WRC: sete décimos decidem e Neuville vence o Rali da Argentina

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Thierry Neuville estava um minuto atrás no primeiro dia de Rali da Argentina. Mas problemas com Elfyn Evans e uma reação espetacular do belga proporcionaram ao piloto da Hyundai a segunda vitória dele nesta temporada

RIO DE JANEIRO – O que você faz em sete décimos de segundo? Bem… no automobilismo, um esporte de precisão, corridas se decidem por milésimos, centésimos e décimos também. E foi por essa ínfima margem, para os padrões do Mundial de Rali (WRC), que o belga Thierry Neuville se tornou o primeiro piloto a vencer duas vezes na temporada da categoria, após uma sequência de quatro marcas e nomes diferentes no topo do pódio.

Por muito pouco, esse número não aumentou para cinco: o galês Elfyn Evans e seu navegador Daniel Barritt tiveram a vitória nas mãos desde sexta-feira. No primeiro dia de provas, simplesmente arrasaram. Enquanto os pneus Dmack permitiram e os adversários já ficavam pelo caminho em meio a um sem-fim de problemas, a dupla ficou à vontade nas estradas da região de Córdoba. Eles venceram praticamente todos os estágios, abrindo 55 segundos de vantagem para o 2º colocado, que era então o norueguês Mads Østberg. Thierry Neuville estava em terceiro, um minuto atrás.

O jogo começou a virar neste sábado: o belga da Hyundai pôs as manguinhas de fora vencendo dois estágios à tarde e Evans faturou apenas um, a SS10. Para piorar, o piloto do Ford #3 perderia quase 12 segundos por conta de um furo de pneu durante a SS12. E olha que Neuville teve a sua dose de sorte no evento – a transmissão do seu i20 quebrou, felizmente antes da chegada ao Parque de Serviço em Villa Carlos Paz, possibilitando o reparo e que o belga pudesse tomar parte da segunda volta do dia.

O furo num dos seus pneus Dmack não seria o único problema para Evans enquanto ainda era o líder na classificação geral: ao bater numa pedra, arrancou o parachoque de seu carro. Isso não foi nada, comparado ao capote cinematográfico do também britãnico Kris Meeke, que destruiu por completo o Citroën C3 WRC e ao acidente que tirou Mads Østberg e Ola Fløene da disputa pelo pódio.

Com a diferença baixando para onze segundos e meio, temeu-se o pior para Evans e Barritt neste domingo. E o pior aconteceu: na SS16 (El Condor-Copina), Ott Tanak foi o mais rápido e Neuville, ao ficar com o segundo melhor tempo, descontou um segundo e dois décimos do galês, terceiro na especial cronometrada.

O drama se seguiu na especial seguinte, Mina Clavero-Giulio Cesare: Neuville deu tudo de si em seu Hyundai e foi o mais rápido. Evans, com o difusor de seu Ford Fiesta danificado, pouco pôde fazer. Viu sua vantagem baixar de forma dramática para apenas seis décimos.

E no Power Stage, Neuville e seu copiloto Nicolas Gilsoul conseguiram o que precisavam: foram os mais rápidos e botaram enorme pressão em Elfyn Evans para que o galês tentasse superar a marca dos belgas. E o piloto da Ford fracassou. Foi superado por 1″3 e perdeu o Rali da Argentina por ínfimos 0″7!

Ott Tanak/Martin Jarvejoja foram consistentes durante todo o Rali da Argentina e conquistaram um excelente 3º lugar na geral e no Power Stage. Sébastien Ogier – que jamais venceu em terras sul-americanas – terá que esperar até o próximo ano para conseguir algo melhor que o 4º lugar, resultado que ainda o deixa na liderança do Mundial, com 18 pontos de vantagem para Jari-Matti Latvala, que esteve discreto o tempo inteiro na Argentina e terminou em quinto.

Vencedor no ano passado, Hayden Paddon sobreviveu a uma série de problemas e a duas penalizações por atraso de saída do Parque de Serviço para terminar na 6ª posição, seguido por Juho Hänninen no segundo Toyota Yaris e por Dani Sordo, outro que teve várias dificuldades neste Rali. Mads Østberg ainda salvaria a 9ª posição e Pontus Tidemand, com o melhor entre os carros do WRC2, fechou o top 10.

A próxima etapa é o Rali de Portugal, entre os dias 19 e 21 de maio. Será a etapa com o maior número de carros inscritos dentro da chamada “Prioridade 1” do WRC – 17 inscrições estão confirmadas, com a estreia de Esapekka Lappi na turma de cima e a Citroën alinhando um quarto C3 WRC para o xeque Khalid Al Qassimi, além da volta de Stéphane Lefévbre após ficar fora na etapa deste fim de semana.

Resultado final do Rali da Argentina:

1 – Neuville-Gilsoul (Hyundai i20 WRC ’17) – 3.38’10”6
2 – Evans-Barritt (Ford Fiesta WRC ’17) + 0″7
3 – Tanak-Jarveoja (Ford Fiesta WRC ’17) + 29″9
4 – Ogier-Ingrassia (Ford Fiesta WRC ’17) + 1’24″7
5 – Latvala-Anttila (Toyota Yaris WRC ’17) + 1’48″1
6 – Paddon-Kennard (Hyundai i20 WRC ’17) + 7’42″7
7 – Hanninen-Lindstrom (Toyota Yaris WRC ’17) + 11’16″9
8 – Sordo-Marti (Hyundai i20 WRC ’17) + 14’44″1
9 – Østberg-Fløene (Ford Fiesta WRC ’17) + 15’11″3
10 – Tidemand-Andersson (Skoda Fabia R5) + 17’32″1

Classificação após a 5ª etapa:

1. Sébastien Ogier – 102 pontos
2. Jari-Matti Latvala – 86
3. Thierry Neuville – 84
4. Ott Tanak – 66
5. Dani Sordo – 51
6. Elfyn Evans – 42
7. Craig Breen e Hayden Paddon – 33
9. Kris Meeke – 27
10. Juho Hänninen – 15
11. Andreas Mikkelsen – 12
13. Stéphane Lefévbre – 10
14. Teemu Sunninen – 5
15. Jan Kopecky e Pontus Tidemand – 4
17. Stéphane Sarrazin e Mads Østberg – 2
19. Bryan Bouffier e Yohan Rossel – 1

Comentários

  • Pelo visto,parece que o Ogier não vai dominar como no ano passado.E eu queria perguntar qual a velocidade máxima que esses carros do WRC chegam em um estágio de asfalto?E também se o Fox Sports transmitirá as 6 horas de Spa-Francorchamps do Wec semana que vem ?

  • Ainda que esta matéria tenha sido publicada no dia 30 de abril, deixei para publicar este comentário depois de assistir a alguns dos resumos dos programas de TV sobre esse tradicional Rally da Argentina, que já se tornou um clássico do calendário do WRC. Assim, ainda que tenha sentido a falta do Felipe Motta e que me falte ver a cobertura do terceiro dia, mais uma vez venho cumprimentar o Rodrigo Mattar pelos comentários, sempre muito procedentes e também bastante esclarecedores para o público.

    Aproveito então para sugerir que, ainda este mês, publique algo aqui no Blog sobre o Rally Internacional de Erechim (mais ou menos nos moldes da matéria sobre a prova gaúcha de endurance, publicada mais acima), válido como segunda etapa do Campeonato Sul Americano de Rally e que este ano completa 20 anos, sendo considerado ano após ano pela própria CODASUR como a mais bem organizada etapa do certame.

    Como é pouco conhecido fora da região sul do Brasil, vale acrescentar ainda que é também o rally que leva o maior público entre todos os países-sede do referido campeonato, com cerca de 100 mil espectadores a cada edição. Um público equivalente ao de muitas etapas do ERC (Campeonato Europeu de Rally), perdendo somente para a etapa do Mundial WRC Argentina.

    Para que tenham uma idéia, deixo abaixo dois bons vídeos sobre a edição de 2016, sendo um nacional e um estrangeiro:

    https://www.youtube.com/watch?v=0k9ZTOCIar4
    https://www.youtube.com/watch?v=LImNWg_1mjw