Pryce, 40

RIO DE JANEIRO – O ano era 1977. A Fórmula 1 era muito diferente da que conhecemos hoje, não só nos carros e motores, como também no formato. Perna sul-americana – Argentina e Brasil – em pleno verão do Hemisfério Sul e a 3ª (ou 2ª etapa) acontecia invariavelmente num país boicotado pela ONU: a África do Sul.

Já tido e havido como o todo-poderoso da categoria (até este ano), Bernie Ecclestone não se importava com o clamor contra a segregação racial e levava seu circo para aquele país e a pista de Kyalami, próxima a Johannesburgo, era o cenário da corrida. E seria assim até 1985 e depois nos anos de 1992/1993, quando os sul-africanos, já com Nelson Mandela livre, voltaram ao calendário de forma efêmera.

Há exatas quatro décadas, no dia 5 de março (e não no dia 6, desculpem), o mundo inteiro assistiu a uma das maiores tragédias de todos os tempos na categoria máxima.

A corrida sul-africana estava na 22ª volta, quando o Shadow DN8 do italiano Renzo Zorzi parou na reta dos boxes com vazamento de combustível, o que ocasionou um princípio de incêndio. O piloto conseguiu sair do carro sem se queimar, mas como o fogo não cessava, o fiscal Frederik Jensen “Reed” Van Wuuren, de apenas 19 anos, resolveu atravessar a pista com um pesado extintor de incêndio em mãos para debelar o fogo.

Não foi uma das decisões mais acertadas: Jensen calculou muito mal a velocidade dos carros, que vinham em “cano cheio” a quase 280 km/h e em 5ª marcha, para descer a reta dos boxes. Ao tentar chegar ao carro de Zorzi, “Reed” foi atingido por Tom Pryce. O corpo do fiscal foi dilacerado no impacto. E, numa triste fatalidade, Pryce foi atingido em cheio na cabeça pelo extintor, que a plena velocidade lhe causou morte instantânea.

Sem direção, o Shadow DN8 #16 acabou atingindo o Ligier Matra de Jacques Laffite na frenagem da curva Crowthorne. Pryce tinha apenas 27 anos de idade, 42 GPs disputados e muito futuro pela frente. Nunca soubemos onde o piloto nascido no País de Gales poderia chegar no automobilismo.

O Grande Prêmio reviveu aquele dia triste com um ótimo texto do Vitor Fazio. E eu, em julho de 2015, escrevi na série “Outsiders” um perfil da carreira de Thomas Maldwyn Pryce.

Comentários

  • Um dos acidentes mais pavorosos e estúpidos da história do automobilismo.
    Em uma época que não haviam bandeiras amarelas e carros de segurança nas provas que não eram interrompidas por absolutamente nada, os pilotos realmente viam a morte de perto a cada curva.
    A diferença dos níveis de segurança daquela época para os dias de hoje é abissal, e neste ponto não podemos ter saudades do passado.
    Duas coisas chamam a atenção nestes vídeos, além do acidente em si: o Copersucar do Emerson pode ser visto passando um pouco antes do acidente, e a velocidade absurda dos carros passando a 3 ou 4 metros dos fiscais, mesmo após o acidente, em uma área completamente sem área de escape.
    Realmente, para pilotar em circuitos como Kyalami, Nurburgring e Zandvoort, com o guard rali sempre próximo à pista, era preciso muita coragem.
    Ainda assim, acho que seria possível unir o traçado rapidíssimo destes circuitos fantásticos do passado, como Zeltweg, Kyalami, Interlagos antigo e Paul Ricard, com as áreas de escape e niveis de segurança que temos hoje.
    Infelizmente, acho até que passaram dos limites da segurança, com áreas de escape asfaltadas e sem fim, curvas de altíssima velocidade mutiladas ou antecedidas por chicanes ( exceto a Eau Rouge de Spa), carros que não largam e nem correm com uma chuva um pouco mais pesada… tudo isso fazia parte do romantismo daquela época e que poderia voltar um pouco (com as devidas proporções).
    Infelizmente, acho que esse processo de pasteurização é sem volta…

  • O Pryce merece sempre ser lembrado, pois teve sua carreira interrompida de forma brutal e cedo demais, infelizmente.

    Queria apenas dar um alerta para duas pequenas correções: esse acidente aconteceu no dia 5 de março, e não 6, e a grafia correta do nome do bombeiro (voluntário) é Frederik Jansen van Vuuren (o apelido “Reed” para mim é novidade, confesso).

    • Esse apelido “Reed” do Van Vuuren eu conheço desde moleque. A Quatro Rodas chamou-o várias vezes assim. A Auto Esporte também.

      • Ah, se saiu na Quatro Rodas então eu devo ter visto também, e não lembrava mesmo. E só devo ter visto lá, pois nunca vi essa referência ao “Reed” na internet ou nos arquivos dos jornais daquela época.

        Em 2007, em uma reportagem sobre os 30 anos da morte do Pryce, no site da BBC, tinha um depoimento na área de comentários deixado pelo irmão do Van Vuuren.

  • Outra efemeride relacionada a esse GP é que foi o último disputado pelo Jose Carlos Pace, poucos dias antes do acidente de aviao que tirou a sua vida.