Direto do túnel do tempo (364)

RIO DE JANEIRO – O dia 30 de março tem significado ímpar na memória do torcedor e para o automobilismo brasileiro. Em diferentes anos, representou a entrada do país na Fórmula 1 em caratér até hoje permanente e o fim de um longo jejum que durou 1.721 dias, perto de cinco anos.

Em 1972, estávamos numa quinta-feira e Interlagos fervilhava. Falou-se num público incalculável, superior a 220 mil pessoas – além dos caronas, os que pagaram ingresso e proporcionaram a renda recorde de Cr$ 1,5 milhão, pela moeda corrente. O primeiro GP do Brasil foi extracampeonato e serviu para mostrar que estávamos prontos para sediar uma corrida válida pelo Campeonato Mundial, apesar da ausência de equipes de ponta como Tyrrell, McLaren e Ferrari.

Afinal, o “vestibular” foram os eventos organizados por Antonio Carlos Scavone, começando pelo Torneio BUA de Fórmula Ford em 1970, passando pelo Torneio Internacional de F3 ganho por Wilsinho Fittipaldi e por duas temporadas internacionais de Fórmula 2, a segunda no fim daquele mesmo ano de 1972, só confirmou o que já se sabia: o Brasil estava pronto para o desafio.

Pena que o grid do primeiro GP do Brasil foi diminuto. Apenas 12 carros participaram, vários tiveram problemas (José Carlos Pace, que estava na equipe Politoys, de Frank Williams, foi um deles) e Emerson Fittipaldi, que dominou praticamente toda a disputa, foi vítima de uma quebra de suspensão em sua JPS Lotus 72 que o tirou da corrida. Carlos Reutemann foi o vencedor e iniciou ali uma trajetória de quatro triunfos em terras tupiniquins.

Como prêmio de consolação, os torcedores viram Wilsinho Fittipaldi em terceiro e o 6º lugar de Luiz Pereira Bueno a bordo do March 711 com seu insólito bico “tábua de passar roupa” e que foi alugado pela equipe Hollywood para o “Peroba” matar o tesão de andar num carro da categoria máxima.

O blog traz o vídeo com a íntegra da transmissão pela Rede Globo. Descontem a interferência de uma programação de rádio, porque o que vale aqui é o registro histórico de uma corrida idem. Narração de Tércio de Lima (lembram?) e participação de Geraldo José de Almeida, pai do Luiz Alfredo e conhecido pelos bordões que soltou à vontade na Copa do Mundo de 1970, no México.

Há 45 anos, direto do túnel do tempo.

Comentários

  • Se serve de curiosidade, a interferência é da própria Rádio Globo, que transmitia naquele momento o programa “Não Diga Não”, com Sayão Lobato. Atração em que o ouvinte participava por telefone sendo questionado pelo locutor e não podia dizer, em momento algum, a palavra “não”.

    Talvez foi um problema de transmissão do sinal para as antenas da Globo que acabaram se cruzando com a frequência da emissora. Simples assim.