebellion, que desta vez acabou atrasada por falhas mecânicas em seu protótipo. Oliver Webb/Simon Trummer/Pierre Kaffer chegaram com 15 voltas de vantagem para Dominik Kraihamer/Mathéo Tuscher/Alexandre Imperatori. Um prêmio tardio de consolação para aquela que – por enquanto – será a única equipe privada no WEC em 2017 na classe principal. Mas eles poderão ter companhia. A ver…

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Mais de três décadas depois da vitória nas 24h de Le Mans, e a Alpine conquista o título mundial da LMP2 por antecipação

Na LMP2, título definido para a Signatech-Alpine. Trinta e oito anos depois da vitória nas 24h de Le Mans, o nome da criação imortal de Jean Rédélé volta a conquistar algo importante no automobilismo mundial. O 4º lugar, após uma ferrenha disputa pelo pódio, bastou: Gustavo Menezes/Nicolas Lapierre/Stéphane Richelmi levaram o título por antecipação e deram ao time de Philippe Sinault a mesma alegria. O estadunidense – filho de brasileiro – Gustavo Menezes alcançou um feito que já durava 35 anos: desde Bob Garretson, por coincidência campeão mundial do World SportsCar Championship (antecessor do WEC) em 1981, nenhum outro piloto dos EUA era campeão de uma categoria sancionada pela FIA.

Bruno Senna e seus parceiros Filipe Albuquerque e Ricardo González lutaram bastante. Mas o desgaste acentuado dos pneus do protótipo Ligier JS P2 Nissan lhes custou a chance de adiar a decisão até o Bahrein. O 3º lugar na China, somado ao resultado da trinca do #36, não bastou e os pilotos da RGR Sport by Morand terão que se contentar com o vice-campeonato – isso se conseguirem manter a diferença em relação a Roman Rusinov, da G-Drive Racing.

“Vamos ter de ralar lá (no Bahrein). Na verdade, eles deveriam estar destruindo todo mundo, mas deram muito azar. À exceção do México, foram sempre os mais rápidos”, elogiou Senna.

Senna disse que o resultado na China acabou sendo talvez até superior ao potencial revelado pelo Ligier JS P2-Nissan no fim de semana. “Poderia ter sido muito pior. Foi um milagre chegar ao pódio. Só conseguimos passar o Alpine da Signatech nos boxes e a última hora foi um sufoco, porque eles ficaram grudados no Filipe até à bandeirada. O desgaste dos pneus do nosso carro foi acima do esperado”, disse. Senna, que cumpriu o turno inicial, lamentou a perda de tempo nesse período da prova. “Mathias Beche rodou sozinho na minha frente na primeira curva e precisei evitá-lo. O Mikhail Aleshin me passou e aí complicou, porque o BR01 é lento de ritmo, mas voa nas retas. Perdi 25 segundos nessa briga e os pneus foram embora”, explicou.

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A G-Drive Racing venceu mais uma na classe LMP2, o que dá ao russo Roman Rusinov – único a disputar todas as etapas – a chance de sonhar com o vice-campeonato

A vitória nas 6h de Xangai – segunda consecutiva – foi do Oreca 05 Nissan da G-Drive Racing, elogiado aqui acima pelo piloto brasileiro. Will Stevens/Alex Brundle/Roman Rusinov voltaram ao topo do pódio e com o triunfo o russo, que correu todas as oito provas, à exceção de seus companheiros de equipe, está com 137 pontos. Senna e seus parceiros somam 148 e a briga está aberta pelo vice.

Mais uma vez o #30 da Extreme Speed Motorsports fez ótima corrida e a trinca Sean Gelael/Antonio Giovinazzi/Tom Blomqvist conquistou um ótimo 2º posto na classe, nono lugar na geral. O #31 nas cores da Tequila Patrón foi de novo prejudicado pela lentidão do canadense Chris Cumming, que chegou a andar em último entre os protótipos da categoria que estavam na pista, durante uma parte da disputa. Ryan Dalziel e Pipo Derani fizeram o que puderam para completar em quinto na divisão e 12º lugar na geral.

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Vitória – segunda seguida – e domínio da Ford levam a decisão do WEC entre os pilotos da LMGTE para a última etapa, no Bahrein

A prova na LMGTE-PRO foi dominada de cabo a rabo pela Ford, que sem adversárias e sem nenhum problema em seus Ford GT EcoBoost, emplacou a segunda dobradinha em sequência – na igualmente consecutiva vitória de Harry Tincknell/Andy Priaulx, que fecharam a disputa com quase 51 segundos de avanço para Olivier Pla/Stefan Mücke. A Ferrari salvou a 3ª posição com o #51 de Gianmaria Bruni/James Calado, num fim de semana no mínimo conturbado nas relações entre FIA/ACO e a AF Corse de Amato Ferrari, por conta de um BoP que seria implantado de um dia para o outro – prejudicando o carro italiano. No fim das contas, não houve a mudança, mas mesmo assim nada pôde ser feito para evitar o triunfo da equipe Chip Ganassi Racing.

Marco Sørensen e Nicki Thiim chegaram na 4ª colocação e o resultado mantém a dupla do “Dane Train” na liderança do Mundial de Pilotos na classe LMGTE. Só que nada está definido: a dupla da Aston Martin tem 131 pontos, enquanto Davide Rigon/Sam Bird somam 119. Logo atrás, Gimmi Bruni/James Calado estão empatados com Olivier Pla/Stefan Mucke, com 110. Ou seja: com 26 pontos em jogo, contando o ponto extra da pole position, quatro duplas ainda podem sonhar com o título. E entre os construtores, nada decidido também: a Ferrari lidera com 10 pontos de vantagem para a Aston Martin. A Ford tem chances remotas e a Porsche já se despediu da briga há tempos.

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Lamy/Lauda/Dalla Lana ganharam novamente, mas agora a missão do título mundial ficou bem mais difícil: o ponto extra da pole para a Ferrari #83 nas 6h do Bahrein já define tudo

A decisão na LMGTE-AM também foi adiada, mas por muito pouco: o Aston Martin #98 de Pedro Lamy/Paul Dalla Lana/Mathias Lauda chegou à quinta vitória em oito provas. A diferença para os líderes François Perrodo/Emmanuel Collard/Rui Águas baixaria para 22 pontos – não fosse um acontecimento que mudou o panorama para o Bahrein. Na última volta da corrida de Xangai, houve uma colisão entre a Ferrari com Águas a bordo e o Porsche da KCMG, que tirou partido do incidente para cruzar a linha na 2ª posição na categoria, à frente do carro #83 da AF Corse.

Mas os comissários analisaram as imagens e chegaram à conclusão que o contato entre os dois carros poderia ter sido evitado. E com isso o #78 da KCMG acabou punido com acréscimo de tempo de 10 segundos. Isto recolocou Perrodo/Collard/Águas em segundo e a vantagem assim é de 25 pontos para os vice-líderes. À trinca da equipe italiana, basta completar 70% da distância nas 6h do Bahrein que terão feito o suficiente para conquistar o título mundial da categoria em 2016 – ou então somar o ponto extra da pole position, que não serão mais alcançados pelos rivais.

Comentários

    • Existe essa possibilidade, mas não sei se tão pra já. Precisariam de mais tempo e de dinheiro para tocar o negócio pra equipe voltar em 2017. Espero sinceramente que consigam deixar o grid menos capenga do que ficará. Sete carros é muito melhor que cinco e além de tudo são pelo menos mais seis pilotos com emprego garantido.

  • Deu PORSCHE de novo….bicampeã…triste fim para a AUDI!
    A PORSCHE veio…viu e venceu.
    Endurance é com a PORSCHE, o resto, é coadjuvante.

  • Fatura liquidada nas classes de protótipos…Como esperávamos, deu Porsche na LMP1, mas destaco a clara evolução dos Toyota, dando a entender que virão com tudo em 2017…então, embora tenhamos um grid diminuído com a saída da Audi, a expectativa é de uma disputa intensa entre Toyota e Porsche.
    Na LMGTE Pto, estamos vendo uma temporada de fases…tivemos a fase Ferrari, com os italianos dominando amplamente as etapas iniciais, dai vem as 24h de Le Mans e a Ford, que vinha de corridas complicadas resolve dar um “recadinho” aos rivais…em seguida vem a fase Aston Martin, com vitórias maiúsculas em Hermanos Rodrigues e Austin.e agora a Ford manda nas etapas asiáticas…Para o título na classe, apesar da vantagem da dupla do #95, aposto na Ferrari de Rigon/Bird.